O fenômeno da permanência no sistema social rural
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 1975 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/0/tde-20240603-102136/ |
Resumo: | O presente trabalho analisou o problema permanência na perspectiva da Teoria da Ação sistematizada por Talcott Parsons. Nesta perspectiva, procurou-se identificar os valores, papéis sociais e normas de comportamento que caracterizam os atores sociais que continuam residindo em áreas rurais desempenhando atividades primárias. A área de pesquisa localiza-se no município de Itirapina, Estado de São Paulo, onde a economia rural se assenta, principalmente, na pecuária leiteira. Os bairros rurais visitados constituem zona de povoamento antigo no município, e, de acordo com os seus moradores, as propriedades aí localizadas são classificadas, quanto ao seu tamanho, em pequenas e médias propriedades. Entre os atores sociais moradores destes bairros, existem indícios de uma tênue estratificação social: como a terra é socialmente valorizada, sua posse coloca os atores rurais proprietários em uma posição privilegiadas dentre os assalariados, aqueles que lidam diretamente com o gado leiteiro estão situados, na hierarquização de papéis, em posição mais elevada do que a de outros assalariados. Na situação social observada, as relações de ego com o Sistema Natural, representado pelos animais e pela terra, ao serem valorizadas e, conseqüentemente, ao serem acentuadas pelo processo de socialização, vão contribuir significativamente para a estruturação do sistema de personalidade de ego. Durante a infância estas relações compõem, substancialmente, o conjunto de seus ?brinquedos?. Os atores sociais rurais, ao se relacionarem, dentro de grupos de lazer, com a terra e, principalmente, com os animais, são introduzidos no sistema produtivo rural. Mesmo aqueles animais que representam uma possível ameaça à sua vida e/ou à sua tranquilidade exercem, sobre eles, certa atração. Demonstra-se, nas histórias contadas, um certo prazer não apenas em correr riscos mas também em poder enfrentá-los, isto é, em viver em uma situação que permite a sua ocorrência. Este apego a terra e aos animais continua e se intensifica entre os atores rurais mais idosos. Não apenas com a caça e com a pesca, atividades desempenhadas com uma conotação quase que exclusivamente lúdica, mas principalmente com o próprio trabalho, os atores sociais sentem-se gratificados. O trabalho, ligando-os direta e intensamente à terra e aos animais, permite-lhes, mais do que qualquer outra atividade, realizar concretamente o seu ?ego? tal como fora estruturado pelo processo de socialização. Planta-se e colhe-se; animais nascem e desenvolvem-se. O ator rural acompanha todos os passos do processo produtivo e vê o produto final. Isto evidencia e acentua as suas relações com o Sistema Natural. Este deixa de possuir assim valor apenas econômico ou instrumental. A necessidade da continuidade daquelas relações gerada pelo processo de socialização assume um papel mantenedor de padrão. Na repetição de tais relações e na transmissão de normas de comportamento e de valores que pouco se alteram, constrói-se, para o ator rural, um sistema dentro do qual ele pode agir com margem significativa de segurança social. A cidade, colocando-o em situações para as quais ele, o ator rural, não está preparado para enfrentar, ameaça sua segurança exigindo, quando ele emigra, toda uma nova estruturação do ego. Este processo de socialização vai definir coordenadas a partir das quais informações a respeito do Sistema Social Urbano são interpretadas. Avaliações comparativas entre o Sistema Social Urbano e o Sistema Social Rural podem ser assim sistematizadas: (Descrito na Dissertação) |
id |
USP_f3a2af69a7ee469e2f6481251e081549 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:teses.usp.br:tde-20240603-102136 |
network_acronym_str |
USP |
network_name_str |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
repository_id_str |
2721 |
spelling |
O fenômeno da permanência no sistema social ruralPERMANÊNCIASISTEMA SOCIAL RURALO presente trabalho analisou o problema permanência na perspectiva da Teoria da Ação sistematizada por Talcott Parsons. Nesta perspectiva, procurou-se identificar os valores, papéis sociais e normas de comportamento que caracterizam os atores sociais que continuam residindo em áreas rurais desempenhando atividades primárias. A área de pesquisa localiza-se no município de Itirapina, Estado de São Paulo, onde a economia rural se assenta, principalmente, na pecuária leiteira. Os bairros rurais visitados constituem zona de povoamento antigo no município, e, de acordo com os seus moradores, as propriedades aí localizadas são classificadas, quanto ao seu tamanho, em pequenas e médias propriedades. Entre os atores sociais moradores destes bairros, existem indícios de uma tênue estratificação social: como a terra é socialmente valorizada, sua posse coloca os atores rurais proprietários em uma posição privilegiadas dentre os assalariados, aqueles que lidam diretamente com o gado leiteiro estão situados, na hierarquização de papéis, em posição mais elevada do que a de outros assalariados. Na situação social observada, as relações de ego com o Sistema Natural, representado pelos animais e pela terra, ao serem valorizadas e, conseqüentemente, ao serem acentuadas pelo processo de socialização, vão contribuir significativamente para a estruturação do sistema de personalidade de ego. Durante a infância estas relações compõem, substancialmente, o conjunto de seus ?brinquedos?. Os atores sociais rurais, ao se relacionarem, dentro de grupos de lazer, com a terra e, principalmente, com os animais, são introduzidos no sistema produtivo rural. Mesmo aqueles animais que representam uma possível ameaça à sua vida e/ou à sua tranquilidade exercem, sobre eles, certa atração. Demonstra-se, nas histórias contadas, um certo prazer não apenas em correr riscos mas também em poder enfrentá-los, isto é, em viver em uma situação que permite a sua ocorrência. Este apego a terra e aos animais continua e se intensifica entre os atores rurais mais idosos. Não apenas com a caça e com a pesca, atividades desempenhadas com uma conotação quase que exclusivamente lúdica, mas principalmente com o próprio trabalho, os atores sociais sentem-se gratificados. O trabalho, ligando-os direta e intensamente à terra e aos animais, permite-lhes, mais do que qualquer outra atividade, realizar concretamente o seu ?ego? tal como fora estruturado pelo processo de socialização. Planta-se e colhe-se; animais nascem e desenvolvem-se. O ator rural acompanha todos os passos do processo produtivo e vê o produto final. Isto evidencia e acentua as suas relações com o Sistema Natural. Este deixa de possuir assim valor apenas econômico ou instrumental. A necessidade da continuidade daquelas relações gerada pelo processo de socialização assume um papel mantenedor de padrão. Na repetição de tais relações e na transmissão de normas de comportamento e de valores que pouco se alteram, constrói-se, para o ator rural, um sistema dentro do qual ele pode agir com margem significativa de segurança social. A cidade, colocando-o em situações para as quais ele, o ator rural, não está preparado para enfrentar, ameaça sua segurança exigindo, quando ele emigra, toda uma nova estruturação do ego. Este processo de socialização vai definir coordenadas a partir das quais informações a respeito do Sistema Social Urbano são interpretadas. Avaliações comparativas entre o Sistema Social Urbano e o Sistema Social Rural podem ser assim sistematizadas: (Descrito na Dissertação)The present study analyzed the problem of permanence der the perspectiva of Talcott Parsons' Theory of Action. Under this perspective, an attempt was made to identify the values, social roles, and behavior norms that characterize the social actors who continue living in rural areas, performing primary activities. The area under study is located in the Municipio (county) of Itirapina, State of São Paulo, where milk production is the main farm activity. The rural areas visited were settled a long time ago and, according to the residents, the properties situated in this area are classified in small and medium size farms. Among the social actors living in these rural areas there is evidence of a slight social stratification. Since land is socially valued, land owner-ship places the social actors who are landowners in a privileged position; in the hierarchy of roles, among the wage earners, those who work direotly with milk cattle are plaoed in a higher position than the other wage earners. Under the observed social situation, the relationships of the ego with the Natural System represented by animals and land, being valued and oonsequently emphasized by the socialization process, will contribute significantly to the structuration of the system of ego personality. During childhood, these relationships substantially are the childts toys. The rural social actors in their relationship within leisure groups, with land and specially with animals, are introduced into the rural productive system. Even those animals that represent a possible threat to their lives and/or safety exert a certain attraction over them. There is evidence, in the stories told, of a certain pleasure not only in running risks but also in facing them, i.e. , in living in a situation which permits the occurrence of risks. This attachment to land and animals continues and is intensified among the older rural actors. The social actors feel gratified not only with hunting and fishing - activities which are performed with and almost ?lúdica? connotation - but speoially with their own work. This work, linking them directly and intensively with land animals, enables them more than any other activity to conoretely realize their ?ego?, such as it was structured by the socialization process. They plant and harvest; animals are born and grow. The rural actor follows each step of the productive process and sees the final product. This evidences and emphasizes his relationship with the Natural System. It no has only an economic or instrumental value. The need to continue those relationships generated by the socialization process assumes a standard maintaining role. In repeting such relationships and in transmitting behavior norms and values which change very little, a system is constructed for the rural actor, within which he can act with a significant margin of social safety. The city, placing him in situations which he is not prepared to face, threatens his safety and requires, in the event of migration, a new structuration of the ego. This socialization process defines coordinates from which information referring to the Urban Social System is interpre ted. Comparativa evaluations between the Urban Social System and the Rural Social System can, thus, be systematized. (See Dissertation)Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPRodrigues, Jose Albertino RosarioMancuso, Maria Ines Rauter1975-11-28info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/0/tde-20240603-102136/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-06-03T14:05:02Zoai:teses.usp.br:tde-20240603-102136Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-06-03T14:05:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
O fenômeno da permanência no sistema social rural |
title |
O fenômeno da permanência no sistema social rural |
spellingShingle |
O fenômeno da permanência no sistema social rural Mancuso, Maria Ines Rauter PERMANÊNCIA SISTEMA SOCIAL RURAL |
title_short |
O fenômeno da permanência no sistema social rural |
title_full |
O fenômeno da permanência no sistema social rural |
title_fullStr |
O fenômeno da permanência no sistema social rural |
title_full_unstemmed |
O fenômeno da permanência no sistema social rural |
title_sort |
O fenômeno da permanência no sistema social rural |
author |
Mancuso, Maria Ines Rauter |
author_facet |
Mancuso, Maria Ines Rauter |
author_role |
author |
dc.contributor.none.fl_str_mv |
Rodrigues, Jose Albertino Rosario |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Mancuso, Maria Ines Rauter |
dc.subject.por.fl_str_mv |
PERMANÊNCIA SISTEMA SOCIAL RURAL |
topic |
PERMANÊNCIA SISTEMA SOCIAL RURAL |
description |
O presente trabalho analisou o problema permanência na perspectiva da Teoria da Ação sistematizada por Talcott Parsons. Nesta perspectiva, procurou-se identificar os valores, papéis sociais e normas de comportamento que caracterizam os atores sociais que continuam residindo em áreas rurais desempenhando atividades primárias. A área de pesquisa localiza-se no município de Itirapina, Estado de São Paulo, onde a economia rural se assenta, principalmente, na pecuária leiteira. Os bairros rurais visitados constituem zona de povoamento antigo no município, e, de acordo com os seus moradores, as propriedades aí localizadas são classificadas, quanto ao seu tamanho, em pequenas e médias propriedades. Entre os atores sociais moradores destes bairros, existem indícios de uma tênue estratificação social: como a terra é socialmente valorizada, sua posse coloca os atores rurais proprietários em uma posição privilegiadas dentre os assalariados, aqueles que lidam diretamente com o gado leiteiro estão situados, na hierarquização de papéis, em posição mais elevada do que a de outros assalariados. Na situação social observada, as relações de ego com o Sistema Natural, representado pelos animais e pela terra, ao serem valorizadas e, conseqüentemente, ao serem acentuadas pelo processo de socialização, vão contribuir significativamente para a estruturação do sistema de personalidade de ego. Durante a infância estas relações compõem, substancialmente, o conjunto de seus ?brinquedos?. Os atores sociais rurais, ao se relacionarem, dentro de grupos de lazer, com a terra e, principalmente, com os animais, são introduzidos no sistema produtivo rural. Mesmo aqueles animais que representam uma possível ameaça à sua vida e/ou à sua tranquilidade exercem, sobre eles, certa atração. Demonstra-se, nas histórias contadas, um certo prazer não apenas em correr riscos mas também em poder enfrentá-los, isto é, em viver em uma situação que permite a sua ocorrência. Este apego a terra e aos animais continua e se intensifica entre os atores rurais mais idosos. Não apenas com a caça e com a pesca, atividades desempenhadas com uma conotação quase que exclusivamente lúdica, mas principalmente com o próprio trabalho, os atores sociais sentem-se gratificados. O trabalho, ligando-os direta e intensamente à terra e aos animais, permite-lhes, mais do que qualquer outra atividade, realizar concretamente o seu ?ego? tal como fora estruturado pelo processo de socialização. Planta-se e colhe-se; animais nascem e desenvolvem-se. O ator rural acompanha todos os passos do processo produtivo e vê o produto final. Isto evidencia e acentua as suas relações com o Sistema Natural. Este deixa de possuir assim valor apenas econômico ou instrumental. A necessidade da continuidade daquelas relações gerada pelo processo de socialização assume um papel mantenedor de padrão. Na repetição de tais relações e na transmissão de normas de comportamento e de valores que pouco se alteram, constrói-se, para o ator rural, um sistema dentro do qual ele pode agir com margem significativa de segurança social. A cidade, colocando-o em situações para as quais ele, o ator rural, não está preparado para enfrentar, ameaça sua segurança exigindo, quando ele emigra, toda uma nova estruturação do ego. Este processo de socialização vai definir coordenadas a partir das quais informações a respeito do Sistema Social Urbano são interpretadas. Avaliações comparativas entre o Sistema Social Urbano e o Sistema Social Rural podem ser assim sistematizadas: (Descrito na Dissertação) |
publishDate |
1975 |
dc.date.none.fl_str_mv |
1975-11-28 |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/masterThesis |
format |
masterThesis |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/0/tde-20240603-102136/ |
url |
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/0/tde-20240603-102136/ |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
|
dc.rights.driver.fl_str_mv |
Liberar o conteúdo para acesso público. info:eu-repo/semantics/openAccess |
rights_invalid_str_mv |
Liberar o conteúdo para acesso público. |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.coverage.none.fl_str_mv |
|
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
publisher.none.fl_str_mv |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP instname:Universidade de São Paulo (USP) instacron:USP |
instname_str |
Universidade de São Paulo (USP) |
instacron_str |
USP |
institution |
USP |
reponame_str |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
collection |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
repository.name.fl_str_mv |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP) |
repository.mail.fl_str_mv |
virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br |
_version_ |
1815257231489236992 |