O discurso politicamente correto como sintoma do mal-estar na contemporaneidade

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gonzales, Michelle Silva
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59142/tde-17012022-153427/
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo analisar o discurso politicamente correto (PC) como sintoma do mal-estar contemporâneo sob a perspectiva teórica e metodológica da Análise do Discurso (AD) pêcheutiana e da Psicanálise lacaniana. O discurso politicamente correto consiste em um fenômeno amplamente discutido e polemizado na contemporaneidade. Trata-se de um campo de tensão constituído por diversas questões e tentativas de elaborações, muito em parte por se tratar de um discurso com funcionamento difuso, controverso e contraditório. A premissa politicamente correta pode ser entendida em dois pilares, o primeiro é pautado na busca por direitos e visibilidade de grupos minoritários que sofrem preconceitos e discriminações, tais como os negros, a comunidade LGBTQIA+, deficientes e outros, e o segundo pilar, consiste na teoria de que essas mudanças irão advir através da constante alteração nas práticas linguísticas/discursivas. Contudo, é sobre como o discurso politicamente correto pretende atingir seus fins, ou seja, através das mudanças na linguagem/ vocabulário, que consiste na crítica daqueles que se opõem ao discurso PC e de que este seria autoritário, arbitrário e cerceador. Observa-se que o discurso politicamente correto criou uma cisão nas posições ideológicas contemporâneas, promovendo resistência e tensão, podendo ser entendido como um palco reatualizado para a luta de classes na atualidade. Esta luta comporta em si um apontamento sobre as dificuldades inerentes ao convívio em sociedade, pensado por Freud já em 1930 ao tratar o mal-estar na cultura e na impossível resolução deste, uma vez que as sociedades, por mais propiciadoras de proteção aos sujeitos, demandam deles que se abstenha de uma parcela de satisfação pulsional, em prol da civilização. Analisamos discursivamente alguns recortes concernentes ao debate em torno da obra do escritor Monteiro Lobato (1882-1948), alvo atualmente de uma disputa discursiva sobre os sentidos do racismo, efeito do discurso politicamente correto. Compreendemos que a linguagem em si não pode ser considerada racista, ou politicamente incorreta em sua estrutura, como alega o discurso politicamente correto, mas apenas em seus usos e estes não dependem das palavras que serão ou não escolhidas, mas antes por processos complexos, como as condições de produção, o contexto e o sócio-histórico (Pêcheux, 2014). Além disso, observou-se que, enquanto prerrogativa para as alterações na linguagem, o discurso PC parte de suposições que ignoram preceitos linguísticos e discursivos essenciais para a compreensão da produção dos sentidos, como a noção de sujeitos autônomos, e a ideia de biunivocidade do signo, podendo a partir disso, determinar que uma obra, ou uma palavra em si, seja politicamente incorreta.
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A premissa politicamente correta pode ser entendida em dois pilares, o primeiro é pautado na busca por direitos e visibilidade de grupos minoritários que sofrem preconceitos e discriminações, tais como os negros, a comunidade LGBTQIA+, deficientes e outros, e o segundo pilar, consiste na teoria de que essas mudanças irão advir através da constante alteração nas práticas linguísticas/discursivas. Contudo, é sobre como o discurso politicamente correto pretende atingir seus fins, ou seja, através das mudanças na linguagem/ vocabulário, que consiste na crítica daqueles que se opõem ao discurso PC e de que este seria autoritário, arbitrário e cerceador. Observa-se que o discurso politicamente correto criou uma cisão nas posições ideológicas contemporâneas, promovendo resistência e tensão, podendo ser entendido como um palco reatualizado para a luta de classes na atualidade. Esta luta comporta em si um apontamento sobre as dificuldades inerentes ao convívio em sociedade, pensado por Freud já em 1930 ao tratar o mal-estar na cultura e na impossível resolução deste, uma vez que as sociedades, por mais propiciadoras de proteção aos sujeitos, demandam deles que se abstenha de uma parcela de satisfação pulsional, em prol da civilização. Analisamos discursivamente alguns recortes concernentes ao debate em torno da obra do escritor Monteiro Lobato (1882-1948), alvo atualmente de uma disputa discursiva sobre os sentidos do racismo, efeito do discurso politicamente correto. Compreendemos que a linguagem em si não pode ser considerada racista, ou politicamente incorreta em sua estrutura, como alega o discurso politicamente correto, mas apenas em seus usos e estes não dependem das palavras que serão ou não escolhidas, mas antes por processos complexos, como as condições de produção, o contexto e o sócio-histórico (Pêcheux, 2014). Além disso, observou-se que, enquanto prerrogativa para as alterações na linguagem, o discurso PC parte de suposições que ignoram preceitos linguísticos e discursivos essenciais para a compreensão da produção dos sentidos, como a noção de sujeitos autônomos, e a ideia de biunivocidade do signo, podendo a partir disso, determinar que uma obra, ou uma palavra em si, seja politicamente incorreta.This research aims to analyze politically correct discourse (PC) as a symptom of contemporary malaise under the theoretical and methodological perspective of Pecheutian Discourse Analysis (DA) and Lacanian Psychoanalysis. The politically correct speech consists of a phenomenon widely discussed and polemicized in contemporaneity. It is a field of tension constituted by several questions, and attempts at elaboration, partly because it is a discourse with diffuse, controversial and contradictory functioning. The politically correct premise can be understood in two pillars, the first is based on the search for human rights and visibility for minority groups that suffer prejudice and discrimination, such as black people, LGBTQIA+ community, disabled ones and others. The second pillar consists in the theory that claims that these changes will come through within the constant change in linguistic/discursive practices. However, it is about how the politically correct discourse intends to achieve its ends which consists of the major criticism of those who oppose the PC discourse, which affirms that PC would be authoritarian, arbitrary and restrictive. It is observed that the politically correct discourse has created a split in contemporary ideological positions, promoting resistance and tension, which can be understood as a re-updated stage for the current class struggle. This struggle contains in itself a note on the difficulties inherent in living together in society, thought by Freud in 1930 when dealing with the malaise in culture and its impossible resolution, since the societies, by one side protects the subjects, by the other, demand of them to abstain from a portion of instinctual satisfaction, in favor of civilization. We analyze discursively some excerpts concerning the debate surrounding the writer Monteiro Lobato (1882-1948), currently the target of a discursive dispute about the meanings of racism as an effect of politically correct discourse. We understand that language itself cannot be considered racist, or politically incorrect in its structure, as politically correct speech alleges, but only in its uses and these do not depend on the words that will or will not be chosen, but rather by complex processes, such as production conditions, the context and the socio-historical (Pêcheux, 2014). Furthermore, it was observed that, as a prerogative for changes in language, the PC speech starts from assumptions that ignore linguistic and discursive precepts essential for understanding the production of meanings, such as the notion of autonomous subjects, and the idea of biunivocity of the sign, being able from that, to determine that a work, or a word in itself, is politically incorrect.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPTfouni, Leda VerdianiGonzales, Michelle Silva2021-11-17info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59142/tde-17012022-153427/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2022-02-14T14:44:02Zoai:teses.usp.br:tde-17012022-153427Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212022-02-14T14:44:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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