Análise espacial da ocorrência de infecções bacterianas da corrente sanguínea causadas por agentes multirresistentes em unidades de terapia intensiva do estado de São Paulo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Boszczowski, Ícaro
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5134/tde-06012017-124622/
Resumo: Introdução - A resistência bacteriana aos antimicrobianos é resultado de mecanismos adaptativos destes microrganismos e se constitui em importante problema de saúde pública em razão da limitação terapêutica que este fenômeno impõe, sobretudo no tratamento de infecções invasivas de pacientes críticos. O surgimento de patógenos resistentes no ambiente hospitalar assim como seu comportamento epidemiológico é um evento complexo de múltiplas causas. A pressão seletiva decorrente do uso destas drogas é evidente desde o início do uso clínico da penicilina. No entanto, a inter-relação entre pressão seletiva e determinantes de outra natureza como sociais, econômicos e geográficos precisam ser mais bem compreendidos. Objetivos - 1. Investigar a existência de dependência espacial na ocorrência de infecção da corrente sanguínea em UTI no estado de São Paulo causadas por bactérias multirresistentes (BMR). 2. Investigar a associação entre a ocorrência de infecção da corrente sanguínea por BMR e consumo global de antimicrobianos no estado de São Paulo, indicadores socioeconômicos e de saúde. Método - Planejamos um estudo descritivo, ecológico e de multinível envolvendo unidades de terapia intensiva do estado de São Paulo. Definimos infecção da corrente sanguínea causada por seis patógenos multirresistentes e notificada à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo entre os anos de 2008 a 2011 como variável dependente. As variáveis independentes foram o consumo global (comunitário e hospitalar) de antimicrobianos neste período e variáveis socioeconômicas e de qualidade e acesso aos serviços de saúde. O consumo de antimicrobianos foi obtido a partir de um banco de dados de uma empresa de prospecção de vendas destas drogas, IMS Health Brazil. As variáveis socioeconômicas e de qualidade e acesso aos serviços de saúde foram obtidas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE). Utilizamos um modelo hierárquico (multinível) incluindo as variáveis socioeconômicas distalmente, variáveis de acesso e qualidade de serviços de saúde medialmente e uso de antimicrobianos proximalmente. Dado o grande número de zeros em nossa variável de desfecho (34% a 85% a depender do patógeno avaliado), a verosimilhança foi modelada com base em uma distribuição de Poisson inflada por zeros. Os modelos foram ajustados seguindo a abordagem INLA, especificando prioris não informativas para as variáveis \"município\" e \"hospital\". As análises foram feitas no software R 3.2.1, usando os pacotes INLA 0.0-1432754561 e INLAOutputs 0.0.2. Resultados - Identificamos associação direta entre consumo global de penicilina e inversa com índice de Gini no estado de São Paulo e infecção da corrente sanguínea causada por Staphylococcus aureus resistente à oxacilina (MRSA). Para os demais agentes etiológicos estudados, não observamos o consumo global (comunitário e hospitalar) de antimicrobianos ou de variáveis socioeconômicas, de acesso e qualidade da assistência à saúde como determinantes da infecção da corrente sanguínea em unidades de terapia intensiva do estado de São Paulo. Observamos maior incidência de Enterococcus resistente à vancomicina (VRE), Pseudomonas aeruginosa resistente a carbapenens, Acinetobacter sp resistente a carbapenens e Escherichia coli resistente a cefalosporinas de terceira geração em hospitais públicos comparados a hospitais filantrópicos e menor incidência de VRE, Klebsiella pneumoniae resistente a cefalosporinas de terceira geração, Pseudomonas aeruginosa resistente a carbapenens, Acinetobacter sp resistente a carbapenens e Escherichia coli resistente a cefalosporinas de terceira geração em Santas Casas comparadas a hospitais filantrópicos. Por fim, observamos maior incidência de Klebsiella pneumoniae resistente a cefalosporinas de terceira geração em hospital privado comparado a hospital filantrópico. Conclusões - 1. Observamos que, embora não de maneira uniforme, a maioria dos patógenos estudados, nos diferentes anos, forma agrupamentos geográficos, ou seja, não estão distribuídos aleatoriamente no espaço estudado. 2. Não observamos, neste estudo, relação entre consumo de antimicrobianos na comunidade e infecção por patógenos multirresistentes em pacientes críticos tratados em unidades de terapia intensiva, exceto entre uso de penicilina e infecção por MRSA. 3. Observamos relação entre maior concentração de renda e menor incidência de infecção por MRSA. 4. Observamos associação entre baixas incidências de infecção por patógenos multirresistentes e Santas Casas, o que pode ser um marcador de desigualdade social confirmando o achado descrito acima da relação entre alto índice de Gini (maior concentração de renda) e menor incidência de MRSA ou, alternativamente, se constituir em fragilidade do diagnóstico laboratorial. 5. Há necessidade de estudos que explorem esta relação observada entre maior concentração de renda e categoria do hospital (Santa Casa) com menores incidências de infecção por patógenos multirresistentes em UTI
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O surgimento de patógenos resistentes no ambiente hospitalar assim como seu comportamento epidemiológico é um evento complexo de múltiplas causas. A pressão seletiva decorrente do uso destas drogas é evidente desde o início do uso clínico da penicilina. No entanto, a inter-relação entre pressão seletiva e determinantes de outra natureza como sociais, econômicos e geográficos precisam ser mais bem compreendidos. Objetivos - 1. Investigar a existência de dependência espacial na ocorrência de infecção da corrente sanguínea em UTI no estado de São Paulo causadas por bactérias multirresistentes (BMR). 2. Investigar a associação entre a ocorrência de infecção da corrente sanguínea por BMR e consumo global de antimicrobianos no estado de São Paulo, indicadores socioeconômicos e de saúde. Método - Planejamos um estudo descritivo, ecológico e de multinível envolvendo unidades de terapia intensiva do estado de São Paulo. Definimos infecção da corrente sanguínea causada por seis patógenos multirresistentes e notificada à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo entre os anos de 2008 a 2011 como variável dependente. As variáveis independentes foram o consumo global (comunitário e hospitalar) de antimicrobianos neste período e variáveis socioeconômicas e de qualidade e acesso aos serviços de saúde. O consumo de antimicrobianos foi obtido a partir de um banco de dados de uma empresa de prospecção de vendas destas drogas, IMS Health Brazil. As variáveis socioeconômicas e de qualidade e acesso aos serviços de saúde foram obtidas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE). Utilizamos um modelo hierárquico (multinível) incluindo as variáveis socioeconômicas distalmente, variáveis de acesso e qualidade de serviços de saúde medialmente e uso de antimicrobianos proximalmente. Dado o grande número de zeros em nossa variável de desfecho (34% a 85% a depender do patógeno avaliado), a verosimilhança foi modelada com base em uma distribuição de Poisson inflada por zeros. Os modelos foram ajustados seguindo a abordagem INLA, especificando prioris não informativas para as variáveis \"município\" e \"hospital\". As análises foram feitas no software R 3.2.1, usando os pacotes INLA 0.0-1432754561 e INLAOutputs 0.0.2. Resultados - Identificamos associação direta entre consumo global de penicilina e inversa com índice de Gini no estado de São Paulo e infecção da corrente sanguínea causada por Staphylococcus aureus resistente à oxacilina (MRSA). Para os demais agentes etiológicos estudados, não observamos o consumo global (comunitário e hospitalar) de antimicrobianos ou de variáveis socioeconômicas, de acesso e qualidade da assistência à saúde como determinantes da infecção da corrente sanguínea em unidades de terapia intensiva do estado de São Paulo. Observamos maior incidência de Enterococcus resistente à vancomicina (VRE), Pseudomonas aeruginosa resistente a carbapenens, Acinetobacter sp resistente a carbapenens e Escherichia coli resistente a cefalosporinas de terceira geração em hospitais públicos comparados a hospitais filantrópicos e menor incidência de VRE, Klebsiella pneumoniae resistente a cefalosporinas de terceira geração, Pseudomonas aeruginosa resistente a carbapenens, Acinetobacter sp resistente a carbapenens e Escherichia coli resistente a cefalosporinas de terceira geração em Santas Casas comparadas a hospitais filantrópicos. Por fim, observamos maior incidência de Klebsiella pneumoniae resistente a cefalosporinas de terceira geração em hospital privado comparado a hospital filantrópico. Conclusões - 1. Observamos que, embora não de maneira uniforme, a maioria dos patógenos estudados, nos diferentes anos, forma agrupamentos geográficos, ou seja, não estão distribuídos aleatoriamente no espaço estudado. 2. Não observamos, neste estudo, relação entre consumo de antimicrobianos na comunidade e infecção por patógenos multirresistentes em pacientes críticos tratados em unidades de terapia intensiva, exceto entre uso de penicilina e infecção por MRSA. 3. Observamos relação entre maior concentração de renda e menor incidência de infecção por MRSA. 4. Observamos associação entre baixas incidências de infecção por patógenos multirresistentes e Santas Casas, o que pode ser um marcador de desigualdade social confirmando o achado descrito acima da relação entre alto índice de Gini (maior concentração de renda) e menor incidência de MRSA ou, alternativamente, se constituir em fragilidade do diagnóstico laboratorial. 5. Há necessidade de estudos que explorem esta relação observada entre maior concentração de renda e categoria do hospital (Santa Casa) com menores incidências de infecção por patógenos multirresistentes em UTIIntroduction - Bacterial resistance to antimicrobial drugs is a result of microrganisms adaptive mechanisms and poses a great problem for public health because this phenomenon limits therapeutic options, especially for critical patients. The emergence of resistant pathogens in the hospital setting and their epidemiological behavior is a complex event with multiple causes. Selective pressure due to the use of these drugs has been evident since we started using penicillin for clinical purposes. However, interactions between selective pressure and other determinants like social, economic and geographic need to be better understood. Objetives - 1.To investigate the occurrence of spatial dependency among intensive care units (ICU) in the state of São Paulo related to the incidence of bloodstream infection caused by multidrug resistant organisms (MDRO). 2.To investigate the association of the incidence of bloodstream infection caused by MDROs, socioeconomic and health indicators. Method - We planned a descriptive, ecologic and multilevel study involving ICUs of the state of São Paulo. The incidences of bloodstream infection caused by a priori defined six MDROs reported to the State Health Department between 2008 and 2011 were defined as dependent variables. Independent variables were the global consumption (community and hospital) of antimicrobial drugs during the period of the study which was obtained from sales database of IMS Health Brazil, a sales prospecting company. Socioeconomic, quality and access to healthcare services indicators were obtained from Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) and Sistema Estadual de Análises de Dados (SEADE). We used a hierarchical model (multilevel) including socioeconomic variables distally, quality and access to healthcare services medially and antimicrobial use proximally. Because of the great number of zeros observed within the dependent variable (34% to 85% depending on the pathogen), the likelihood was modeled based on a Poisson distribution inflated with zeros. The models were adjusted following an INLA approach, determining non-informative prioris for the variables \"municipality\" and \"hospital\". Analysis were performed using R 3.2.1 software, INLA packages 0.0-1432754561 and INLAOutputs 0.0.2. Results - We identified significant positive association between global consumption of penicillin and negative association with higher Gini index both with methicillin resistant Staphylococcus aureus (MRSA). We did not identified other significant associations between global antimicrobial use, socioeconomic and healthcare indicators and multiresistant organisms causing bloodstream infections. There were greater incidences of vancomycin resistant Enterococci (VRE), carbapenem resistant Pseudomonas aeruginosa and Acinetobacter sp, third generation cephalosporin resistant Escherichia coli and Klebsiella pneumoniae in public hospitals compared to philanthropic hospitals and there were lower incidences of VRE, carbapenem resistant Pseudomonas aeruginosa and Acinetobacter sp, third generation cephalosporin resistant Escherichia coli and Klebsiella pneumoniae in Santas Casas compared to philanthropic hospitals. Finally, we observed greater incidence of third generation cephalosporin resistant Klebsiella pneumoniae in private hospitals compared to philanthropic hospitals. Conclusions - 1. We observed that, although not consistently, for most of analized pathogens, in different years, form geographic clusters, i.e they are not randomly spatially distributed. 2. Based on our findings, the incidence of bloodstream infections caused by MDROs in ICUs are not related to global antimicrobial use, except for the relation between penicillin use and MRSA infection. 3. We observed that greater income concentration is related to lower incidence of MRSA. 4. The lower incidences of bloodstream infections caused by MDROs in Santas Casas might be a surrogate for social inequality confirming the finding of higher Gini index related to lowest MRSA infection or, alternatively being related to poor laboratory diagnostic performance. 5. Further studies exploring the observed relationship between greater income concentration and low incidence of MDRO infections in ICU are neededBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPChiaravalloti Neto, FranciscoLevin, Anna Sara ShaffermanBoszczowski, Ícaro2016-10-04info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5134/tde-06012017-124622/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2018-07-17T16:34:08Zoai:teses.usp.br:tde-06012017-124622Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212018-07-17T16:34:08Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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description Introdução - A resistência bacteriana aos antimicrobianos é resultado de mecanismos adaptativos destes microrganismos e se constitui em importante problema de saúde pública em razão da limitação terapêutica que este fenômeno impõe, sobretudo no tratamento de infecções invasivas de pacientes críticos. O surgimento de patógenos resistentes no ambiente hospitalar assim como seu comportamento epidemiológico é um evento complexo de múltiplas causas. A pressão seletiva decorrente do uso destas drogas é evidente desde o início do uso clínico da penicilina. No entanto, a inter-relação entre pressão seletiva e determinantes de outra natureza como sociais, econômicos e geográficos precisam ser mais bem compreendidos. Objetivos - 1. Investigar a existência de dependência espacial na ocorrência de infecção da corrente sanguínea em UTI no estado de São Paulo causadas por bactérias multirresistentes (BMR). 2. Investigar a associação entre a ocorrência de infecção da corrente sanguínea por BMR e consumo global de antimicrobianos no estado de São Paulo, indicadores socioeconômicos e de saúde. Método - Planejamos um estudo descritivo, ecológico e de multinível envolvendo unidades de terapia intensiva do estado de São Paulo. Definimos infecção da corrente sanguínea causada por seis patógenos multirresistentes e notificada à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo entre os anos de 2008 a 2011 como variável dependente. As variáveis independentes foram o consumo global (comunitário e hospitalar) de antimicrobianos neste período e variáveis socioeconômicas e de qualidade e acesso aos serviços de saúde. O consumo de antimicrobianos foi obtido a partir de um banco de dados de uma empresa de prospecção de vendas destas drogas, IMS Health Brazil. As variáveis socioeconômicas e de qualidade e acesso aos serviços de saúde foram obtidas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE). Utilizamos um modelo hierárquico (multinível) incluindo as variáveis socioeconômicas distalmente, variáveis de acesso e qualidade de serviços de saúde medialmente e uso de antimicrobianos proximalmente. Dado o grande número de zeros em nossa variável de desfecho (34% a 85% a depender do patógeno avaliado), a verosimilhança foi modelada com base em uma distribuição de Poisson inflada por zeros. Os modelos foram ajustados seguindo a abordagem INLA, especificando prioris não informativas para as variáveis \"município\" e \"hospital\". As análises foram feitas no software R 3.2.1, usando os pacotes INLA 0.0-1432754561 e INLAOutputs 0.0.2. Resultados - Identificamos associação direta entre consumo global de penicilina e inversa com índice de Gini no estado de São Paulo e infecção da corrente sanguínea causada por Staphylococcus aureus resistente à oxacilina (MRSA). Para os demais agentes etiológicos estudados, não observamos o consumo global (comunitário e hospitalar) de antimicrobianos ou de variáveis socioeconômicas, de acesso e qualidade da assistência à saúde como determinantes da infecção da corrente sanguínea em unidades de terapia intensiva do estado de São Paulo. 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Não observamos, neste estudo, relação entre consumo de antimicrobianos na comunidade e infecção por patógenos multirresistentes em pacientes críticos tratados em unidades de terapia intensiva, exceto entre uso de penicilina e infecção por MRSA. 3. Observamos relação entre maior concentração de renda e menor incidência de infecção por MRSA. 4. Observamos associação entre baixas incidências de infecção por patógenos multirresistentes e Santas Casas, o que pode ser um marcador de desigualdade social confirmando o achado descrito acima da relação entre alto índice de Gini (maior concentração de renda) e menor incidência de MRSA ou, alternativamente, se constituir em fragilidade do diagnóstico laboratorial. 5. Há necessidade de estudos que explorem esta relação observada entre maior concentração de renda e categoria do hospital (Santa Casa) com menores incidências de infecção por patógenos multirresistentes em UTI
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