Fim de jogo: Spiel im Morgengrauen como figuração do declínio austro-húngaro
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-21112023-131854/ |
Resumo: | Esta dissertação analisa o modo como a dissolução do Império Austro-Húngaro, ocorrida após o término da Primeira Guerra Mundial, apresenta-se materializada temática e formalmente na novela Spiel im Morgengrauen , de Arthur Schnitzler, publicada em 1927. Para tanto, tratamos do papel do militarismo na composição da personalidade do protagonista, tenente Willi Kasda, destacando a função do exército como elemento simbólico importante na manutenção do Antigo Regime durante o século XIX. Em seguida, analisamos a forma da narrativa, configurada a partir da mescla entre o discurso indireto livre e o monólogo interior indireto que dá acesso aos pensamentos do protagonista. Mostramos como tal técnica é comum nas obras do autor, conhecido por dar voz a camadas anteriores à consciência das personagens. Na sequência, reconstituímos brevemente os acontecimentos históricos da segunda metade do século XIX, naquele país, mostrando que, diferente de outros locais da Europa ocidental, a burguesia não chegou a se estabelecer como classe hegemônica, ficando à sombra da nobreza. Tal fenômeno gerou consequências na cultura, por exemplo, o \"anticapitalismo\" perceptível em boa parte das obras de arte do Império e a desconfiança diante da racionalidade e do \"eu\" burgueses. Destacamos como Schnitzler elabora uma crítica ao código de conduta baseado na honra desde suas primeiras peças. Então, resgatamos o modo como esse conceito, mesmo passando por transformações de sentido, foi tematizado na tradição literária de língua alemã. O autor, na obra Leutnant Gustl , publicada em 1900, repete o tema em uma novela conhecida pelo monólogo interior direto, portanto uma crítica aos modos aristocráticos/militares, estruturada em uma forma literária nascida da crise dos esquemas narrativos da burguesia. Voltamos, afinal, à Spiel im Morgengrauen para demonstrar como a mesma temática tem um desenvolvimento diferente nessa obra tardia. Nela já encontramos elementos financeiros, que rompem com o \"anticapitalismo\" da tradição austríaca, e personagens pertencentes ao mundo dos negócios – Schnabel e Leopoldine –, que acabam acelerando o percurso do protagonista rumo à destruição. Por fim, apontamos a maneira com que o tema do jogo simboliza a contingência como elemento ordenador da vida, em um cenário em que nem a honra aristocrática nem a moral burguesa podem servir de régua ética. |
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Fim de jogo: Spiel im Morgengrauen como figuração do declínio austro-húngaroGame over: Spiel im Morgengrauen as figuration of the Austro-Hungarian declineArthur SchnitzlerArthur SchnitzlerAustro-Hungarian EmpireBourgeoisieBurguesiaGamesImpério Austro-HúngaroJogosSpiel im MorgengrauenSpiel im MorgengrauenEsta dissertação analisa o modo como a dissolução do Império Austro-Húngaro, ocorrida após o término da Primeira Guerra Mundial, apresenta-se materializada temática e formalmente na novela Spiel im Morgengrauen , de Arthur Schnitzler, publicada em 1927. Para tanto, tratamos do papel do militarismo na composição da personalidade do protagonista, tenente Willi Kasda, destacando a função do exército como elemento simbólico importante na manutenção do Antigo Regime durante o século XIX. Em seguida, analisamos a forma da narrativa, configurada a partir da mescla entre o discurso indireto livre e o monólogo interior indireto que dá acesso aos pensamentos do protagonista. Mostramos como tal técnica é comum nas obras do autor, conhecido por dar voz a camadas anteriores à consciência das personagens. Na sequência, reconstituímos brevemente os acontecimentos históricos da segunda metade do século XIX, naquele país, mostrando que, diferente de outros locais da Europa ocidental, a burguesia não chegou a se estabelecer como classe hegemônica, ficando à sombra da nobreza. Tal fenômeno gerou consequências na cultura, por exemplo, o \"anticapitalismo\" perceptível em boa parte das obras de arte do Império e a desconfiança diante da racionalidade e do \"eu\" burgueses. Destacamos como Schnitzler elabora uma crítica ao código de conduta baseado na honra desde suas primeiras peças. Então, resgatamos o modo como esse conceito, mesmo passando por transformações de sentido, foi tematizado na tradição literária de língua alemã. O autor, na obra Leutnant Gustl , publicada em 1900, repete o tema em uma novela conhecida pelo monólogo interior direto, portanto uma crítica aos modos aristocráticos/militares, estruturada em uma forma literária nascida da crise dos esquemas narrativos da burguesia. Voltamos, afinal, à Spiel im Morgengrauen para demonstrar como a mesma temática tem um desenvolvimento diferente nessa obra tardia. Nela já encontramos elementos financeiros, que rompem com o \"anticapitalismo\" da tradição austríaca, e personagens pertencentes ao mundo dos negócios – Schnabel e Leopoldine –, que acabam acelerando o percurso do protagonista rumo à destruição. Por fim, apontamos a maneira com que o tema do jogo simboliza a contingência como elemento ordenador da vida, em um cenário em que nem a honra aristocrática nem a moral burguesa podem servir de régua ética.This dissertation analyzes the way in which the dissolution of the Austro-Hungarian Empire, which occurred after the end of the First World War, is presented thematically and formally in the novel Spiel im Morgengrauen , by Arthur Schnitzler, published in 1927. To do so, we consider the role of militarism when composing the personality of the protagonist, Lieutenant Willi Kasda, highlighting the role of the army as an important symbolic element in the maintenance of the Ancien Régime during the 19th century. Then, we analyze the form of the narrative, constructed based on the mix between the free indirect speech and the indirect interior monologue that provides the access to the protagonist\'s thoughts. We show how this technique is commonly found in the works by the author, known for giving voice to layers prior to the consciousness of the characters. Next, we briefly reconstruct the historical events of the second half of the 19th century in that country, showing that, unlike other places in Western Europe, the bourgeoisie did not establish itself as a hegemonic class, remaining in the shadow of the nobility. This phenomenon had consequences in the culture as seen, for example, in the \"anti-capitalism\" perceptible in most of the works of art of the Empire and the distrust of the bourgeois rationality and \"self\". We highlight how Schnitzler elaborates a critique of the code of conduct based on honor from his first plays. So, we regain the way in which this concept, even going through transformations of meaning, was thematized in the literary tradition of the German language. The author, in the work Leutnant Gustl , published in 1900, revisits the theme in a novel known for its direct interior monologue, therefore a criticism of the aristocratic/military ways, structured in a literary form born from the crisis of the narrative schemes of the bourgeoisie. Finally, we return to Spiel im Morgengrauen to demonstrate how the same theme has a different development in this late work. In it, we already find financial elements that break with the \"anti-capitalism\" of the Austrian tradition and characters belonging to the business world – Schnabel and Leopoldine –, who end up accelerating the protagonist\'s path towards destruction. Finally, we point out the way in which the theme of the game symbolizes contingency as a regulatory element of life, in a scenario in which neither aristocratic honor nor bourgeois morality can serve as an ethical compass.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPSilva, Anderson Gonçalves daOliveira, Lucas Fernando Caldeira de2022-09-23info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-21112023-131854/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-11-21T15:36:02Zoai:teses.usp.br:tde-21112023-131854Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-11-21T15:36:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Esta dissertação analisa o modo como a dissolução do Império Austro-Húngaro, ocorrida após o término da Primeira Guerra Mundial, apresenta-se materializada temática e formalmente na novela Spiel im Morgengrauen , de Arthur Schnitzler, publicada em 1927. Para tanto, tratamos do papel do militarismo na composição da personalidade do protagonista, tenente Willi Kasda, destacando a função do exército como elemento simbólico importante na manutenção do Antigo Regime durante o século XIX. Em seguida, analisamos a forma da narrativa, configurada a partir da mescla entre o discurso indireto livre e o monólogo interior indireto que dá acesso aos pensamentos do protagonista. Mostramos como tal técnica é comum nas obras do autor, conhecido por dar voz a camadas anteriores à consciência das personagens. Na sequência, reconstituímos brevemente os acontecimentos históricos da segunda metade do século XIX, naquele país, mostrando que, diferente de outros locais da Europa ocidental, a burguesia não chegou a se estabelecer como classe hegemônica, ficando à sombra da nobreza. Tal fenômeno gerou consequências na cultura, por exemplo, o \"anticapitalismo\" perceptível em boa parte das obras de arte do Império e a desconfiança diante da racionalidade e do \"eu\" burgueses. Destacamos como Schnitzler elabora uma crítica ao código de conduta baseado na honra desde suas primeiras peças. Então, resgatamos o modo como esse conceito, mesmo passando por transformações de sentido, foi tematizado na tradição literária de língua alemã. O autor, na obra Leutnant Gustl , publicada em 1900, repete o tema em uma novela conhecida pelo monólogo interior direto, portanto uma crítica aos modos aristocráticos/militares, estruturada em uma forma literária nascida da crise dos esquemas narrativos da burguesia. Voltamos, afinal, à Spiel im Morgengrauen para demonstrar como a mesma temática tem um desenvolvimento diferente nessa obra tardia. Nela já encontramos elementos financeiros, que rompem com o \"anticapitalismo\" da tradição austríaca, e personagens pertencentes ao mundo dos negócios – Schnabel e Leopoldine –, que acabam acelerando o percurso do protagonista rumo à destruição. Por fim, apontamos a maneira com que o tema do jogo simboliza a contingência como elemento ordenador da vida, em um cenário em que nem a honra aristocrática nem a moral burguesa podem servir de régua ética. |
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