Identidade e processos de subjetivação: a importância da transição capilar no enfrentamento ao racismo / Identity and processes of subjectivation: the importance of the capillary transition in facing racism

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mendes, Aline Moreno
Data de Publicação: 2020
Outros Autores: Carneiro, Ana Maria de Lima, Anjos, Joseane Macedo dos
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista Veras
Texto Completo: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/21356
Resumo: Ao longo da história, a Psicologia brasileira produziu conhecimentos que reforçaram estereótipos raciais, todavia, mesmo em dias atuais se mantém conivente com o racismo quando se silencia frente a esse tipo de desigualdade política, fazendo-se necessária a discussão da temática do racismo nas grades curriculares de psicologia, de modo a pensar a atuação do psicólogo nesse âmbito, pautada nos princípios fundamentais do Código de Ética profissional, compreendendo os efeitos psicossociais do racismo, uma vez que o racismo tem efeitos diretos na saúde mental, no autoconceito, bem como na autoestima do sujeito negro. No Brasil, durante muito tempo, os negros sofreram dominação política, econômica e cultural, o preconceito frente ao sujeito negro se amplia a todos sentidos, sobretudo na estética, na identidade, e o cabelo do negro reflete todo esse conflito, sendo considerado também como um sinal de pertencimento a um grupo, é um dos principais signos da identidade negra, que é constituída no processo que inclui o olhar para si, bem como a relação com o olhar do outro visto que as experiências que uma pessoa tem com o seu cabelo ao longo da vida afetam diretamente o seu autoconceito. Com isso, esta pesquisa teve como objetivo verificar os efeitos da transição capilar na autoestima e no enfrentamento ao racismo. Constituiu-se como uma pesquisa netnográfica quantiqualitativa, com dados obtidos por meio de questionário, aplicado a 134 pessoas de dezoito estados brasileiros e uma dos Estados Unidos. Verificou-se que 59,7% dos entrevistados entendem a transição capilar como um protesto contra o racismo e que 79,9% disseram já ter sofrido preconceito com seu cabelo, sendo um dos principais alvos do preconceito racial. Nota-se que a valorização das características brancas, como o cabelo liso, reforça no sujeito a sensação de estar fora do padrão, corroborando para uma autoestima reduzida, esse efeito na autoestima é confirmado nesta pesquisa, visto que “antes da transição capilar” (44,8%) e “durante a transição” (36,6%) a autoestima foi considerada como “média”, todavia, “depois da transição capilar” a autoestima passa a ser considerada como “muito alta” (27,6%). Com base nos dados apresentados, concluiu-se que o racismo constitui-se como forma de promoção do sofrimento psicológico no sujeito negro, levando-o a não aceitar-se em seu próprio corpo, induzindo a buscar formas de embranquecimento para ser aceito no padrão social preestabelecido. Deste modo, a transição capilar é apresentada como forma de enfrentamento ao racismo, através de uma ressignificação de sua identidade e aceitação de seus traços de origem. Nesse contexto, a psicologia enquanto ciência e profissão deve se atentar aos processos de subjetivação e os efeitos na autoestima provocados pelo racismo, de forma a pensar como o racismo atravessa a construção subjetiva do sujeito, inteirando-se, portanto, sobre os debates acerca da temática, de modo a posicionar-se pensando ações pautadas em um compromisso ético-político do fazer profissional da psicologia, prezando pela dignidade humana e a promoção da saúde mental.
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