Hidrocefalia conseqüente à varíola incidindo no período fetal

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Almeida,Gilberto Machado de
Data de Publicação: 1964
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Arquivos de neuro-psiquiatria (Online)
Texto Completo: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1964000300002
Resumo: A partir de 1941, muito tem sido escrito a respeito da possibilidade de que uma infecção, incidindo em gestante, determine malformação. O papel da rubéola como causa de embriopatias está comprovado; entretanto, não há, até agora, demonstração cabal de que outras viroses também as determinem. No que diz respeito à possibilidade de existir embriopatia causada por varíola, encontramos apenas o caso de Jellife, para o qual esta etiologia foi sugerida. Com relação às malformações causadas por fetopatias, a toxoplasmose e a citomegalia constituem as únicas bem estudadas e caracterizadas. Morquio, em 1903, registrou três pacientes hidrocefálicos para os quais a etiologia variólica é sugerida; êste trabalho não foi citado na literatura ulterior. A possibilidade de a varíola atingir o feto, determinando hidrocefalia, não foi mais referida, se bem que seja relativamente numerosa a bibliografia a respeito das conseqüências desta virose quando incide durante a gravidez. Dentre 450 pacientes hidrocefálicas que tivemos a oportunidade de examinar, encontramos 15 nos quais pôde ser demonstrado que a varíola, incidindo após o quarto mês de gestação, atingiu o feto determinando fetopatia cujo elemento mais característico foi a hidrocefalia. O quadro clínico e anátomo-patológico apresentado por êstes doentes tem algumas características semelhantes às encontradas em casos de citomegalia e toxoplasmose. O estudo dêstes pacientes e da literatura correlata permitiu chegar às seguintes conclusões: 1. A varíola incidindo em gestante, nos dois últimos trimestres da gravidez, pode atingir o feto determinando lesões encefálicas graves e hidrocefalia. 2. Nos casos de crianças que apresentam sinais de hidrocefalia deve ser indagada a ocorrência de doença eruptiva materna, varíola em particular, durante a gestação. Mesmo quando se trate de mães imunes à varíola por vacinação ou por moléstia anterior e que não refiram erupção durante a gravidez, deve ser indagada a ocorrência da moléstia em pessoas coabitantes, pois, ao simples contacto, têm sido atribuídos casos de peto-patias. 3. Para melhor conhecimento da ação do vírus variólico na determinação de malformações há necessidade, não só de anamnese pormenorizada, mas, também, de estudos prospectivos, partindo de gestantes atingidas por varíola em qualquer período da gravidez, ou que tiveram contacto com paciente varioloso.
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