Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidiano

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Spina-França,A.
Data de Publicação: 1962
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Arquivos de neuro-psiquiatria (Online)
Texto Completo: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1962000100002
Resumo: Entre os aspectos biológicos da neurocisticercose, têm sido mais exploradas as alterações do líqüido cefalorraquidiano (LCR) em vista do seu valor diagnóstico. Para analisar os conhecimentos quanto ao quadro liquórico da afecção são apresentados 03 achados referentes a 62 caco3 acompanhados na Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Em todos êstes casos a infestação do sistema nervoso central (SNC) e/ou de seus envoltórios pelo cisticerco foi comprovada pela necropsia ou durante intervenção cirúrgica (biopsia). A análise do material e da literatura sôbre o assunto permite as seguintes conclusões: 1 - Entre os exames complementares, o exame do LCR é aquêle que permite com maior freqüência o diagnóstico em vida da neurocisticercose. A demonstração da presença de anticorpos específicos é o elemento fundamental para o diagnóstico liquórico; a ecsinofilorraquia complementa esse dado e tem valor sugestivo. 2 - Na neurocisticercose, a eosinofilorraquia costuma ser tanto mais intensa quanto mais nítida a pleiocitose liquórica; entretanto, a presença de células eosinófilas no LCR pode decorrer' de outras causas e sua ausência não infirma o diagnóstico. A eosinofilorraquia permite avaliar a intensidade da reação hiperérgica desencadeada pelo parasito e possibilita orientar o diagnóstico em casos duvidosos. 3 - Na cisticercose há formação de anticorpos específicos, demonstráveis por meio de reações de precipitação e de fixação do complemento; esta última é a mais largamente utilizada. Os anticorpos são semelhantes aos que aparecem no parasitismo por outros cestóideos. Quando localizados no SNC e/ou em seus envoltórios, são os cisticercos os cestóideos que, com maior freqüência e em maior intensidade, desencadeiam reações imunitárias, determinando o aparecimento de anticorpos específicos no LCR. 4 - A evolução do quadro liquórico é variável e nem sempre acompanha a evolução clínica. Quando esta é satisfatória, costumam desaparecer progressivamente as alterações do LCR; se estas se mantiverem por longo tempo, o prognóstico é mais reservado, especialmente quando aparece hipoglicorraquia. Em alguns casos, após intervenções cirúrgicas há rápida remissão das alterações do LCR; provavelmente isto ocorre nos casos em que a infestação do encéfalo era discreta, ou mesmo única. Quando ocorre rotura da vesícula parasitária durante a intervenção cirúrgica, o liqüido contido em seu interior acarreta exacerbação transitória das alterações do LCR. 5 - As alterações do proteinograma do LCR na neurocisticercose são do tipo verificado em processos inflamatórios subcrônicos e crônicos do SNC e de seus envoltórios, caracterizando-se especialmente por aumento de γ-globulina. Êste aumento está relacionado à intensidade da reação imunopatológica e provavelmente é devido à produção local dessa globulina, que parece ser a carreadora dos anticorpos específicos. O aumento de γ-globulina é precoce, podendo preceder a formação dos anticorpos específicos e costuma regredir lentamente nos casos de evolução satisfatória. Quando a evolução é má, o teor dessa globulina costuma aumentar progressivamente.
id ABNEURO-1_b20a2e432493a66414fac8e0bbc30543
oai_identifier_str oai:scielo:S0004-282X1962000100002
network_acronym_str ABNEURO-1
network_name_str Arquivos de neuro-psiquiatria (Online)
repository_id_str
spelling Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidianoEntre os aspectos biológicos da neurocisticercose, têm sido mais exploradas as alterações do líqüido cefalorraquidiano (LCR) em vista do seu valor diagnóstico. Para analisar os conhecimentos quanto ao quadro liquórico da afecção são apresentados 03 achados referentes a 62 caco3 acompanhados na Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Em todos êstes casos a infestação do sistema nervoso central (SNC) e/ou de seus envoltórios pelo cisticerco foi comprovada pela necropsia ou durante intervenção cirúrgica (biopsia). A análise do material e da literatura sôbre o assunto permite as seguintes conclusões: 1 - Entre os exames complementares, o exame do LCR é aquêle que permite com maior freqüência o diagnóstico em vida da neurocisticercose. A demonstração da presença de anticorpos específicos é o elemento fundamental para o diagnóstico liquórico; a ecsinofilorraquia complementa esse dado e tem valor sugestivo. 2 - Na neurocisticercose, a eosinofilorraquia costuma ser tanto mais intensa quanto mais nítida a pleiocitose liquórica; entretanto, a presença de células eosinófilas no LCR pode decorrer' de outras causas e sua ausência não infirma o diagnóstico. A eosinofilorraquia permite avaliar a intensidade da reação hiperérgica desencadeada pelo parasito e possibilita orientar o diagnóstico em casos duvidosos. 3 - Na cisticercose há formação de anticorpos específicos, demonstráveis por meio de reações de precipitação e de fixação do complemento; esta última é a mais largamente utilizada. Os anticorpos são semelhantes aos que aparecem no parasitismo por outros cestóideos. Quando localizados no SNC e/ou em seus envoltórios, são os cisticercos os cestóideos que, com maior freqüência e em maior intensidade, desencadeiam reações imunitárias, determinando o aparecimento de anticorpos específicos no LCR. 4 - A evolução do quadro liquórico é variável e nem sempre acompanha a evolução clínica. Quando esta é satisfatória, costumam desaparecer progressivamente as alterações do LCR; se estas se mantiverem por longo tempo, o prognóstico é mais reservado, especialmente quando aparece hipoglicorraquia. Em alguns casos, após intervenções cirúrgicas há rápida remissão das alterações do LCR; provavelmente isto ocorre nos casos em que a infestação do encéfalo era discreta, ou mesmo única. Quando ocorre rotura da vesícula parasitária durante a intervenção cirúrgica, o liqüido contido em seu interior acarreta exacerbação transitória das alterações do LCR. 5 - As alterações do proteinograma do LCR na neurocisticercose são do tipo verificado em processos inflamatórios subcrônicos e crônicos do SNC e de seus envoltórios, caracterizando-se especialmente por aumento de γ-globulina. Êste aumento está relacionado à intensidade da reação imunopatológica e provavelmente é devido à produção local dessa globulina, que parece ser a carreadora dos anticorpos específicos. O aumento de γ-globulina é precoce, podendo preceder a formação dos anticorpos específicos e costuma regredir lentamente nos casos de evolução satisfatória. Quando a evolução é má, o teor dessa globulina costuma aumentar progressivamente.Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO1962-03-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersiontext/htmlhttp://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1962000100002Arquivos de Neuro-Psiquiatria v.20 n.1 1962reponame:Arquivos de neuro-psiquiatria (Online)instname:Academia Brasileira de Neurologiainstacron:ABNEURO10.1590/S0004-282X1962000100002info:eu-repo/semantics/openAccessSpina-França,A.por2013-12-04T00:00:00Zoai:scielo:S0004-282X1962000100002Revistahttp://www.scielo.br/anphttps://old.scielo.br/oai/scielo-oai.php||revista.arquivos@abneuro.org1678-42270004-282Xopendoar:2013-12-04T00:00Arquivos de neuro-psiquiatria (Online) - Academia Brasileira de Neurologiafalse
dc.title.none.fl_str_mv Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidiano
title Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidiano
spellingShingle Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidiano
Spina-França,A.
title_short Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidiano
title_full Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidiano
title_fullStr Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidiano
title_full_unstemmed Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidiano
title_sort Aspectos biológicos da neurocisticercose: alterações do liqüido cefalorraquidiano
author Spina-França,A.
author_facet Spina-França,A.
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Spina-França,A.
description Entre os aspectos biológicos da neurocisticercose, têm sido mais exploradas as alterações do líqüido cefalorraquidiano (LCR) em vista do seu valor diagnóstico. Para analisar os conhecimentos quanto ao quadro liquórico da afecção são apresentados 03 achados referentes a 62 caco3 acompanhados na Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Em todos êstes casos a infestação do sistema nervoso central (SNC) e/ou de seus envoltórios pelo cisticerco foi comprovada pela necropsia ou durante intervenção cirúrgica (biopsia). A análise do material e da literatura sôbre o assunto permite as seguintes conclusões: 1 - Entre os exames complementares, o exame do LCR é aquêle que permite com maior freqüência o diagnóstico em vida da neurocisticercose. A demonstração da presença de anticorpos específicos é o elemento fundamental para o diagnóstico liquórico; a ecsinofilorraquia complementa esse dado e tem valor sugestivo. 2 - Na neurocisticercose, a eosinofilorraquia costuma ser tanto mais intensa quanto mais nítida a pleiocitose liquórica; entretanto, a presença de células eosinófilas no LCR pode decorrer' de outras causas e sua ausência não infirma o diagnóstico. A eosinofilorraquia permite avaliar a intensidade da reação hiperérgica desencadeada pelo parasito e possibilita orientar o diagnóstico em casos duvidosos. 3 - Na cisticercose há formação de anticorpos específicos, demonstráveis por meio de reações de precipitação e de fixação do complemento; esta última é a mais largamente utilizada. Os anticorpos são semelhantes aos que aparecem no parasitismo por outros cestóideos. Quando localizados no SNC e/ou em seus envoltórios, são os cisticercos os cestóideos que, com maior freqüência e em maior intensidade, desencadeiam reações imunitárias, determinando o aparecimento de anticorpos específicos no LCR. 4 - A evolução do quadro liquórico é variável e nem sempre acompanha a evolução clínica. Quando esta é satisfatória, costumam desaparecer progressivamente as alterações do LCR; se estas se mantiverem por longo tempo, o prognóstico é mais reservado, especialmente quando aparece hipoglicorraquia. Em alguns casos, após intervenções cirúrgicas há rápida remissão das alterações do LCR; provavelmente isto ocorre nos casos em que a infestação do encéfalo era discreta, ou mesmo única. Quando ocorre rotura da vesícula parasitária durante a intervenção cirúrgica, o liqüido contido em seu interior acarreta exacerbação transitória das alterações do LCR. 5 - As alterações do proteinograma do LCR na neurocisticercose são do tipo verificado em processos inflamatórios subcrônicos e crônicos do SNC e de seus envoltórios, caracterizando-se especialmente por aumento de γ-globulina. Êste aumento está relacionado à intensidade da reação imunopatológica e provavelmente é devido à produção local dessa globulina, que parece ser a carreadora dos anticorpos específicos. O aumento de γ-globulina é precoce, podendo preceder a formação dos anticorpos específicos e costuma regredir lentamente nos casos de evolução satisfatória. Quando a evolução é má, o teor dessa globulina costuma aumentar progressivamente.
publishDate 1962
dc.date.none.fl_str_mv 1962-03-01
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1962000100002
url http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1962000100002
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv 10.1590/S0004-282X1962000100002
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv text/html
dc.publisher.none.fl_str_mv Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO
publisher.none.fl_str_mv Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO
dc.source.none.fl_str_mv Arquivos de Neuro-Psiquiatria v.20 n.1 1962
reponame:Arquivos de neuro-psiquiatria (Online)
instname:Academia Brasileira de Neurologia
instacron:ABNEURO
instname_str Academia Brasileira de Neurologia
instacron_str ABNEURO
institution ABNEURO
reponame_str Arquivos de neuro-psiquiatria (Online)
collection Arquivos de neuro-psiquiatria (Online)
repository.name.fl_str_mv Arquivos de neuro-psiquiatria (Online) - Academia Brasileira de Neurologia
repository.mail.fl_str_mv ||revista.arquivos@abneuro.org
_version_ 1754212742398476288