Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanálise
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 1999 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (Online) |
Texto Completo: | http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47141999000100090 |
Resumo: | Repetir a palavra alheia, ao lado do silêncio, é um dos sintomas mais freqüentes nas patologias da linguagem. Tradicionalmente denominada ecolalia, esta repetição é entendida como produção não intencional, inconsciente, que não é representativa de conhecimento objetivo da realidade. É apenas eco: uma fala que para nada serve. Desde uma perspectiva lingüística mais moderna, que toma a palavra como algo da instância discursiva (que aposta na polissemia da palavra e na heterogeneidade do sujeito), a repetição pode ter uma outra interpretação. Do interior do conceito de enunciação advém a idéia de incompletude do sujeito e da linguagem, determinando para a linguagem uma gênese que nada mais é senão o brotamento de um funcionamento do tipo simbólico em que a repetição fica como um acontecimento fundante. Resgatada por esta lingüística, a repetição permanece, entretanto, exigindo análise. A patologia de linguagem mostra uma repetição cujo destino é diferente: longe de notar uma ocorrência fundante, ela revela seu perverso poder, já que tira da palavra sua possibilidade em advir um dizer. Esta ocorrência passa a ter outra natureza e sobre isto a psicanálise tem muito a dizer. A repetição, ocorrência fundante, perde seu caráter original e significa o patológico. Fica exorbitado o lado conservador das pulsões, esfumaçando a heterogeneidade do sujeito, interditando qualquer anarquia no funcionamento pulsional, fonte da diferença necessária. A palavra é uma invenção: pelo seu caráter polissêmico ela é sempre uma solução inédita. Quando a criança repete a palavra do outro é como se ela a fizesse sua, instaurando a diferença. Na patologia, diversamente, a criança não faz sua a palavra alheia e, assim, deixa de ser uma invenção porque fica destituída da possibilidade de instaurar o novo. Acaba a dialética condicional entre invenção/repetição, daí a morte da palavra. |
id |
AUPPF-1_1ec7231372ec2f17c36c7e1554f20427 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:scielo:S1415-47141999000100090 |
network_acronym_str |
AUPPF-1 |
network_name_str |
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (Online) |
repository_id_str |
|
spelling |
Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanáliseRepetir a palavra alheia, ao lado do silêncio, é um dos sintomas mais freqüentes nas patologias da linguagem. Tradicionalmente denominada ecolalia, esta repetição é entendida como produção não intencional, inconsciente, que não é representativa de conhecimento objetivo da realidade. É apenas eco: uma fala que para nada serve. Desde uma perspectiva lingüística mais moderna, que toma a palavra como algo da instância discursiva (que aposta na polissemia da palavra e na heterogeneidade do sujeito), a repetição pode ter uma outra interpretação. Do interior do conceito de enunciação advém a idéia de incompletude do sujeito e da linguagem, determinando para a linguagem uma gênese que nada mais é senão o brotamento de um funcionamento do tipo simbólico em que a repetição fica como um acontecimento fundante. Resgatada por esta lingüística, a repetição permanece, entretanto, exigindo análise. A patologia de linguagem mostra uma repetição cujo destino é diferente: longe de notar uma ocorrência fundante, ela revela seu perverso poder, já que tira da palavra sua possibilidade em advir um dizer. Esta ocorrência passa a ter outra natureza e sobre isto a psicanálise tem muito a dizer. A repetição, ocorrência fundante, perde seu caráter original e significa o patológico. Fica exorbitado o lado conservador das pulsões, esfumaçando a heterogeneidade do sujeito, interditando qualquer anarquia no funcionamento pulsional, fonte da diferença necessária. A palavra é uma invenção: pelo seu caráter polissêmico ela é sempre uma solução inédita. Quando a criança repete a palavra do outro é como se ela a fizesse sua, instaurando a diferença. Na patologia, diversamente, a criança não faz sua a palavra alheia e, assim, deixa de ser uma invenção porque fica destituída da possibilidade de instaurar o novo. Acaba a dialética condicional entre invenção/repetição, daí a morte da palavra.Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental1999-03-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersiontext/htmlhttp://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47141999000100090Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental v.2 n.1 1999reponame:Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (Online)instname:Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF)instacron:AUPPF10.1590/1415-47141999001007info:eu-repo/semantics/openAccessPalladino,Ruthpor2016-08-29T00:00:00Zoai:scielo:S1415-47141999000100090Revistahttp://www.scielo.br/rlpfhttps://old.scielo.br/oai/scielo-oai.php||mtberlin@uol.com.br|| soniacleite@uol.com.br1984-03811415-4714opendoar:2016-08-29T00:00Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (Online) - Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanálise |
title |
Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanálise |
spellingShingle |
Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanálise Palladino,Ruth |
title_short |
Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanálise |
title_full |
Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanálise |
title_fullStr |
Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanálise |
title_full_unstemmed |
Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanálise |
title_sort |
Repetir a palavra alheia, ou De como refletir sobre esse sintoma na companhia da psicanálise |
author |
Palladino,Ruth |
author_facet |
Palladino,Ruth |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Palladino,Ruth |
description |
Repetir a palavra alheia, ao lado do silêncio, é um dos sintomas mais freqüentes nas patologias da linguagem. Tradicionalmente denominada ecolalia, esta repetição é entendida como produção não intencional, inconsciente, que não é representativa de conhecimento objetivo da realidade. É apenas eco: uma fala que para nada serve. Desde uma perspectiva lingüística mais moderna, que toma a palavra como algo da instância discursiva (que aposta na polissemia da palavra e na heterogeneidade do sujeito), a repetição pode ter uma outra interpretação. Do interior do conceito de enunciação advém a idéia de incompletude do sujeito e da linguagem, determinando para a linguagem uma gênese que nada mais é senão o brotamento de um funcionamento do tipo simbólico em que a repetição fica como um acontecimento fundante. Resgatada por esta lingüística, a repetição permanece, entretanto, exigindo análise. A patologia de linguagem mostra uma repetição cujo destino é diferente: longe de notar uma ocorrência fundante, ela revela seu perverso poder, já que tira da palavra sua possibilidade em advir um dizer. Esta ocorrência passa a ter outra natureza e sobre isto a psicanálise tem muito a dizer. A repetição, ocorrência fundante, perde seu caráter original e significa o patológico. Fica exorbitado o lado conservador das pulsões, esfumaçando a heterogeneidade do sujeito, interditando qualquer anarquia no funcionamento pulsional, fonte da diferença necessária. A palavra é uma invenção: pelo seu caráter polissêmico ela é sempre uma solução inédita. Quando a criança repete a palavra do outro é como se ela a fizesse sua, instaurando a diferença. Na patologia, diversamente, a criança não faz sua a palavra alheia e, assim, deixa de ser uma invenção porque fica destituída da possibilidade de instaurar o novo. Acaba a dialética condicional entre invenção/repetição, daí a morte da palavra. |
publishDate |
1999 |
dc.date.none.fl_str_mv |
1999-03-01 |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47141999000100090 |
url |
http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47141999000100090 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
10.1590/1415-47141999001007 |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
text/html |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental |
publisher.none.fl_str_mv |
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental |
dc.source.none.fl_str_mv |
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental v.2 n.1 1999 reponame:Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (Online) instname:Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF) instacron:AUPPF |
instname_str |
Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF) |
instacron_str |
AUPPF |
institution |
AUPPF |
reponame_str |
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (Online) |
collection |
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (Online) |
repository.name.fl_str_mv |
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (Online) - Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF) |
repository.mail.fl_str_mv |
||mtberlin@uol.com.br|| soniacleite@uol.com.br |
_version_ |
1754209290611064832 |