RADIS - Número 106 - Junho

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
Data de Publicação: 2011
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da FIOCRUZ (ARCA)
Texto Completo: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/20297
Resumo: Viver é correr risco, diz um ditado. Outro, lembra que é melhor prevenir... Nossa capa trabalha com a ideia de risco na saúde, uma categoria válida e tradicionalmente utilizada em Epidemiologia, assim como nas ações e políticas de prevenção. Mas vai além – e este é o aspecto mais interessante da matéria – quando coloca em discussão as consequências das diferentes acepções e usos inerentes a esse conceito complexo e instável, que é uma construção social do nosso tempo. As relações humanas contemporâneas, o desenvolvimento econômico e social não sustentável e o uso intenso de tecnologias sobre as quais não se tem suficiente conhecimento reforçam a idéia de perigo contida no espectro do que é risco. As possibilidades de acontecimentos ou consequências não implicam necessariamente grande probabilidade de daquilo se tornar realidade. E nesse espaço aberto pela incerteza prosperam as disputas sobre grau de incidência, critérios de verdade, chances reais de concretização. Estão em jogo sentidos e poder. Na epidemiologia do século 20, o risco se tornou cada vez mais quantificável e calculável. Com a contribuição das estatísticas e da noção de probabilidade, normas foram criadas e comportamentos reforçados em nome da saúde. No limiar deste primeiro século de milênio, a percepção das incertezas e imponderabilidades, somada ao avanço civilizacional dos direitos individuais e coletivos e da possibilidade de escolhas enfraqueceram a ideia de que o conhecimento das ciências da saúde ou o poder do Estado possa ditar o modo de vida. Por outro lado, as ideologias de redução do poder do Estado e hipertrofia do papel do mercado na vida pública e privada reforçaram a tendência ao descompromisso da esfera pública e das instituições sociais com a proteção da vida e estimularam saídas em que cada indivíduo passa a se responsabilizar por seu “estilo de vida” e, em última instância, sua saúde. Enquanto indivíduos e coletividades contam menos com a proteção do Estado e de certo consenso no conjunto de saberes acumulados, o direito à saúde e à vida é cada vez mais transformado em mercadorias. Inevitáveis sensações de perda, falta de proteção e medo são midiaticamente ampliadas e seus antídotos, comercializados. Ora o discurso do risco prescreve a contenção e o controle sobre o indivíduo, ora a possibilidade do risco é usada para estimular o arrependimento por tudo o que não se tenha feito.  O resultado dessa ambivalência, segundo um dos especialistas entrevistados é uma ansiedade sem precedentes na sociedade.
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As possibilidades de acontecimentos ou consequências não implicam necessariamente grande probabilidade de daquilo se tornar realidade. E nesse espaço aberto pela incerteza prosperam as disputas sobre grau de incidência, critérios de verdade, chances reais de concretização. Estão em jogo sentidos e poder. Na epidemiologia do século 20, o risco se tornou cada vez mais quantificável e calculável. Com a contribuição das estatísticas e da noção de probabilidade, normas foram criadas e comportamentos reforçados em nome da saúde. No limiar deste primeiro século de milênio, a percepção das incertezas e imponderabilidades, somada ao avanço civilizacional dos direitos individuais e coletivos e da possibilidade de escolhas enfraqueceram a ideia de que o conhecimento das ciências da saúde ou o poder do Estado possa ditar o modo de vida. Por outro lado, as ideologias de redução do poder do Estado e hipertrofia do papel do mercado na vida pública e privada reforçaram a tendência ao descompromisso da esfera pública e das instituições sociais com a proteção da vida e estimularam saídas em que cada indivíduo passa a se responsabilizar por seu “estilo de vida” e, em última instância, sua saúde. Enquanto indivíduos e coletividades contam menos com a proteção do Estado e de certo consenso no conjunto de saberes acumulados, o direito à saúde e à vida é cada vez mais transformado em mercadorias. Inevitáveis sensações de perda, falta de proteção e medo são midiaticamente ampliadas e seus antídotos, comercializados. Ora o discurso do risco prescreve a contenção e o controle sobre o indivíduo, ora a possibilidade do risco é usada para estimular o arrependimento por tudo o que não se tenha feito.  O resultado dessa ambivalência, segundo um dos especialistas entrevistados é uma ansiedade sem precedentes na sociedade.porFundação Oswaldo Cruz/ENSPRADIS - Número 106 - Junhoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleFundação Oswaldo Cruz. 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