"Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Nascimento, Luís Felipe Zilli
Data de Publicação: 2023
Outros Autores: Figueiredo, Amanda Matar de, Cruz, Marcus Vinícius Gonçalves da, Marinho, Karina Rabelo Leite, https://orcid.org/0000-0003-3605-1531, https://orcid.org/0000-0001-7754-0062, https://orcid.org/0000-0003-2476-3822, https://orcid.org/0000-0002-7303-3933, Fundação João Pinheiro
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Fundação João Pinheiro
Texto Completo: http://repositorio.fjp.mg.gov.br/handle/123456789/4185
Resumo: Entre 2012 e 2021, 1.146 pessoas morreram em decorrência de intervenções policiais em Minas Gerais. Em quase todos esses casos, a narrativa oficial dos boletins de ocorrência foi de que essas mortes se deram em situações de “confronto”, nas quais os policiais, atuado no “estrito cumprimento do dever legal”, usaram “moderadamente dos meios de força necessários” para “repelir injusta agressão”. Já há no Brasil farta literatura demonstrando que a mobilização dessa gramática, já nos registros iniciais, é a primeira etapa de uma cadeia de procedimentos que, ao final, quase sempre resultará na aplicação jurídica da “excludente de ilicitude” à letalidade policial. Dialogando com essa produção, este artigo apresenta os principais resultados de um estudo de caso sobre o processamento investigativo da letalidade policial militar em Minas Gerais. A partir de abordagem etnometodológica, buscou-se compreender como um complexo sistema de representações, discursos e cognições compartilhadas entre policiais sustenta a construção de accounts sobre os casos de letalidade, dando a eles a forma jurídica da “legítima defesa”. Em termos metodológicos, o estudo se vale da análise de 3.605 B.O. sobre mortes e ferimentos decorrentes de intervenções policiais registradas no estado entre 2013 e 2018, bem como de 25 entrevistas com atores-chave das forças policiais e do Ministério Público. A pesquisa revela que, no campo discursivo, a Polícia Militar de Minas Gerais tem adotado estratégias institucionais para padronizar as narrativas inseridas nos registros de letalidade (boletins de ocorrência e inquéritos policiais militares), já acionando, nesses documentos, a gramática necessária à fundamentação da excludente de ilicitude na etapa judicial. Em termos procedimentais, a corporação tem não apenas assumido a investigação de seus próprios casos letalidade, mas também interditado tentativas de apurações externas feitas pela Polícia Civil. Já na esfera política/institucional, a Polícia Militar tem sistematicamente ignorado determinações do Ministério Público, esgarçando possibilidades de controle externo de sua atividade.
id FJP-2_a217a8f4878f3f53195f36e1411a80f0
oai_identifier_str oai:repositorio.fjp.mg.gov.br:123456789/4185
network_acronym_str FJP-2
network_name_str Repositório Institucional da Fundação João Pinheiro
repository_id_str
spelling 2024-10-09T16:37:51Z2024-10-09T16:37:51Z2023NASCIMENTO, L. F. Z.; FIGUEIREDO, A. M.; CRUZ, M. V. G.; MARINHO, K. R. L. "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais. Sociologias, Porto Alegre, v. 25, p. 1-39, 2023.http://repositorio.fjp.mg.gov.br/handle/123456789/4185Entre 2012 e 2021, 1.146 pessoas morreram em decorrência de intervenções policiais em Minas Gerais. Em quase todos esses casos, a narrativa oficial dos boletins de ocorrência foi de que essas mortes se deram em situações de “confronto”, nas quais os policiais, atuado no “estrito cumprimento do dever legal”, usaram “moderadamente dos meios de força necessários” para “repelir injusta agressão”. Já há no Brasil farta literatura demonstrando que a mobilização dessa gramática, já nos registros iniciais, é a primeira etapa de uma cadeia de procedimentos que, ao final, quase sempre resultará na aplicação jurídica da “excludente de ilicitude” à letalidade policial. Dialogando com essa produção, este artigo apresenta os principais resultados de um estudo de caso sobre o processamento investigativo da letalidade policial militar em Minas Gerais. A partir de abordagem etnometodológica, buscou-se compreender como um complexo sistema de representações, discursos e cognições compartilhadas entre policiais sustenta a construção de accounts sobre os casos de letalidade, dando a eles a forma jurídica da “legítima defesa”. Em termos metodológicos, o estudo se vale da análise de 3.605 B.O. sobre mortes e ferimentos decorrentes de intervenções policiais registradas no estado entre 2013 e 2018, bem como de 25 entrevistas com atores-chave das forças policiais e do Ministério Público. A pesquisa revela que, no campo discursivo, a Polícia Militar de Minas Gerais tem adotado estratégias institucionais para padronizar as narrativas inseridas nos registros de letalidade (boletins de ocorrência e inquéritos policiais militares), já acionando, nesses documentos, a gramática necessária à fundamentação da excludente de ilicitude na etapa judicial. Em termos procedimentais, a corporação tem não apenas assumido a investigação de seus próprios casos letalidade, mas também interditado tentativas de apurações externas feitas pela Polícia Civil. Já na esfera política/institucional, a Polícia Militar tem sistematicamente ignorado determinações do Ministério Público, esgarçando possibilidades de controle externo de sua atividade.Between 2012 and 2021, 1,146 people died because of police interventions in Minas Gerais. In almost all these cases, the official narrative of police reports was that these deaths occurred in situations of “confrontation”, in which police officers, acting in “strict compliance with legal duty”, used “moderate force” to “repel unjust aggression”. Literature in Brazil demonstrates that the mobilization of this grammar since the initial records is the first stage of a chain of procedures that, will eventually, almost always, result in the legal application of the “exclusion of illegality” to police lethality. Dialoguing with this production, this article presents the main results of a case study on inquiries into military police lethality in Minas Gerais. Adopting an ethnomethodological approach, we sought to understand how a complex system of representations, discourses and cognitions shared among police officers supports the construction of accounts on lethality cases, giving them the legal form of “legitimate self-defense”. In methodological terms, the study uses the analysis of 3,605 B.O. on deaths and injuries resulting from police interventions, registered in the state between 2013 and 2018, as well as 25 interviews with key-actors from the police forces and the Public Prosecutor’s Office. The research reveals that, in the discursive field, the Military Police of Minas Gerais has adopted institutional strategies to standardize the narratives of lethality records (official reports and military police investigations), activating, already in these documents, the grammar necessary for justifying the exclusion of illegality at the judicial stage. In procedural terms, the corporation has not only undertaken the investigations on its own lethality cases, but also interdicted attempts of external investigations made by the Civil Police. In the political/institutional sphere, the Military Police has systematically ignored determinations of the Public Prosecutor’s Office, fraying possibilities of external control of its activity.UFRGShttp://creativecommons.org/licenses/by/3.0/br/Attribution 3.0 Brazilinfo:eu-repo/semantics/openAccessOrganizações policiaisLetalidade policialControle externo da atividade policialViolência policialInvestigaçãoPolice organizationsPolice lethalityExternal control of police activityPolice violenceInvestigation"Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais“Aiming to repel unjust aggression”: a sociology of police accounts and investigations into police lethality cases in Minas Geraisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articlehttp://lattes.cnpq.br/5043394873182841-http://lattes.cnpq.br/3678172153181366http://lattes.cnpq.br/9188261003903587Nascimento, Luís Felipe ZilliFigueiredo, Amanda Matar deCruz, Marcus Vinícius Gonçalves daMarinho, Karina Rabelo Leitehttps://orcid.org/0000-0003-3605-1531https://orcid.org/0000-0001-7754-0062https://orcid.org/0000-0003-2476-3822https://orcid.org/0000-0002-7303-3933Fundação João PinheiroFundação João PinheiroFundação João PinheiroFundação João Pinheiroporreponame:Repositório Institucional da Fundação João Pinheiroinstname:Fundação João Pinheiro (FJP)instacron:FJPCC-LICENSElicense_rdflicense_rdfapplication/rdf+xml; charset=utf-8914http://repositorio.fjp.mg.gov.br/bitstreams/24d6e0da-32dd-4aaf-8e75-b912e2400588/download4d2950bda3d176f570a9f8b328dfbbefMD51ORIGINALNascimento_Visando_repelir_injusta_agressão_2023.pdfANascimento_Visando_repelir_injusta_agressão_2023.pdfAapplication/pdf337548http://repositorio.fjp.mg.gov.br/bitstreams/b67e3524-def1-4b06-af33-6a9157b84bb1/download1b99129705fb1093498f30b365fcf46dMD52LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-81513http://repositorio.fjp.mg.gov.br/bitstreams/125e86d6-82cd-4f16-801e-60ab06fd94d3/downloadbd956f1284434dc4e1aa2e3f265b2322MD53TEXTNascimento_Visando_repelir_injusta_agressão_2023.pdfA.txtNascimento_Visando_repelir_injusta_agressão_2023.pdfA.txtExtracted texttext/plain91777http://repositorio.fjp.mg.gov.br/bitstreams/2abd59a0-3907-446b-b1d5-486a116784cd/download73534fa40749e69aea68adea2cda43bfMD54THUMBNAILNascimento_Visando_repelir_injusta_agressão_2023.pdfA.jpgNascimento_Visando_repelir_injusta_agressão_2023.pdfA.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg5468http://repositorio.fjp.mg.gov.br/bitstreams/f976eb46-d02d-4676-9f32-17ce90be330a/download846f8d1b1f76fc3d3320f00f44dbca9bMD55123456789/41852024-10-10 03:00:47.268http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/br/Attribution 3.0 Brazilopen.accessoai:repositorio.fjp.mg.gov.br:123456789/4185http://repositorio.fjp.mg.gov.brRepositório InstitucionalPUBhttp://www.repositorio.fjp.mg.gov.br/oai/requestopendoar:2024-10-10T06:00:47Repositório Institucional da Fundação João Pinheiro - Fundação João Pinheiro (FJP)falsePGNlbnRlcj48Yj5MSUNFTsOHQSBERSBESVNUUklCVUnDh8ODTyBOw4NPLUVYQ0xVU0lWQTwvYj48L2NlbnRlcj4KCkFvIGFzc2luYXIgZSBlbnRyZWdhciBlc3RhIGxpY2Vuw6dhLCBvL2EgU3IuL1NyYS4gKGF1dG9yIG91IGRldGVudG9yIGRvcyBkaXJlaXRvcyBkZSBhdXRvcik6IAoKYSkgQ29uY2VkZSDDoCBGdW5kYcOnw6NvIEpvw6NvIFBpbmhlaXJvIG8gZGlyZWl0byBuw6NvLWV4Y2x1c2l2byBkZSByZXByb2R1emlyLCBjb252ZXJ0ZXIgKGNvbW8gZGVmaW5pZG8gYWJhaXhvKSwgY29tdW5pY2FyIGUvb3UgZGlzdHJpYnVpciBvIGRvY3VtZW50byBlbnRyZWd1ZSAoaW5jbHVpbmRvIG8gcmVzdW1vL2Fic3RyYWN0KSBlbSBmb3JtYXRvIGRpZ2l0YWwgb3UgaW1wcmVzc28gZSBlbSBxdWFscXVlciBtZWlvLiAKYikgRGVjbGFyYSBxdWUgbyBkb2N1bWVudG8gZW50cmVndWUgw6kgc2V1IHRyYWJhbGhvIG9yaWdpbmFsLCBlIHF1ZSBkZXTDqW0gbyBkaXJlaXRvIGRlIGNvbmNlZGVyIG9zIGRpcmVpdG9zIGNvbnRpZG9zIG5lc3RhIGxpY2Vuw6dhLiBEZWNsYXJhIHRhbWLDqW0gcXVlIGEgZW50cmVnYSBkbyBkb2N1bWVudG8gbsOjbyBpbmZyaW5nZSwgdGFudG8gcXVhbnRvIGxoZSDDqSBwb3Nzw612ZWwgc2FiZXIsIG9zIGRpcmVpdG9zIGRlIHF1YWxxdWVyIG91dHJhIHBlc3NvYSBvdSBlbnRpZGFkZS4gCmMpIFNlIG8gZG9jdW1lbnRvIGVudHJlZ3VlIGNvbnTDqW0gbWF0ZXJpYWwgZG8gcXVhbCBuw6NvIGRldMOpbSBvcyBkaXJlaXRvcyBkZSBhdXRvciwgZGVjbGFyYSBxdWUgb2J0ZXZlIGF1dG9yaXphw6fDo28gZG8gZGV0ZW50b3IgZG9zIGRpcmVpdG9zIGRlIGF1dG9yIHBhcmEgY29uY2VkZXIgw6AgRnVuZGHDp8OjbyBKb8OjbyBQaW5oZWlybyBvcyBkaXJlaXRvcyByZXF1ZXJpZG9zIHBvciBlc3RhIGxpY2Vuw6dhLCBlIHF1ZSBlc3NlIG1hdGVyaWFsIGN1am9zIGRpcmVpdG9zIHPDo28gZGUgdGVyY2Vpcm9zIGVzdMOhIGNsYXJhbWVudGUgaWRlbnRpZmljYWRvIGUgcmVjb25oZWNpZG8gbm8gdGV4dG8gb3UgY29udGXDumRvIGRvIGRvY3VtZW50byBlbnRyZWd1ZS4gCgpTZSBvIGRvY3VtZW50byBlbnRyZWd1ZSDDqSBiYXNlYWRvIGVtIHRyYWJhbGhvIGZpbmFuY2lhZG8gb3UgYXBvaWFkbyBwb3Igb3V0cmEgaW5zdGl0dWnDp8OjbyBxdWUgbsOjbyBhIEZ1bmRhw6fDo28gSm/Do28gUGluaGVpcm8sIGRlY2xhcmEgcXVlIGN1bXByaXUgcXVhaXNxdWVyIG9icmlnYcOnw7VlcyBleGlnaWRhcyBwZWxvIHJlc3BlY3Rpdm8gY29udHJhdG8gb3UgYWNvcmRvLiAKCkEgRnVuZGHDp8OjbyBKb8OjbyBQaW5oZWlybyBpZGVudGlmaWNhcsOhIGNsYXJhbWVudGUgbyhzKSBzZXUocykgbm9tZShzKSBjb21vIG8ocykgYXV0b3IoZXMpIG91IGRldGVudG9yKGVzKSBkb3MgZGlyZWl0b3MgZG8gZG9jdW1lbnRvIGVudHJlZ3VlLCBlIG7Do28gZmFyw6EgcXVhbHF1ZXIgYWx0ZXJhw6fDo28sIHBhcmEgYWzDqW0gZGFzIHBlcm1pdGlkYXMgcG9yIGVzdGEgbGljZW7Dp2EuCg==
dc.title.none.fl_str_mv "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais
dc.title.alternative.none.fl_str_mv “Aiming to repel unjust aggression”: a sociology of police accounts and investigations into police lethality cases in Minas Gerais
title "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais
spellingShingle "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais
Nascimento, Luís Felipe Zilli
Organizações policiais
Letalidade policial
Controle externo da atividade policial
Violência policial
Investigação
Police organizations
Police lethality
External control of police activity
Police violence
Investigation
title_short "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais
title_full "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais
title_fullStr "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais
title_full_unstemmed "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais
title_sort "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais
author Nascimento, Luís Felipe Zilli
author_facet Nascimento, Luís Felipe Zilli
Figueiredo, Amanda Matar de
Cruz, Marcus Vinícius Gonçalves da
Marinho, Karina Rabelo Leite
https://orcid.org/0000-0003-3605-1531
https://orcid.org/0000-0001-7754-0062
https://orcid.org/0000-0003-2476-3822
https://orcid.org/0000-0002-7303-3933
Fundação João Pinheiro
author_role author
author2 Figueiredo, Amanda Matar de
Cruz, Marcus Vinícius Gonçalves da
Marinho, Karina Rabelo Leite
https://orcid.org/0000-0003-3605-1531
https://orcid.org/0000-0001-7754-0062
https://orcid.org/0000-0003-2476-3822
https://orcid.org/0000-0002-7303-3933
Fundação João Pinheiro
author2_role author
author
author
author
author
author
author
author
dc.contributor.authorLattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/5043394873182841
-
http://lattes.cnpq.br/3678172153181366
http://lattes.cnpq.br/9188261003903587
dc.contributor.author.fl_str_mv Nascimento, Luís Felipe Zilli
Figueiredo, Amanda Matar de
Cruz, Marcus Vinícius Gonçalves da
Marinho, Karina Rabelo Leite
https://orcid.org/0000-0003-3605-1531
https://orcid.org/0000-0001-7754-0062
https://orcid.org/0000-0003-2476-3822
https://orcid.org/0000-0002-7303-3933
Fundação João Pinheiro
Fundação João Pinheiro
Fundação João Pinheiro
Fundação João Pinheiro
dc.subject.other.none.fl_str_mv Organizações policiais
Letalidade policial
Controle externo da atividade policial
Violência policial
Investigação
topic Organizações policiais
Letalidade policial
Controle externo da atividade policial
Violência policial
Investigação
Police organizations
Police lethality
External control of police activity
Police violence
Investigation
dc.subject.en.none.fl_str_mv Police organizations
Police lethality
External control of police activity
Police violence
Investigation
description Entre 2012 e 2021, 1.146 pessoas morreram em decorrência de intervenções policiais em Minas Gerais. Em quase todos esses casos, a narrativa oficial dos boletins de ocorrência foi de que essas mortes se deram em situações de “confronto”, nas quais os policiais, atuado no “estrito cumprimento do dever legal”, usaram “moderadamente dos meios de força necessários” para “repelir injusta agressão”. Já há no Brasil farta literatura demonstrando que a mobilização dessa gramática, já nos registros iniciais, é a primeira etapa de uma cadeia de procedimentos que, ao final, quase sempre resultará na aplicação jurídica da “excludente de ilicitude” à letalidade policial. Dialogando com essa produção, este artigo apresenta os principais resultados de um estudo de caso sobre o processamento investigativo da letalidade policial militar em Minas Gerais. A partir de abordagem etnometodológica, buscou-se compreender como um complexo sistema de representações, discursos e cognições compartilhadas entre policiais sustenta a construção de accounts sobre os casos de letalidade, dando a eles a forma jurídica da “legítima defesa”. Em termos metodológicos, o estudo se vale da análise de 3.605 B.O. sobre mortes e ferimentos decorrentes de intervenções policiais registradas no estado entre 2013 e 2018, bem como de 25 entrevistas com atores-chave das forças policiais e do Ministério Público. A pesquisa revela que, no campo discursivo, a Polícia Militar de Minas Gerais tem adotado estratégias institucionais para padronizar as narrativas inseridas nos registros de letalidade (boletins de ocorrência e inquéritos policiais militares), já acionando, nesses documentos, a gramática necessária à fundamentação da excludente de ilicitude na etapa judicial. Em termos procedimentais, a corporação tem não apenas assumido a investigação de seus próprios casos letalidade, mas também interditado tentativas de apurações externas feitas pela Polícia Civil. Já na esfera política/institucional, a Polícia Militar tem sistematicamente ignorado determinações do Ministério Público, esgarçando possibilidades de controle externo de sua atividade.
publishDate 2023
dc.date.issued.fl_str_mv 2023
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2024-10-09T16:37:51Z
dc.date.available.fl_str_mv 2024-10-09T16:37:51Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.citation.fl_str_mv NASCIMENTO, L. F. Z.; FIGUEIREDO, A. M.; CRUZ, M. V. G.; MARINHO, K. R. L. "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais. Sociologias, Porto Alegre, v. 25, p. 1-39, 2023.
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://repositorio.fjp.mg.gov.br/handle/123456789/4185
identifier_str_mv NASCIMENTO, L. F. Z.; FIGUEIREDO, A. M.; CRUZ, M. V. G.; MARINHO, K. R. L. "Visando repelir injusta agressão": uma sociologia dos accounts policiais e das investigações dos casos de letalidade policial em Minas Gerais. Sociologias, Porto Alegre, v. 25, p. 1-39, 2023.
url http://repositorio.fjp.mg.gov.br/handle/123456789/4185
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/br/
Attribution 3.0 Brazil
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/br/
Attribution 3.0 Brazil
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv UFRGS
publisher.none.fl_str_mv UFRGS
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da Fundação João Pinheiro
instname:Fundação João Pinheiro (FJP)
instacron:FJP
instname_str Fundação João Pinheiro (FJP)
instacron_str FJP
institution FJP
reponame_str Repositório Institucional da Fundação João Pinheiro
collection Repositório Institucional da Fundação João Pinheiro
bitstream.url.fl_str_mv http://repositorio.fjp.mg.gov.br/bitstreams/24d6e0da-32dd-4aaf-8e75-b912e2400588/download
http://repositorio.fjp.mg.gov.br/bitstreams/b67e3524-def1-4b06-af33-6a9157b84bb1/download
http://repositorio.fjp.mg.gov.br/bitstreams/125e86d6-82cd-4f16-801e-60ab06fd94d3/download
http://repositorio.fjp.mg.gov.br/bitstreams/2abd59a0-3907-446b-b1d5-486a116784cd/download
http://repositorio.fjp.mg.gov.br/bitstreams/f976eb46-d02d-4676-9f32-17ce90be330a/download
bitstream.checksum.fl_str_mv 4d2950bda3d176f570a9f8b328dfbbef
1b99129705fb1093498f30b365fcf46d
bd956f1284434dc4e1aa2e3f265b2322
73534fa40749e69aea68adea2cda43bf
846f8d1b1f76fc3d3320f00f44dbca9b
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
MD5
MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da Fundação João Pinheiro - Fundação João Pinheiro (FJP)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1822794843509751808