A morte na carne rompendo com os míticos laços familiares; sacrifício em Anjo negro (1946) e Senhora dos afogados (1947), de Nelson Rodrigues
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da FURG (RI FURG) |
Texto Completo: | http://repositorio.furg.br/handle/1/9135 |
Resumo: | O presente trabalho pretende analisar como a morte pode ser experimentada através da arte, em especial, a dramática nas peças Anjo negro (1946) e Senhora dos afogados (1947) relacionando-as com o projeto de teatro desagradável de Nelson Rodrigues. As peças são classificadas por Sábato Magaldi (2004) como míticas e pelo próprio dramaturgo como tragédias. Essas classificações nos levam a discorrer sobre os conceitos de mito, tragédia e trágico. Além disso, a morte está presente em ambas as peças de forma ritual, logo, o sacrifício nos parece mais adequado para pensarmos essas mortes monstruosas. Partindo de Ernest Becker (1973) que afirma ser a morte a mola propulsora de toda atividade humana, buscamos delinear a morte e a experiência que temos dela: o luto. Para tanto, consultamos as obras psicanalíticas de Sigmund Freud (2011); Mélanie Klein (1940); Nicolas Abraham e Maria Törok (1995) chegando aos estudos atuais de Jean Allouch (2011) que prevê o luto como sacrifício de um “pedaço de si”. Além disso, Juan-David Nasio (2007) compreende o trabalho de luto não como substituição, mas coexistência e, Judith Butler (2006), por sua vez, compreende o luto como um ato político de ruptura de laços. Os crimes ocorrem para romper com uma estrutura de família específica: a família moderna. Essa estrutura socioeconômica burguesa, segundo Elizabeth Roudinesco (2003) e Philippe Àries (1986), é criticada pelo dramaturgo, que afirma ser uma família de aparências. O projeto desagradável apreende alguns elementos da tragédia ática como, por exemplo, o coro, a peripécia e o reconhecimento, reatualizando esses “estilhaços”, bem como dialoga com conceitos e objetivos do Teatro da Crueldade de Antonin Artaud (2006) e o Teatro da Morte de Tadeusz Kantor (2008). Esse projeto busca “chocar” o espectador fazendo-o refletir sobre seus pecados e monstruosidades, experimentando no palco para que não reproduza na vida real. Por fim, compreendemos que as peças que compõem o corpus desta dissertação devem ser incluídas no cânone que legitima o lugar que Nelson Rodrigues ocupa com Vestido de noiva (1943). Apesar da lacuna na historiografia literária, compreendemos que este trabalho servirá para ampliar o questionamento acerca da lacuna e a inclusão das peças míticas do dramaturgo nas páginas da História da Literatura Brasileira. |
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Partindo de Ernest Becker (1973) que afirma ser a morte a mola propulsora de toda atividade humana, buscamos delinear a morte e a experiência que temos dela: o luto. Para tanto, consultamos as obras psicanalíticas de Sigmund Freud (2011); Mélanie Klein (1940); Nicolas Abraham e Maria Törok (1995) chegando aos estudos atuais de Jean Allouch (2011) que prevê o luto como sacrifício de um “pedaço de si”. Além disso, Juan-David Nasio (2007) compreende o trabalho de luto não como substituição, mas coexistência e, Judith Butler (2006), por sua vez, compreende o luto como um ato político de ruptura de laços. Os crimes ocorrem para romper com uma estrutura de família específica: a família moderna. Essa estrutura socioeconômica burguesa, segundo Elizabeth Roudinesco (2003) e Philippe Àries (1986), é criticada pelo dramaturgo, que afirma ser uma família de aparências. O projeto desagradável apreende alguns elementos da tragédia ática como, por exemplo, o coro, a peripécia e o reconhecimento, reatualizando esses “estilhaços”, bem como dialoga com conceitos e objetivos do Teatro da Crueldade de Antonin Artaud (2006) e o Teatro da Morte de Tadeusz Kantor (2008). Esse projeto busca “chocar” o espectador fazendo-o refletir sobre seus pecados e monstruosidades, experimentando no palco para que não reproduza na vida real. Por fim, compreendemos que as peças que compõem o corpus desta dissertação devem ser incluídas no cânone que legitima o lugar que Nelson Rodrigues ocupa com Vestido de noiva (1943). Apesar da lacuna na historiografia literária, compreendemos que este trabalho servirá para ampliar o questionamento acerca da lacuna e a inclusão das peças míticas do dramaturgo nas páginas da História da Literatura Brasileira.El presente trabajo pretende analizar cómo se puede experimentar la muerte a través del arte, en particular el dramático en las piezas de Anjo negro (1946) y Senhora dos afogados (1947) que los relaciona con el desagradable proyecto teatral de Nelson Rodrigues. Las obras teatrales son clasificadas por Sábato Magaldi (2004) como míticas y por el próprio dramaturgo como tragedias. Estas calificaciones nos llevan a hablar de los conceptos de mito, tragedia y trágico. Además, la muerte está presente en ambas obras teatrales de manera ritual, por lo que el sacrificio parece más apropiado para nosotros pensar en estas muertes monstruosas. A partir de Ernest Becker (1973) afirmando ser la muerte el resorte propulsor de toda la actividad humana, buscamos delinear la muerte y la experiencia que tenemos de ella: el duelo. Para ello, consultamos las obras psicoanalíticas de Sigmund Freud (2011); Melanie Klein (1940); Nicolas Abraham y Maria Törok (1995) que llegan a los estudios actuales de Jean Allouch (2011) que proporciona luto como un sacrificio de um “pequeño trozo de si”. Además, Juan-David Nasio (2007) entiende el trabajo de luto no como sustitución, sino coexistencia y Judith Butler (2006), a su vez, entiende el luto como un acto político de ruptura de lazos. Los crímenes se producen para romper con una estructura familiar específica: la familia moderna. Esta estructura socioeconómica burguesa, según Elizabeth Roudinesco (2003) y Philippe Àries (1986), es criticada por el dramaturgo, que afirma ser una familia de apariciones. El proyecto desagradable se apodera de algunos elementos de la tragedia del ático, como el coro, el contratiempo y el reconocimiento, reactualizando estas "metrallas", así como diálogos con conceptos y objetivos del Teatro de la Crueldad de Antonin Artaud (2006) y el Teatro de la Muerte de Tadeusz Kantor (2008). Este proyecto busca "escandalizar" al espectador haciéndole reflexionar sobre sus pecados y monstruosidades, experimentando en el escenario para que no se reproduzca en la vida real. Finalmente, entendemos que las obras teatrales que componen el corpus de esta disertación deben incluirse en el Canon que legitima el lugar que Nelson Rodrigues ocupa con Vestido de noiva (1943). A pesar de la brecha en la historiografía literaria, entendemos que este trabajo servirá para ampliar el cuestionamiento sobre esta ausencia y la inclusión de las piezas míticas del dramaturgo en las páginas de la Historia de la Literatura Brasileña.Mousquer, Antônio CarlosQuadros, Dênis Moura de2020-10-27T23:10:19Z2020-10-27T23:10:19Z2018info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfQUADROS, Dênis Moura de. A morte na carne rompendo com os míticos laços familiares; sacrifício em Anjo negro (1946) e Senhora dos afogados (1947), de Nelson Rodrigues. 2018. 117 f. 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O presente trabalho pretende analisar como a morte pode ser experimentada através da arte, em especial, a dramática nas peças Anjo negro (1946) e Senhora dos afogados (1947) relacionando-as com o projeto de teatro desagradável de Nelson Rodrigues. As peças são classificadas por Sábato Magaldi (2004) como míticas e pelo próprio dramaturgo como tragédias. Essas classificações nos levam a discorrer sobre os conceitos de mito, tragédia e trágico. Além disso, a morte está presente em ambas as peças de forma ritual, logo, o sacrifício nos parece mais adequado para pensarmos essas mortes monstruosas. Partindo de Ernest Becker (1973) que afirma ser a morte a mola propulsora de toda atividade humana, buscamos delinear a morte e a experiência que temos dela: o luto. Para tanto, consultamos as obras psicanalíticas de Sigmund Freud (2011); Mélanie Klein (1940); Nicolas Abraham e Maria Törok (1995) chegando aos estudos atuais de Jean Allouch (2011) que prevê o luto como sacrifício de um “pedaço de si”. Além disso, Juan-David Nasio (2007) compreende o trabalho de luto não como substituição, mas coexistência e, Judith Butler (2006), por sua vez, compreende o luto como um ato político de ruptura de laços. Os crimes ocorrem para romper com uma estrutura de família específica: a família moderna. Essa estrutura socioeconômica burguesa, segundo Elizabeth Roudinesco (2003) e Philippe Àries (1986), é criticada pelo dramaturgo, que afirma ser uma família de aparências. O projeto desagradável apreende alguns elementos da tragédia ática como, por exemplo, o coro, a peripécia e o reconhecimento, reatualizando esses “estilhaços”, bem como dialoga com conceitos e objetivos do Teatro da Crueldade de Antonin Artaud (2006) e o Teatro da Morte de Tadeusz Kantor (2008). Esse projeto busca “chocar” o espectador fazendo-o refletir sobre seus pecados e monstruosidades, experimentando no palco para que não reproduza na vida real. Por fim, compreendemos que as peças que compõem o corpus desta dissertação devem ser incluídas no cânone que legitima o lugar que Nelson Rodrigues ocupa com Vestido de noiva (1943). Apesar da lacuna na historiografia literária, compreendemos que este trabalho servirá para ampliar o questionamento acerca da lacuna e a inclusão das peças míticas do dramaturgo nas páginas da História da Literatura Brasileira. |
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