Vaivém Histórico

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Baniwa, Denilson
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
Texto Completo: https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/201365
Resumo: A invenção da tradição brasileira tem na sua raiz o apagamento de memórias ancestrais a este território também inventado.O que somos hoje é um juntado de recortes e refilamentos ao longo dos anos, em que apenas o que servia como escada para oprogresso fora aproveitado. Quanto àqueles que não se comportavam dentro da panela colonizadora, eram lançados à margem para que perecessem, sem luzes ou olhos que os notassem. Esquecimento era a pena a ser cumprida por não caberem nas retificações do “País do Futuro”. Hoje, como a volta da maré que pega alguns muitos de surpresa, corpos que haviam sido esquecidos voltam e afogam a História do Brasil. Um requerimento de luz sobre as ruínas. Vozes roucas de tanto gritar do lado de fora hoje assaltam a mesa grande, desta vez não atrás de farelos que caem das mãos gordas de quem se lambuzava há  éculos, mas atrás da coxa do porco europeu trazido por Cristóvão Colombo, ou do próprio europeu, se for o caso. Rescrever a história é raspar escórias e cracas agarradas do imaginário colonizatório e, a partir daí, sobrepor camadas de urucum, argila, jenipapo, carvão, crajiru e memórias daqueles que viraram alienígenas do progresso.
id IEB-1_9a050b3d17517fb5d24af5394ddf1008
oai_identifier_str oai:revistas.usp.br:article/201365
network_acronym_str IEB-1
network_name_str Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
repository_id_str
spelling Vaivém HistóricoHistorical ShuttleMemória ancestralDecolonizaçãoRe-AntropofagiaAncestral memoryDecolonizationRe-AnthropophagyA invenção da tradição brasileira tem na sua raiz o apagamento de memórias ancestrais a este território também inventado.O que somos hoje é um juntado de recortes e refilamentos ao longo dos anos, em que apenas o que servia como escada para oprogresso fora aproveitado. Quanto àqueles que não se comportavam dentro da panela colonizadora, eram lançados à margem para que perecessem, sem luzes ou olhos que os notassem. Esquecimento era a pena a ser cumprida por não caberem nas retificações do “País do Futuro”. Hoje, como a volta da maré que pega alguns muitos de surpresa, corpos que haviam sido esquecidos voltam e afogam a História do Brasil. Um requerimento de luz sobre as ruínas. Vozes roucas de tanto gritar do lado de fora hoje assaltam a mesa grande, desta vez não atrás de farelos que caem das mãos gordas de quem se lambuzava há  éculos, mas atrás da coxa do porco europeu trazido por Cristóvão Colombo, ou do próprio europeu, se for o caso. Rescrever a história é raspar escórias e cracas agarradas do imaginário colonizatório e, a partir daí, sobrepor camadas de urucum, argila, jenipapo, carvão, crajiru e memórias daqueles que viraram alienígenas do progresso. The invention of the Brazilian tradition has at its root the erasure of ancestral memories of this also invented territory. What we are today is a collection of cuts and refinements over the years, in which only what served as a ladder to progress had been taken advantage of. As for those who did not behave in the colonizing pot, they were thrown to the sidelines to perish, without lights or eyes to notice them. Oblivion was the penalty to be served for not fitting into the amendments of the “Country of the Future”. Today, like the return of the tide that takes many by surprise, bodies that had been forgotten return and drown the history of Brazil. A request for light over the ruins. Hoarse voices from so much shouting outside today storm the big table, this time not after crumbs that fall from the fat hands of those who have been smearing themselves for centuries, but behind the  high of the European pig brought by Christopher Columbus, or the European himself, if that’s the case. To rewrite history is to scrape scum and barnacles clinging to the colonizing imagination and, from there, superimpose layers of annatto, clay, genipap, charcoal, crajiru and memories of those who became aliens of progress. Universidade de São Paulo. Instituto de Estudos Brasileiros2022-08-23info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/20136510.11606/issn.2316-901X.v1i82p237-248Revista do Instituto de Estudos Brasileiros; n. 82 (2022); 237-248Revista do Instituto de Estudos Brasileiros; n. 82 (2022); 237-248Revista do Instituto de Estudos Brasileiros; n. 82 (2022); 237-248Revista do Instituto de Estudos Brasileiros; n. 82 (2022); 237-2482316-901X0020-3874reponame:Revista do Instituto de Estudos Brasileirosinstname:Instituto de Estudos Brasileiros (IEB)instacron:IEBporhttps://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/201365/185439Copyright (c) 2022 Revista do Instituto de Estudos Brasileiroshttp://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0info:eu-repo/semantics/openAccessBaniwa, Denilson2022-08-23T17:23:56Zoai:revistas.usp.br:article/201365Revistahttps://www.revistas.usp.br/rieb/indexPUBhttps://www.revistas.usp.br/rieb/oai||revistaieb@usp.br2316-901X0020-3874opendoar:2022-08-23T17:23:56Revista do Instituto de Estudos Brasileiros - Instituto de Estudos Brasileiros (IEB)false
dc.title.none.fl_str_mv Vaivém Histórico
Historical Shuttle
title Vaivém Histórico
spellingShingle Vaivém Histórico
Baniwa, Denilson
Memória ancestral
Decolonização
Re-Antropofagia
Ancestral memory
Decolonization
Re-Anthropophagy
title_short Vaivém Histórico
title_full Vaivém Histórico
title_fullStr Vaivém Histórico
title_full_unstemmed Vaivém Histórico
title_sort Vaivém Histórico
author Baniwa, Denilson
author_facet Baniwa, Denilson
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Baniwa, Denilson
dc.subject.por.fl_str_mv Memória ancestral
Decolonização
Re-Antropofagia
Ancestral memory
Decolonization
Re-Anthropophagy
topic Memória ancestral
Decolonização
Re-Antropofagia
Ancestral memory
Decolonization
Re-Anthropophagy
description A invenção da tradição brasileira tem na sua raiz o apagamento de memórias ancestrais a este território também inventado.O que somos hoje é um juntado de recortes e refilamentos ao longo dos anos, em que apenas o que servia como escada para oprogresso fora aproveitado. Quanto àqueles que não se comportavam dentro da panela colonizadora, eram lançados à margem para que perecessem, sem luzes ou olhos que os notassem. Esquecimento era a pena a ser cumprida por não caberem nas retificações do “País do Futuro”. Hoje, como a volta da maré que pega alguns muitos de surpresa, corpos que haviam sido esquecidos voltam e afogam a História do Brasil. Um requerimento de luz sobre as ruínas. Vozes roucas de tanto gritar do lado de fora hoje assaltam a mesa grande, desta vez não atrás de farelos que caem das mãos gordas de quem se lambuzava há  éculos, mas atrás da coxa do porco europeu trazido por Cristóvão Colombo, ou do próprio europeu, se for o caso. Rescrever a história é raspar escórias e cracas agarradas do imaginário colonizatório e, a partir daí, sobrepor camadas de urucum, argila, jenipapo, carvão, crajiru e memórias daqueles que viraram alienígenas do progresso.
publishDate 2022
dc.date.none.fl_str_mv 2022-08-23
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/201365
10.11606/issn.2316-901X.v1i82p237-248
url https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/201365
identifier_str_mv 10.11606/issn.2316-901X.v1i82p237-248
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/201365/185439
dc.rights.driver.fl_str_mv Copyright (c) 2022 Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
http://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Copyright (c) 2022 Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
http://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Instituto de Estudos Brasileiros
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Instituto de Estudos Brasileiros
dc.source.none.fl_str_mv Revista do Instituto de Estudos Brasileiros; n. 82 (2022); 237-248
Revista do Instituto de Estudos Brasileiros; n. 82 (2022); 237-248
Revista do Instituto de Estudos Brasileiros; n. 82 (2022); 237-248
Revista do Instituto de Estudos Brasileiros; n. 82 (2022); 237-248
2316-901X
0020-3874
reponame:Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
instname:Instituto de Estudos Brasileiros (IEB)
instacron:IEB
instname_str Instituto de Estudos Brasileiros (IEB)
instacron_str IEB
institution IEB
reponame_str Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
collection Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
repository.name.fl_str_mv Revista do Instituto de Estudos Brasileiros - Instituto de Estudos Brasileiros (IEB)
repository.mail.fl_str_mv ||revistaieb@usp.br
_version_ 1798949712516087808