Estudos nutricionais das populações rurais da Amazônia. II. Rio Negro

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Giugliano, Rodolfo
Data de Publicação: 1984
Outros Autores: Shrimpton, Roger, Marinho, Helyde Albuquerque, Giugliano, Loreny Gimenes
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional do INPA
Texto Completo: https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/14382
Resumo: Um inquérito nutricional foi realizado na população ribeirinha do rio Negro, no Estado do Amazonas, numa área de baixíssima densidade populacional. Todas as famílias com crianças abaixo de 6 anos, num trecho de 20OKm entre a foz do rio Branco e a cidade de Barcelos foram estudados num total de 60 famílias e 121 crianças. Este número de crianças representa cerca de. 4,8% das crianças da área rural, dos Municípios envolvidos. Todas as crianças foram submetidas a exame clínico, medidas e pesadas e, de 66 crianças, foi colhido sangue por punção digital para determinação de, hematócrito e, hemoglobina. Foram coletadas amostras de fezes de 78 crianças, para exame panasitológico. Todas as mães foram também medidas e pesadas, além de entrevistadas quanto a hábtos de higiene, alimentação da criança e alimentos por ela ingeridos nas últimas 24 horas, De 42 mães, foi colhido sangue pana determinação de hematúcrito e hemoglobina.As condições de higiene da população local são bastante primitivas. A água. é consumida diretamente do rio, e a defecação efetuada ao nível do solo, em torno das casas. A natimortalidade for estimada em 80/1000 nascimentos, abortos espontâneos de 66,7/1000 gestações e mortalidade infantilde 93,2/1000 nascidos vivos. Todos esses índices são elevados para as condições locais. 0 período de amamentação na área é prolongado e o desmame ocorre em torno de 16 meses, com 72% das crianças amamentadas por mais de 1 ano. Metade das mães introduzem outros alimentos na dieta infantil em torno de 6 meses, principalmente papa de farinha de. mandioca. De acordo com os critérios de Gomez, 63,3% das crianças são malnutridas, enquanto que segundo os critérios de Waterlow, 70% apresentavam nanismo nutricional e 18% atrofia nutricional. No primeiro se -mestre de vida, o nanismo nutricional, atingiu somente 15,8% das crianças, enquanto que no segundo semestre esse valor se eleva para 63,6%. Apesar da amamentação prolongada , 25% das crianças, no primeiro ano de vida, apresentaram diarréia no momento do exame. Os picos na prevalência de diarréia foram observados no segundo semestre e. segundo ano de vida, coincidindo com a alta prevalência de desnutrição aguda (atrofia nutricional).A desnutrição crônica (nanismo nutricional) foi significantemente mais prevalente nas crianças com histórias de quadros diarréicos freqüentes. Parasitas intestinais foram encontrados em 84,6% das crianças cujas fezes foram coletadas, sendo que A. lumbricoides, Ancilostomideo e T. trichiura afetando mais de 60%. Os sinais clínicos de deficiências de ferro e possivelmente vitaminas, tais como riboflavina e vitamina A, foram as mais freqüentemente observados.Níveis de hemoglobina abaixo de 11 g% e concentração de Hemoglobina Corpuscular média abaixo de 30% foram observados em 71,2% das crianças, sugerindo que anemia feropriva é altamente prevalente na área.Obesidade foi mais freqüentemente encontrada nas mães do que emagrecimento, sugerindo que o consumo total de energia e alimentos não é limitante nessa população. Peixe foi consumido nas últimas 24 horas por 75% das mães e 50% consumiu de mandioca é altíssimo. O consumo de frutas foi limitado, principalmente bananas, e o uso de vegetais limitado a condimentos. Os níveis de hemoglobina foram baixos em 62% das mães, sugerindo que a deficiência de ferro é um problema na área, apesar da dieta ser alta em proteinas e baixa em fibras e fitato.
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Todas as mães foram também medidas e pesadas, além de entrevistadas quanto a hábtos de higiene, alimentação da criança e alimentos por ela ingeridos nas últimas 24 horas, De 42 mães, foi colhido sangue pana determinação de hematúcrito e hemoglobina.As condições de higiene da população local são bastante primitivas. A água. é consumida diretamente do rio, e a defecação efetuada ao nível do solo, em torno das casas. A natimortalidade for estimada em 80/1000 nascimentos, abortos espontâneos de 66,7/1000 gestações e mortalidade infantilde 93,2/1000 nascidos vivos. Todos esses índices são elevados para as condições locais. 0 período de amamentação na área é prolongado e o desmame ocorre em torno de 16 meses, com 72% das crianças amamentadas por mais de 1 ano. Metade das mães introduzem outros alimentos na dieta infantil em torno de 6 meses, principalmente papa de farinha de. mandioca. De acordo com os critérios de Gomez, 63,3% das crianças são malnutridas, enquanto que segundo os critérios de Waterlow, 70% apresentavam nanismo nutricional e 18% atrofia nutricional. No primeiro se -mestre de vida, o nanismo nutricional, atingiu somente 15,8% das crianças, enquanto que no segundo semestre esse valor se eleva para 63,6%. Apesar da amamentação prolongada , 25% das crianças, no primeiro ano de vida, apresentaram diarréia no momento do exame. Os picos na prevalência de diarréia foram observados no segundo semestre e. segundo ano de vida, coincidindo com a alta prevalência de desnutrição aguda (atrofia nutricional).A desnutrição crônica (nanismo nutricional) foi significantemente mais prevalente nas crianças com histórias de quadros diarréicos freqüentes. Parasitas intestinais foram encontrados em 84,6% das crianças cujas fezes foram coletadas, sendo que A. lumbricoides, Ancilostomideo e T. trichiura afetando mais de 60%. Os sinais clínicos de deficiências de ferro e possivelmente vitaminas, tais como riboflavina e vitamina A, foram as mais freqüentemente observados.Níveis de hemoglobina abaixo de 11 g% e concentração de Hemoglobina Corpuscular média abaixo de 30% foram observados em 71,2% das crianças, sugerindo que anemia feropriva é altamente prevalente na área.Obesidade foi mais freqüentemente encontrada nas mães do que emagrecimento, sugerindo que o consumo total de energia e alimentos não é limitante nessa população. Peixe foi consumido nas últimas 24 horas por 75% das mães e 50% consumiu de mandioca é altíssimo. O consumo de frutas foi limitado, principalmente bananas, e o uso de vegetais limitado a condimentos. Os níveis de hemoglobina foram baixos em 62% das mães, sugerindo que a deficiência de ferro é um problema na área, apesar da dieta ser alta em proteinas e baixa em fibras e fitato.A nutrition survey was performed on a population inhabiting the banks of the River Negro in the State of, Amazonas, Brazil. Black water rivers such a River Negro have poor mineral. economics and low human population densities. All families having children under six years of age along a two hundred kilometer stretch of niver were included in the survey. Sixty families and 121 children, representing 4.8% of the total, rural population of the municipality, were studied. All children were weighed and measured and Subject to a clinical examination. In 60 children haemoglobin and haematocrit determinations were achieved and in 78 children faecal samples analyzed for parasites. The mothers were weighed, measured, interviewed and in 42 of them haemoglobin and haematocrit determinations were achieved.The hygiene situation of, the population was found to be very primitive , with little or no preocupation in treating river water before drinking and the majority defecating in the forest.The still birth Hate of 80/1000 births, the spontaneous abortions rate of 66.7/ 100 pregnancies and the infant mortality of 93.2/1 000 lives births were all very high.Breast feeding was prolonged with an average weaning age of 16 months and 72% of children being breast fed more than a year. Half of the mothers had introduced οther foods by six months of age, principally a pap made from fermented cassava flour. Some 65% of the children were malnourished according to the criteria. of, Gomez, whilst 70% were found to be stunted and 18% wasted. In the first semester of life only 15.8% of children were stunted but in the second six months 63.6% were stunted.In spite of the prolonged breast feeding 25% of children in the first year of life had diarrhoea at the time of the examination. The major peaks for diarrhoea were in the second semester and the second year of life, when acute malnutritian (wasting) was also found to be most prevalent. Children reported as having had a history of frequent diarrhoea were significantly more chronicaly malnourished (stunted) then children without such antecedents.Almost 85% of children examined had intestinal, parasites, with ascaris, hookworm and trichiuris affecting more than 60%. The most common clinical signs of deficiency for specific nutrients were, those for iron and possibly riboflavin and vitamina A. In 71.2% haemoglobin determinations values were below 11 g% and 74.2% of MCHC were below 30, suggesting iron deficiency anemia to be a serious problem in these children.Mothers were more frequently obese than wasted, suggesting that energy on total food intake was not limiting in the population. Three. quarters of, the mothers had eaten fish in the previous twenty four hours and a half had eaten wild game, principally fresh water turtles. Milk products, cereals and pulses were little, consumied with the staple food being fermented cassava flour. The consumption of fruits was limited to bananas and the use of vegetables limited to that- as condiments.Sixty two percent of mothers had inadequate haemoglobin levels, suggesting iron deficiency anemia to be a problem in spite of their apparently high animal protein, low fibre and low phythate diet.Volume 14, Número 3-4, Pags. 427-450Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessEstudos nutricionais das populações rurais da Amazônia. II. Rio Negroinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleActa Amazonicaporreponame:Repositório Institucional do INPAinstname:Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)instacron:INPAORIGINALartigo-inpa.pdfapplication/pdf704543https://repositorio.inpa.gov.br/bitstream/1/14382/1/artigo-inpa.pdf678937fe9468f0f66f02667fc9a4fe43MD51CC-LICENSElicense_rdfapplication/octet-stream914https://repositorio.inpa.gov.br/bitstream/1/14382/2/license_rdf4d2950bda3d176f570a9f8b328dfbbefMD521/143822020-07-13 13:45:18.764oai:repositorio:1/14382Repositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.inpa.gov.br/oai/requestopendoar:2020-07-13T17:45:18Repositório Institucional do INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)false
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