HERÓIS EM CENA: A CONSTRUÇÃO PARADIGMÁTICA CONTRACULTUAL DA MESOCRISTOLOGIA JOANINA.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Guerra, Danilo Dourado
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Caminhos (Goiânia. Online)
Texto Completo: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/6769
Resumo: Esta investigação tem como objeto de pesquisa a homologese (confissão) da encarnação do herói, em Jo 1,14. Utilizando-se de um referencial metodológico analítico diacrônico-sincrônico do tipo pendular, objetiva-se efetuar o rastreamento exegético-reconstitutivo do conteúdo cristológico implícito em Jo 1,14 e a sua interface com o contexto sociorreligioso vivenciado pelos grupos joaninos. Diante desta demanda, a hipótese a ser demonstrada é que o discurso da encarnação do herói joanino, estruturado dentro de uma poética sequencial do prólogo, repercute a saga cristológica da comunidade e revela a configuração genético-noemática da mesocristologia joanina. Trata-se de um modelo protocristológico que se faz construção heterotópica e teo-política em relação à apoteose romana, e, por conseguinte, estabelece-se como construto cristolátrico, cristocêntrico e paradigmático em relação ao culto imperial e às estruturas teatrocráticas engendradas neste. O alcance desta hipótese arquiteta-se, por sua vez, a partir do enredo poético kierkegaardiano, no qual, categorias analíticas como o herói, o teatro e o poeta encontram-se imbricadas em cena. Nesse contexto, a empresa reconstitutiva da saga cristológica do herói joanino desenha-se na trilha hermenêutica da indecidibilidade e da imaginação criativa, nutrindo-se, sobretudo, da teoria das fontes de Senén Vidal e do referencial heterotopológico foucaultiano, o qual permitiu-nos visibilizar cada passo cristológico da comunidade contingencialmente explicitado na trama de cada capítulo a partir do enredo metafórico do barco joanino a navegar no mar do cosmos-Império. À luz do enredo foucaultiano, no primeiro capítulo, emerge-se de forma direta no primeiro passo da saga. Este trata acerca do herói-rei e o reino. Nessa trama, tendo como referencial exegético as Tradições Básicas joaninas e, sobretudo, o fragmento Jo 18,36, versa-se acerca do processo de construção da cristológica real joanina, a partir dos paradigmas do herói-rei e sua basileia, visibilizando-se, neste encadeamento, o background de contingências, desafios e efeitualidades que se relacionam com este momento incipiente da história dos grupos joaninos. Nesse encadeamento se delineia a tese de que o conteúdo cristológico do fragmento textual Jo 18,36, subsidiado pela anamnese monumental do herói-rei, evidencia a maturação e consolidação de um processo de ressignificação do messianismo davídico popular joanino e, por conseguinte, postula, a partir de uma síntese dialética entre os substratos cristológicos do rei e da basileia, a complexa e incipiente dynamis construcional paradigmática do modelo protocristológico real joanino. Diante do círculo concêntrico em que se materializa o cosmos no QE, o teor ressignificado da cristologia real joanina, de um lado, visibiliza o viés heterotópico dos grupos joaninos perante as práticas de dominação do Império Romano, de outro, se configura como vetor dos embates messianológicos com o judaísmo rabínico e consequentemente como elemento catalisador da expulsão dos grupos joaninos da sinagoga. O segundo capítulo, por sua vez, remete ao segundo passo da saga. Este revela a interface entre o herói e a glória. Neste contexto, tendo como referencial exegético o fragmento hínico-poético Jo 1,1, versa-se acerca da dinâmica de elaboração da cristologia da glória do herói joanino. Diante deste tablado, objetiva-se evocar fundamentalmente, a partir do cruzamento imagético-simbólico (Jesus-César), uma arqueologia da glória, que por sua vez, evidencie as instâncias e fios paradoxais que orbitam o processo prototípico de construção da divindade e do culto a Júlio César, e a dynamis de compreensão acerca da divindade e da devoção ao Jesus joanino. Nessa trama epistêmica, os substratos arqueológicos coletados em terras italianas e gregas configuram-se em alicerces históricos ratificadores da hipótese proposta. Nesse trajeto se delineia a tese de que na dinâmica poética do prólogo joanino, os três atos do drama cosmológico do herói, em Jo 1,1 (Jo 1,1a; Jo 1,1b; Jo 1,1c), evidenciam a construção paradigmática do modelo protocristológico da glória, no qual o herói joanino é compreendido como Theos diante de uma atmosfera de pressão cultual sob Domiciano. Este modelo protocristológico, por sua vez, designa a estruturação de uma plataforma protocultual neomonoteísta de cunho ideológico anti-idolátrico e anti-politeísta diante de um iceberg piramidal cultual teatrocrático gestado matricialmente em César e travestido no culto domiciano. Por fim, o terceiro e último capítulo aborda o passo final da saga cristológica joanina. Este revela a relação entre o herói, o reino e a glória. Nessa paisagem textual, tendo como referencial exegético Jo 1,14, trata-se acerca da construção genético-paradigmática do modelo protocristológico mesocristológico, das suas implicações em relação à apoteose romana e a instituição paradigmática do culto imperial no seio joanino, bem como da história dos efeitos e sintagmas intrínsecos ao caráter heterotópico da mesocristologia joanina. Neste último passo se evidencia a tese principal de que este neoprotótipo cristológico sintético, no qual os modelos cristológicos real/horizontal e da glória/vertical orbitam e se ressignificam dialeticamente, institui-se como construção heterotópica e teo-política em relação aos ritos de apoteose romana, e, por conseguinte, se estabelece como construto cristolátrico, cristocêntrico e paradigmático em relação ao culto imperial e às teias teatrocráticas imbricadas neste. Esta tese, por sua vez, tem como escopo basilar explicitar que o cristianismo originário joanino instaura-se como protótipo cristológico-cultual cristolátrico que kerigmatiza e reivindica uma práxis devocional centralizada em Jesus. Nesse sentido, a gens mesocristológica, implícita no discurso encarnacional do herói joanino, implanta-se como construto homologético paradigmático em relação a qualquer práxis divinizante e cultual, forjada teatrocraticamente sob dispositivos hermenêuticos não cristocêntricos ao longo da história. Este modelo investigativo nos permite questionar em que proporção o protótipo paradigmático devocional e, por conseguinte, contracultual joanino tem sido subvertido ou negligenciado, por uma parte, pelas dinâmicas e faces do poder que continuam a fabricar devotos, deuses-heróis e seus respectivos cultos no decorrer dos tempos e sociedades; por outra parte, na medida em que, antigas e novas dinâmicas devocionais e cultuais de caráter não cristocêntrico, a partir de uma apropriação prototípico-simbólica gestada em César, tem se estabelecido mimeticamente na história eclesiástica dos cristianismos ao longo dos tempos.
id PUC_GO-2_7bce1c6f5ed4ae3b6825dc4beb552d86
oai_identifier_str oai:ojs2.seer.pucgoias.edu.br:article/6769
network_acronym_str PUC_GO-2
network_name_str Caminhos (Goiânia. Online)
repository_id_str
spelling HERÓIS EM CENA: A CONSTRUÇÃO PARADIGMÁTICA CONTRACULTUAL DA MESOCRISTOLOGIA JOANINA.HeróiEvangelho de JoãoCristologia joaninaApoteose romanaHeterotopiaHeroGospel of JohnJohannine ChristologyRoman apotheosisCristologia joaninaEsta investigação tem como objeto de pesquisa a homologese (confissão) da encarnação do herói, em Jo 1,14. Utilizando-se de um referencial metodológico analítico diacrônico-sincrônico do tipo pendular, objetiva-se efetuar o rastreamento exegético-reconstitutivo do conteúdo cristológico implícito em Jo 1,14 e a sua interface com o contexto sociorreligioso vivenciado pelos grupos joaninos. Diante desta demanda, a hipótese a ser demonstrada é que o discurso da encarnação do herói joanino, estruturado dentro de uma poética sequencial do prólogo, repercute a saga cristológica da comunidade e revela a configuração genético-noemática da mesocristologia joanina. Trata-se de um modelo protocristológico que se faz construção heterotópica e teo-política em relação à apoteose romana, e, por conseguinte, estabelece-se como construto cristolátrico, cristocêntrico e paradigmático em relação ao culto imperial e às estruturas teatrocráticas engendradas neste. O alcance desta hipótese arquiteta-se, por sua vez, a partir do enredo poético kierkegaardiano, no qual, categorias analíticas como o herói, o teatro e o poeta encontram-se imbricadas em cena. Nesse contexto, a empresa reconstitutiva da saga cristológica do herói joanino desenha-se na trilha hermenêutica da indecidibilidade e da imaginação criativa, nutrindo-se, sobretudo, da teoria das fontes de Senén Vidal e do referencial heterotopológico foucaultiano, o qual permitiu-nos visibilizar cada passo cristológico da comunidade contingencialmente explicitado na trama de cada capítulo a partir do enredo metafórico do barco joanino a navegar no mar do cosmos-Império. À luz do enredo foucaultiano, no primeiro capítulo, emerge-se de forma direta no primeiro passo da saga. Este trata acerca do herói-rei e o reino. Nessa trama, tendo como referencial exegético as Tradições Básicas joaninas e, sobretudo, o fragmento Jo 18,36, versa-se acerca do processo de construção da cristológica real joanina, a partir dos paradigmas do herói-rei e sua basileia, visibilizando-se, neste encadeamento, o background de contingências, desafios e efeitualidades que se relacionam com este momento incipiente da história dos grupos joaninos. Nesse encadeamento se delineia a tese de que o conteúdo cristológico do fragmento textual Jo 18,36, subsidiado pela anamnese monumental do herói-rei, evidencia a maturação e consolidação de um processo de ressignificação do messianismo davídico popular joanino e, por conseguinte, postula, a partir de uma síntese dialética entre os substratos cristológicos do rei e da basileia, a complexa e incipiente dynamis construcional paradigmática do modelo protocristológico real joanino. Diante do círculo concêntrico em que se materializa o cosmos no QE, o teor ressignificado da cristologia real joanina, de um lado, visibiliza o viés heterotópico dos grupos joaninos perante as práticas de dominação do Império Romano, de outro, se configura como vetor dos embates messianológicos com o judaísmo rabínico e consequentemente como elemento catalisador da expulsão dos grupos joaninos da sinagoga. O segundo capítulo, por sua vez, remete ao segundo passo da saga. Este revela a interface entre o herói e a glória. Neste contexto, tendo como referencial exegético o fragmento hínico-poético Jo 1,1, versa-se acerca da dinâmica de elaboração da cristologia da glória do herói joanino. Diante deste tablado, objetiva-se evocar fundamentalmente, a partir do cruzamento imagético-simbólico (Jesus-César), uma arqueologia da glória, que por sua vez, evidencie as instâncias e fios paradoxais que orbitam o processo prototípico de construção da divindade e do culto a Júlio César, e a dynamis de compreensão acerca da divindade e da devoção ao Jesus joanino. Nessa trama epistêmica, os substratos arqueológicos coletados em terras italianas e gregas configuram-se em alicerces históricos ratificadores da hipótese proposta. Nesse trajeto se delineia a tese de que na dinâmica poética do prólogo joanino, os três atos do drama cosmológico do herói, em Jo 1,1 (Jo 1,1a; Jo 1,1b; Jo 1,1c), evidenciam a construção paradigmática do modelo protocristológico da glória, no qual o herói joanino é compreendido como Theos diante de uma atmosfera de pressão cultual sob Domiciano. Este modelo protocristológico, por sua vez, designa a estruturação de uma plataforma protocultual neomonoteísta de cunho ideológico anti-idolátrico e anti-politeísta diante de um iceberg piramidal cultual teatrocrático gestado matricialmente em César e travestido no culto domiciano. Por fim, o terceiro e último capítulo aborda o passo final da saga cristológica joanina. Este revela a relação entre o herói, o reino e a glória. Nessa paisagem textual, tendo como referencial exegético Jo 1,14, trata-se acerca da construção genético-paradigmática do modelo protocristológico mesocristológico, das suas implicações em relação à apoteose romana e a instituição paradigmática do culto imperial no seio joanino, bem como da história dos efeitos e sintagmas intrínsecos ao caráter heterotópico da mesocristologia joanina. Neste último passo se evidencia a tese principal de que este neoprotótipo cristológico sintético, no qual os modelos cristológicos real/horizontal e da glória/vertical orbitam e se ressignificam dialeticamente, institui-se como construção heterotópica e teo-política em relação aos ritos de apoteose romana, e, por conseguinte, se estabelece como construto cristolátrico, cristocêntrico e paradigmático em relação ao culto imperial e às teias teatrocráticas imbricadas neste. Esta tese, por sua vez, tem como escopo basilar explicitar que o cristianismo originário joanino instaura-se como protótipo cristológico-cultual cristolátrico que kerigmatiza e reivindica uma práxis devocional centralizada em Jesus. Nesse sentido, a gens mesocristológica, implícita no discurso encarnacional do herói joanino, implanta-se como construto homologético paradigmático em relação a qualquer práxis divinizante e cultual, forjada teatrocraticamente sob dispositivos hermenêuticos não cristocêntricos ao longo da história. Este modelo investigativo nos permite questionar em que proporção o protótipo paradigmático devocional e, por conseguinte, contracultual joanino tem sido subvertido ou negligenciado, por uma parte, pelas dinâmicas e faces do poder que continuam a fabricar devotos, deuses-heróis e seus respectivos cultos no decorrer dos tempos e sociedades; por outra parte, na medida em que, antigas e novas dinâmicas devocionais e cultuais de caráter não cristocêntrico, a partir de uma apropriação prototípico-simbólica gestada em César, tem se estabelecido mimeticamente na história eclesiástica dos cristianismos ao longo dos tempos.Editora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás2018-11-06info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/676910.18224/cam.v16i2.6769Caminhos - Journal of Religion Sciences; Vol. 16 (2018): Justiça e Direitos Humanos; 225-230Caminhos - Revista Ciencias Religiosas; Vol. 16 (2018): Justiça e Direitos Humanos; 225-230Caminhos - Rivista di Scienze Religiose; V. 16 (2018): Justiça e Direitos Humanos; 225-230Caminhos - Revista de Ciências da Religião; v. 16 (2018): Justiça e Direitos Humanos; 225-2301983-778X10.18224/cam.v16.n2.2018reponame:Caminhos (Goiânia. Online)instname:Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO)instacron:PUC_GOporhttps://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/6769/3788Copyright (c) 2018 Danilo Dourado Guerrainfo:eu-repo/semantics/openAccessGuerra, Danilo Dourado2019-03-26T16:29:03Zoai:ojs2.seer.pucgoias.edu.br:article/6769Revistahttps://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/indexPUBhttps://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/oaikeilamatos.puc@gmail.com1983-778X1678-3034opendoar:2019-03-26T16:29:03Caminhos (Goiânia. Online) - Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO)false
dc.title.none.fl_str_mv HERÓIS EM CENA: A CONSTRUÇÃO PARADIGMÁTICA CONTRACULTUAL DA MESOCRISTOLOGIA JOANINA.
title HERÓIS EM CENA: A CONSTRUÇÃO PARADIGMÁTICA CONTRACULTUAL DA MESOCRISTOLOGIA JOANINA.
spellingShingle HERÓIS EM CENA: A CONSTRUÇÃO PARADIGMÁTICA CONTRACULTUAL DA MESOCRISTOLOGIA JOANINA.
Guerra, Danilo Dourado
Herói
Evangelho de João
Cristologia joanina
Apoteose romana
Heterotopia
Hero
Gospel of John
Johannine Christology
Roman apotheosis
Cristologia joanina
title_short HERÓIS EM CENA: A CONSTRUÇÃO PARADIGMÁTICA CONTRACULTUAL DA MESOCRISTOLOGIA JOANINA.
title_full HERÓIS EM CENA: A CONSTRUÇÃO PARADIGMÁTICA CONTRACULTUAL DA MESOCRISTOLOGIA JOANINA.
title_fullStr HERÓIS EM CENA: A CONSTRUÇÃO PARADIGMÁTICA CONTRACULTUAL DA MESOCRISTOLOGIA JOANINA.
title_full_unstemmed HERÓIS EM CENA: A CONSTRUÇÃO PARADIGMÁTICA CONTRACULTUAL DA MESOCRISTOLOGIA JOANINA.
title_sort HERÓIS EM CENA: A CONSTRUÇÃO PARADIGMÁTICA CONTRACULTUAL DA MESOCRISTOLOGIA JOANINA.
author Guerra, Danilo Dourado
author_facet Guerra, Danilo Dourado
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Guerra, Danilo Dourado
dc.subject.por.fl_str_mv Herói
Evangelho de João
Cristologia joanina
Apoteose romana
Heterotopia
Hero
Gospel of John
Johannine Christology
Roman apotheosis
Cristologia joanina
topic Herói
Evangelho de João
Cristologia joanina
Apoteose romana
Heterotopia
Hero
Gospel of John
Johannine Christology
Roman apotheosis
Cristologia joanina
description Esta investigação tem como objeto de pesquisa a homologese (confissão) da encarnação do herói, em Jo 1,14. Utilizando-se de um referencial metodológico analítico diacrônico-sincrônico do tipo pendular, objetiva-se efetuar o rastreamento exegético-reconstitutivo do conteúdo cristológico implícito em Jo 1,14 e a sua interface com o contexto sociorreligioso vivenciado pelos grupos joaninos. Diante desta demanda, a hipótese a ser demonstrada é que o discurso da encarnação do herói joanino, estruturado dentro de uma poética sequencial do prólogo, repercute a saga cristológica da comunidade e revela a configuração genético-noemática da mesocristologia joanina. Trata-se de um modelo protocristológico que se faz construção heterotópica e teo-política em relação à apoteose romana, e, por conseguinte, estabelece-se como construto cristolátrico, cristocêntrico e paradigmático em relação ao culto imperial e às estruturas teatrocráticas engendradas neste. O alcance desta hipótese arquiteta-se, por sua vez, a partir do enredo poético kierkegaardiano, no qual, categorias analíticas como o herói, o teatro e o poeta encontram-se imbricadas em cena. Nesse contexto, a empresa reconstitutiva da saga cristológica do herói joanino desenha-se na trilha hermenêutica da indecidibilidade e da imaginação criativa, nutrindo-se, sobretudo, da teoria das fontes de Senén Vidal e do referencial heterotopológico foucaultiano, o qual permitiu-nos visibilizar cada passo cristológico da comunidade contingencialmente explicitado na trama de cada capítulo a partir do enredo metafórico do barco joanino a navegar no mar do cosmos-Império. À luz do enredo foucaultiano, no primeiro capítulo, emerge-se de forma direta no primeiro passo da saga. Este trata acerca do herói-rei e o reino. Nessa trama, tendo como referencial exegético as Tradições Básicas joaninas e, sobretudo, o fragmento Jo 18,36, versa-se acerca do processo de construção da cristológica real joanina, a partir dos paradigmas do herói-rei e sua basileia, visibilizando-se, neste encadeamento, o background de contingências, desafios e efeitualidades que se relacionam com este momento incipiente da história dos grupos joaninos. Nesse encadeamento se delineia a tese de que o conteúdo cristológico do fragmento textual Jo 18,36, subsidiado pela anamnese monumental do herói-rei, evidencia a maturação e consolidação de um processo de ressignificação do messianismo davídico popular joanino e, por conseguinte, postula, a partir de uma síntese dialética entre os substratos cristológicos do rei e da basileia, a complexa e incipiente dynamis construcional paradigmática do modelo protocristológico real joanino. Diante do círculo concêntrico em que se materializa o cosmos no QE, o teor ressignificado da cristologia real joanina, de um lado, visibiliza o viés heterotópico dos grupos joaninos perante as práticas de dominação do Império Romano, de outro, se configura como vetor dos embates messianológicos com o judaísmo rabínico e consequentemente como elemento catalisador da expulsão dos grupos joaninos da sinagoga. O segundo capítulo, por sua vez, remete ao segundo passo da saga. Este revela a interface entre o herói e a glória. Neste contexto, tendo como referencial exegético o fragmento hínico-poético Jo 1,1, versa-se acerca da dinâmica de elaboração da cristologia da glória do herói joanino. Diante deste tablado, objetiva-se evocar fundamentalmente, a partir do cruzamento imagético-simbólico (Jesus-César), uma arqueologia da glória, que por sua vez, evidencie as instâncias e fios paradoxais que orbitam o processo prototípico de construção da divindade e do culto a Júlio César, e a dynamis de compreensão acerca da divindade e da devoção ao Jesus joanino. Nessa trama epistêmica, os substratos arqueológicos coletados em terras italianas e gregas configuram-se em alicerces históricos ratificadores da hipótese proposta. Nesse trajeto se delineia a tese de que na dinâmica poética do prólogo joanino, os três atos do drama cosmológico do herói, em Jo 1,1 (Jo 1,1a; Jo 1,1b; Jo 1,1c), evidenciam a construção paradigmática do modelo protocristológico da glória, no qual o herói joanino é compreendido como Theos diante de uma atmosfera de pressão cultual sob Domiciano. Este modelo protocristológico, por sua vez, designa a estruturação de uma plataforma protocultual neomonoteísta de cunho ideológico anti-idolátrico e anti-politeísta diante de um iceberg piramidal cultual teatrocrático gestado matricialmente em César e travestido no culto domiciano. Por fim, o terceiro e último capítulo aborda o passo final da saga cristológica joanina. Este revela a relação entre o herói, o reino e a glória. Nessa paisagem textual, tendo como referencial exegético Jo 1,14, trata-se acerca da construção genético-paradigmática do modelo protocristológico mesocristológico, das suas implicações em relação à apoteose romana e a instituição paradigmática do culto imperial no seio joanino, bem como da história dos efeitos e sintagmas intrínsecos ao caráter heterotópico da mesocristologia joanina. Neste último passo se evidencia a tese principal de que este neoprotótipo cristológico sintético, no qual os modelos cristológicos real/horizontal e da glória/vertical orbitam e se ressignificam dialeticamente, institui-se como construção heterotópica e teo-política em relação aos ritos de apoteose romana, e, por conseguinte, se estabelece como construto cristolátrico, cristocêntrico e paradigmático em relação ao culto imperial e às teias teatrocráticas imbricadas neste. Esta tese, por sua vez, tem como escopo basilar explicitar que o cristianismo originário joanino instaura-se como protótipo cristológico-cultual cristolátrico que kerigmatiza e reivindica uma práxis devocional centralizada em Jesus. Nesse sentido, a gens mesocristológica, implícita no discurso encarnacional do herói joanino, implanta-se como construto homologético paradigmático em relação a qualquer práxis divinizante e cultual, forjada teatrocraticamente sob dispositivos hermenêuticos não cristocêntricos ao longo da história. Este modelo investigativo nos permite questionar em que proporção o protótipo paradigmático devocional e, por conseguinte, contracultual joanino tem sido subvertido ou negligenciado, por uma parte, pelas dinâmicas e faces do poder que continuam a fabricar devotos, deuses-heróis e seus respectivos cultos no decorrer dos tempos e sociedades; por outra parte, na medida em que, antigas e novas dinâmicas devocionais e cultuais de caráter não cristocêntrico, a partir de uma apropriação prototípico-simbólica gestada em César, tem se estabelecido mimeticamente na história eclesiástica dos cristianismos ao longo dos tempos.
publishDate 2018
dc.date.none.fl_str_mv 2018-11-06
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/6769
10.18224/cam.v16i2.6769
url https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/6769
identifier_str_mv 10.18224/cam.v16i2.6769
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/6769/3788
dc.rights.driver.fl_str_mv Copyright (c) 2018 Danilo Dourado Guerra
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Copyright (c) 2018 Danilo Dourado Guerra
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Editora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás
publisher.none.fl_str_mv Editora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás
dc.source.none.fl_str_mv Caminhos - Journal of Religion Sciences; Vol. 16 (2018): Justiça e Direitos Humanos; 225-230
Caminhos - Revista Ciencias Religiosas; Vol. 16 (2018): Justiça e Direitos Humanos; 225-230
Caminhos - Rivista di Scienze Religiose; V. 16 (2018): Justiça e Direitos Humanos; 225-230
Caminhos - Revista de Ciências da Religião; v. 16 (2018): Justiça e Direitos Humanos; 225-230
1983-778X
10.18224/cam.v16.n2.2018
reponame:Caminhos (Goiânia. Online)
instname:Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO)
instacron:PUC_GO
instname_str Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO)
instacron_str PUC_GO
institution PUC_GO
reponame_str Caminhos (Goiânia. Online)
collection Caminhos (Goiânia. Online)
repository.name.fl_str_mv Caminhos (Goiânia. Online) - Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO)
repository.mail.fl_str_mv keilamatos.puc@gmail.com
_version_ 1796797348934844416