O paradoxo da privacidade entre estudantes do ensino superior: o caso do LLMCP

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Di Fátima, Branco
Data de Publicação: 2019
Outros Autores: Montargil, Filipe, Ruiz, Cristian
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.21/10740
Resumo: Este artigo analisa o paradoxo da privacidade, entre estudantes portugueses do ensino superior, a partir de dados do Living Lab on Media Content and Platforms (LLMCP), um painel online de utilizadores da Internet financiado pela FCT. Tema sensível na sociedade de informação, a privacidade é colocada à prova ao mesmo ritmo da popularização de novas tecnologias, como os motores de busca ou as redes sociais. Segundo muitas pesquisas, os utilizadores da Internet poderão estar a desenvolver um paradoxo entre o discurso sobre a proteção dos dados pessoais e os seus comportamentos online (Lai, Liang, Hui, 2018; Norberg, Horne, Horne, 2007). Por um lado, os utilizadores afirmam em entrevistas e questionários estar “muito preocupados” com sua privacidade e segurança na Internet (HFS Research, 2016; TRUSTe, 2014; Obercom, 2010). Por outro, quando conectados, adotam comportamentos que flexibilizam o acesso aos seus dados pessoais (Di Fátima, Montargil, Miranda, 2019; Carrascal et al.,2013; Brown, 2001). De acordo com a literatura disponível, os indivíduos parecem dispostos a trocar as suas informações por incentivos económicos relativamente reduzidos, ao mesmo tempo que reproduzem o medo da invasão de privacidade (Kokolakis, 2017). Um estudo conduzido por Dienlin e Trepte (2015), por exemplo, parece sustentar a hipótese de que a preocupação com a privacidade na rede é uma variável independente dos hábitos online. Indivíduos que se dizem especialmente preocupados com a privacidade são os mesmos que publicam os seus dados no Facebook e no Twitter – como fotos de família, número de telefone ou eventos em que participam. Em alguns casos, a decisão de flexibilizar a privacidade parece assentar num processo de escolha racional, em que são avaliados custos e benefícios de cada opção. Como afirmam Carrascal et al. (2013: 189), “os utilizadores da Internet preferem trocar informações por recompensas monetárias ou serviços aprimorados do que por serviços gratuitos e anúncios dirigidos”. Brown (2001) também identificou padrões semelhantes fora da rede, no mundo offline. Numa pesquisa sobre a fidelização aos supermercados, o autor confirmou que as reservas relativas à privacidade não impediam os consumidores de aceitar fazer um cartão de desconto nas compras, mesmo que tivessem de partilhar os seus dados. “Isso talvez apresente um paradoxo. Enquanto os nossos inquiridos expressam preocupações gerais com a privacidade, eles estão dispostos a trocá-la por ganhos muito pequenos” (Idem: 18). O LLMCP convidou cerca de 100 alunos da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) para integrar o painel de utilizadores da Internet. Após uma breve apresentação do estudo, em ambiente informal, os estudantes foram questionados individualmente sobre a sua disponibilidade para integrar o painel. Em troca do consentimento para monitorizar os seus comportamentos online, via a recolha do histórico de navegação do Google Chrome, os participantes receberiam o incentivo – uma powerbank, com custo aproximado de 10€ no mercado retalhista. Os resultados mostram que a maioria dos inquiridos não se encontra disposta a flexibilizar a sua privacidade, parecendo contrariar a hipótese central do paradoxo da privacidade. Contudo, um grupo específico de inquiridos encontra-se disposto a ceder informação pessoal, desde que considere existir um propósito maior, relacionado com os avanços da investigação e do conhecimento científico. Embora os resultados tenham por base uma amostra relativamente reduzida, assente exclusivamente em alunos da ESCS, permitem questionar se o paradoxo da privacidade se encontrará relacionado com os níveis de literacia informática dos indivíduos? Assim como existe uma relação entre idade, escolaridade e acesso à Internet (Castells, 2012), poderá ser colocada a hipótese da existência de uma associação entre idade, escolaridade e flexibilização da privacidade em rede.
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Por um lado, os utilizadores afirmam em entrevistas e questionários estar “muito preocupados” com sua privacidade e segurança na Internet (HFS Research, 2016; TRUSTe, 2014; Obercom, 2010). Por outro, quando conectados, adotam comportamentos que flexibilizam o acesso aos seus dados pessoais (Di Fátima, Montargil, Miranda, 2019; Carrascal et al.,2013; Brown, 2001). De acordo com a literatura disponível, os indivíduos parecem dispostos a trocar as suas informações por incentivos económicos relativamente reduzidos, ao mesmo tempo que reproduzem o medo da invasão de privacidade (Kokolakis, 2017). Um estudo conduzido por Dienlin e Trepte (2015), por exemplo, parece sustentar a hipótese de que a preocupação com a privacidade na rede é uma variável independente dos hábitos online. Indivíduos que se dizem especialmente preocupados com a privacidade são os mesmos que publicam os seus dados no Facebook e no Twitter – como fotos de família, número de telefone ou eventos em que participam. Em alguns casos, a decisão de flexibilizar a privacidade parece assentar num processo de escolha racional, em que são avaliados custos e benefícios de cada opção. Como afirmam Carrascal et al. (2013: 189), “os utilizadores da Internet preferem trocar informações por recompensas monetárias ou serviços aprimorados do que por serviços gratuitos e anúncios dirigidos”. Brown (2001) também identificou padrões semelhantes fora da rede, no mundo offline. Numa pesquisa sobre a fidelização aos supermercados, o autor confirmou que as reservas relativas à privacidade não impediam os consumidores de aceitar fazer um cartão de desconto nas compras, mesmo que tivessem de partilhar os seus dados. “Isso talvez apresente um paradoxo. Enquanto os nossos inquiridos expressam preocupações gerais com a privacidade, eles estão dispostos a trocá-la por ganhos muito pequenos” (Idem: 18). O LLMCP convidou cerca de 100 alunos da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) para integrar o painel de utilizadores da Internet. Após uma breve apresentação do estudo, em ambiente informal, os estudantes foram questionados individualmente sobre a sua disponibilidade para integrar o painel. Em troca do consentimento para monitorizar os seus comportamentos online, via a recolha do histórico de navegação do Google Chrome, os participantes receberiam o incentivo – uma powerbank, com custo aproximado de 10€ no mercado retalhista. Os resultados mostram que a maioria dos inquiridos não se encontra disposta a flexibilizar a sua privacidade, parecendo contrariar a hipótese central do paradoxo da privacidade. Contudo, um grupo específico de inquiridos encontra-se disposto a ceder informação pessoal, desde que considere existir um propósito maior, relacionado com os avanços da investigação e do conhecimento científico. Embora os resultados tenham por base uma amostra relativamente reduzida, assente exclusivamente em alunos da ESCS, permitem questionar se o paradoxo da privacidade se encontrará relacionado com os níveis de literacia informática dos indivíduos? Assim como existe uma relação entre idade, escolaridade e acesso à Internet (Castells, 2012), poderá ser colocada a hipótese da existência de uma associação entre idade, escolaridade e flexibilização da privacidade em rede.SOPCOM / Universidade da MadeiraRCIPLDi Fátima, BrancoMontargil, FilipeRuiz, Cristian2019-11-25T15:12:29Z2019-11-132019-11-13T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.21/10740porDi Fatima, B., Montargil, F., & Ruiz, C. (2019, novembro, 13-15). O paradoxo da privacidade entre estudantes do ensino superior: o caso do LLMCP. 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