Garção e a gramática ou a ficção do teatro português

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Alves, Hélio J. S.
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10451/48902
Resumo: Em Teatro Novo, assistimos, paradoxalmente, à desmontagem dos mecanismos da ficção teatral. A representação corresponde ao estado real das coisas (sociedade, condutas), tornando a verdadeira representação, a do teatro, impossível. Em Garção, o teatro é ocupado pelo mundo. O teatro serve o mundo, em particular o mundo dos esquemas de fraude capitalista, com Aprígio, o «corretor dourado», e Bigodes, o explorador colonialista, à cabeça. Ao mesmo tempo, este mundo não depende de fases históricas, pelo menos quanto às gerações ainda vivas; para velhos e novos, é sempre igual a si próprio, sem que a interferência das mudanças (de moda, estilo, forma, hábito) altere a essencial hipocrisia, ou ficção estabelecida, que o rege. Neste mundo, o teatro não só é impossível, como é desnecessário e inútil, uma vez que não consegue oferecer-se como alternativa. Teatro Novo permite-nos sair do mundo para entrar no teatro, de maneira a mostrar que não escapamos do primeiro. Daí o seu fracasso original: a peça de Garção não nos deixa ir ao teatro. O artigo que lhe falta é o sinal da falha: teatro novo não tem teatro nenhum.
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