O descobrimento do brasil na imprensa diária brasileira: A actualização gradativa da memória sodal
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Data de Publicação: | 2003 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492003000200007 |
Resumo: | O presente artigo busca descrever a participação gradativa de, pelo menos, uma parte dos media brasileiros no processo de actualização da memória social do descobrimento do Brasil, através da análise das matérias veiculadas pela imprensa escrita diária a respeito do descobrimento, do início da colonização e da comemoração do quinto centenário. A recolha das matérias, realizada durante três anos consecutivos, de 1 de Janeiro de 1998 a 31 de Dezembro de 2000, incidiu sobre quatro jornais de grande circulação na cidade do Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, O Globo (representantes cariocas do que se convencionou chamar de "grande imprensa"), a Folha de São Paulo (veículo incorporado aos hábitos de leitura das classes média e média-alta do Rio de Janeiro) e O Dia (jornal de grande penetração popular). Os instrumentos de registo das matérias englobaram os seguintes itens: (1) aspectos formais, como a forma discursiva, autoria e suas fontes de informação, procedência da informação (nacional, portuguesa ou doutro país) e instituições citadas; (2) conteúdo substantivo, focalizando as esferas privilegiadas (política / económica, religiosa, cultural / artística, historiográfica, educativa / científica), as categorias de sujeitos históricos envolvidos, o tratamento descritivo ou analítico; (3) pertinência da matéria, ou seja, se a mesma possuía referência directa ou somente alusiva ao tema; (4) orientação comunicativa subjacente, em termos de valorização e tomada de posição frente ao descobrimento do Brasil, com a utilização da distinção feita por S. Moscovici entre difusão, propagação e propaganda. A análise global mostra que, durante todo o período analisado, as transformações são lentas, incidindo principalmente sobre aspectos formais, como o aumento gradativo do número de artigos e reportagens, e quanto à pertinência das matérias, com a diminuição daquelas apenas alusivas. Somente no primeiro semestre do 2000, com a aproximação da data do quinto centenário (22 de Abril), observam-se inflexões significativas nas curvas de desenvolvimento, que indicam a introdução de novos saberes e juízos polémicos no processo de actualização da memória social do descobrimento. Os principais resultados nesse sentido mostram que: (1) os conteúdos substantivos predominantes deixam de ser a comemoração do facto e o facto histórico em si, enquanto as temáticas contemporâneas relacionadas passam a adquirir maior importância nos media; (2) os navegadores portugueses cedem o lugar de principais sujeitos históricos focalizados pelos média aos índios, em função da repercussão das manifestações populares contra as comemorações oficiais; (3) há um aumento na quantidade de análises e juízos críticos a respeito do descobrimento do Brasil, que caracterizam uma orientação subjacente de propaganda, associado a uma diminuição das matérias de difusão, ou seja, que não possuem tomadas explícitas de posição. A memória social actualizada do descobrimento toma-se, assim, ao final do período, mais complexa e politicamente polarizada. |
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