Representações sociais vivas do descobrimento do Brasil: A memória social atualizada de brasileiros e portugueses

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Möller,Renato Cesar
Data de Publicação: 2003
Outros Autores: Sá,Celso Pereira de, Bezerra,Fernando Cesar de Castro
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20492003000200011
Resumo: Neste artigo são evidenciados aspectos comparativamente importantes da memória social actualizada de portugueses e brasileiros a propósito do descobrimento do Brasil. Tal estado da memória é descrito em termos das representações sociais vivas, ou seja, aquelas actuantes nas duas populações por ocasião mesmo da comemoração do quinto centenário. Para isso, foram aplicados questionários, de características semelhantes, sobre diversas questões relacionadas ao descobrimento e à colonização do Brasil - históricas, económicas, políticas, culturais - a 500 sujeitos portugueses em Lisboa e a 789 brasileiros, em sete diferentes cidades do país, todos adultos, de ambos os sexos, com no mínimo oito anos de escolarização. Alguns dos principais resultados dessa investigação são os seguintes: (1) dois terços dos sujeitos brasileiros e um terço dos portugueses citam o descobrimento do Brasil como um dos três factos mais marcantes da história dos seus países; (2) a maioria dos portugueses atribui o descobrimento do Brasil ao acaso, enquanto a maioria dos brasileiros o representa como resultado de uma acção intencional; (3) para a amostra brasileira, uma menor proporção das características favoráveis do Brasil e uma maior proporção das desfavoráveis se devem à influência europeia, em comparação com as influências indígena e africana; (4) a cultura brasileira é representada, tanto pelos brasileiros como pelos portugueses, como uma fusão das culturas europeia, indígena e africana; (5) mais da metade das amostras brasileira e portuguesa remetem a redação da população indígena à matança pelos colonizadores, seguindo-se, como outros factores importantes, as guerras entre tribos rivais, para os portugueses, e as doenças trazidas pelos europeus, para os brasileiros; (6) quanto aos sentimentos associados à memória dos acontecimentos de quinhentos anos atrás, os portugueses sentem-se principalmente orgulhosos ou, em menor proporção, indiferentes, enquanto os sentimentos dos brasileiros se distribuem entre a revolta, a vergonha, mas também o orgulho e a indiferença; (7) para os portugueses, a principal fonte de representações do descobrimento é o aprendizado na escola, seguido da televisão, que são também fontes importantes para os brasileiros, mas em menor grau, pois jornais, revistas e livros recentes contribuem igualmente para a actualização da sua memória; (8) não obstante, metade da amostra brasileira, tanto quanto a portuguesa, não vê muita diferença entre o que se fala hoje sobre o descobrimento e o que se lembra de ter lido nos manuais escolares; (9) dentre os que rejeitam o termo "descobrimento", a maioria dos portugueses preferiria substituí-lo por "encontro entre dois povos", enquanto, em uma proporção maior, os brasileiros julgam mais adequado falar de "invasão" ou "conquista"; (10) finalmente, a quase totalidade dos portugueses e dois terços dos brasileiros são favoráveis à comemoração do descobrimento do Brasil nos respectivos países. Estes resultados comparativos são interpretados em termos das razões pelas quais podem ser semelhantes, mas também distintas e distantes, as memórias actualizadas de um mesmo acontecimento remoto em duas populações ligadas por complexos vínculos históricos e culturais.
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