«Nós aqui ficamos, somos do Lubango»: meio século de imagens em movimento num planalto
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10451/55721 |
Resumo: | De algumas décadas a esta parte, a relação entre visualidade e colonialismo tem conhecido crescente destaque no mapa das ciências sociais e humanas. Porém, no caso de Angola, enquanto o universo das imagens “fixas” tem sido alvo de um maior escrutínio, o arquivo das imagens “em movimento” permanece, largamente, por investigar. Ademais, e com a devida excepção assinalada para uma ou duas obras pioneiras, a crítica cinematográfica tem vindo a desenvolver pesquisas unilateralmente focadas no enquadramento colonial, entendendo-o, tout court, enquanto acção exercida pelo centro colonizador sobre a periferia colonizada. No encalço desta perspectiva redutora — que, herdeira de modos de saber eurocêntricos, ignora uma relação de forças que, embora assimétrica, sempre existiu —, a maioria dos estudos filmográficos tende a privilegiar a propaganda colonial do império português, arredando-se da análise dos documentos audiovisuais que, durante as guerras de libertação e aquando da independência, eram produzidos por angolanos e seus aliados. Sem rasurar as tecnologias visuais de inculcação ideológica fascista — que, ao longo do século XX e no substrato da Ditadura Militar e do Estado Novo se assumiram enquanto instrumentos centrais na (re)definição de identidades e narrativas individuais e colectivas no que concerne aos territórios ultramarinos e aos seus habitantes —, a presente dissertação propõe superar o papel marginal amiúde consignado à cinematografia anti- e pós-colonial, atentando no seu potencial emancipatório e recentrando o cinema enquanto espaço e locus epistemológico de resistência. Assim, e através de uma abordagem tripartida que atenta em cinquenta anos de produção documental sobre e de Angola, recortando e trazendo para primeiro plano o plateau da Huíla e as populações Ovamwila que nele habitam, averiguam-se dispositivos imagético-discursivos edificados pela potência colonial que sequestram ao Outro a sua imagem, mas também a potência do cinema enquanto linguagem capaz de restituir ao corpo colonizado a possibilidade de ser inteiro. |
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No encalço desta perspectiva redutora — que, herdeira de modos de saber eurocêntricos, ignora uma relação de forças que, embora assimétrica, sempre existiu —, a maioria dos estudos filmográficos tende a privilegiar a propaganda colonial do império português, arredando-se da análise dos documentos audiovisuais que, durante as guerras de libertação e aquando da independência, eram produzidos por angolanos e seus aliados. Sem rasurar as tecnologias visuais de inculcação ideológica fascista — que, ao longo do século XX e no substrato da Ditadura Militar e do Estado Novo se assumiram enquanto instrumentos centrais na (re)definição de identidades e narrativas individuais e colectivas no que concerne aos territórios ultramarinos e aos seus habitantes —, a presente dissertação propõe superar o papel marginal amiúde consignado à cinematografia anti- e pós-colonial, atentando no seu potencial emancipatório e recentrando o cinema enquanto espaço e locus epistemológico de resistência. Assim, e através de uma abordagem tripartida que atenta em cinquenta anos de produção documental sobre e de Angola, recortando e trazendo para primeiro plano o plateau da Huíla e as populações Ovamwila que nele habitam, averiguam-se dispositivos imagético-discursivos edificados pela potência colonial que sequestram ao Outro a sua imagem, mas também a potência do cinema enquanto linguagem capaz de restituir ao corpo colonizado a possibilidade de ser inteiro.In the last decades, the relationship between visual representation and colonialism has been increasingly at the focus of social sciences. However, for the case of Angola, while the universe of still images has been the target of a detailed scrutiny by many scholars, the same cannot be said for the archives of “moving” images. Moreover, with the exception of a couple of pioneer works, film theory tends to approach these archives from a unilateral perspective, framing colonial relationships, tout court, as the action exerted by the colonizing center on the colonized periphery. In the footsteps of this reductionist perspective — that, inherited by Eurocentric modes of reasoning, ignores the power-struggles which, although asymmetrical, were always present — the vast majority of film studies tends to privilege the propaganda of the Portuguese colonial empire, overlooking the audiovisual documents produced, during the liberation wars and subsequent independence era, by Angolans and their allies. Without erasing the visual technologies of fascist ideological inculcation — which, throughout the 20th century and in the substratum of the “Ditadura Militar” and of the “Estado Novo”, became central instruments in the (re)definition of individual and collective identities with regards to the overseas territories and its inhabitants — this dissertation proposes to overcome the marginal role often assigned to anti- and postcolonial cinematography, paying attention to its emancipatory potential and recentering cinema as a space and epistemological locus of resistance. Therefore, through a tripartite approach that looks at fifty years of documentary production about and from Angola, and bringing to the foreground the plateau of Huíla and the Ovamwila populations that inhabit it, we investigate the imagetic discourses built by the colonial power that hijack from the Other their image, but also the potential of cinema as a language capable of restoring wholeness to the colonized body.Leite, Ana MafaldaAlmeida, Carlos José DuarteRepositório da Universidade de LisboaLopes, Ana Sofia Santos Afonso2023-01-09T12:59:22Z2022-02-242021-08-112022-02-24T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/55721TID:202968219porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T17:02:52Zoai:repositorio.ul.pt:10451/55721Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T22:06:19.995210Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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