A personagem feminina na obra contística de Mia Couto
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2009 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.6/708 |
Resumo: | A obra contística de Mia Couto representa uma mundivivência específica africana, mais concretamente moçambicana, cujos valores se reportam a uma universalidade incontestável. A importância e o estatuto que este autor alcançou dentro e fora do mundo da lusofonia transformaram-no num autor de relevo que em tudo dignifica as literaturas africanas e a língua portuguesa. Na presente dissertação procurámos refletir acerca da importância do conto na obra deste autor, bem como nos recursos de que se serve para apresentar uma obra que, não traindo as raízes moçambicanas a partir das quais nasceu, procura a universalidade na transmissão de valores que permitam construir uma nova ordem política, social e moral. Os contos de Mia Couto reúnem singularidades que os tornam veículos privilegiados de mensagens fortes e consistentes recorrendo a enredos simples, mas surpreendentes; com personagens aparentemente pouco caracterizadas, contudo marcantes; em espaços essencialmente rurais; num tempo que pode ser de guerra ou de paz, de alegria ou de sofrimento, mas onde a apetência pelo fantástico e a aproximação ao realismo mágico se aglutinam para dar origem a uma nova realidade em que a esperança e a vida se sobrepõem à dor e à morte. As personagens femininas afirmam-se pela própria frequência com que aparecem nesta obra contística e pelos contornos que as definem. Sejam planas, tipificadas ou com laivos de personagens modeladas, elas marcam o seu espaço na diegese pelas funções que assumem, pelo seu discurso, bem como pelas atitudes que tomam. Com efeito, elas são as vítimas privilegiadas das contradições e injustiças da sociedade colonial e pós-colonial, por isso, não raro, estas personagens aparecem divididas entre a submissão e os primeiros raios de rebeldia, assim como entre a tradição e a modernidade. Em comum com as mulheres moçambicanas, as personagens dos contos do escritor moçambicanoMia Couto partilham a imensa coragem de sofrer a sua sorte. Procuram ultrapassar todas as contrariedades que oprimem a sua individualidade, sem, contudo, renegar o seu enraizamento em valores gregários e comunitários. Transparecem várias qualidades que as elevam do mundo concreto em que vivem, para tal recorrem ao domínio da oralidade e das estórias, refugiam-se nas crenças ou transportam-se para uma dimensão onírica que lhes permite evadirem-se de uma realidade que lhes é profundamente adversa. Em suma, a obra contística de Mia Couto faz uso das linhas contemporâneas de escrita seguidas por outros autores, revelando uma opção, ainda que possivelmente marcada no tempo, pelo conto, o que lhe permite exaltar o universo da oralidade, refletindo o imaginário e as tradições das culturas ancestrais e míticas, recusando um mundo estereotipado em que as questões de género se sobrepõem às opções individuais e à dignidade humana. |
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A personagem feminina na obra contística de Mia CoutoMia CoutoLiteratura MoçambicanaA obra contística de Mia Couto representa uma mundivivência específica africana, mais concretamente moçambicana, cujos valores se reportam a uma universalidade incontestável. A importância e o estatuto que este autor alcançou dentro e fora do mundo da lusofonia transformaram-no num autor de relevo que em tudo dignifica as literaturas africanas e a língua portuguesa. Na presente dissertação procurámos refletir acerca da importância do conto na obra deste autor, bem como nos recursos de que se serve para apresentar uma obra que, não traindo as raízes moçambicanas a partir das quais nasceu, procura a universalidade na transmissão de valores que permitam construir uma nova ordem política, social e moral. Os contos de Mia Couto reúnem singularidades que os tornam veículos privilegiados de mensagens fortes e consistentes recorrendo a enredos simples, mas surpreendentes; com personagens aparentemente pouco caracterizadas, contudo marcantes; em espaços essencialmente rurais; num tempo que pode ser de guerra ou de paz, de alegria ou de sofrimento, mas onde a apetência pelo fantástico e a aproximação ao realismo mágico se aglutinam para dar origem a uma nova realidade em que a esperança e a vida se sobrepõem à dor e à morte. As personagens femininas afirmam-se pela própria frequência com que aparecem nesta obra contística e pelos contornos que as definem. Sejam planas, tipificadas ou com laivos de personagens modeladas, elas marcam o seu espaço na diegese pelas funções que assumem, pelo seu discurso, bem como pelas atitudes que tomam. Com efeito, elas são as vítimas privilegiadas das contradições e injustiças da sociedade colonial e pós-colonial, por isso, não raro, estas personagens aparecem divididas entre a submissão e os primeiros raios de rebeldia, assim como entre a tradição e a modernidade. Em comum com as mulheres moçambicanas, as personagens dos contos do escritor moçambicanoMia Couto partilham a imensa coragem de sofrer a sua sorte. Procuram ultrapassar todas as contrariedades que oprimem a sua individualidade, sem, contudo, renegar o seu enraizamento em valores gregários e comunitários. Transparecem várias qualidades que as elevam do mundo concreto em que vivem, para tal recorrem ao domínio da oralidade e das estórias, refugiam-se nas crenças ou transportam-se para uma dimensão onírica que lhes permite evadirem-se de uma realidade que lhes é profundamente adversa. Em suma, a obra contística de Mia Couto faz uso das linhas contemporâneas de escrita seguidas por outros autores, revelando uma opção, ainda que possivelmente marcada no tempo, pelo conto, o que lhe permite exaltar o universo da oralidade, refletindo o imaginário e as tradições das culturas ancestrais e míticas, recusando um mundo estereotipado em que as questões de género se sobrepõem às opções individuais e à dignidade humana.Mia Couto‟s short stories presente a specific african wordly experience, particularly the Mozambique one, whose values refer to a demand for universality. The importance of this author within and outside the lusofonia world have turned him into an important author who really dignifies the african literature as well as the portuguese language. In this dissertation we tried to think over the importance of the short story in this author‟s work, as well as about the resources he uses to present a work that doesn´t betray the Mozambique roots in which it was born , but it looks for an universality in what concerns the values that allow the beginning of a new political, social and moral order. Mia Couto‟s short stories bring together singularities that make them priviliged vehicles of solid messages by using simple but surprising plots; with apparently little characterized but striking characters; in rural areas, mostly; in a time that can be of war or peace, joy or suffering, but when the desire for the unreal and the approach to magic realism come together in order to create a new reality where hope and life overcome to pain and death. The feminine characters assert themselves by the frequence of theis appearance in these short stories and by the contours that define them. Whether they are plain, typified or smoothly round, they have their own place in the diegese by their roles, speech, as well as by their own attitudes. In fact, they are priviliged victims of the colonial and post-colonial society contradictions and injustices, that‟s why, very often, these characters become divided between submission and rebellion, as well as between tradition and modernity. The feminine characters in Mia Couto‟s short stories share with real Mozabique women the great courage of suffering their destiny. They try to exceed the setbacks that oppress their individuality, without, nevertheless, deny their incrustration in gregarious and community values. They reveal qualities that take them out of the real world they live in, to do so they use the orality and the story telling, they shelter themselves in believes or they get into a dream world that allows them to escape from reality which is very hard to them. In short, Mia Couto‟s short stories integrate the contemporary writing style followed by many authors, showing an option, even if just in a definite time, by this literary genre which gives him the opportunity to reflect the imaginarium and the ancestral and mythical traditions, and at the same time he refuses a stereotyped world where the genre matters overlap the individual options and human dignity.Vieira, Cristina Maria da CostauBibliorumCorreia, Maria Teresa Nobre2012-05-14T15:24:10Z2009-062009-06-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.6/708porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-11-27T12:05:38Zoai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/708Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openairemluisa.alvim@gmail.comopendoar:71602024-11-27T12:05:38Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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