Concentrado de Fibrinogénio na Hemorragia Obstétrica

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Tavares Ferreira, Cátia Sofia
Data de Publicação: 2019
Outros Autores: Alves, Cláudia, Carvalhas, Joana
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: https://doi.org/10.25751/rspa.15976
Resumo: O fibrinogénio é uma glicoproteína plasmática solúvel. É sintetizado nos hepatócitos e armazenado nas plaquetas, tem uma concentração plasmática entre 2-4,5 g/L, sendo mais alta na gravidez, e uma semivida de 4-7 dias. Funciona como um reagente de fase aguda e é determinante para uma hemóstase eficaz. Na hipofibrinogenemia, congénita ou adquirida, existem três fontes possíveis para a reposição de fibrinogénio: plasma fresco congelado, crioprecipitado e concentrado de fibrinogénio. O concentrado de fibrinogénio tem sido utilizado para o controlo da coagulopatia, contribuindo para a menor utilização de produtos sanguíneos alogénicos na hemorragia major em vários contextos clínicos. A sua administração é uma intervenção hemostática importante e eficaz, sendo considerado um "agente hemostático universal potencial". Durante a gravidez são observadas marcadas alterações na hemóstase. Estas alterações hemostáticas de hipercoagulabilidade são uma preparação fisiológica para as perdas sanguíneas do parto, contudo também propiciam eventos tromboembólicos. A hemorragia obstétrica é a principal causa de morbimortalidade materna, mesmo em países desenvolvidos, sendo, ainda, a causa mais evitável de mortalidade. A hemorragia pós-parto é a sua forma mais frequente. A hemorragia massiva em obstetrícia é um evento crítico que exige uma abordagem interdisciplinar assertiva. A implementação de protocolos de gestão da hemorragia obstétrica, com algoritmos transfusionais, tem conduzido à redução da morbilidade, devendo existir em todas as Unidades Obstétricas. Os vários protocolos diferem na estratégia de ressuscitação hemostática. A diminuição dos níveis plasmáticos de fibrinogénio parece ser um biomarcador na previsão do agravamento da hemorragia pós-parto, pelo que a administração de concentrado de fibrinogénio é uma intervenção hemostática fundamental. Ainda não existe consenso em relação aos trigger e alvo plasmáticos para reposição de fibrinogénio. As Recomendações Portuguesas da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia de 2018 consideram hipofibrinogenemia na hemorragia pós-parto quando: 1) fibrinogénio ≤2,9 g/L; 2) FIBTEM maximum clot firmness ≤18 mm; 3) perdas sanguíneas ≥1,5 L com hemorragia contínua e resultados laboratoriais ainda não disponíveis. A dose inicial recomendada é 25-50 mg/kg, podendo ser necessárias doses adicionais em função da evolução clínica e/ou monitorização laboratorial. A utilização crescente de concentrado de fibrinogénio, associada aos métodos de avaliação da competência hemostática point-ofcare modificou de forma significativa a estratégia terapêutica na hemorragia obstétrica. A correção precoce e dirigida da coagulopatia está associada a redução de componentes sanguíneos transfundidos e das complicações relacionadas. Apesar do papel inquestionável do concentrado de fibrinogénio, algumas questões estão, ainda, por definir para que exista maior precisão na terapêutica da hemorragia obstétrica.
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Durante a gravidez são observadas marcadas alterações na hemóstase. Estas alterações hemostáticas de hipercoagulabilidade são uma preparação fisiológica para as perdas sanguíneas do parto, contudo também propiciam eventos tromboembólicos. A hemorragia obstétrica é a principal causa de morbimortalidade materna, mesmo em países desenvolvidos, sendo, ainda, a causa mais evitável de mortalidade. A hemorragia pós-parto é a sua forma mais frequente. A hemorragia massiva em obstetrícia é um evento crítico que exige uma abordagem interdisciplinar assertiva. A implementação de protocolos de gestão da hemorragia obstétrica, com algoritmos transfusionais, tem conduzido à redução da morbilidade, devendo existir em todas as Unidades Obstétricas. Os vários protocolos diferem na estratégia de ressuscitação hemostática. A diminuição dos níveis plasmáticos de fibrinogénio parece ser um biomarcador na previsão do agravamento da hemorragia pós-parto, pelo que a administração de concentrado de fibrinogénio é uma intervenção hemostática fundamental. Ainda não existe consenso em relação aos trigger e alvo plasmáticos para reposição de fibrinogénio. As Recomendações Portuguesas da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia de 2018 consideram hipofibrinogenemia na hemorragia pós-parto quando: 1) fibrinogénio ≤2,9 g/L; 2) FIBTEM maximum clot firmness ≤18 mm; 3) perdas sanguíneas ≥1,5 L com hemorragia contínua e resultados laboratoriais ainda não disponíveis. A dose inicial recomendada é 25-50 mg/kg, podendo ser necessárias doses adicionais em função da evolução clínica e/ou monitorização laboratorial. A utilização crescente de concentrado de fibrinogénio, associada aos métodos de avaliação da competência hemostática point-ofcare modificou de forma significativa a estratégia terapêutica na hemorragia obstétrica. A correção precoce e dirigida da coagulopatia está associada a redução de componentes sanguíneos transfundidos e das complicações relacionadas. Apesar do papel inquestionável do concentrado de fibrinogénio, algumas questões estão, ainda, por definir para que exista maior precisão na terapêutica da hemorragia obstétrica.Fibrinogen is a soluble plasmatic glycoprotein. Synthesized in hepatocytes and stored in platelets, it has a plasma concentration between 2-4,5 g/L, increasing in pregnancy, and a half-life of 4-7 days. It functions as an acute phase reactant and is determinant for an effective hemostasis. In hypofibrinogenemia, congenital or acquired, there are three possible approaches for the fill in of fibrinogen: fresh frozen plasma, cryoprecipitate and fibrinogen concentrate. Fibrinogen concentrate has been used to control coagulopathy, contributing to lower the use of allogeneic blood products in major bleeding in various clinical settings. It is an important and effective hemostatic intervention, being considered a "potential universal hemostatic agent". During pregnancy, marked changes in hemostasis are observed disposing to hypercoagulability, a physiological preparation for blood loss at birth. However these also facilitate thromboembolic events. Obstetric hemorrhage is the leading cause of maternal morbidity and mortality, even in developed countries, and is the most preventable cause of mortality. Postpartum hemorrhage is the most common form. Massive hemorrhage in obstetrics is a critical event that requires an assertive interdisciplinary approach. The implementation of obstetric hemorrhage management protocols, with transfusion algorithms, has led to reduction of morbidity, and should exist in all Obstetric Units. The various protocols differ in the hemostatic resuscitation strategy. Decreased plasma fibrinogen levels appear to be a biomarker in predicting increased postpartum hemorrhage, so administration of fibrinogen concentrate is a key hemostatic intervention. There is still no consensus regarding trigger and plasma targeting for fibrinogen replacement. The Portuguese Recommendations of the Portuguese Society of Anesthesiology of 2018 consider hypofibrinogenemia in postpartum hemorrhage when: 1) fibrinogen ≤2.9 g/L; 2) FIBTEM maximum clot firmness ≤18 mm; 3) blood loss ≥1.5 L with continuous bleeding and laboratory results not yet available. They also recommend an initial dose of 25-50 mg/kg, with additional doses pending on clinical evolution and/or laboratory monitoring. The increased use of fibrinogen concentrate, associated with pointof-care coagulation tests, significantly modified the therapeutic strategy in obstetric hemorrhage. Early and targeted correction of coagulopathy is associated with reduction of transfused blood components and related complications. Despite the unquestionable role of fibrinogen concentrate, some issues remain to be defined in order to provide a more precise treatment of obstetric hemorrhageSociedade Portuguesa de Anestesiologia2019-04-02T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articlehttps://doi.org/10.25751/rspa.15976por0871-6099Tavares Ferreira, Cátia SofiaAlves, CláudiaCarvalhas, Joanainfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-09-23T15:34:47Zoai:ojs.revistas.rcaap.pt:article/15976Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T16:04:15.047306Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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