A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina?

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pereira, Ana Catarina
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.6/7133
Resumo: No âmbito das teorias feministas do cinema, e dos estudos fílmicos em geral, algumas questões têm sido levantadas ao longo das últimas décadas, nomeadamente no que diz respeito à exigência de uma maior representatividade feminina no mundo da realização e produção cinematográficas. Sendo o olhar do espectador, como Laura Mulvey sugeriu, pressupostamente masculino, treinado por realizadores com fantasias e tendências voyeuristas homogéneas, a questão seguinte seria inevitável: poderá este mesmo olhar assumir características distintas, quando mediado por uma mulher? Poderá a arte, ao contrário dos anjos, ter sexo? Existirá, neste sentido, uma “estética feminina”, como Silvia Bovenschen, em artigo homónimo, publicado em Setembro de 1976, procura antecipar? Procurá-la não implicará um aprofundar de estereótipos associados à feminilidade e à masculinidade, todos eles redutores, segundo o ponto de vista de Michel Foucault e Judith Butler, bem como a atribuição de um certo carácter de exotismo, pela falta de representatividade nos circuitos artísticos? Enunciando e debatendo os principais argumentos dos autores mencionados, propomo-nos, no presente artigo, responder às questões colocadas.
id RCAP_29f56d5ee14924c864d52adbe3e35056
oai_identifier_str oai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/7133
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina?The never-ending search for an identity mark: is there a feminine aesthetic?voyeurismoEspectadoraAusênciaReceptividadeIdentificaçãoNo âmbito das teorias feministas do cinema, e dos estudos fílmicos em geral, algumas questões têm sido levantadas ao longo das últimas décadas, nomeadamente no que diz respeito à exigência de uma maior representatividade feminina no mundo da realização e produção cinematográficas. Sendo o olhar do espectador, como Laura Mulvey sugeriu, pressupostamente masculino, treinado por realizadores com fantasias e tendências voyeuristas homogéneas, a questão seguinte seria inevitável: poderá este mesmo olhar assumir características distintas, quando mediado por uma mulher? Poderá a arte, ao contrário dos anjos, ter sexo? Existirá, neste sentido, uma “estética feminina”, como Silvia Bovenschen, em artigo homónimo, publicado em Setembro de 1976, procura antecipar? Procurá-la não implicará um aprofundar de estereótipos associados à feminilidade e à masculinidade, todos eles redutores, segundo o ponto de vista de Michel Foucault e Judith Butler, bem como a atribuição de um certo carácter de exotismo, pela falta de representatividade nos circuitos artísticos? Enunciando e debatendo os principais argumentos dos autores mencionados, propomo-nos, no presente artigo, responder às questões colocadas.In the context of feminist theories of cinema, and film studies in general, some questions have been raised in the past few decades, concerning the need for a greater representation of women in the world of film making and production. Accepting the idea of a viewer gaze, as Laura Mulvey suggested, supposedly male, trained by directors with fantasies and uniformed voyeuristic tendencies, the next question is inevitable: might this gaze have different characteristics when mediated by a woman? Can the art, unlike the angels, have sex? Is there, in this sense, a “feminine aesthetic”, as Silvia Bovenschen, on an article with the same name, published in September 1976, looks forward to anticipate? To look for it does not imply a deepening of stereotypes associated with femininity and masculinity, all reducers, according to the point of view of Michel Foucault and Judith Butler, as well as the assignment of a certain exoticism’ character, motivated by the lack of representation in the art circuit? Outlining and discussing the main arguments of the authors above mentioned, we propose, in this paper, to answer these questions.“Las mujeres son diferentes, y una manifestación natural de esta diferencia (nota bene!) es precisamente el hecho de que son incapaces de producir arte” (Bovenschen, 1976: 115). Haciéndose eco del paralelismo ya realizado por Simone de Beauvoir en el ensayo El segundo sexo, Silvia Bovenschen vuelve, en un artículo publicado en 1976 que nos proponemos discutir aquí, a la asociación asumida entre una perspectiva descriptiva masculina y la verdad absoluta. En su opinión, el dominio de la producción artística por el género masculino habrá originado una inaccesibilidad y una extrañeza relativas a la otra mitad de la población, que se denuncia por el carácter de exotismo que muchos críticos votaron a los pocos, y de cierta forma lejos entre si mismos, objetos culturales producidos por las mujeres, a lo largo de la historia. Otra consecuencia natural de este fracaso, descrito por el uso del término déficit, importado del lenguaje economicista, todavía sería, a nuestro juicio, una segregación de la dicha producción en una sola clase: una escritura femenina, una mirada femenina, un rasgo femenino. Con la restricción, la incertidumbre se multiplica: la escritura femenina es la que centra su atención en mujeres fuertes y decididas, la que demuestra una sensibilidad y capacidad de observación característica de un género, o la que construye una narrativa entrecruzada, por la sociológicamente establecida capacidad de realizar múltiples tareas asociadas al mismo sexo? En este sentido, hay que recordar que las propias teorías feministas han enfrentado críticas con relación a un intento forzado de universalización de lo que constituye “ser mujer”, fuertemente cuestionada por autores como bell hooks (1999), para quien la experiencia se traducía en una visión reductiva: ser blanca, heterosexual y de clase media. Junto con este concepto, Judith Butler argumenta aún en contra de la categoría “género” (aunque promovida por el feminismo como una forma de desafiar y rechazar la definición de la naturaleza de la mujer por su biología), por la considerar igualmente normalizadora, restringida a una oposición binaria entre femenino y masculino y complementada con un supuesto heterosexual: “La idea de que podría haber una ‘verdad’ del sexo, como Foucault irónicamente la determina, se crea precisamente por prácticas normativas que generan identidades coherentes a través de una matriz de reglas de género igualmente coherentes. La heterosexualización del deseo exige y establece la producción de oposiciones discretas y asimétricas entre ‘femenino’ y ‘masculino’, entendidos estos conceptos como atributos que describen ‘hombre’ y ‘mujer’” (Butler, 1999: 23). Evidenciando una fuerte influencia de Foucault, Butler sostiene que el acto mismo de la definición de una identidad de género excluye o devalúa ciertos cuerpos, prácticas y discursos, ocultando al mismo tiempo el carácter construido (y discutible) de la misma identidad. Aplicando las conceptualizaciones formuladas, buscaremos, en este artículo, contestar a la pregunta: ¿tiene sentido buscar una estética femenina?Fotocinema: Revista Científica de Cine y Fotografía. Universidad de Málaga: Espanha.uBibliorumPereira, Ana Catarina2019-07-22T13:40:20Z20132013-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.6/7133porPereira, Ana Catarina (2013) A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina? Fotocinema: Revista Científica de Cine y Fotografía. Universidad de Málaga: Espanha. Número 6.2172-0150info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-12-15T09:46:14Zoai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/7133Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T00:47:42.794736Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina?
The never-ending search for an identity mark: is there a feminine aesthetic?
title A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina?
spellingShingle A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina?
Pereira, Ana Catarina
voyeurismo
Espectadora
Ausência
Receptividade
Identificação
title_short A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina?
title_full A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina?
title_fullStr A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina?
title_full_unstemmed A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina?
title_sort A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina?
author Pereira, Ana Catarina
author_facet Pereira, Ana Catarina
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv uBibliorum
dc.contributor.author.fl_str_mv Pereira, Ana Catarina
dc.subject.por.fl_str_mv voyeurismo
Espectadora
Ausência
Receptividade
Identificação
topic voyeurismo
Espectadora
Ausência
Receptividade
Identificação
description No âmbito das teorias feministas do cinema, e dos estudos fílmicos em geral, algumas questões têm sido levantadas ao longo das últimas décadas, nomeadamente no que diz respeito à exigência de uma maior representatividade feminina no mundo da realização e produção cinematográficas. Sendo o olhar do espectador, como Laura Mulvey sugeriu, pressupostamente masculino, treinado por realizadores com fantasias e tendências voyeuristas homogéneas, a questão seguinte seria inevitável: poderá este mesmo olhar assumir características distintas, quando mediado por uma mulher? Poderá a arte, ao contrário dos anjos, ter sexo? Existirá, neste sentido, uma “estética feminina”, como Silvia Bovenschen, em artigo homónimo, publicado em Setembro de 1976, procura antecipar? Procurá-la não implicará um aprofundar de estereótipos associados à feminilidade e à masculinidade, todos eles redutores, segundo o ponto de vista de Michel Foucault e Judith Butler, bem como a atribuição de um certo carácter de exotismo, pela falta de representatividade nos circuitos artísticos? Enunciando e debatendo os principais argumentos dos autores mencionados, propomo-nos, no presente artigo, responder às questões colocadas.
publishDate 2013
dc.date.none.fl_str_mv 2013
2013-01-01T00:00:00Z
2019-07-22T13:40:20Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10400.6/7133
url http://hdl.handle.net/10400.6/7133
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv Pereira, Ana Catarina (2013) A infindável procura de um traço identitário: existirá uma estética feminina? Fotocinema: Revista Científica de Cine y Fotografía. Universidad de Málaga: Espanha. Número 6.
2172-0150
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Fotocinema: Revista Científica de Cine y Fotografía. Universidad de Málaga: Espanha.
publisher.none.fl_str_mv Fotocinema: Revista Científica de Cine y Fotografía. Universidad de Málaga: Espanha.
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799136372064256000