O Impacto do Burnout, da Resiliência, da Empatia e do Stress Ocupacional na Saúde Mental de Cuidadores Formais

• Autor(a) principal: Azevedo, Cátia Sofia Dinis
• Data de Publicação: 2021
• Outros Autores: Dinis, Alexandra (Orientadora)
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
• Texto Completo: http://repositorio.ismt.pt/jspui/handle/123456789/1366
• topic: Burnout - Burnout; Resiliência - Resilience; Empatia - Empathy; Sintomas psicopatológicos - Psychopathological symptoms; Stress ocupacional - Occupational stress; Cuidadores formais - Formal caregivers

Introdução: Nos dias de hoje, o excesso de trabalho tem contribuído para um aumento dos problemas relacionados com a saúde mental, destacando-se a depressão, a ansiedade e a síndrome de burnout (Carteri et. al., 2020). Este impacto parece ser mais significativo em profissões associadas à prestação de cuidados a pessoas com um elevado grau de dependência de cuidados, para a realização de atividades elementares da vida quotidiana (e.g., alimentação, higiene, administração de medicamentos, deslocações), sendo que, essa dependência pode decorrer da perda de capacidades funcionais e mentais associadas ao processo de envelhecimento no caso da população idosa (Miguel, Pinto & Marcon, 2007) ou, devido à presença de déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceptual, social e prático, como no caso dos cidadãos portadores de deficiência intelectual (DSM-V, APA; 2013). Neste sentido a investigação tem demonstrado a importância de serem identificados possíveis fatores de risco ou de proteção da saúde mental dos cuidadores formais. Objetivos: O presente estudo pretendeu caraterizar duas amostras de cuidadores formais em relação à identificação de possíveis fontes de stress ocupacional, à vivência de sintomas de burnout, ansiedade e depressão e quanto aos níveis de resiliência e empatia reportados. Um segundo objetivo foi o de investigar se os níveis de burnout, de resiliência, de empatia, de sintomas psicopatológicos e de fontes de stress ocupacional reportados diferem ou não, entre os cuidadores formais que prestam cuidados a cidadãos portadores de deficiência intelectual num contexto institucional e os cuidadores formais que trabalham em estruturas residenciais/ centros de dia/ apoio domiciliário a idosos. Num terceiro momento procurou-se investigar a relação entre os sintomas de burnout, a resiliência, a empatia, as fontes de stress ocupacional e os sintomas psicopatológicos, separadamente, nas duas amostras em estudo. Por último, procurou-se investigar o papel preditor do burnout, das fontes de stress ocupacional, da resiliência e da empatia nos sintomas psicopatológicos (sintomatologia ansiosa e depressiva), separadamente, nas duas amostras em estudo. Método: A presente amostra foi constituída por 71 cuidadores formais (43 trabalham com cidadãos com incapacidade intelectual na APPACDM) e 28 em estruturas de apoio a idosos (lar residencial/ centro de dia de apoio/ apoio domiciliário) que preencheram de forma anónima e voluntária um protocolo online composto por um questionário sociodemográfico, a Medida de “Burnout” de Shirom-Melamed (MBSM), a Escala de Resiliência para Adultos (ERA), as Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress (DASS-21), o Questionário de Stress Ocupacional- Versão Geral (QSO-VG) e o Índice de Reatividade Interpessoal (IRA). Os resultados foram analisados através de testes estatísticos quantitativos com recurso ao SPSS v. 23. Resultados/Discussão: Os resultados, dos testes t-student para amostras independentes, foram indicativos de que as duas amostras se diferenciam nas pontuações médias relativas aos sintomas de fadiga física de burnout, e quanto a algumas fontes de stress ocupacional (perceção da qualidade das relações estabelecidas com as chefias e com os colaboradores e, em relação à carreira e remuneração). As anáslises das correlações produto momento de Pearson foram sugestivas de que quanto mais elevadas as correlações de fadiga cognitiva, de fadiga física e de exaustão emocional reportadas mais elevada foi a presença de sintomas psicopatológicos (de ansiedade e depressão) apresentados pelos cuidadores formais das duas amostras em estudo. No sentido inverso, quanto mais elevados os níveis de empatia e resiliência reportados menores tendem a ser os sintomas psicopatológicos apresentados. Através dos modelos de regressão foi ainda possível verificar que a resiliência prediz negativamente a sintomatologia depressiva e ansiosa em ambas as amostras. No sentido oposto, verificou-se que, de entre as várias dimensões de burnout, a fadiga cognitiva se revela como sendo um preditor positivo, robusto e isolado, na explicação dos sintomas de ansiedade e depressão, em ambas as amostras. De entre as diferentes dimensões de empatia, o desconforto pessoal prediz positivamente a sintomatologia depressiva dos trabalhadores da APPACDM, e a preocupação empática prediz negativamente a sintomatologia ansiosa dos trabalhadores de estruturas de apoio a idosos. Por último, a dimensão carreira e remuneração do stress ocupacional revelou-se um preditor positivo dos sintomas depressivos dos trabalhadores de estruturas de apoio a idosos. / Introduction: Nowadays, overwork has contributed to a problems in increase related to mental health, especially depression, anxiety and burnout syndrome (Carteri et. al., 2020). This impact seems to be more significant in jobs associated with the care provision to people with a high level of dependence on care, to carry out basic activities of daily life (eg, food, hygiene, administration of medicines, travel). This dependence may result from the loss of functional and mental capacities associated with the aging process in the case of the elderly population (Miguel, Pinto & Marcon, 2007) or, due to the presence of functional deficits, both intellectual and adaptive, in the conceptual, social and practical, as in the case of citizens with intellectual disabilities (DSM-V, APA; 2013). In this sense, research has demonstrated the importance of identifying possible risk factors or protection factors for the mental health of formal caregivers. Objectives: This study aimed to characterize two samples of formal caregivers in relation to the identification of possible sources of occupational stress, the experience of symptoms of burnout, anxiety and depression and the levels of resilience and empathy reported. A second objective was to investigate whether the levels of burnout, resilience, empathy, psychopathological symptoms and reported sources of occupational stress differ or not among formal caregivers who provide care to citizens with intellectual disabilities in an institutional and formal caregivers who work in residential structures/day centers/home care for the elderly. In a third moment, we tried to investigate the relationship between burnout symptoms, resilience, empathy, sources of occupational stress and psychopathological symptoms, separately, in the two studied samples. Finally, we tried to investigate the predictive role of burnout, sources of occupational stress, resilience and empathy in psychopathological symptoms (anxious and depressive symptoms), separately, in the two studied samples. Method: The present sample consisted of 71 formal caregivers (43 working with citizens with intellectual disabilities at APPACDM) and 28 in support structures for the elderly (residential home/support day center/home support) who filled in anonymously and voluntarily an online protocol consisting in a sociodemographic questionnaire, the Shirom-Melamed Burnout Measure (MBSM), the Adult Resilience Scale (ERA), the Anxiety, Depression and Stress Scales (DASS-21), the Resilience Questionnaire. Occupational Stress - General Version (QSO-VG) and the Interpersonal Reactivity Index (IRA). The results were analyzed through quantitative statistical tests using SPSS v. 23. Results/Discussion: The results, from the t-student tests for independent samples, were indicative that the two samples differ in the average scores related to the symptoms of physical burnout fatigue, and regarding some sources of occupational stress (perception of the quality of relationships established with managers and employees and, in relation to career and remuneration). The analyzes of Pearson's product-moment correlations were suggestive that the higher the correlations of cognitive fatigue, physical fatigue and emotional exhaustion reported, the higher the presence of psychopathological symptoms (anxiety and depression) presented by formal caregivers of the two samples in study. Conversely, the higher the reported levels of empathy and resilience, the lower the psychopathological symptoms presented tend to be. Through regression models, it was also possible to verify that resilience negatively predicts depressive and anxious symptoms in both samples. In the opposite sense, it was found that, among the various dimensions of burnout, cognitive fatigue reveals itself as a positive, robust and isolated predictor in explaining the symptoms of anxiety and depression in both samples. Among the different dimensions of empathy, personal discomfort positively predicts the depressive symptoms of workers at APPACDM, and empathic concern negatively predicts the anxious symptoms of workers in support structures for the elderly. Finally, the career and remuneration dimension of occupational stress proved to be a positive predictor of depressive symptoms in elderly support structure workers.