Natureza e vontades: divagações sobre Geografia e História

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Magalhães, Joaquim Romero
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.1/18311
Resumo: A natureza põe e o homem dispõe? Ou a natureza dispõe e o homem põe? “A sociedade é o sujeito e a natureza o objeto”, escreveu o geógrafo pernambucano Manuel Correia de Andrade. Um outro autor, Claude Raffestin prefere dizer que “geografia é uma produção social marcada pelo selo da historicidade.” Mas em certas situações não é de descartar que ocorra o contrário. Dê-se as voltas que se der, há uma íntima relação entre os dois fatores: o natural (que as vontades humanas não podem determinar ou contrariar) e o das vontades humanas (a que a natureza afinal não se consegue impor de todo). Relação que se subsume numa dialética sem termos definidos. E menos determinismos, fatalismos ou sequer possibilismos. Relações a serem averiguadas empiricamente pelos acontecimentos e reações que a eles se seguiram. Reações coletivas, embora por vezes encabeçadas por um governante com os poderes de impor ou de escolher uma solução. Em 1 de novembro de 1755 um sismo violento seguido de incêndio destruiu grande parte de Lisboa: pouco tempo passado e no mesmo sítio ergueu-se uma nova cidade; em 1960, uma ridente povoação da costa marroquina, Agadir, – não comparável a Lisboa na sua dimensão nem ocupação populacional – foi engolida por um sismo: Mohammed V, rei de Marrocos (Allauita descendente do Profeta), de imediato declarou: “se o destino decidiu a destruição de Agadir, a sua reconstrução depende da nossa fé e vontade.” E logo em seguida no mesmo sítio se ergueu uma nova cidade, bem simpática e agradável. Nem em Lisboa, nem em Agadir, foram estes os primeiros sismos violentos que as destruíram. Nem por isso deixaram de se refazer. E que dizer de São Francisco da Califórnia arruinada mais que uma vez (com destaque para o grande terramoto de 1906, como o de Lisboa seguido de incêndio) e de outras cidades e povoações que em Itália, na Turquia, no Japão, no Chile ou na Indonésia a natureza implacável tem destruído? E que não se esqueça o sismo que arruinou Angra do Heroísmo e outras localidades açorianas no alvor de 1980. A que se seguiu notável reconstrução.
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