A economia moral do turismo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2020 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | https://doi.org/10.21814/rlec.2211 |
Resumo: | Neste artigo, sugiro que a indústria do turismo mundial está mobilizada em torno de um núcleo, a atração turística, que está afastada e protegida do intercâmbio económico. Se o turismo é, de facto, a maior indústria do mundo, é por causa e não a despeito da separação da sua principal estrutura motivacional e moral do mercado. Aqui exploro as implicações do facto de que o sistema global de atrações turísticas é uma enorme coleção de “bens gratuitos” democráticos, abertos e disponíveis para todos verem. A indústria do turismo depende desta oferta interminável de atrações de livre acesso, mantidas por governos, ONG e/ou simplesmente existentes na sociedade e na natureza. A indústria do turismo mundial só pode prosperar se a sua estrutura moral e motivacional permanecer isolada das transações do mercado. O Taj Mahal, a Torre Eiffel, o Partenon, o Grand Canyon, a Estátua da Liberdade, as Montanhas Karakorum, etc., não estão à venda. Mais de mil milhões de turistas gastam 1,5 biliões de dólares por ano para viajar internacionalmente e ver coisas que não podem comprar ou ter no sentido material; que ninguém, por mais rico que seja, pode comprar; que muitas vezes nem conseguem tocar. A enormidade do turismo hoje é possível apenas porque as forças causais que estão no coração da economia do turismo são inteiramente imaginárias e simbólicas. Na sua essência, a economia turística é menos económica do que fenomenológica. E o principal impulso do turismo, a sua motivação mais profunda, não é materialista, mas democrática. O overtourism (excesso de turismo) resulta da própria indústria que explora agressivamente o facto de que não implica matérias-primas, não necessita de desenvolver cadeias de fornecimento, não precisa de fábricas e não se envolve em qualquer conceção, fabrico, montagem ou distribuição. O consumidor trabalha de graça, na realidade, paga para fazer o trabalho do turismo e torna-se o produto. Estas eficiências neoliberais levam ao overtourism. O overtourism pode ser facilmente controlado ao nível local. |
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A economia moral do turismoThe moral economy of tourismArtigos temáticosNeste artigo, sugiro que a indústria do turismo mundial está mobilizada em torno de um núcleo, a atração turística, que está afastada e protegida do intercâmbio económico. Se o turismo é, de facto, a maior indústria do mundo, é por causa e não a despeito da separação da sua principal estrutura motivacional e moral do mercado. Aqui exploro as implicações do facto de que o sistema global de atrações turísticas é uma enorme coleção de “bens gratuitos” democráticos, abertos e disponíveis para todos verem. A indústria do turismo depende desta oferta interminável de atrações de livre acesso, mantidas por governos, ONG e/ou simplesmente existentes na sociedade e na natureza. A indústria do turismo mundial só pode prosperar se a sua estrutura moral e motivacional permanecer isolada das transações do mercado. O Taj Mahal, a Torre Eiffel, o Partenon, o Grand Canyon, a Estátua da Liberdade, as Montanhas Karakorum, etc., não estão à venda. Mais de mil milhões de turistas gastam 1,5 biliões de dólares por ano para viajar internacionalmente e ver coisas que não podem comprar ou ter no sentido material; que ninguém, por mais rico que seja, pode comprar; que muitas vezes nem conseguem tocar. A enormidade do turismo hoje é possível apenas porque as forças causais que estão no coração da economia do turismo são inteiramente imaginárias e simbólicas. Na sua essência, a economia turística é menos económica do que fenomenológica. E o principal impulso do turismo, a sua motivação mais profunda, não é materialista, mas democrática. O overtourism (excesso de turismo) resulta da própria indústria que explora agressivamente o facto de que não implica matérias-primas, não necessita de desenvolver cadeias de fornecimento, não precisa de fábricas e não se envolve em qualquer conceção, fabrico, montagem ou distribuição. O consumidor trabalha de graça, na realidade, paga para fazer o trabalho do turismo e torna-se o produto. Estas eficiências neoliberais levam ao overtourism. O overtourism pode ser facilmente controlado ao nível local.In this article I suggest that the global tourism industry is deployed around a nucleus, the tourist attraction, that is removed and protected from economic exchange. If tourism is, indeed, the world’s largest industry it is because, and not in spite of the separation of its primary motivational and moral structure from the marketplace. I explore the implications of the fact that the global system of tourist attractions is a massive collection of democratic “free goods” open and available for all to see. The tourist industry depends on this endless supply of free access attractions maintained by governments, NGOs, and/or simply existing in society and nature. The global tourism industry can thrive only if its moral and motivational structure remains insulated from market transactions. The Taj Mahal, the Eiffel Tower, the Parthenon, the Grand Canyon, the Statue of Liberty, the Karakorum Mountains, etc. are not for sale. Over a billion tourists spend $1,5 trillion annually to travel internationally to things they cannot buy or have in any material sense; that no one no matter how wealthy can buy; often that they cannot even touch. The enormity of tourism today is possible only because the causal forces at the heart of the tourism economy are entirely imaginary and symbolic. At its core, the tourist economy is less economical than phenomenological. And the primary tourist drive, its deepest motivation, is not materialistic but democratic. Overtourism results from the industry aggressively exploiting the fact that it requires no raw materials, need not develop supply chains, needs no factories, and engages in no design, manufacture, assembly or distribution. The consumer works for free, indeed, pays to do the work of tourism, and becomes the product. These neoliberal efficiencies lead to overtourism. Overtourism can easily be controlled at the local level.Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho2020-06-29T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articlehttps://doi.org/10.21814/rlec.2211por2183-08862184-0458MacCannell, Deaninfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-09-22T16:20:44Zoai:journals.uminho.pt:article/2211Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T15:59:19.952782Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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