Muros fronteiriços contemporâneos. Hungria, o bastião da Europa

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sousa, José Maria Passanha De Muller e
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/129479
Resumo: Nunca antes na história se tinha verificado, como hoje, a construção de tantos muros fronteiriços, por um número tão elevado de estados. Apesar do triunfo do liberalismo no mundo do pós-Guerra Fria, hoje, cerca de um terço ergueu barreiras físicas contra estados vizinhos, a pretexto da proteção do seu território, da transgressão por parte de atores transnacionais indesejados como imigrantes ilegais, traficantes e terroristas. Na Europa, o derrubamento do Muro de Berlim em 1989, contrastou com a edificação de 16 novos muros fronteiriços no continente, desde aquela data, até ao presente. As fronteiras europeias foram fortificadas no contexto de uma Crise Migratória, de refugiados vindos de África e do Médio Oriente, que começavam a afluir à Europa, pelo Sul, mais expressivamente a partir de 2011. Em 2015, três acontecimentos-chave viriam a transformar o debate político europeu: o pico da chegada de refugiados ao continente (mais de um milhão nesse ano), os ataques terroristas de Paris em janeiro e novembro e a construção de um muro fronteiriço na Hungria contra os seus vizinhos Sérvia e Croácia. Após a sua eleição em 2010, o governo húngaro veio desenvolvendo um discurso nacionalista, cujo tema das fronteiras foi protagonista. Viktor Orbán, o corajoso jovem que em 1989 se tinha insurgido contra o comunismo a favor da democracia, transformava-se no rosto da nova Hungria iliberal, nacionalista e xenófoba. O primeiro-ministro húngaro, veio estabelecendo uma estratégia de enfraquecimento dos seus rivais domésticos, com o objetivo de reforçar o seu poder, traduzido no alargamento da sua base de apoio e na capacidade de agir externamente, sem constrangimentos internos significativos. Essa estratégia visou a criação de uma narrativa que promovia ideologias nacionalistas e instigava ao medo dos refugiados, junto da população. Parte fulcral dessa estratégia, foi a criação de um discurso em torno do papel histórico da Hungria, enquanto Bastião da Europa, que lhe conferia a responsabilidade de defender o continente dos povos invasores, islâmicos ou ortodoxos, do Sul. A construção de muros fronteiriços com a Sérvia e a Croácia esteve entre as políticas mais simbólicas e efetivas tomadas pelo governo húngaro, para concretizar a sua estratégia de reforço das fronteiriças Sul. Através da análise do processo de construção da narrativa dominante, decorrente do diálogo entre os vários atores domésticos, pretendemos mostrar, não só, como é que a construção de muros sociais, em torno da demonização dos refugiados, originou a construção de muros físicos, mas também, como é que os muros fronteiriços, enquanto culminar da agenda nacionalista de Orbán, poderão ter sido um recurso de política externa como forma de reforço do seu poder interno.
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Na Europa, o derrubamento do Muro de Berlim em 1989, contrastou com a edificação de 16 novos muros fronteiriços no continente, desde aquela data, até ao presente. As fronteiras europeias foram fortificadas no contexto de uma Crise Migratória, de refugiados vindos de África e do Médio Oriente, que começavam a afluir à Europa, pelo Sul, mais expressivamente a partir de 2011. Em 2015, três acontecimentos-chave viriam a transformar o debate político europeu: o pico da chegada de refugiados ao continente (mais de um milhão nesse ano), os ataques terroristas de Paris em janeiro e novembro e a construção de um muro fronteiriço na Hungria contra os seus vizinhos Sérvia e Croácia. Após a sua eleição em 2010, o governo húngaro veio desenvolvendo um discurso nacionalista, cujo tema das fronteiras foi protagonista. Viktor Orbán, o corajoso jovem que em 1989 se tinha insurgido contra o comunismo a favor da democracia, transformava-se no rosto da nova Hungria iliberal, nacionalista e xenófoba. O primeiro-ministro húngaro, veio estabelecendo uma estratégia de enfraquecimento dos seus rivais domésticos, com o objetivo de reforçar o seu poder, traduzido no alargamento da sua base de apoio e na capacidade de agir externamente, sem constrangimentos internos significativos. Essa estratégia visou a criação de uma narrativa que promovia ideologias nacionalistas e instigava ao medo dos refugiados, junto da população. Parte fulcral dessa estratégia, foi a criação de um discurso em torno do papel histórico da Hungria, enquanto Bastião da Europa, que lhe conferia a responsabilidade de defender o continente dos povos invasores, islâmicos ou ortodoxos, do Sul. A construção de muros fronteiriços com a Sérvia e a Croácia esteve entre as políticas mais simbólicas e efetivas tomadas pelo governo húngaro, para concretizar a sua estratégia de reforço das fronteiriças Sul. Através da análise do processo de construção da narrativa dominante, decorrente do diálogo entre os vários atores domésticos, pretendemos mostrar, não só, como é que a construção de muros sociais, em torno da demonização dos refugiados, originou a construção de muros físicos, mas também, como é que os muros fronteiriços, enquanto culminar da agenda nacionalista de Orbán, poderão ter sido um recurso de política externa como forma de reforço do seu poder interno.Never before in history, we have assisted, to the construction of so many border walls by such a large number of states, as in today. Despite the triumph of liberalism in the post-Cold War world, currently about a third of world’s states has erected physical barriers against its neighbours, under the pretext of protecting their territory from transgression by unwelcome transnational actors such as illegal immigrants, traffickers, and terrorists. In Europe, the collapse of the Berlin Wall in 1989, contrasted with the emergence of 16 new border walls on the continent, as until the present time. European borders were strengthened in the context of the arrival of refugees from Africa and the Middle East to Europe, during the Migrant Crisis initiated in 2011. In 2015, three key events would transform the European political debate: the peak refugees arriving to the continent (more than one million arrivals), the terrorist attacks in Paris, in January and November, and the construction of a border wall in Hungary against its neighbouring Serbia and Croatia. After its election in 2010, the Hungarian government developed a nationalist discourse, around the theme of borders. Viktor Orbán, the courageous young man who in 1989 had risen against communism in favor of democracy, was now the face of the new illiberal, nationalistic, and xenophobic Hungary. The Prime Minister has been establishing a strategy of weakening his domestic competitors, with the aim of strengthening his power, which would mean to wide his electoral base and the ability to act externally without any significant internal constraints. This strategy aimed at creating a narrative that would promote nationalistic ideologies and instigate the fear of refugees among the population. A key part of this strategy was the creation of a discourse on Hungary's historical role, as Bastion of Europe, which would give it the responsibility to defend the continent from invading peoples, whether Islamic or Orthodox, coming from the South. The construction of border walls with Serbia and Croatia was amongst the most symbolic and effective policies taken by the Hungarian government to implement its strategy towards strengthening the southern borders. Through the analysis of the construction process of the dominant narrative, resulting from the dialogue between the various domestic actors, we intend to show, not only how the construction of social walls around the demonization of refugees originated the construction of physical walls, but also how the border walls, as the culmination of Orbán's nationalist agenda, may have function as a foreign policy resource aiming at strengthening its internal power.Sá, Tiago Moreira deRUNSousa, José Maria Passanha De Muller e2023-09-29T00:32:01Z2021-09-292021-05-242021-09-29T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/129479TID:202783189porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T05:08:35Zoai:run.unl.pt:10362/129479Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:46:32.763725Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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