O processo de criação de Torto Arado: o agente público, o cientista e o escritor: The Torto Arado creation process: the public agent, the scientist and the writer

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: mattos, ricardo
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: https://doi.org/10.34623/0j3j-nr73
Resumo: Analisa-se o processo de criação da obra Torto Arado, a partir dos papéis sociais do brasileiro Itamar Vieira Junior como servidor público do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), cientista e escritor. Para tanto, utilizam-se os referenciais que o próprio autor menciona em pesquisas científicas e entrevistas —como a escritora bielorussa Svetlana Aleksievitch. Conclui-se que Vieira Junior concebeu uma narrativa com o nome de Torto Arado em sua adolescência, mas foi a experiência como funcionário público e etnólogo na comunidade quilombola da Iúna (Chapada da Diamantina, Bahia/Brazil) que ofereceu os elementos fundamentais do romance: a oralidade; o ambiente natural, locus da narrativa; a história do povoamento da região; o cotidiano comunitário; e, principalmente, a utilização das personalidades do Iúna como personagens de Torto Arado. Tal como Aleksievitch, Itamar se compromete com a história narrada por pessoas comuns, frequentemente silenciadas e invizibilizadas. Porém, enquanto Aleksievitch implode a literatura com o abandono da ficção, Itamar acolhe em seu próprio âmago a diversidade dos seres com os quais conviveu para parir uma narrativa fabulada com muita realidade. Com sua poética de “ser o outro”, o escritor se lança à alteridade para revelar as faces de um Brasil profundo, permeado pela permanência impertinente da escravidão e a resistência política que caracterizam a trajetória das comunidades quilombolas.
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