A legitimação da violência de Estado na perspetiva dos polícias
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2013 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.14/17763 |
Resumo: | A Violência de Estado é atualmente um fenómeno em amplo crescimento, principalmente na maior parte das sociedades ditas democráticas e capitalistas (Barak, 2010; Chomsky, 2003; Kauzlarich, Matthews, & Miller, 2002; Rothe et. al., 2009; Rothe & Mullins, 2009; Rothe & Ross, 2008). Como forma de exercer controlo social visto como esperado (Waddington, 1999) ou de aplicar uma força excessiva ou letal (Belur, 2009; HRW, 2009), as forças policiais assumem-se como a oportunidade normativa interna e objetivamente legítima para o exercício da violência de Estado (Barbosa & Machado, 2010). No entanto, mesmo que considerada legítima, a violência policial, tal como as outras formas de violência de Estado, afeta acentuadamente os direitos humanos e civis, devendo por isso ser problematizada e explorada (Belur, 2010a; Friedrichs, 2010; Rothe et. al., 2009; Ward & Green, 2000b). Partindo da premissa que para tornar a violência menos provável, é necessário conhecer os processos cognitivos que a legitimam e deslegitimam (MacNair, 2003), o presente estudo visou conhecer os processos de legitimação ou de descomprometimento moral face à violência de Estado, na perspetiva dos polícias, tendo por base situações representativas do seu quotidiano profissional. Os resultados mostram que, com vista a legitimar o uso da violência, os agentes policiais invocam mecanismos de negação, bem como de descomprometimento moral (e.g., linguagem sanitarizada, justificações morais, desresponsabilização, atribuição da culpa). Por sua vez, a deslegitimação da violência acontece principalmente em cenários potencialmente letais, associados ao recurso à arma de fogo. Os resultados foram discutidos à luz da importância da negação no cometimento de atos danosos (Cohen, 2001; 2003); da teoria do descomprometimento moral (Bandura, 1900; 1999); do impacto do sistema legal e hierárquico policial na deturpação do sentido de agência moral e da importância da humanização e identificação com o outro como forma de invalidar o recurso à violência policial. |
id |
RCAP_4ba906d1775fe6ccdd12af4223a67f41 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:repositorio.ucp.pt:10400.14/17763 |
network_acronym_str |
RCAP |
network_name_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository_id_str |
7160 |
spelling |
A legitimação da violência de Estado na perspetiva dos políciasViolência policialViolência de EstadoDescomprometimento moralPsicologia da pazLegitimaçãoPolice violenceState violenceMoral disengagementPeace psychologyLegitimationDomínio/Área Científica::Ciências Sociais::PsicologiaA Violência de Estado é atualmente um fenómeno em amplo crescimento, principalmente na maior parte das sociedades ditas democráticas e capitalistas (Barak, 2010; Chomsky, 2003; Kauzlarich, Matthews, & Miller, 2002; Rothe et. al., 2009; Rothe & Mullins, 2009; Rothe & Ross, 2008). Como forma de exercer controlo social visto como esperado (Waddington, 1999) ou de aplicar uma força excessiva ou letal (Belur, 2009; HRW, 2009), as forças policiais assumem-se como a oportunidade normativa interna e objetivamente legítima para o exercício da violência de Estado (Barbosa & Machado, 2010). No entanto, mesmo que considerada legítima, a violência policial, tal como as outras formas de violência de Estado, afeta acentuadamente os direitos humanos e civis, devendo por isso ser problematizada e explorada (Belur, 2010a; Friedrichs, 2010; Rothe et. al., 2009; Ward & Green, 2000b). Partindo da premissa que para tornar a violência menos provável, é necessário conhecer os processos cognitivos que a legitimam e deslegitimam (MacNair, 2003), o presente estudo visou conhecer os processos de legitimação ou de descomprometimento moral face à violência de Estado, na perspetiva dos polícias, tendo por base situações representativas do seu quotidiano profissional. Os resultados mostram que, com vista a legitimar o uso da violência, os agentes policiais invocam mecanismos de negação, bem como de descomprometimento moral (e.g., linguagem sanitarizada, justificações morais, desresponsabilização, atribuição da culpa). Por sua vez, a deslegitimação da violência acontece principalmente em cenários potencialmente letais, associados ao recurso à arma de fogo. Os resultados foram discutidos à luz da importância da negação no cometimento de atos danosos (Cohen, 2001; 2003); da teoria do descomprometimento moral (Bandura, 1900; 1999); do impacto do sistema legal e hierárquico policial na deturpação do sentido de agência moral e da importância da humanização e identificação com o outro como forma de invalidar o recurso à violência policial.State Violence is currently a widespread growth phenomenon, mainly in most so-called democratic and capitalist societies (Barak, 2010; Chomsky, 2003; Kauzlarich, Matthews, & Miller, 2002; Rothe et al., 2009; & Rothe Mullins, 2009; Rothe & Ross, 2008). In order to exercise social control seen as expected (Waddington, 1999) or to applying an excessive or deadly force (Belur, 2009; HRW, 2009), police forces are assumed to be a normative opportunity to exercise legitimate ways of State violence (Barbosa & Machado, 2010). However, even if considered legitimate, police violence, like other forms of State violence, strongly affects human and civil rights and should therefore be explored and problematized (Belur, 2010a; Friedrichs, 2010; Rothe et. al., 2009; Ward & Green, 2000b). Assuming that to make violence less likely, it is necessary to understand the cognitive processes that legitimize and delegitimize (MacNair, 2003), the present study aimed to understand the processes of legitimation or moral disengagement in respect of state violence, by taking the perspective of police officers regarding representative situations of their professional activity. The findings showed that, in order to legitimize the use of violence, police rely on mechanisms of denial, as well as moral disengagement (e.g, sanitizing language, moral justifications, displacement of responsibility, attribution of blame). In turn, the delegitimization of violence tends to happen especially in potentially lethal scenarios associated with the resort to firearm. The findings were discussed based on of the importance of the denial in committing harmful acts (Cohen, 2001, 2003), the theory of moral disengagement (Bandura, 1900, 1999), the impact of the legal system and police hierarchical organization in the misrepresentation of the sense of moral agency and the importance of humanizing and empathize with others as a way to invalidate the use of police violence.Matos, RaquelVeritati - Repositório Institucional da Universidade Católica PortuguesaSoares, Mónica Catarina Pereira2015-05-27T13:00:01Z2013-07-0820132013-07-08T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.14/17763porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-10-03T01:40:25Zoai:repositorio.ucp.pt:10400.14/17763Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T18:14:50.542188Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
dc.title.none.fl_str_mv |
A legitimação da violência de Estado na perspetiva dos polícias |
title |
A legitimação da violência de Estado na perspetiva dos polícias |
spellingShingle |
A legitimação da violência de Estado na perspetiva dos polícias Soares, Mónica Catarina Pereira Violência policial Violência de Estado Descomprometimento moral Psicologia da paz Legitimação Police violence State violence Moral disengagement Peace psychology Legitimation Domínio/Área Científica::Ciências Sociais::Psicologia |
title_short |
A legitimação da violência de Estado na perspetiva dos polícias |
title_full |
A legitimação da violência de Estado na perspetiva dos polícias |
title_fullStr |
A legitimação da violência de Estado na perspetiva dos polícias |
title_full_unstemmed |
A legitimação da violência de Estado na perspetiva dos polícias |
title_sort |
A legitimação da violência de Estado na perspetiva dos polícias |
author |
Soares, Mónica Catarina Pereira |
author_facet |
Soares, Mónica Catarina Pereira |
author_role |
author |
dc.contributor.none.fl_str_mv |
Matos, Raquel Veritati - Repositório Institucional da Universidade Católica Portuguesa |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Soares, Mónica Catarina Pereira |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Violência policial Violência de Estado Descomprometimento moral Psicologia da paz Legitimação Police violence State violence Moral disengagement Peace psychology Legitimation Domínio/Área Científica::Ciências Sociais::Psicologia |
topic |
Violência policial Violência de Estado Descomprometimento moral Psicologia da paz Legitimação Police violence State violence Moral disengagement Peace psychology Legitimation Domínio/Área Científica::Ciências Sociais::Psicologia |
description |
A Violência de Estado é atualmente um fenómeno em amplo crescimento, principalmente na maior parte das sociedades ditas democráticas e capitalistas (Barak, 2010; Chomsky, 2003; Kauzlarich, Matthews, & Miller, 2002; Rothe et. al., 2009; Rothe & Mullins, 2009; Rothe & Ross, 2008). Como forma de exercer controlo social visto como esperado (Waddington, 1999) ou de aplicar uma força excessiva ou letal (Belur, 2009; HRW, 2009), as forças policiais assumem-se como a oportunidade normativa interna e objetivamente legítima para o exercício da violência de Estado (Barbosa & Machado, 2010). No entanto, mesmo que considerada legítima, a violência policial, tal como as outras formas de violência de Estado, afeta acentuadamente os direitos humanos e civis, devendo por isso ser problematizada e explorada (Belur, 2010a; Friedrichs, 2010; Rothe et. al., 2009; Ward & Green, 2000b). Partindo da premissa que para tornar a violência menos provável, é necessário conhecer os processos cognitivos que a legitimam e deslegitimam (MacNair, 2003), o presente estudo visou conhecer os processos de legitimação ou de descomprometimento moral face à violência de Estado, na perspetiva dos polícias, tendo por base situações representativas do seu quotidiano profissional. Os resultados mostram que, com vista a legitimar o uso da violência, os agentes policiais invocam mecanismos de negação, bem como de descomprometimento moral (e.g., linguagem sanitarizada, justificações morais, desresponsabilização, atribuição da culpa). Por sua vez, a deslegitimação da violência acontece principalmente em cenários potencialmente letais, associados ao recurso à arma de fogo. Os resultados foram discutidos à luz da importância da negação no cometimento de atos danosos (Cohen, 2001; 2003); da teoria do descomprometimento moral (Bandura, 1900; 1999); do impacto do sistema legal e hierárquico policial na deturpação do sentido de agência moral e da importância da humanização e identificação com o outro como forma de invalidar o recurso à violência policial. |
publishDate |
2013 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2013-07-08 2013 2013-07-08T00:00:00Z 2015-05-27T13:00:01Z |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/masterThesis |
format |
masterThesis |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
http://hdl.handle.net/10400.14/17763 |
url |
http://hdl.handle.net/10400.14/17763 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação instacron:RCAAP |
instname_str |
Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
instacron_str |
RCAAP |
institution |
RCAAP |
reponame_str |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
collection |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
repository.name.fl_str_mv |
Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação |
repository.mail.fl_str_mv |
|
_version_ |
1799131827192987648 |