Avaliação nutricional de indivíduos apoiados por projetos de assistência alimentar
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10451/40337 |
Resumo: | Tese de mestrado, Doenças Metabólicas e Comportamento Alimentar, Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina. 2019 |
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Avaliação nutricional de indivíduos apoiados por projetos de assistência alimentarInsegurança alimentarProgramas de assistência alimentarDoenças crónicasObesidadeParadoxo obesidade-insegurança alimentarTeses de mestrado - 2019Domínio/Área Científica::Ciências MédicasTese de mestrado, Doenças Metabólicas e Comportamento Alimentar, Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina. 2019A Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada em 1948, defende que todos temos direito à saúde e bem-estar, com acesso incondicional a alimentos, casa e cuidados médicos. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação e a Organização Mundial de Saúde foram as primeiras organizações a implementar políticas nutricionais para erradicação da fome e malnutrição nos Estados Membros, como o Fundo Europeu de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas (FEAC), que agrega a necessidade de adequar não só a quantidade mas também a qualidade dos alimentos recebidos pelos grupos populacionais mais vulneráveis. A crise económica vivida na Europa nos últimos anos veio agravar as desigualdades sociais, e, consequentemente, o grau de insegurança alimentar (IA) vivido pela população e o seu estado de saúde física, mental e nutricional. Entende-se por IA uma situação em que o acesso físico, social e económico do consumidor a alimentos adequados sob o ponto de vista nutricional é escasso ou inexistente. Pode ser avaliada segundo escalas psicométricas em diferentes níveis de gravidade: ligeira, moderada ou grave. Nos últimos anos, têm sido apresentados resultados de vários estudos a nível nacional que avaliaram a IA. Dados de 2011 a 2014 apresentaram uma prevalência de IA em Portugal, em plena crise económica, de 48,7%, mais prevalente em indivíduos com menor nível de escolaridade, desempregados, reformados, e indivíduos com pré-obesidade, com os mais desfavorecidos a apresentarem significativamente uma diminuição das idas ao médico e da aquisição de medicamentos por razões económicas. Dados de 2015 a 2016 que aplicaram a mesma metodologia, indicaram uma prevalência de IA de 19,3% na população portuguesa, mais pronunciada nas ilhas, e especialmente presente em desempregados ou empregados em condições precárias, famílias monoparentais, indivíduos com baixo nível de escolaridade e baixa perceção do rendimento familiar. O Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física 2015-2016 utilizou uma metodologia distinta que determinou uma prevalência inferior, de 10,1% de IA em Portugal, especialmente em famílias com menores, indivíduos com baixo nível de escolaridade e baixos rendimentos, com maior prevalência nas ilhas e maior severidade no Alentejo. A IA está associada a uma maior prevalência de doenças crónicas, nomeadamente à obesidade. Uma alimentação inadequada contribui para a diminuição do número de anos de vida saudável, diminuindo a qualidade de vida dos indivíduos. O impacto das doenças crónicas na economia nacional é significativo, com diminuição da produtividade, aumento do absentismo laboral e aumento dos encargos com a saúde. Esta associação torna-se paradoxal, pois enquanto a IA resulta da falta de meios económicos para acesso a alimentos, a obesidade resulta do excesso de calorias consumidas face ao gasto energético. A literatura evidencia que a IA ligeira é o nível mais associado à obesidade, o que sugere uma pior qualidade nutricional da alimentação destes indivíduos, rica em produtos de elevada densidade energética (óleos e gorduras adicionados, cereais refinados, produtos açucarados e açúcares simples adicionados, refrigerantes e produtos processados ricos em gordura e sal) e baixa em micronutrientes e fibras (hortofrutícolas, carnes magras, peixe, leguminosas, cereais integrais e laticínios magros). Os principais fatores mediadores desta associação são o preço dos alimentos e o custo associado ao tempo de preparação dos produtos de maior qualidade nutricional. Estes indivíduos ainda são caracterizados por um elevado sedentarismo, uma monotonia na sua alimentação, uma pior saúde mental, uma menor adesão à terapêutica farmacológica e um pior estado geral de saúde. A associação da IA com a obesidade é mais prevalente em mulheres, provavelmente devido a pressões sociais, alterações físicas resultantes da gravidez, menor autoestima, discriminação laboral e diferenças na composição corporal. Esta associação é inconsistente em crianças, provavelmente devido à proteção parental e aos programas de assistência alimentar específicos, apesar de se verificar que estas apresentam uma alimentação mais desequilibrada, e maior prevalência de problemas de desenvolvimento, perfil lipídico aterogénico e doenças do foro psicológico, quando comparadas com as crianças em segurança alimentar. O ciclo vicioso deste paradoxo integra variáveis como a pobreza, o grau de IA, deficiências nutricionais, excesso de peso, stresse e doenças crónicas. A realidade portuguesa não difere da internacional, com os estudos a relatarem uma presença das desigualdades sociais na distribuição das doenças crónicas em Portugal, e uma associação entre a IA e uma menor adesão à dieta mediterrânica. Este aparente paradoxo é potenciado pela genética de baixa eficiência metabólica, baixo nível de educação associado a escolhas alimentares menos conscientes, baixo valor nutricional da sua alimentação, e por alterações psicológicas, com níveis elevados de stresse. Indivíduos com excesso de peso e que sofrem de IA possuem deficiências nutricionais, pois apesar de a quantidade de energia fornecida por alimentos ser suficiente ou até excessiva, a sua qualidade nutricional e diversidade são limitadas. As estratégias para lidar com este paradoxo devem ser multidisciplinares, integrando questões económicas, psicológicas e fisiológicas, para melhorar a saúde e bem-estar dos grupos mais vulneráveis. Esta dissertação apresenta os resultados de uma revisão bibliográfica sobre este paradoxo, e de um conjunto de estudos realizados em populações vulneráveis. O primeiro e principal estudo apresentado - Avaliação nutricional de indivíduos apoiados por programas de assistência alimentar - pretendeu avaliar o perfil antropométrico e relacionar com o grau de IA e o padrão alimentar mediterrânico de indivíduos (N=46) apoiados por programas de assistência alimentar da zona centro. Os resultados indicaram uma prevalência de excesso de peso de 57%, com 65% de indivíduos em risco cardiometabólico, com níveis de massa isenta de gordura e de água corporal baixos. Cerca de 85% da amostra não apresentava uma boa adesão à dieta mediterrânica, e 89% apresentava IA (33% ligeira, 28% moderada e 28% grave), com maior gravidade em indivíduos com menores habilitações literárias. O segundo estudo apresentado consistiu numa comparação entre a oferta alimentar de programas de distribuição alimentar da zona centro com as recomendações portuguesas, nomeadamente a Roda dos Alimentos e os documentos elaborados pela Direção-Geral da Saúde para adequação nutricional destes cabazes alimentares. Concluiu-se que os cabazes apresentavam um excedente na proporção de alimentos dos grupos cereais, derivados e tubérculos, leguminosas e gorduras e óleos, e um défice da oferta de frutas e hortícolas, devido sobretudo às limitações de armazenamento e transporte de alimentos frescos e congelados, o que exige programas de apoio específicos para oferta deste tipo de alimentos. Queijo, cereais de pequeno-almoço não açucarados, tomate pelado, sardinha em conserva, frango, pescada, vegetais, creme vegetal e marmelada não fazem parte dos alimentos distribuídos, apesar de estarem descritos nas recomendações, e alguns alimentos não descritos nas recomendações, como cogumelos enlatados ou legumes e leguminosas enlatadas (lentilhas, ervilhas, misturas de vegetais) estão presentes em alguns cabazes e poderiam ser acrescentados às recomendações. O terceiro estudo teve como objetivo avaliar o grau de IA e a adesão ao padrão alimentar mediterrânico de uma amostra de conveniência (N=153) de estudantes do ensino superior de uma licenciatura. Os resultados mostram uma prevalência de IA de 11% e apenas 41% apresentava uma boa adesão à dieta mediterrânica. O quarto estudo apresentado avaliou o grau de IA e a adesão ao padrão alimentar mediterrânico em idosos não institucionalizados ativos. Os resultados mostraram 80% da amostra com excesso de peso, 10% da amostra com baixo índice de massa isenta de gordura e 70% apresentavam risco cardiometabólico. Cerca de 72% da amostra não tinha uma boa adesão à dieta mediterrânica, e 15% da amostra apresentava IA (7% ligeira, 2% moderada e 6% grave). O último estudo apresentado pretendeu avaliar o grau de IA e a adesão ao padrão alimentar mediterrânico de indivíduos beneficiários do banco alimentar da zona centro (N=13), com a grande limitação de uma baixa adesão à participação no estudo por recusa, incompreensão e desconfiança na avaliação. Foi calculada uma prevalência de excesso de peso de 54%, com 70% dos inquiridos em risco cardiometabólico. Todos os indivíduos apresentavam IA (15% ligeira, 54% moderada e 31% grave). Estes estudos permitiram avaliar diferentes populações em risco, apresentando um retrato da IA e dos programas de assistência alimentar em Portugal. São necessários mais estudos para avaliar a eficácia das medidas de intervenção nesta área.The Universal Declaration of Human Rights, published in 1948, asserts that we all have a right to health and well-being, with unconditional access to food, shelter and medical care. Hunger and malnutrition come from the hierarchical organization of the society in which we live, although we have the economic and cognitive ability to produce enough food for all, in adequate quality and quantity. The Food and Agriculture Organization of the United Nations and the World Health Organization were the first organizations to implement nutritional policies for the eradication of hunger and malnutrition in Member States, such as the European Social Fund (FEAC), that assemble the need to adjust not only the quantity but also the quality of food received by the most vulnerable population groups. The most recent economic crisis in Europe has worsened social inequalities and, consequently, the degree of food insecurity experienced by the population and their physical, mental and nutritional status. Food insecurity is a situation in which the physical, social and economic access of the consumer to nutritionally adequate food is scarce or non-existent. It can be evaluated according to psychometric scales in different severity levels: mild, moderate or severe. In the past few years, results from several national studies evaluating food insecurity have been presented. Data from 2011 to 2014 showed a prevalence of food insecurity in Portugal, in the middle of the economic crisis, of 48.7%, more prevalent in individuals with lower educational level, unemployed, retired, and individuals with pre-obesity, with the most disadvantaged significantly presenting a lower number of visits to the doctor and a lower purchase of medicines for economic reasons. Data from 2015 to 2016 that applied the same methodology, reported a prevalence of food insecurity of 19.3% in the Portuguese population, more pronounced in the islands, and especially presented in the unemployed or employed in precarious conditions, single-parent families, individuals with low educational level and low perception of family income. The National Food and Physical Activity Survey 2015-2016 used a different methodology that determined a lower prevalence of 10.1% of food insecurity in Portugal, especially in families with minors, individuals with low educational level and low incomes, with a higher prevalence in the islands and greater severity in the Alentejo. Food insecurity is associated with a higher prevalence of chronic diseases, namely obesity. Inadequate nutrition contributes to a reduction in the number of years of healthy life, reducing the quality of life of individuals. The impact of chronic diseases on the national economy is significant, with decreasing productivity, increasing absenteeism and increasing health costs. This association becomes paradoxical, because while food insecurity results from the lack of economic means to access food, obesity results from the excess of calories consumed in the face of energy expenditure. The literature evidences that mild food insecurity is the level most associated with obesity, which suggests a poor nutritional quality of these individuals, rich in products of high energy density (added oils and fats, refined cereals, sugars and added simple sugars, soft drinks and processed products high in fat and salt) and low in micronutrients and fibers (fruit and vegetables, lean meats, fish, legumes, whole grains and lean dairy products). The main mediating factors of this association are the price of food and the cost associated with the time of preparation of products of higher nutritional quality. These individuals are still characterized by a high sedentary lifestyle, a monotony in their diet, a worse mental health, a lower adherence to pharmacological therapy and a worse general state of health. The association of food insecurity with obesity is more prevalent in women, probably due to social pressures, physical changes resulting from pregnancy, lower self-esteem, labour discrimination and differences in body composition. This association is inconsistent in children, probably due to parental protection and specific food assistance programs, although they are found to have a more unbalanced diet, and a higher prevalence of developmental problems, atherogenic lipid profile and psychological diseases, when compared to children in food security. The vicious cycle of this paradox integrates variables such as poverty, food insecurity level, nutritional deficiencies, overweight, stress and chronic diseases. The Portuguese reality is not different from the international one, with studies reporting a presence of social inequalities in the distribution of chronic diseases in Portugal, and an association between food insecurity and lower adherence to the Mediterranean diet. This apparent paradox is boosted by the genetics of low metabolic efficiency, low level of education associated with less conscious food choices, low nutritional value of their diet, and psychological changes, with high levels of stress. Individuals who are overweight and suffering from food insecurity have nutritional deficiencies, because although the amount of energy provided by food is enough or even excessive, their nutritional quality and diversity are limited. Strategies to address this paradox should be multidisciplinary, integrating economic, psychological and physiological issues to improve the health and well-being of the most vulnerable groups. This dissertation presents the results of a literature review on this paradox, and a set of studies carried out on vulnerable populations. The first and main study presented - Nutritional assessment of individuals supported by food assistance programs - aimed to evaluate the anthropometric profile and to relate to the degree of food insecurity and the Mediterranean dietary pattern of individuals (N=46) supported by food assistance programs in the center of Portugal. The results showed a prevalence of overweight of 57%, with 65% of individuals at cardiometabolic risk, with lower levels of body fat and lower body weight. About 85% of the sample did not present a good adherence to the Mediterranean diet, and 89% presented food insecurity (33% mild, 28% moderate and 28% severe), with a higher severity in individuals with lower educational qualifications. The second study consisted of a comparison between the food supply of food distribution programs and the Portuguese recommendations. It was concluded that the baskets had a surplus in the proportion of cereals, by-products and tubers, legumes and fats and oils, and a shortage of fruit and vegetables, mainly due to the storage and transport limitations of fresh and frozen foods, which requires specific support programs to provide this type of food. Cheese, non-sugared breakfast cereals, peeled tomatoes, canned sardines, chicken, hake, vegetables, vegetable cream and marmalade are not part of the food distributed, although they are described in the recommendations, and some foods not described in the recommendations, such as canned mushrooms or canned vegetables and legumes (lentils, peas, vegetable mixtures) are present in some baskets and could be added to the recommendations. The third study aimed to evaluate the degree of food insecurity and the adherence to the Mediterranean dietary pattern of a convenience sample (N=153) of undergraduate students of a bachelor's degree. The results showed a prevalence of food insecurity of 11% and only 41% had a good adherence to the Mediterranean diet. The fourth study presented evaluated the degree of food insecurity and the adherence to the Mediterranean dietary pattern in active non-institutionalized elderly. The results showed 80% of the sample with excess weight, 10% of the sample with low fat-free mass index and 70% presented cardiometabolic risk. About 72% of the sample did not have a good adherence to the Mediterranean diet, and 15% of the sample had food insecurity (7% mild, 2% moderate and 6% severe). The last study aimed at evaluating the degree of food insecurity and adherence to the Mediterranean dietary pattern of beneficiaries of the central zone food bank (N=13), with the great limitation of a low adherence to participation in the study due to refusal, incomprehension and mistrust in the evaluation. An overweight prevalence of 54% was calculated, with 70% of respondents at cardiometabolic risk. All subjects had food insecurity (15% mild, 54% moderate and 31% severe). These studies allowed the evaluation of different populations at risk, presenting a picture of food insecurity and food assistance programs in Portugal. Further studies are needed to evaluate the effectiveness of intervention measures in this area.Camolas, José Miguel LopesSantos, Ana Lúcia Baltazar dos SantosRepositório da Universidade de LisboaCorreia, Carla Sofia Campos2022-09-24T00:30:27Z2019-09-242019-09-24T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/40337TID:202284964porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-08T16:39:33Zoai:repositorio.ul.pt:10451/40337Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T21:54:01.265603Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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