Narrativa e empatia. Lições do cérebro e da literatura
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2014 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | https://doi.org/10.34632/povoseculturas.2014.8949 |
Resumo: | A investigação recente revela uma correlação positiva entre o hábito de ler narrativas literárias e o desenvolvimento da teoria da mente, cognitiva e afetiva, esta última relacionada com a empatia (Kidd & Castano, 2013; Mar, Oatley, Hirsh, dela Paz, & Peterson, 2006). Para explicar esta correlação, é necessário considerar o conceito de empatia na relação entre mente, corpo e cérebro. Na perspetiva neurobiológica das teorias da simulação, as mesmas estruturas são ativadas na experiência direta de emoções e ainda quando as emoções são detetadas no Outro (Gallese, 2001; Damásio 1999). Do ponto de vista cultural, a empatia é entendida numa constelação triádica de dois agentes em interação e de um observador que toma o partido de um desses agentes (Breithaupt, 2009). A dimensão narrativa da empatia é um elemento estruturante da representação dessa interação e da tomada de partido espontânea do observador. Na narrativa literária, a empatia é direcionada a instâncias subjetivas particulares da história. A voz que conta a história pode influenciar a tomada de partido por uma ou outra personagem. Quando a atenção do leitor se dirige para esta voz, revela-se uma outra forma de empatia: a perceção de uma instância subjetiva conceptual, que convida o leitor a partilhar um ponto de vista sobre uma realidade. Esta é uma forma de intersubjetividade possibilitada pelos sistemas simbólicos da cultura. A consciência desta experiência de atenção partilhada, que na literatura é constitutiva e esteticamente intensa, é porventura uma explicação para a correlação positiva entre a teoria da mente e a literatura. |
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Narrativa e empatia. Lições do cérebro e da literaturaA investigação recente revela uma correlação positiva entre o hábito de ler narrativas literárias e o desenvolvimento da teoria da mente, cognitiva e afetiva, esta última relacionada com a empatia (Kidd & Castano, 2013; Mar, Oatley, Hirsh, dela Paz, & Peterson, 2006). Para explicar esta correlação, é necessário considerar o conceito de empatia na relação entre mente, corpo e cérebro. Na perspetiva neurobiológica das teorias da simulação, as mesmas estruturas são ativadas na experiência direta de emoções e ainda quando as emoções são detetadas no Outro (Gallese, 2001; Damásio 1999). Do ponto de vista cultural, a empatia é entendida numa constelação triádica de dois agentes em interação e de um observador que toma o partido de um desses agentes (Breithaupt, 2009). A dimensão narrativa da empatia é um elemento estruturante da representação dessa interação e da tomada de partido espontânea do observador. Na narrativa literária, a empatia é direcionada a instâncias subjetivas particulares da história. A voz que conta a história pode influenciar a tomada de partido por uma ou outra personagem. Quando a atenção do leitor se dirige para esta voz, revela-se uma outra forma de empatia: a perceção de uma instância subjetiva conceptual, que convida o leitor a partilhar um ponto de vista sobre uma realidade. Esta é uma forma de intersubjetividade possibilitada pelos sistemas simbólicos da cultura. A consciência desta experiência de atenção partilhada, que na literatura é constitutiva e esteticamente intensa, é porventura uma explicação para a correlação positiva entre a teoria da mente e a literatura.Universidade Católica Portuguesa2014-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/otherinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://doi.org/10.34632/povoseculturas.2014.8949oai:ojs.revistas.ucp.pt:article/8949Povos e Culturas; n. 18 (2014): O cérebro: o que a ciência nos diz!; 195-2070873-592110.34632/povoseculturas.2014.n18reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAPporhttps://revistas.ucp.pt/index.php/povoseculturas/article/view/8949https://doi.org/10.34632/povoseculturas.2014.8949https://revistas.ucp.pt/index.php/povoseculturas/article/view/8949/8816Direitos de Autor (c) 2014 Ana Margarida Abranteshttp://creativecommons.org/licenses/by/4.0info:eu-repo/semantics/openAccessAbrantes, Ana Margarida2022-09-22T16:25:58Zoai:ojs.revistas.ucp.pt:article/8949Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T15:59:45.501142Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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