O Instante ´presente´ em Kierkegaard

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Nuno Jorge Cruz da
Data de Publicação: 2018
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/51577
Resumo: Sabendo de antemão que Kierkegaard defende três estados existenciais para o indivíduo, interessou-nos centrar a análise no primeiro dos dois, no estado estético, e na possibilidade que o indivíduo tem de ‘sair’ deste. Mais concretamente, procurou-se provar que o conceito subjacente a este estádio é o ‘instante presente’ e a qualidade deste enquanto preenchimento de instantes que se sucedem de forma aparentemente igual, ao mesmo ritmo, sem cessar até ao dia da nossa morte. Assim, e a partir dos textos de Kierkegaard, principalmente «A Alternativa (Ou… Ou…)» é feita uma análise daqueles que caracterizam o estado estético por forma a demonstrar que o ‘tempo’ está presente em todos eles, nomeadamente a sua relação com o ‘instante agora’. Através da análise aos ‘symparanekrômenoi’ (comunidade daqueles que estão a morrer ao mesmo tempo), veremos que o ‘instante’ é vivido pelos membros desta comunidade como uma unidade que existe para deixar de existir. O seu fito é o de ser substituído por outro ‘instante’. Sendo uma comunidade de estetas, o que cada membro desta comunidade advoga é o aproveitamento o melhor possível esse instante, vivendo a vida como uma renovação de sensações e de experiências justapostas umas às outras. Analisando a infelicidade, Kierkegaard apresenta dois tipos de infelizes: o da esperança e o da recordação, veremos aqui como é que o ‘instante’ passado pode influenciar o futuro e como esse ‘instante’ pode tornar miserável aquele que por ele está a ser influenciado. O mesmo se passa com aquele que vive sob a esperança num ‘instante’ futuro. Uma vez mais, e para os estetas, o erro está em não viver o presente como tal, i.e., como ‘instante aqui e agora’. Como solução, o esteta tem por objectivo dominar o ‘instante’ prevendo humores, tal como o marinheiro perscruta o horizonte à procura dos indícios que o levem a prever os temporais. Desta forma, assegura-se que todos os ‘instantes’ são plenos e vividos intensamente. Também a possibilidade da personalidade de um indivíduo estético se poder transformar numa personalidade ética, assenta numa descrição do ‘instante’. Neste caso no ‘instante’ da tomada de decisão. O esteta opta quase sempre pela não decisão, adiando esse momento cada vez que se lhe apresenta. O grande objectivo do esteta é seguir indefinidamente aquilo que os seus apetites lhe apontam, estando apto e receptivo apenas às suas disposições. O esteta escolhe não escolher, e quando a vida lhe impõe qualquer tipo de decisões, lança-se irremediavelmente na experimentação de todas as possibilidades que se abrem no momento da escolha. Julga-se deste modo livre. Se a liberdade é uma das características do estado estético, a imediatez, ou melhor, o carácter imediato como um esteta é aquilo que é, não recorrendo para isso à reflexão, é outra. Por fim verificaremos que a personalidade do esteta é marcadamente acidental, na medida em que toda a justificação para a sua conduta de vida é uma fuga ao desespero, à angústia e ao tédio.
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