How does the presence of nanoplastics affect human lung and gut cell lines?

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Vairinhos, Aliana Carvalho
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: eng
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.1/20062
Resumo: Os plásticos são materiais sintéticos que resultam da combinação de polímeros e têm inúmeras aplicações na indústria farmacêutica, alimentar, automóvel, tecnológica e outras. Estes materiais estão presentes em todas as atividades do nosso dia-a-dia, e a sua produção tem vindo sempre a aumentar, atingindo as 390,7 milhões de toneladas métricas em 2021. Os plásticos mais comumente produzidos incluem polietileno, polipropileno, polivinilcloreto, polietileno tereftalato, poliuretano e poliestireno. Após serem descartados, os produtos plásticos ficam expostos a diversos fatores ambientais, como a radiação ultravioleta, precipitação, vento, oxidação, fatores mecânicos e biológicos que causam a sua degradação em partículas mais pequenas. Estas partículas são classificadas em microplásticos quando possuem uma dimensão entre 1 μm e 5 mm, ou como nanoplásticos quando têm um tamanho entre 1 e 1000 nm. Estas partículas são conhecidas como micro- e nanoplásticos (MNPs) secundários. Existem também os micro- e nanoplásticos primários, que são partículas propositadamente produzidas pela indústria. A intensa produção, utilização e descarte destes materiais resultam na disseminação de partículas de plástico por todo o ambiente. Estas partículas podem ser encontradas nos oceanos, praias, neve, ar, solos, diversas espécies e até mesmo em órgãos humanos. De facto, os efeitos de micro- e nanoplásticos já foram observados em diversas espécies marinhas, como bivalves (Mytillus galloprovincialis), crustáceos (Macrobrachium niponense) e peixes (Danio rerio e Oreochromis niloticus), entre outras. Nestas espécies, os MNPs têm sido facilmente internalizados, afetando o metabolismo e a expressão de vários genes, incluindo genes relacionados com a atividade antioxidante que podem levar à apoptose celular. A presença de MNPs nos solos pode ainda alterar o pH, estimular a biodisponibilidade de metais pesados como o cádmio e provocar alterações nas comunidades microbiotas, com consequências no seu proteoma. Os seres humanos estão expostos aos MNPs através de três vias principais: ingestão, através do consumo de alimentos contaminados; inalação, por exposição a aerossóis contendo partículas; e absorção, através da pele, pelo uso de produtos cosméticos que contêm MNPs. Estudos realizados em várias linhas celulares humanas têm demonstrado que os MNPs têm a capacidade de penetrar nas células, reduzir a viabilidade celular, induzir a produção de espécies reativas de oxigénio e respostas inflamatórias e até mesmo provocar efeitos genotóxicos. Sendo a inalação uma das principais vias de exposição, faz sentido que vários microplásticos de polipropileno e polietileno tereftalato tenham sido identificados em amostras de tecido de pulmão humano. É, portanto, necessário estudar o efeito destas partículas em células de pulmão. Nesse contexto, as células A549, derivadas de células alveolares epiteliais de tipo II, são frequentemente utilizadas para avaliar os efeitos dos MNPs. De facto, foi demonstrado que estas células conseguem internalizar as partículas através de endocitose mediada por caveolina e/ou clatrina e fagocitose, para nanoplásticos de menor e maior dimensão, respetivamente. Consequentemente, a presença destas partículas resultou na redução da viabilidade celular, com efeitos adversos e genotóxicos nas mitocôndrias. Por sua vez, a ingestão de MNPs pode ser avaliada recorrendo às células Caco-2, que são células epiteliais de adenocarcinoma do colón. Estas células foram expostas a micro- e nanoplásticos de diferentes dimensões, que demonstraram a capacidade destas partículas de entrar nas células e reduzir a viabilidade celular de forma dependente da concentração. Além disso, estes microplásticos (MPs) também causaram a disrupção do potencial de membrana mitocondrial e provocaram danos genotóxicos. Apesar da crescente atenção que esta problemática tem recebido nos últimos anos, existe ainda uma lacuna de conhecimento em relação aos efeitos dos MNPs em células humanas, sendo que a maioria utiliza concentrações de partículas que não correspondem à real exposição a que estamos sujeitos. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo principal investigar os efeitos de micro- e nanoplásticos de poliestireno (50, 500 e 1000 nm) em células humanas A549 e Caco-2, na viabilidade, proliferação, migração celular, stress oxidativo e adesão celular. Em primeiro lugar, foi realizada uma caracterização das duas linhas celulares que seriam utilizadas, tendo em consideração as curvas de crescimento e a morfologia celular, incluindo o núcleo, actina, tubulina e mitocôndrias. Em segundo lugar, realizou-se o estudo da viabilidade celular na presença de MNPs, que revelou um efeito citotóxico dependente do tamanho e concentração das partículas em ambas as linhas celulares. Relativamente à proliferação celular, nas células A549, observou-se um efeito estimulatório no crescimento, mas sem uma relação clara com o tamanho ou concentração dos MNPs. No entanto, nas células Caco-2, houve uma redução da proliferação nas concentrações mais elevadas das partículas de maior dimensão (500 e 1000 nm). No estudo da migração celular, foi utilizado o ensaio scratch, no qual as células de pulmão expostas a MNPs migraram mais rapidamente do que as células não expostas. Por outro lado, nas células Caco-2 expostas a partículas de 50 e 1000 nm, a capacidade migratória foi afetada, levando mais tempo a recuperar do scratch. A produção de espécies reativas de oxigénio parece ser afetada tanto nas células de pulmão quanto nas células de intestino, mas de formas diferentes. Enquanto os nanoplásticos (NPs) de 50 e 500 nm levaram a um aumento da produção com o aumento da concentração, o contrário foi observado para os microplásticos, nas células A549. Nas células Caco-2, apenas foram observados aumentos na produção para algumas concentrações de todos os tamanhos. Quanto à morfologia das células, não foram observadas alterações visíveis no citoesqueleto, mitocôndrias e núcleos das células tratadas com MNPs. Relativamente à adesão celular, as células de pulmão expostas a NPs de 50 e 500 nm aderiram mais rapidamente que o controlo, assim como as células de intestino tratadas com 500 e 1000 nm. Por sua vez, no ensaio de recuperação de uma ferida feita eletricamente, enquanto as A549 expostas às partículas recuperaram mais rapidamente relativamente às células controlo, as Caco-2 tratadas demoraram mais tempo e não voltaram a adquirir a resistência inicial. Os estudos realizados demonstraram que os micro- e nanoplásticos de poliestireno provocam alterações no comportamento e viabilidade de células A549 e Caco-2, para as concentrações estudadas. Futuramente, serão realizados mais ensaios, incluindo uma análise metabolómica, estudos enzimáticos, como a fosfatase e estudos eletrofisiológicos mais detalhados. Adicionalmente estão a ser considerados ensaios com longos períodos de exposição aos MNPs e outros tipos de plásticos.
id RCAP_645fa3359d23d569ddaa44b03870ae38
oai_identifier_str oai:sapientia.ualg.pt:10400.1/20062
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling How does the presence of nanoplastics affect human lung and gut cell lines?MicroplásticoNanoplásticoPoliestirenoCélulas de pulmãoCélulas do intestinoDomínio/Área Científica::Ciências Naturais::Outras Ciências NaturaisOs plásticos são materiais sintéticos que resultam da combinação de polímeros e têm inúmeras aplicações na indústria farmacêutica, alimentar, automóvel, tecnológica e outras. Estes materiais estão presentes em todas as atividades do nosso dia-a-dia, e a sua produção tem vindo sempre a aumentar, atingindo as 390,7 milhões de toneladas métricas em 2021. Os plásticos mais comumente produzidos incluem polietileno, polipropileno, polivinilcloreto, polietileno tereftalato, poliuretano e poliestireno. Após serem descartados, os produtos plásticos ficam expostos a diversos fatores ambientais, como a radiação ultravioleta, precipitação, vento, oxidação, fatores mecânicos e biológicos que causam a sua degradação em partículas mais pequenas. Estas partículas são classificadas em microplásticos quando possuem uma dimensão entre 1 μm e 5 mm, ou como nanoplásticos quando têm um tamanho entre 1 e 1000 nm. Estas partículas são conhecidas como micro- e nanoplásticos (MNPs) secundários. Existem também os micro- e nanoplásticos primários, que são partículas propositadamente produzidas pela indústria. A intensa produção, utilização e descarte destes materiais resultam na disseminação de partículas de plástico por todo o ambiente. Estas partículas podem ser encontradas nos oceanos, praias, neve, ar, solos, diversas espécies e até mesmo em órgãos humanos. De facto, os efeitos de micro- e nanoplásticos já foram observados em diversas espécies marinhas, como bivalves (Mytillus galloprovincialis), crustáceos (Macrobrachium niponense) e peixes (Danio rerio e Oreochromis niloticus), entre outras. Nestas espécies, os MNPs têm sido facilmente internalizados, afetando o metabolismo e a expressão de vários genes, incluindo genes relacionados com a atividade antioxidante que podem levar à apoptose celular. A presença de MNPs nos solos pode ainda alterar o pH, estimular a biodisponibilidade de metais pesados como o cádmio e provocar alterações nas comunidades microbiotas, com consequências no seu proteoma. Os seres humanos estão expostos aos MNPs através de três vias principais: ingestão, através do consumo de alimentos contaminados; inalação, por exposição a aerossóis contendo partículas; e absorção, através da pele, pelo uso de produtos cosméticos que contêm MNPs. Estudos realizados em várias linhas celulares humanas têm demonstrado que os MNPs têm a capacidade de penetrar nas células, reduzir a viabilidade celular, induzir a produção de espécies reativas de oxigénio e respostas inflamatórias e até mesmo provocar efeitos genotóxicos. Sendo a inalação uma das principais vias de exposição, faz sentido que vários microplásticos de polipropileno e polietileno tereftalato tenham sido identificados em amostras de tecido de pulmão humano. É, portanto, necessário estudar o efeito destas partículas em células de pulmão. Nesse contexto, as células A549, derivadas de células alveolares epiteliais de tipo II, são frequentemente utilizadas para avaliar os efeitos dos MNPs. De facto, foi demonstrado que estas células conseguem internalizar as partículas através de endocitose mediada por caveolina e/ou clatrina e fagocitose, para nanoplásticos de menor e maior dimensão, respetivamente. Consequentemente, a presença destas partículas resultou na redução da viabilidade celular, com efeitos adversos e genotóxicos nas mitocôndrias. Por sua vez, a ingestão de MNPs pode ser avaliada recorrendo às células Caco-2, que são células epiteliais de adenocarcinoma do colón. Estas células foram expostas a micro- e nanoplásticos de diferentes dimensões, que demonstraram a capacidade destas partículas de entrar nas células e reduzir a viabilidade celular de forma dependente da concentração. Além disso, estes microplásticos (MPs) também causaram a disrupção do potencial de membrana mitocondrial e provocaram danos genotóxicos. Apesar da crescente atenção que esta problemática tem recebido nos últimos anos, existe ainda uma lacuna de conhecimento em relação aos efeitos dos MNPs em células humanas, sendo que a maioria utiliza concentrações de partículas que não correspondem à real exposição a que estamos sujeitos. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo principal investigar os efeitos de micro- e nanoplásticos de poliestireno (50, 500 e 1000 nm) em células humanas A549 e Caco-2, na viabilidade, proliferação, migração celular, stress oxidativo e adesão celular. Em primeiro lugar, foi realizada uma caracterização das duas linhas celulares que seriam utilizadas, tendo em consideração as curvas de crescimento e a morfologia celular, incluindo o núcleo, actina, tubulina e mitocôndrias. Em segundo lugar, realizou-se o estudo da viabilidade celular na presença de MNPs, que revelou um efeito citotóxico dependente do tamanho e concentração das partículas em ambas as linhas celulares. Relativamente à proliferação celular, nas células A549, observou-se um efeito estimulatório no crescimento, mas sem uma relação clara com o tamanho ou concentração dos MNPs. No entanto, nas células Caco-2, houve uma redução da proliferação nas concentrações mais elevadas das partículas de maior dimensão (500 e 1000 nm). No estudo da migração celular, foi utilizado o ensaio scratch, no qual as células de pulmão expostas a MNPs migraram mais rapidamente do que as células não expostas. Por outro lado, nas células Caco-2 expostas a partículas de 50 e 1000 nm, a capacidade migratória foi afetada, levando mais tempo a recuperar do scratch. A produção de espécies reativas de oxigénio parece ser afetada tanto nas células de pulmão quanto nas células de intestino, mas de formas diferentes. Enquanto os nanoplásticos (NPs) de 50 e 500 nm levaram a um aumento da produção com o aumento da concentração, o contrário foi observado para os microplásticos, nas células A549. Nas células Caco-2, apenas foram observados aumentos na produção para algumas concentrações de todos os tamanhos. Quanto à morfologia das células, não foram observadas alterações visíveis no citoesqueleto, mitocôndrias e núcleos das células tratadas com MNPs. Relativamente à adesão celular, as células de pulmão expostas a NPs de 50 e 500 nm aderiram mais rapidamente que o controlo, assim como as células de intestino tratadas com 500 e 1000 nm. Por sua vez, no ensaio de recuperação de uma ferida feita eletricamente, enquanto as A549 expostas às partículas recuperaram mais rapidamente relativamente às células controlo, as Caco-2 tratadas demoraram mais tempo e não voltaram a adquirir a resistência inicial. Os estudos realizados demonstraram que os micro- e nanoplásticos de poliestireno provocam alterações no comportamento e viabilidade de células A549 e Caco-2, para as concentrações estudadas. Futuramente, serão realizados mais ensaios, incluindo uma análise metabolómica, estudos enzimáticos, como a fosfatase e estudos eletrofisiológicos mais detalhados. Adicionalmente estão a ser considerados ensaios com longos períodos de exposição aos MNPs e outros tipos de plásticos.Plastics are synthetic materials that result from the combination of polymers and have several industrial applications. However, they represent an emerging global threat to the environment and humanity. One particular concern is the presence of micro- and nanoplastics (MNPs), which are particles that result from the degradation of plastic debris. Reports have already described the presence of MNPs in bivalves, fish, and even humans. Despite the growing awareness about this issue, there are still few studies investigating the effects of MNPs on human cells. Moreover, most of the existing studies use particles’ concentrations that do not accurately reflect the current environment reality. In an attempt to fill this gap, the present project investigated the effects of MNPs on human lung adenocarcinoma cells (A549) and human colon adenocarcinoma cells (Caco-2). These cell lines were chosen since they represent organs that are directly exposed to MNPs in organisms. The results showed that in both cell lines polystyrene MNPs exhibited a size and concentration-dependent cytotoxic effect. In Caco-2 cells treated with 500 and 1000 nm particles, cell proliferation was reduced. Furthermore, an increase in cell migration was observed in A549 cells compared to the control cells. Caco-2 cells exposed to 50 and 1000 nm took more time to recover from a scratch, indicating MNPs impaired cellular migration. MNPs appeared to affect the mechanism of ROS production but no effect was observed on the structural integrity of key cellular components (nuclei, actin, mitochondria, or tubulin) in both cell lines. Electrophysiological assays revealed that the presence of MNPs enhanced cell adhesion for both cell lines but significantly reduced the wound recovery capacity of Caco-2 cells. The assays performed revealed that MNPs altered cell behaviour and viability in A549 and Caco-2 cells, but further studies are necessary to comprehend the mechanisms underlying such effects.Power, DeborahC. Félix, RuteSapientiaVairinhos, Aliana Carvalho2023-07-172024-07-17T00:00:00Z2023-07-17T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.1/20062TID:203343212enginfo:eu-repo/semantics/embargoedAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-10-18T02:00:47Zoai:sapientia.ualg.pt:10400.1/20062Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T20:35:54.644554Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv How does the presence of nanoplastics affect human lung and gut cell lines?
title How does the presence of nanoplastics affect human lung and gut cell lines?
spellingShingle How does the presence of nanoplastics affect human lung and gut cell lines?
Vairinhos, Aliana Carvalho
Microplástico
Nanoplástico
Poliestireno
Células de pulmão
Células do intestino
Domínio/Área Científica::Ciências Naturais::Outras Ciências Naturais
title_short How does the presence of nanoplastics affect human lung and gut cell lines?
title_full How does the presence of nanoplastics affect human lung and gut cell lines?
title_fullStr How does the presence of nanoplastics affect human lung and gut cell lines?
title_full_unstemmed How does the presence of nanoplastics affect human lung and gut cell lines?
title_sort How does the presence of nanoplastics affect human lung and gut cell lines?
author Vairinhos, Aliana Carvalho
author_facet Vairinhos, Aliana Carvalho
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Power, Deborah
C. Félix, Rute
Sapientia
dc.contributor.author.fl_str_mv Vairinhos, Aliana Carvalho
dc.subject.por.fl_str_mv Microplástico
Nanoplástico
Poliestireno
Células de pulmão
Células do intestino
Domínio/Área Científica::Ciências Naturais::Outras Ciências Naturais
topic Microplástico
Nanoplástico
Poliestireno
Células de pulmão
Células do intestino
Domínio/Área Científica::Ciências Naturais::Outras Ciências Naturais
description Os plásticos são materiais sintéticos que resultam da combinação de polímeros e têm inúmeras aplicações na indústria farmacêutica, alimentar, automóvel, tecnológica e outras. Estes materiais estão presentes em todas as atividades do nosso dia-a-dia, e a sua produção tem vindo sempre a aumentar, atingindo as 390,7 milhões de toneladas métricas em 2021. Os plásticos mais comumente produzidos incluem polietileno, polipropileno, polivinilcloreto, polietileno tereftalato, poliuretano e poliestireno. Após serem descartados, os produtos plásticos ficam expostos a diversos fatores ambientais, como a radiação ultravioleta, precipitação, vento, oxidação, fatores mecânicos e biológicos que causam a sua degradação em partículas mais pequenas. Estas partículas são classificadas em microplásticos quando possuem uma dimensão entre 1 μm e 5 mm, ou como nanoplásticos quando têm um tamanho entre 1 e 1000 nm. Estas partículas são conhecidas como micro- e nanoplásticos (MNPs) secundários. Existem também os micro- e nanoplásticos primários, que são partículas propositadamente produzidas pela indústria. A intensa produção, utilização e descarte destes materiais resultam na disseminação de partículas de plástico por todo o ambiente. Estas partículas podem ser encontradas nos oceanos, praias, neve, ar, solos, diversas espécies e até mesmo em órgãos humanos. De facto, os efeitos de micro- e nanoplásticos já foram observados em diversas espécies marinhas, como bivalves (Mytillus galloprovincialis), crustáceos (Macrobrachium niponense) e peixes (Danio rerio e Oreochromis niloticus), entre outras. Nestas espécies, os MNPs têm sido facilmente internalizados, afetando o metabolismo e a expressão de vários genes, incluindo genes relacionados com a atividade antioxidante que podem levar à apoptose celular. A presença de MNPs nos solos pode ainda alterar o pH, estimular a biodisponibilidade de metais pesados como o cádmio e provocar alterações nas comunidades microbiotas, com consequências no seu proteoma. Os seres humanos estão expostos aos MNPs através de três vias principais: ingestão, através do consumo de alimentos contaminados; inalação, por exposição a aerossóis contendo partículas; e absorção, através da pele, pelo uso de produtos cosméticos que contêm MNPs. Estudos realizados em várias linhas celulares humanas têm demonstrado que os MNPs têm a capacidade de penetrar nas células, reduzir a viabilidade celular, induzir a produção de espécies reativas de oxigénio e respostas inflamatórias e até mesmo provocar efeitos genotóxicos. Sendo a inalação uma das principais vias de exposição, faz sentido que vários microplásticos de polipropileno e polietileno tereftalato tenham sido identificados em amostras de tecido de pulmão humano. É, portanto, necessário estudar o efeito destas partículas em células de pulmão. Nesse contexto, as células A549, derivadas de células alveolares epiteliais de tipo II, são frequentemente utilizadas para avaliar os efeitos dos MNPs. De facto, foi demonstrado que estas células conseguem internalizar as partículas através de endocitose mediada por caveolina e/ou clatrina e fagocitose, para nanoplásticos de menor e maior dimensão, respetivamente. Consequentemente, a presença destas partículas resultou na redução da viabilidade celular, com efeitos adversos e genotóxicos nas mitocôndrias. Por sua vez, a ingestão de MNPs pode ser avaliada recorrendo às células Caco-2, que são células epiteliais de adenocarcinoma do colón. Estas células foram expostas a micro- e nanoplásticos de diferentes dimensões, que demonstraram a capacidade destas partículas de entrar nas células e reduzir a viabilidade celular de forma dependente da concentração. Além disso, estes microplásticos (MPs) também causaram a disrupção do potencial de membrana mitocondrial e provocaram danos genotóxicos. Apesar da crescente atenção que esta problemática tem recebido nos últimos anos, existe ainda uma lacuna de conhecimento em relação aos efeitos dos MNPs em células humanas, sendo que a maioria utiliza concentrações de partículas que não correspondem à real exposição a que estamos sujeitos. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo principal investigar os efeitos de micro- e nanoplásticos de poliestireno (50, 500 e 1000 nm) em células humanas A549 e Caco-2, na viabilidade, proliferação, migração celular, stress oxidativo e adesão celular. Em primeiro lugar, foi realizada uma caracterização das duas linhas celulares que seriam utilizadas, tendo em consideração as curvas de crescimento e a morfologia celular, incluindo o núcleo, actina, tubulina e mitocôndrias. Em segundo lugar, realizou-se o estudo da viabilidade celular na presença de MNPs, que revelou um efeito citotóxico dependente do tamanho e concentração das partículas em ambas as linhas celulares. Relativamente à proliferação celular, nas células A549, observou-se um efeito estimulatório no crescimento, mas sem uma relação clara com o tamanho ou concentração dos MNPs. No entanto, nas células Caco-2, houve uma redução da proliferação nas concentrações mais elevadas das partículas de maior dimensão (500 e 1000 nm). No estudo da migração celular, foi utilizado o ensaio scratch, no qual as células de pulmão expostas a MNPs migraram mais rapidamente do que as células não expostas. Por outro lado, nas células Caco-2 expostas a partículas de 50 e 1000 nm, a capacidade migratória foi afetada, levando mais tempo a recuperar do scratch. A produção de espécies reativas de oxigénio parece ser afetada tanto nas células de pulmão quanto nas células de intestino, mas de formas diferentes. Enquanto os nanoplásticos (NPs) de 50 e 500 nm levaram a um aumento da produção com o aumento da concentração, o contrário foi observado para os microplásticos, nas células A549. Nas células Caco-2, apenas foram observados aumentos na produção para algumas concentrações de todos os tamanhos. Quanto à morfologia das células, não foram observadas alterações visíveis no citoesqueleto, mitocôndrias e núcleos das células tratadas com MNPs. Relativamente à adesão celular, as células de pulmão expostas a NPs de 50 e 500 nm aderiram mais rapidamente que o controlo, assim como as células de intestino tratadas com 500 e 1000 nm. Por sua vez, no ensaio de recuperação de uma ferida feita eletricamente, enquanto as A549 expostas às partículas recuperaram mais rapidamente relativamente às células controlo, as Caco-2 tratadas demoraram mais tempo e não voltaram a adquirir a resistência inicial. Os estudos realizados demonstraram que os micro- e nanoplásticos de poliestireno provocam alterações no comportamento e viabilidade de células A549 e Caco-2, para as concentrações estudadas. Futuramente, serão realizados mais ensaios, incluindo uma análise metabolómica, estudos enzimáticos, como a fosfatase e estudos eletrofisiológicos mais detalhados. Adicionalmente estão a ser considerados ensaios com longos períodos de exposição aos MNPs e outros tipos de plásticos.
publishDate 2023
dc.date.none.fl_str_mv 2023-07-17
2023-07-17T00:00:00Z
2024-07-17T00:00:00Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10400.1/20062
TID:203343212
url http://hdl.handle.net/10400.1/20062
identifier_str_mv TID:203343212
dc.language.iso.fl_str_mv eng
language eng
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/embargoedAccess
eu_rights_str_mv embargoedAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799133622537551872