Background, Jogo e Educação

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Eiró-Gomes, Mafalda
Data de Publicação: 2013
Outros Autores: Proença, João Tiago
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: https://doi.org/10.34624/sopcom.v0i0.15421
Resumo: Na sua hipótese do background, John Searle desenvolve uma teoria implícita da educação. Não se trata, para Searle de moldar, por via de regras inculcadas do exterior, uma atitude que se operacionalize em atos explícitos de  aplicação tais regras. Pelo contrário, este modelo não dá conta do que realmente se passa, uma vez que as regras não são, por definição, self interpreting nem são exaustivas. Ora, tal significa não são elas que dão um sentido – circunscrito previamente – à ação; assim o background tem de ser pensado como estando presente impercetivelmente em todos os estados intencionais, sendo assim a condição de possibilidade quer da interpretação linguística, quer da ação. Os exemplos de background aduzidos por Searle são sempre exemplos de uma aprendizagem que acaba por se fundir progressivamente na própria ação e interpretação. Neste processo, quem aprende integra a prática exterior – que pode ser uma prática linguística – até se sentir à vontade na prática, num automatismo quase animal. Visto da perspetiva do chamado maravilhoso infantil, vê-se que o seu desvanecimento, a educação, decorre de uma integração de uma exterioridade partilhada, comum,  linguística, descentrando assim a fantasia da omnipotência infantil, inerente ao maravilhoso infantil, e possibilitando relações intersubjetivas de reconhecimento recíproco. Deste modo, a fixação de um background cultural mínimo que fixa uma forma de experiência, isto é, expectativas de comportamento social minimamente estabilizadas, tem a sua relevância mais do que em meras atualizações episódicas naquilo que Searle designa por categorias dramáticas. Por outras palavras, em séries temporalmente extensas de experiências que só são possíveis em ações socialmente concertadas. Neste sentido, o jogo e a compulsão à repetição própria das crianças, em que desde sempre se reparou, é um modo espontâneo de autoeducação, na medida em que visam a criação de um background, em particular os jogos coletivos que constituem uma prefiguração das categorias dramáticas. O jogo infantil, em que a própria obrigação de agir de acordo com regras prévias é negociada entre as crianças, perfila-se deste modo como o elemento autodestrutivo, mas necessário, da própria infância.
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