A Casa da Cabeça de Cavalo de Teolinda Gersão : escrever histórias, reescrever a História, como forma de estar na História

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Tavares, Maria Teresa Peixoto Braga de Almeida
Data de Publicação: 2000
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10216/14747
Resumo: A cabeça de cavalo fixada na parede da casa a que deu o nome poderá não ser um objecto ornamental, mas fazer parte de um cavalo fantástico que a habite. Esta hesitação introduz o elemento fantástico que a habite. Esta hesitação introduz o elemento fantástico numa obra que, apesar da sua heterogeneidade, característica dos tempos em que viu a luz, apresenta uma indissolúvel unidade. No ínicio da narração, a Casa da Cabeça de Cavalo, fechada há muito tempo, é habitada por um grupo de espectros que ocupam o seu tempo realizando os gestos habituais da sua vivência terrena, conversando e contando histórias. Vir-se-á a saber que o facto de contar histórias em catadupa é, afinal, uma estratégia através da qual, à semelhança de Xerazade, os habitantes invísiveis da Casa procuram manter-se num estádio intermédio da morte, resistindo, desta forma, à passagem para o estádio seguinte, como todos os mistérios, assustador. De entre as múltiplas histórias contadas, destacam-se as que se relacionam com duas gerações dos seus antepassados do século XIX, de teor sentimental e aventuroso. A primeira tem como pano de fundo, grosso modo, a época da primeira invasão francesa e a outra situa-se essencialmente a partir da Convenção de Évora Monte. O elemento histórico marca, assim, a sua presença, tornando-se a reconstituição da primeira das épocas referidas o pretexto para o questionamento da forma tradicional de tratar a História, pondo em causa não só a fidegnidade das fontes históricas, como das versões oficiais da história dos vencedores e recusando qualquer nostalgia relativamente ao passado. Falar do passado equivale, portanto, a intervir no presente e apontar para o futuro, isto é, a ter voz na História.
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