A utilização dos dados históricos no estudo das cheias do Tejo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: M. Azevedo, M. Teresa
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://www.apeq.pt/ojs/index.php/apeq/article/view/148
Resumo: No intuito de colmatar a deficiência de informação hidrológica para o estudo das cheias do Tejo, realizou-se pesquisa histórica intensiva bem como observações de campo e cartográficas detalhadas.Ao longo desta pesquisa tornaram-se claras, não só as variações de percurso do rio, mas também a migração das suas barras e a modificação na própria tipologia, passando ao longo dos últimos séculos de um sistema «braided» de múltiplos canais separados por extensas barras arenosas a um rio de canal único de barras alternadas.A actividade antrópica foi a principal responsável por esta modificação, muitas vezes causada apenas por interesses e ambições pessoais, como é o caso dos «acrescidos», autênticas colagens das barras ou mouchões às margens por colmatação dos canais, realizadas pelos proprietários ribeirinhos, como objectivo de aumentarem as suas terras de cultivo. Esta prática foi proibida em finais do século XVIII. Outras vezes, grandes obras de engenharia destinadas a tornarem o rio mais navegável e menos perigoso, já que ocorriam numerosos naufrágios com lamentáveis perdas de vidas, eram as responsáveis pelas mudanças citadas.No entanto, o caso mais surpreendente é aquele em que o Príncipe D. Luis solicitou a seu irmão, o rei D. João III, a mudança do percurso do Tejo de I km mais para norte, num troço rectilineo de 10 km de comprimento, entre Tancos e Chamusca, devido aos prejuízos causados pelo manto de areias que todos os anos cobria, um pouco mais, as suas terras de cultivo.Essa mudança foi autorizada e novo canal foi aberto ao mesmo tempo que o Velho Tejo era entulhado com pedras e areia. O rio não aceitou, porém, o novo traçado e em poucos anos um outro canal, agora bastante sinuoso e passando junto à Quinta da Cardiga foi naturalmente aberto, erodindo rapidamenteas terras de cultivo dos monges da Ordem do Templo.Este episódio, relatado pelo historiador Alves Dias em 1984, é aqui apresentado, dando-se especial ênfase aos relatos das testemunhas, os quais são transcritos no português do século XVIII, no intuito de encontrar uma hipótese explicativa para a migração lateral do rio e respectiva erosão acelerada.
id RCAP_752a0fd186d748903d9aab632f0b6244
oai_identifier_str oai:ojs.apeq.pt:article/148
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling A utilização dos dados históricos no estudo das cheias do TejoNo intuito de colmatar a deficiência de informação hidrológica para o estudo das cheias do Tejo, realizou-se pesquisa histórica intensiva bem como observações de campo e cartográficas detalhadas.Ao longo desta pesquisa tornaram-se claras, não só as variações de percurso do rio, mas também a migração das suas barras e a modificação na própria tipologia, passando ao longo dos últimos séculos de um sistema «braided» de múltiplos canais separados por extensas barras arenosas a um rio de canal único de barras alternadas.A actividade antrópica foi a principal responsável por esta modificação, muitas vezes causada apenas por interesses e ambições pessoais, como é o caso dos «acrescidos», autênticas colagens das barras ou mouchões às margens por colmatação dos canais, realizadas pelos proprietários ribeirinhos, como objectivo de aumentarem as suas terras de cultivo. Esta prática foi proibida em finais do século XVIII. Outras vezes, grandes obras de engenharia destinadas a tornarem o rio mais navegável e menos perigoso, já que ocorriam numerosos naufrágios com lamentáveis perdas de vidas, eram as responsáveis pelas mudanças citadas.No entanto, o caso mais surpreendente é aquele em que o Príncipe D. Luis solicitou a seu irmão, o rei D. João III, a mudança do percurso do Tejo de I km mais para norte, num troço rectilineo de 10 km de comprimento, entre Tancos e Chamusca, devido aos prejuízos causados pelo manto de areias que todos os anos cobria, um pouco mais, as suas terras de cultivo.Essa mudança foi autorizada e novo canal foi aberto ao mesmo tempo que o Velho Tejo era entulhado com pedras e areia. O rio não aceitou, porém, o novo traçado e em poucos anos um outro canal, agora bastante sinuoso e passando junto à Quinta da Cardiga foi naturalmente aberto, erodindo rapidamenteas terras de cultivo dos monges da Ordem do Templo.Este episódio, relatado pelo historiador Alves Dias em 1984, é aqui apresentado, dando-se especial ênfase aos relatos das testemunhas, os quais são transcritos no português do século XVIII, no intuito de encontrar uma hipótese explicativa para a migração lateral do rio e respectiva erosão acelerada.Estudos do Quaternário / Quaternary Studies2014-07-05info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://www.apeq.pt/ojs/index.php/apeq/article/view/148Estudos do Quaternário / Quaternary Studies; n. 4reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAPporhttp://www.apeq.pt/ojs/index.php/apeq/article/view/148http://www.apeq.pt/ojs/index.php/apeq/article/view/148/151M. Azevedo, M. Teresainfo:eu-repo/semantics/openAccess2024-01-26T11:46:22Zoai:ojs.apeq.pt:article/148Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T01:57:41.307172Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv A utilização dos dados históricos no estudo das cheias do Tejo
title A utilização dos dados históricos no estudo das cheias do Tejo
spellingShingle A utilização dos dados históricos no estudo das cheias do Tejo
M. Azevedo, M. Teresa
title_short A utilização dos dados históricos no estudo das cheias do Tejo
title_full A utilização dos dados históricos no estudo das cheias do Tejo
title_fullStr A utilização dos dados históricos no estudo das cheias do Tejo
title_full_unstemmed A utilização dos dados históricos no estudo das cheias do Tejo
title_sort A utilização dos dados históricos no estudo das cheias do Tejo
author M. Azevedo, M. Teresa
author_facet M. Azevedo, M. Teresa
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv M. Azevedo, M. Teresa
description No intuito de colmatar a deficiência de informação hidrológica para o estudo das cheias do Tejo, realizou-se pesquisa histórica intensiva bem como observações de campo e cartográficas detalhadas.Ao longo desta pesquisa tornaram-se claras, não só as variações de percurso do rio, mas também a migração das suas barras e a modificação na própria tipologia, passando ao longo dos últimos séculos de um sistema «braided» de múltiplos canais separados por extensas barras arenosas a um rio de canal único de barras alternadas.A actividade antrópica foi a principal responsável por esta modificação, muitas vezes causada apenas por interesses e ambições pessoais, como é o caso dos «acrescidos», autênticas colagens das barras ou mouchões às margens por colmatação dos canais, realizadas pelos proprietários ribeirinhos, como objectivo de aumentarem as suas terras de cultivo. Esta prática foi proibida em finais do século XVIII. Outras vezes, grandes obras de engenharia destinadas a tornarem o rio mais navegável e menos perigoso, já que ocorriam numerosos naufrágios com lamentáveis perdas de vidas, eram as responsáveis pelas mudanças citadas.No entanto, o caso mais surpreendente é aquele em que o Príncipe D. Luis solicitou a seu irmão, o rei D. João III, a mudança do percurso do Tejo de I km mais para norte, num troço rectilineo de 10 km de comprimento, entre Tancos e Chamusca, devido aos prejuízos causados pelo manto de areias que todos os anos cobria, um pouco mais, as suas terras de cultivo.Essa mudança foi autorizada e novo canal foi aberto ao mesmo tempo que o Velho Tejo era entulhado com pedras e areia. O rio não aceitou, porém, o novo traçado e em poucos anos um outro canal, agora bastante sinuoso e passando junto à Quinta da Cardiga foi naturalmente aberto, erodindo rapidamenteas terras de cultivo dos monges da Ordem do Templo.Este episódio, relatado pelo historiador Alves Dias em 1984, é aqui apresentado, dando-se especial ênfase aos relatos das testemunhas, os quais são transcritos no português do século XVIII, no intuito de encontrar uma hipótese explicativa para a migração lateral do rio e respectiva erosão acelerada.
publishDate 2014
dc.date.none.fl_str_mv 2014-07-05
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://www.apeq.pt/ojs/index.php/apeq/article/view/148
url http://www.apeq.pt/ojs/index.php/apeq/article/view/148
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv http://www.apeq.pt/ojs/index.php/apeq/article/view/148
http://www.apeq.pt/ojs/index.php/apeq/article/view/148/151
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Estudos do Quaternário / Quaternary Studies
publisher.none.fl_str_mv Estudos do Quaternário / Quaternary Studies
dc.source.none.fl_str_mv Estudos do Quaternário / Quaternary Studies; n. 4
reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799137062911213568