The impact of the Yellow-legged gull Larus michahellis on the biota of their nesting dune habitats of Ria Formosa

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Portela, Diogo Filipe Gonçalves
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: eng
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.1/19104
Resumo: O aumento da população mundial e consequente urbanização levaram a uma progressão da redução e fragmentação dos habitats naturais devido aos impactos das pressões antropogénicas nos ecossistemas, sendo que as aves marinhas foram um dos grupos mais afetados. As aves marinhas são um grupo de aves que têm vindo a diminuir drasticamente ao longo dos últimos anos, nomeadamente devido a atividades humanas, como a sobrepesca com o uso de redes de emalhar e a poluição dos oceanos, e também pelo aumento das alterações climáticas. No entanto, alguns grupos de aves marinhas têm vindo a aumentar exponencialmente ao longo dos anos, nomeadamente os membros pertencentes à família Laridae, família esta que inclui as gaivotas, devido ao facto de apresentarem uma dieta plástica e de terem adaptado as suas atividades com o ambiente urbano. Dentro das espécies que mais tem aumentado nesta família destaca-se a Gaivota-de-patas-amarelas Larus michahellis. A Gaivota-de-patas-amarelas é uma ave marinha oportunista, de grande porte e de hábitos diurnos que apresenta uma grande área de dispersão e tem vindo a aumentar exponencialmente durante as últimas décadas na América do Norte e na Europa, especialmente no Mediterrâneo, onde a maior parte das áreas costeiras estão dominadas por esta espécie. Os maiores núcleos desta espécie na Europa são nas Ilhas Marseille em França, no Arquipélago Baleárico em Espanha e na Ilha da Berlenga em Portugal. A consequente adaptação destas ao meio urbano fez com que tomassem proveito de infraestruturas humanas para nidificarem nas grandes cidades, e de fontes externas de alimentação, nomeadamente de descargas de peixe em portos de pesca ou de lixo existente nas lixeiras ou nos esgotos, diminuindo assim o esforço de procura de alimento para as crias e aumentando assim a taxa de sucesso reprodutor. No entanto, o aumento das populações urbanas de Gaivotas-de-patas-amarelas começaram a provocar interações negativas com outras espécies de fauna e de flora em habitats adjacentes ao meio urbano, e a um aumento dos conflitos com o homem devido ao seu comportamento agressivo durante a época de nidificação, barulho e lixo que provocam nos meio urbanos. Além disso, sendo espécies generalistas e fenotipicamente maiores, provocam impactos negativos e danos em outras populações de aves simpátricas, predando os ovos ou competindo por melhores locais de nidificação, sendo que também afetam a vegetação e as espécies florísticas nos locais onde formam grandes colónias nidificantes, pelo aumento excessivo de nutrientes no solo, pela introdução de sementes de espécies invasoras ou pela deposição de metais pesados nos solos. No geral, devido ao grande aumento desta espécie e devido ao seu comportamento agressivo e impactos que podem provocar nos seus habitats, são consideradas como uma peste e um grande problema ecológico. No presente estudo, foram analisados os efeitos de uma colónia antiga e de duas mais recentes de Gaivotas-de-patas-amarelas na cobertura vegetal de diferentes tipos de vegetação (total, viva alta/baixa e morta alta/baixa) e nas espécies de plantas nos habitats de dunas cinzentas na Ria Formosa, nomeadamente nas Ilhas Deserta e Culatra. Quadrados de vegetação foram usados para recolher dados sobre a cobertura de vegetação em áreas com e sem gaivotas a nidificar. Paronychia argentea, Helichrysum italicum, Thymus carnosus, Suaeda maritima e Malcolmia littorea foram as espécies vegetais mais significativas encontradas em ambas as áreas. Análises com recurso a Modelos Lineares Generalizados (GLM) foram usados para avaliar os efeitos do local das colónias de Gaivotas-de-patas-amarelas, da época e da sua interação nos diferentes tipos de vegetação e espécies. Além disso, foram avaliados os efeitos potenciais desta mesma espécie nas taxas de sucesso reprodutor de duas espécies de aves marinhas migradoras que nidificam no mesmo habitat, a Gaivota-de-Audouin Ichtyaetus audouinii e a Andorinha-do-mar-anã Sternula albifrons. Para a primeira espécie, três subcolónias diferindo em cobertura de vegetação e presença de Gaivotas-de-patas-amarelas a nidificar (uma zona com vegetação alta e uma com vegetação baixa de controlo e uma de vegetação alta com confluência por parte das patas-amarelas) foram escolhidas e foram acompanhadas desde o início da época de nidificação, sendo que na subcolónia dominada por vegetação mais alta e com Gaivotas-de-patas-amarelas a nidificar em conjunto com as Audouin, foi montado um abrigo para observar possíveis interações entre as duas espécies: 1) Cleptoparasitismo, 2) Ataques aéreos e contra-ataques, 3) Intrusão nos ninhos, 4) Predação dos ovos e 5) Predação das crias. Os ninhos foram devidamente marcados com estacas numeradas, os ovos medidos com o auxílio de uma craveira e depois a primeira cria de cada ninho foi acompanhada durante cinco dias, tendo sido tirado o peso em cada dia para depois aplicar-se um modelo de regressão quadrático a cada uma das crias de modo a medir a sua taxa de crescimento nesta fase do ciclo de vida. Para as andorinhas-do-mar, câmaras de foto-armadilhagem foram colocadas em locais estratégicos perto dos ninhos das mesmas em duas colónias independentes, Fuseta e Barrinha, Praia de Faro, que também foram acompanhadas desde o início da época de nidificação, de modo a observar possíveis interações entre ambas as espécies. Os resultados obtidos mostraram que as Gaivotas-de-patas-amarelas afetavam negativamente a percentagem de cobertura vegetal de quase todos os tipos de vegetação nas áreas onde nidificam e induziam o crescimento e o aparecimento de espécies ruderais e gramíneas, tais como a Malcolmia littorea ou a Paronychia argentea, e que este efeito era mais evidente na colónia mais antiga localizada na Ilha Deserta, mostrando o papel de modificador ecológico das mesmas nas áreas onde se estabelecem. Nas andorinhas-do-mar-anãs, não foi possível determinar um efeito negativo da Gaivota-de-patas-amarelas. Por outro lado, as baixas interações, nomeadamente de predação de ovos e crias, registadas a partir do abrigo mostraram que as Gaivotas-de-patas-amarelas não representavam uma ameaça para a subcolónia de Gaivotas-de-Audouin, mas podem representar para colónias em áreas com pouca cobertura de vegetação, uma vez que as crias estavam mais expostas a potenciais predadores devido à falta de cobertura de vegetação, refletindo isso em taxas de crescimento mais reduzidas na área com pouca cobertura de vegetação, mostrando que a densidade da vegetação em torno dos ninhos tem um papel importante para a sobrevivência das crias de gaivotas que nidificam no solo.
id RCAP_76ace6865f5e4740c8033c55826242c1
oai_identifier_str oai:sapientia.ualg.pt:10400.1/19104
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling The impact of the Yellow-legged gull Larus michahellis on the biota of their nesting dune habitats of Ria FormosaEspécies ruderais e gramíneasGaivota-de-patas-amarelasColóniasDomínio/Área Científica::Ciências Naturais::Outras Ciências NaturaisO aumento da população mundial e consequente urbanização levaram a uma progressão da redução e fragmentação dos habitats naturais devido aos impactos das pressões antropogénicas nos ecossistemas, sendo que as aves marinhas foram um dos grupos mais afetados. As aves marinhas são um grupo de aves que têm vindo a diminuir drasticamente ao longo dos últimos anos, nomeadamente devido a atividades humanas, como a sobrepesca com o uso de redes de emalhar e a poluição dos oceanos, e também pelo aumento das alterações climáticas. No entanto, alguns grupos de aves marinhas têm vindo a aumentar exponencialmente ao longo dos anos, nomeadamente os membros pertencentes à família Laridae, família esta que inclui as gaivotas, devido ao facto de apresentarem uma dieta plástica e de terem adaptado as suas atividades com o ambiente urbano. Dentro das espécies que mais tem aumentado nesta família destaca-se a Gaivota-de-patas-amarelas Larus michahellis. A Gaivota-de-patas-amarelas é uma ave marinha oportunista, de grande porte e de hábitos diurnos que apresenta uma grande área de dispersão e tem vindo a aumentar exponencialmente durante as últimas décadas na América do Norte e na Europa, especialmente no Mediterrâneo, onde a maior parte das áreas costeiras estão dominadas por esta espécie. Os maiores núcleos desta espécie na Europa são nas Ilhas Marseille em França, no Arquipélago Baleárico em Espanha e na Ilha da Berlenga em Portugal. A consequente adaptação destas ao meio urbano fez com que tomassem proveito de infraestruturas humanas para nidificarem nas grandes cidades, e de fontes externas de alimentação, nomeadamente de descargas de peixe em portos de pesca ou de lixo existente nas lixeiras ou nos esgotos, diminuindo assim o esforço de procura de alimento para as crias e aumentando assim a taxa de sucesso reprodutor. No entanto, o aumento das populações urbanas de Gaivotas-de-patas-amarelas começaram a provocar interações negativas com outras espécies de fauna e de flora em habitats adjacentes ao meio urbano, e a um aumento dos conflitos com o homem devido ao seu comportamento agressivo durante a época de nidificação, barulho e lixo que provocam nos meio urbanos. Além disso, sendo espécies generalistas e fenotipicamente maiores, provocam impactos negativos e danos em outras populações de aves simpátricas, predando os ovos ou competindo por melhores locais de nidificação, sendo que também afetam a vegetação e as espécies florísticas nos locais onde formam grandes colónias nidificantes, pelo aumento excessivo de nutrientes no solo, pela introdução de sementes de espécies invasoras ou pela deposição de metais pesados nos solos. No geral, devido ao grande aumento desta espécie e devido ao seu comportamento agressivo e impactos que podem provocar nos seus habitats, são consideradas como uma peste e um grande problema ecológico. No presente estudo, foram analisados os efeitos de uma colónia antiga e de duas mais recentes de Gaivotas-de-patas-amarelas na cobertura vegetal de diferentes tipos de vegetação (total, viva alta/baixa e morta alta/baixa) e nas espécies de plantas nos habitats de dunas cinzentas na Ria Formosa, nomeadamente nas Ilhas Deserta e Culatra. Quadrados de vegetação foram usados para recolher dados sobre a cobertura de vegetação em áreas com e sem gaivotas a nidificar. Paronychia argentea, Helichrysum italicum, Thymus carnosus, Suaeda maritima e Malcolmia littorea foram as espécies vegetais mais significativas encontradas em ambas as áreas. Análises com recurso a Modelos Lineares Generalizados (GLM) foram usados para avaliar os efeitos do local das colónias de Gaivotas-de-patas-amarelas, da época e da sua interação nos diferentes tipos de vegetação e espécies. Além disso, foram avaliados os efeitos potenciais desta mesma espécie nas taxas de sucesso reprodutor de duas espécies de aves marinhas migradoras que nidificam no mesmo habitat, a Gaivota-de-Audouin Ichtyaetus audouinii e a Andorinha-do-mar-anã Sternula albifrons. Para a primeira espécie, três subcolónias diferindo em cobertura de vegetação e presença de Gaivotas-de-patas-amarelas a nidificar (uma zona com vegetação alta e uma com vegetação baixa de controlo e uma de vegetação alta com confluência por parte das patas-amarelas) foram escolhidas e foram acompanhadas desde o início da época de nidificação, sendo que na subcolónia dominada por vegetação mais alta e com Gaivotas-de-patas-amarelas a nidificar em conjunto com as Audouin, foi montado um abrigo para observar possíveis interações entre as duas espécies: 1) Cleptoparasitismo, 2) Ataques aéreos e contra-ataques, 3) Intrusão nos ninhos, 4) Predação dos ovos e 5) Predação das crias. Os ninhos foram devidamente marcados com estacas numeradas, os ovos medidos com o auxílio de uma craveira e depois a primeira cria de cada ninho foi acompanhada durante cinco dias, tendo sido tirado o peso em cada dia para depois aplicar-se um modelo de regressão quadrático a cada uma das crias de modo a medir a sua taxa de crescimento nesta fase do ciclo de vida. Para as andorinhas-do-mar, câmaras de foto-armadilhagem foram colocadas em locais estratégicos perto dos ninhos das mesmas em duas colónias independentes, Fuseta e Barrinha, Praia de Faro, que também foram acompanhadas desde o início da época de nidificação, de modo a observar possíveis interações entre ambas as espécies. Os resultados obtidos mostraram que as Gaivotas-de-patas-amarelas afetavam negativamente a percentagem de cobertura vegetal de quase todos os tipos de vegetação nas áreas onde nidificam e induziam o crescimento e o aparecimento de espécies ruderais e gramíneas, tais como a Malcolmia littorea ou a Paronychia argentea, e que este efeito era mais evidente na colónia mais antiga localizada na Ilha Deserta, mostrando o papel de modificador ecológico das mesmas nas áreas onde se estabelecem. Nas andorinhas-do-mar-anãs, não foi possível determinar um efeito negativo da Gaivota-de-patas-amarelas. Por outro lado, as baixas interações, nomeadamente de predação de ovos e crias, registadas a partir do abrigo mostraram que as Gaivotas-de-patas-amarelas não representavam uma ameaça para a subcolónia de Gaivotas-de-Audouin, mas podem representar para colónias em áreas com pouca cobertura de vegetação, uma vez que as crias estavam mais expostas a potenciais predadores devido à falta de cobertura de vegetação, refletindo isso em taxas de crescimento mais reduzidas na área com pouca cobertura de vegetação, mostrando que a densidade da vegetação em torno dos ninhos tem um papel importante para a sobrevivência das crias de gaivotas que nidificam no solo.The Yellow-legged gull Larus michahellis is a well-studied seabird that has been increasing exponentially across the Europe and North America, especially on the Mediterranean region, over the last decades. Due to its aggressive and sedentary behaviour, its abundance and ecological role on their habitats, they can be considered as a threat to local fauna and flora. In this study, it was evaluated the effects of old and recent resident Yellow-legged gull populations on the grey dune vegetation and plant species percentage cover on different colonies and seasons, as well as the effects on the breeding success of two migratory sympatric seabirds, Audouin gull Ichthyaetus audouinii and Little tern Sternula albifrons, on the Ria Formosa Barrier Islands (Deserta and Culatra Islands). Sampling squares were used to measure the percentage cover in areas with and without breeding gulls. Paronychia argentea, Helichrysum italicum, Thymus carnosus, Suaeda maritima and Malcolmia littorea were the most significant species found on both areas. GLM analysis was used to assess the effects of the Yellow-legged gull on the types of vegetation and plant species. In addition, three sub-colonies of Audouin gull differing in vegetation cover were monitored and a hide was erected in an area with tall vegetation and nearby nesting Yellow-legged gulls. Camera traps were placed in strategic places in two different colonies of Little terns to record interactions between both species, but without success. Results showed that Yellow-legged gulls affected the vegetation cover of most types of vegetation on their breeding grounds and induced the growth of ruderal and graminoid plant species, like Malcolmia littorea. Interactions recorded from the hide showed that Yellow-legged gulls do not pose a significant threat on the defined sub-colony of Audouin gulls but could be a potential threat in the areas with low vegetation cover, where chicks may not hide efficiently and be predated by Yellow-legged gulls.Ramos, JaimeSerrão, EsterSapientiaPortela, Diogo Filipe Gonçalves2023-02-16T14:02:48Z2022-11-302022-11-30T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.1/19104TID:203229398enginfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-07-24T10:31:31Zoai:sapientia.ualg.pt:10400.1/19104Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T20:08:46.178768Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv The impact of the Yellow-legged gull Larus michahellis on the biota of their nesting dune habitats of Ria Formosa
title The impact of the Yellow-legged gull Larus michahellis on the biota of their nesting dune habitats of Ria Formosa
spellingShingle The impact of the Yellow-legged gull Larus michahellis on the biota of their nesting dune habitats of Ria Formosa
Portela, Diogo Filipe Gonçalves
Espécies ruderais e gramíneas
Gaivota-de-patas-amarelas
Colónias
Domínio/Área Científica::Ciências Naturais::Outras Ciências Naturais
title_short The impact of the Yellow-legged gull Larus michahellis on the biota of their nesting dune habitats of Ria Formosa
title_full The impact of the Yellow-legged gull Larus michahellis on the biota of their nesting dune habitats of Ria Formosa
title_fullStr The impact of the Yellow-legged gull Larus michahellis on the biota of their nesting dune habitats of Ria Formosa
title_full_unstemmed The impact of the Yellow-legged gull Larus michahellis on the biota of their nesting dune habitats of Ria Formosa
title_sort The impact of the Yellow-legged gull Larus michahellis on the biota of their nesting dune habitats of Ria Formosa
author Portela, Diogo Filipe Gonçalves
author_facet Portela, Diogo Filipe Gonçalves
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Ramos, Jaime
Serrão, Ester
Sapientia
dc.contributor.author.fl_str_mv Portela, Diogo Filipe Gonçalves
dc.subject.por.fl_str_mv Espécies ruderais e gramíneas
Gaivota-de-patas-amarelas
Colónias
Domínio/Área Científica::Ciências Naturais::Outras Ciências Naturais
topic Espécies ruderais e gramíneas
Gaivota-de-patas-amarelas
Colónias
Domínio/Área Científica::Ciências Naturais::Outras Ciências Naturais
description O aumento da população mundial e consequente urbanização levaram a uma progressão da redução e fragmentação dos habitats naturais devido aos impactos das pressões antropogénicas nos ecossistemas, sendo que as aves marinhas foram um dos grupos mais afetados. As aves marinhas são um grupo de aves que têm vindo a diminuir drasticamente ao longo dos últimos anos, nomeadamente devido a atividades humanas, como a sobrepesca com o uso de redes de emalhar e a poluição dos oceanos, e também pelo aumento das alterações climáticas. No entanto, alguns grupos de aves marinhas têm vindo a aumentar exponencialmente ao longo dos anos, nomeadamente os membros pertencentes à família Laridae, família esta que inclui as gaivotas, devido ao facto de apresentarem uma dieta plástica e de terem adaptado as suas atividades com o ambiente urbano. Dentro das espécies que mais tem aumentado nesta família destaca-se a Gaivota-de-patas-amarelas Larus michahellis. A Gaivota-de-patas-amarelas é uma ave marinha oportunista, de grande porte e de hábitos diurnos que apresenta uma grande área de dispersão e tem vindo a aumentar exponencialmente durante as últimas décadas na América do Norte e na Europa, especialmente no Mediterrâneo, onde a maior parte das áreas costeiras estão dominadas por esta espécie. Os maiores núcleos desta espécie na Europa são nas Ilhas Marseille em França, no Arquipélago Baleárico em Espanha e na Ilha da Berlenga em Portugal. A consequente adaptação destas ao meio urbano fez com que tomassem proveito de infraestruturas humanas para nidificarem nas grandes cidades, e de fontes externas de alimentação, nomeadamente de descargas de peixe em portos de pesca ou de lixo existente nas lixeiras ou nos esgotos, diminuindo assim o esforço de procura de alimento para as crias e aumentando assim a taxa de sucesso reprodutor. No entanto, o aumento das populações urbanas de Gaivotas-de-patas-amarelas começaram a provocar interações negativas com outras espécies de fauna e de flora em habitats adjacentes ao meio urbano, e a um aumento dos conflitos com o homem devido ao seu comportamento agressivo durante a época de nidificação, barulho e lixo que provocam nos meio urbanos. Além disso, sendo espécies generalistas e fenotipicamente maiores, provocam impactos negativos e danos em outras populações de aves simpátricas, predando os ovos ou competindo por melhores locais de nidificação, sendo que também afetam a vegetação e as espécies florísticas nos locais onde formam grandes colónias nidificantes, pelo aumento excessivo de nutrientes no solo, pela introdução de sementes de espécies invasoras ou pela deposição de metais pesados nos solos. No geral, devido ao grande aumento desta espécie e devido ao seu comportamento agressivo e impactos que podem provocar nos seus habitats, são consideradas como uma peste e um grande problema ecológico. No presente estudo, foram analisados os efeitos de uma colónia antiga e de duas mais recentes de Gaivotas-de-patas-amarelas na cobertura vegetal de diferentes tipos de vegetação (total, viva alta/baixa e morta alta/baixa) e nas espécies de plantas nos habitats de dunas cinzentas na Ria Formosa, nomeadamente nas Ilhas Deserta e Culatra. Quadrados de vegetação foram usados para recolher dados sobre a cobertura de vegetação em áreas com e sem gaivotas a nidificar. Paronychia argentea, Helichrysum italicum, Thymus carnosus, Suaeda maritima e Malcolmia littorea foram as espécies vegetais mais significativas encontradas em ambas as áreas. Análises com recurso a Modelos Lineares Generalizados (GLM) foram usados para avaliar os efeitos do local das colónias de Gaivotas-de-patas-amarelas, da época e da sua interação nos diferentes tipos de vegetação e espécies. Além disso, foram avaliados os efeitos potenciais desta mesma espécie nas taxas de sucesso reprodutor de duas espécies de aves marinhas migradoras que nidificam no mesmo habitat, a Gaivota-de-Audouin Ichtyaetus audouinii e a Andorinha-do-mar-anã Sternula albifrons. Para a primeira espécie, três subcolónias diferindo em cobertura de vegetação e presença de Gaivotas-de-patas-amarelas a nidificar (uma zona com vegetação alta e uma com vegetação baixa de controlo e uma de vegetação alta com confluência por parte das patas-amarelas) foram escolhidas e foram acompanhadas desde o início da época de nidificação, sendo que na subcolónia dominada por vegetação mais alta e com Gaivotas-de-patas-amarelas a nidificar em conjunto com as Audouin, foi montado um abrigo para observar possíveis interações entre as duas espécies: 1) Cleptoparasitismo, 2) Ataques aéreos e contra-ataques, 3) Intrusão nos ninhos, 4) Predação dos ovos e 5) Predação das crias. Os ninhos foram devidamente marcados com estacas numeradas, os ovos medidos com o auxílio de uma craveira e depois a primeira cria de cada ninho foi acompanhada durante cinco dias, tendo sido tirado o peso em cada dia para depois aplicar-se um modelo de regressão quadrático a cada uma das crias de modo a medir a sua taxa de crescimento nesta fase do ciclo de vida. Para as andorinhas-do-mar, câmaras de foto-armadilhagem foram colocadas em locais estratégicos perto dos ninhos das mesmas em duas colónias independentes, Fuseta e Barrinha, Praia de Faro, que também foram acompanhadas desde o início da época de nidificação, de modo a observar possíveis interações entre ambas as espécies. Os resultados obtidos mostraram que as Gaivotas-de-patas-amarelas afetavam negativamente a percentagem de cobertura vegetal de quase todos os tipos de vegetação nas áreas onde nidificam e induziam o crescimento e o aparecimento de espécies ruderais e gramíneas, tais como a Malcolmia littorea ou a Paronychia argentea, e que este efeito era mais evidente na colónia mais antiga localizada na Ilha Deserta, mostrando o papel de modificador ecológico das mesmas nas áreas onde se estabelecem. Nas andorinhas-do-mar-anãs, não foi possível determinar um efeito negativo da Gaivota-de-patas-amarelas. Por outro lado, as baixas interações, nomeadamente de predação de ovos e crias, registadas a partir do abrigo mostraram que as Gaivotas-de-patas-amarelas não representavam uma ameaça para a subcolónia de Gaivotas-de-Audouin, mas podem representar para colónias em áreas com pouca cobertura de vegetação, uma vez que as crias estavam mais expostas a potenciais predadores devido à falta de cobertura de vegetação, refletindo isso em taxas de crescimento mais reduzidas na área com pouca cobertura de vegetação, mostrando que a densidade da vegetação em torno dos ninhos tem um papel importante para a sobrevivência das crias de gaivotas que nidificam no solo.
publishDate 2022
dc.date.none.fl_str_mv 2022-11-30
2022-11-30T00:00:00Z
2023-02-16T14:02:48Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10400.1/19104
TID:203229398
url http://hdl.handle.net/10400.1/19104
identifier_str_mv TID:203229398
dc.language.iso.fl_str_mv eng
language eng
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799133334366846976