{Cheios inúteis} : a imagem do vazio na cidade

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Janeiro, Pedro António Alexandre
Data de Publicação: 2009
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.5/1488
Resumo: São tão fundamentais à cidade os seus vazios como à música os seus silêncios. Uns e outros são intervalos contidos por, aparentemente, nada. Mas, se no nada, por definição, não existe nem o espaço, já os vazios na cidade – como os silêncios na música – existem enquanto esperança, enquanto possibilidades de algo ou de alguma coisa. O nada, portanto, não é um lugar; é algo que não é lugar, é algo que não é sítio, ou parte alguma. Mas, bem sabemos, o vazio não é o nada; é, isso sim, uma aparente, uma só aparente ausência. Mas uma ausência de quê? Eventualmente, uma ausência de sentido. Essa ausência, quando falamos em vazios urbanos, pode ter várias origens, é certo; porém, todos estes vazios têm uma característica em comum: todos eles são uma espécie de negação de cidade. Uma análise aos vazios, em Arquitectura, implica uma reflexão prévia acerca do como “o vazio”, lato senso, pode ser (ou vir a ser) um lugar – um lugar cheio ou um lugar potencial a partir do qual se possa pensar e fazer Arquitectura e Cidade; a partir do qual se possa requalificar a paisagem e o ambiente urbanos. Portanto, uma análise que se dirija à Arquitectura não só enquanto a arte de edificar ou a arte de traçar planos para a construção de edifícios e de espaços entre eles (caindo na incompletude do discurso do esteta), mas uma análise à Arquitectura entendendo-a como uma espécie de moldura da vida do homem em sociedade. É neste sentido, no sentido em que se admite que a Arquitectura funciona como o que está entre o homem e os cenários onde o homem pode ou não-pode interpretar os seus gestos, que podemos olhá-la, por exemplo, como representação. O artigo que apresentamos surge destas convicções e desse olhar. Falar de Arquitectura, portanto, não é (só), desde o ponto donde a olhamos, falar de um programa de necessidades humanas posto-em-forma-visível e/ou tangível. É, sobretudo, falar de habitar e da sua, por vezes, intangibilidade. É, sobretudo, admitir que a Arquitectura, mais do que o pensar e o fazer o objecto arquitectónico, é a relação entre o homem e esse objecto, é a possibilidade desse homem ser-nele: humanizando-o humanizando-se. É que: o objecto arquitectónico, como nenhum outro objecto, envolve o corpo daquele que o usa. E é ao ser usado que ele, naquilo que oferece ao seu usuário, se cumpre – provavelmente já não enquanto objecto mas como um outro corpo que envolve o meu. Digamos, por hipótese: o objecto arquitectónico só é objecto até ao instante em que somos envolvidos por ele; a partir desse momento, a partir do momento em que alguém se sinta envolvido por ele, ele passa a existir enquanto um outro corpo para além dos limites do corpo desse alguém-envolvido e, por mais paradoxal que isto nos possa parecer, esse outro corpo é uma espécie de dilatação do corpo-daquele-que-(a partir desse momento)-o-habita. Digamos, talvez abusivamente e partindo desta hipótese: no momento em que alguém se sente envolvido pelo objecto arquitectónico, há uma conversão do objecto em lugar, quer dizer, há uma conversão do objecto em intervalo corporal. Há, portanto – a partir desse instante –, Arquitectura. Posto isto, resta apurar como é que nos vazios urbanos pode haver esse envolvimento e essa conversão em lugares; não resvalando, com o intuito de definir vazios úteis, para a conceptualização e a construção de cheios inúteis.
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