A Nosemose em Portugal

• Autor(a) principal: Russo-Almeida, P
• Data de Publicação: 2014
• Outros Autores: Pires, S, Murilhas, A, Valério, M
• Tipo de documento: Artigo de conferência
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/10174/13417

A mortalidade de colónias ocorrida no inverno de 2006 nos EUA e as réplicas que se seguiram, dado o contexto atual, a dimensão, a sintomatologia distinta e os ecos um pouco por todo o mundo de relatos de mortalidade idênticos, despertaram a humanidade para o risco do desaparecimento das abelhas. O fenómeno ficou conhecido por “Síndrome de Despovoamento de Colónias” (SDC), uma vez que as colónias mantinham as suas características mas as abelhas desapareciam. Entre várias causas apontadas, uma mereceu especial destaque, o microsporídio N. ceranae (Nc), presumivelmente recém-introduzido e com características mais agressivas que o Nosema apis (Na), até então único causador da Nosemose no ocidente. A realização do presente estudo, com duração de 3 anos, financiado pelo Programa Apícola Nacional, teve como pressuposto essa hipótese e visou conhecer a realidade portuguesa quanto ao agente em causa. Com o intuito de avaliar o panorama nacional quanto à eventual mortalidade anormal de colónias que configurasse uma situação de SDC, foi iniciado o estudo em 2011, com a realização de 662 entrevistas telefónicas a apicultores registados (± 4% do total nacional), selecionados em todo o país pelo número total de colónias e pela distribuição geográfica dos seus apiários. A entrevista seguiu o modelo de inquérito “Coloss”. Na sequência das entrevistas, foram escolhidos um total de 227 apiários (± 3 por município), representando toda a parte continental do país, para se proceder à recolha de abelhas forrageiras à entrada das colmeias nos dois anos seguintes, uma no período outonal e outra no período primaveril. A deteção e quantificação dos esporos de Nosema baseou-se no método indicado pela OIE. Uma alíquota do macerado de abdómenes de 60 abelhas de cada apiário foi objeto de análise microscópica em câmara de Neubauer, ao que se seguiu uma análise molecular baseada na PCR. O objetivo foi identificar a espécie de Nosema presente, conforme publicado recentemente no ' BEEBOOK '. Adicionalmente, avaliou-se o potencial de mitigação dos efeitos da nosemose pela uso de dois produtos comerciais, designadamente o 'VitaFeed Gold' e o 'ApiHerb'. Do resultado das entrevistas foi possível obter uma estimativa da caracterização da apicultura nacional quanto aos aspetos focados no inquérito e concluir que a mortalidade de colónias não foi tão elevada como o reportado noutros países. O nível de infestação médio para os dois períodos de amostragem foi de 750 mil esporos por abelha. A espécie N. ceranae foi a única identificada, com uma prevalência média de 51% nos apiários estudados em todo o país e nos dois períodos de amostragem, variando entre 12% no distrito de Lisboa e 89% no distrito de Aveiro. Apesar de ser visível uma variação considerável nos níveis de prevalência entre distritos, não foi possível estabelecer tendências ou padrões geográficos no que diz respeito à relação transectos norte/sul, interior/litoral ou mesmo quanto à altitude dos apiários. Os resultados obtidos nos testes de campo sugerem que o 'VitaFeed Gold' contribuiu para a contenção do crescimento da carga média de esporos de Nc por abelha e para o favorecimento do crescimento populacional das colónias em que é aplicado. Nenhuma destas duas 'mais- valias' foi evidenciada em colónias que receberam o 'ApiHerb' ou pertencentes a grupos de controlo experimental, isto é, em colónias sem alimentação artificial ou em colónias alimentadas com soluções de sacarose (1:1, p/v).