Crianças na rua: infância, trajectos de vida e práticas sociais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fernandes, Sara
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.15/317
Resumo: Trata-se de uma comunicação simples, fala de gente simples que não percorre um caminho simples e para quem “o que há-de vir” não se perspectiva assim tão simples. Têm entre os seis e os dezasseis anos, e os seus percursos não são, de todo, trechos retirados dos contos de fadas que qualquer um de nós escreve para os seus filhos. Fruto de muitos estudos e investigações, reina, nos nossos dias, a teoria de que o indivíduo se desenvolve de acordo com um poder quase inverosímil de moldagem de identidade, predefinida por padrões impostos pela sociedade. Torna-se normal e apto quem obedece a um percurso linear de ascensão, e ganha direito a um rótulo de "aberração" social, todo aquele que se desvia desta norma que de uma forma normal se impõe. Noutras cidades de Portugal e do mundo chamam-lhes "meninos de rua", mas em Braga, cidade escolhida para a investigação, todos têm família, todos têm casa, mas em casa, "não se sentem em casa"... e então vêm para a rua. Reclamam para si um espaço nu, um espaço vazio, enchem-no; partilham tudo aquilo que não têm com outros que também não têm; aprendem códigos de (sobre)vivência pessoal e familiar num espaço que é no fundo o espaço de todos nós, mas que nenhum de nós reclama; dão-lhe cor, movimento, timbram-no, enchem-no. Numa dissertação em que se dá voz à(s) criança(s) em situação de risco, chocase constantemente com o adulto, com o poder público, capaz de discursos, ora de defesa e protecção à “vítima”, ora de impotência e passividade cúmplice perante o fenómeno, deixando revelar uma adaptação à fatalidade das suas causas e consequências. Num exercício académico que se foi tecendo a partir de uma partilha no terreno, crianças e eu, actores envolvidos nessa mesma partilha, ambos nos assumimos como sujeitos e objectos de um estudo, em que se à partida eu ocupava o lugar do protagonista, e eles, o dos actores convidados, à medida que o tempo ia passando, foi havendo como que uma redefinição, ou melhor, uma re-atribuição desses mesmos papéis. Sob o olhar crítico da Sociologia da Infância e partindo do contributo de uma dissertação de Mestrado pronta a apresentar em Setembro, observa-se e discursa-se o fenómeno crianças na rua, encontram-se algumas causas da sua emergência na sociedade dos nossos dias, descobre-se como se organizam estes actores nestes cenários que são os deles, percebem-se os rituais e as interacções que os mesmos protagonizam, e tentam achar-se algumas medidas de solução para um fenómeno em franca e preocupante expansão no mundo. - This is a simple communication, talking about simple people who are not taking a simple path and for who “Let’s see what happens” is not such a simple perspective. They are not adults; they are children, teenagers and youths. They are between six and ten, twelve years old and their paths are not paved with the fairy tales any one of us would write for our children. Nowadays, as a result of many studies and much research, the theory reigns that the individual develops in accordance with an almost improbable power moulding identity, predefined by standards imposed by society. Whoever follows this linear path of ascension is treated as normal and apt, while who ever deviates from this formal norm earns the right to a label of social “aberration. In other cities in Portugal and the world they are called “street kids”, but in Braga, the city under investigation, they all have a family; they all have a house, but in the house “they do not feel at home”… and so go to the street. They complain of a barren space, an empty space that they want to fill; sharing everything they do not have with others who do not have; they learn codes of personal and family survival in a space which is everybody’s space, but which none of us want; they give it colour, movement, personalising it, and filling it. In a dissertation, which gives a voice to the children at risk, it is a constant shock as an adult, that public powers, capable of speeches defending and protecting the victim, are impotent and passive accomplices in the phenomenon, revealing a fatalistic adaptation to its causes and consequences. In an academic exercise in which children and I were interwoven in an area of land, with both parties taking on the role of subjects and objects of study, in which from the start I occupied the position of protagonist, and they, the invited actors, with the passing of time, would be able to redefine or better still re-attribute the same roles. Under the critical eye of Child Sociology the phenomenon of street kids is observed and discussed and some of the causes of this emergency in our modern day society have been found. How these players are organised in these scenarios is discovered, while the rituals and interactions of the same are understood. Furthermore, there is an attempt to suggest some measures to resolve a phenomenon that is worryingly expanding worldwide.
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Noutras cidades de Portugal e do mundo chamam-lhes "meninos de rua", mas em Braga, cidade escolhida para a investigação, todos têm família, todos têm casa, mas em casa, "não se sentem em casa"... e então vêm para a rua. Reclamam para si um espaço nu, um espaço vazio, enchem-no; partilham tudo aquilo que não têm com outros que também não têm; aprendem códigos de (sobre)vivência pessoal e familiar num espaço que é no fundo o espaço de todos nós, mas que nenhum de nós reclama; dão-lhe cor, movimento, timbram-no, enchem-no. Numa dissertação em que se dá voz à(s) criança(s) em situação de risco, chocase constantemente com o adulto, com o poder público, capaz de discursos, ora de defesa e protecção à “vítima”, ora de impotência e passividade cúmplice perante o fenómeno, deixando revelar uma adaptação à fatalidade das suas causas e consequências. Num exercício académico que se foi tecendo a partir de uma partilha no terreno, crianças e eu, actores envolvidos nessa mesma partilha, ambos nos assumimos como sujeitos e objectos de um estudo, em que se à partida eu ocupava o lugar do protagonista, e eles, o dos actores convidados, à medida que o tempo ia passando, foi havendo como que uma redefinição, ou melhor, uma re-atribuição desses mesmos papéis. Sob o olhar crítico da Sociologia da Infância e partindo do contributo de uma dissertação de Mestrado pronta a apresentar em Setembro, observa-se e discursa-se o fenómeno crianças na rua, encontram-se algumas causas da sua emergência na sociedade dos nossos dias, descobre-se como se organizam estes actores nestes cenários que são os deles, percebem-se os rituais e as interacções que os mesmos protagonizam, e tentam achar-se algumas medidas de solução para um fenómeno em franca e preocupante expansão no mundo. - This is a simple communication, talking about simple people who are not taking a simple path and for who “Let’s see what happens” is not such a simple perspective. They are not adults; they are children, teenagers and youths. They are between six and ten, twelve years old and their paths are not paved with the fairy tales any one of us would write for our children. Nowadays, as a result of many studies and much research, the theory reigns that the individual develops in accordance with an almost improbable power moulding identity, predefined by standards imposed by society. Whoever follows this linear path of ascension is treated as normal and apt, while who ever deviates from this formal norm earns the right to a label of social “aberration. In other cities in Portugal and the world they are called “street kids”, but in Braga, the city under investigation, they all have a family; they all have a house, but in the house “they do not feel at home”… and so go to the street. They complain of a barren space, an empty space that they want to fill; sharing everything they do not have with others who do not have; they learn codes of personal and family survival in a space which is everybody’s space, but which none of us want; they give it colour, movement, personalising it, and filling it. In a dissertation, which gives a voice to the children at risk, it is a constant shock as an adult, that public powers, capable of speeches defending and protecting the victim, are impotent and passive accomplices in the phenomenon, revealing a fatalistic adaptation to its causes and consequences. In an academic exercise in which children and I were interwoven in an area of land, with both parties taking on the role of subjects and objects of study, in which from the start I occupied the position of protagonist, and they, the invited actors, with the passing of time, would be able to redefine or better still re-attribute the same roles. Under the critical eye of Child Sociology the phenomenon of street kids is observed and discussed and some of the causes of this emergency in our modern day society have been found. How these players are organised in these scenarios is discovered, while the rituals and interactions of the same are understood. Furthermore, there is an attempt to suggest some measures to resolve a phenomenon that is worryingly expanding worldwide.Instituto Politécnico de Santarém, Escola Superior de EducaçãoRepositório Científico do Instituto Politécnico de SantarémFernandes, Sara2010-11-29T23:34:43Z20082008-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.15/317porFERNANDES, Sara - Crianças na rua: infância, trajectos de vida e práticas sociais. Revista Interacções. 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