O Papel do Vítreo na Biomecânica Ocular

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Marques, João Heitor
Data de Publicação: 2022
Outros Autores: Baptista, Pedro Manuel, Coelho, João, Menéres, Maria João, Meireles, Angelina, Melo Beirão, João
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: https://doi.org/10.48560/rspo.25884
Resumo: INTRODUÇÃO: A biomecânica ocular faz parte da fisiopatologia vítreo-retiniana, nomeadamente da tração vítreo-retiniana, rasgaduras de retina e descolamentos de retina. Os poucos estudos publicados que tentaram caracterizar a biomecânica do vítreo utilizaram métodos ex vivo em seres humanos ou in vivo em animais. O objetivo deste estudo foi analisar, in vivo, o papel do vítreo na biomecânica ocular. MATERIAL E MÉTODOS: Estudo prospetivo longitudinal que incluiu 24 doentes com indicação clínica para vitrectomia pars plana (VPP) em um dos olhos por opacidades do vítreo associadas a amiloidose hereditária por transtirretina ou por membrana epirretiniana primária. A biomecânica ocular foi analisada com o Oculus Corvis ST® uma semana antes e um mês após a cirurgia. O movimento ocular global (MOG), como medida da compressão do segmento posterior, foi analisado separadamente dos índices biomecânicos corneanos. A presença prévia de descolamento posterior do vítreo (DPV) foi analisada com tomografia de coerência ótica de campo alargado (55o). Os olhos adelfos (não-operados) foram usados como grupo de controlo. Os testes estatísticos utilizados foram não-paramétricos e o nível de significância foi definido em 5%. RESULTADOS: Após a VPP, os índices biomecânicos da córnea alteraram no sentido de um comportamento menos rígido, nomeadamente a redução do SP-A1 (p=0,009). No entanto, a pressão intraocular (PIO) também diminuiu (p=0,034). Verificou-se uma redução da distância do MOG após VPP (p=0,020). Não houve diferenças nos olhos adelfos. Numa analise transversal da visita pré-operatória, os olhos com DPV macular também apresentaram menor distância do MOG (p=0,047). Não houve diferenças relativamente ao motivo para a VPP (opacidades vítreas em 16 olhos e membrana epiretiniana em 8 olhos). CONCLUSÃO: Este estudo preliminar mostrou diferenças no movimento dinâmico do olho ao aplicar uma força externa, o que sugere que o vítreo tem um papel significativo na biomecânica ocular. Como a PIO foi mais baixa após a cirurgia, não é possível chegar a conclusões relativamente às diferenças na biomecânica corneana. O nosso achado mais importante foi a redução do MOG após VPP, o que pode estar relacionado com o segmento posterior e nomeadamente com o vítreo. Uma diminuição no MOG traduz uma redução na deflexão ântero-posterior e consequentemente uma redução na compressão do segmento posterior. A PIO mais baixa, isoladamente, iria ter o efeito oposto. Os olhos com DPV também mostraram um MOG mais reduzido. Assim, os nossos resultados mostram, pela primeira vez in vivo, que o vítreo exerce uma força centrípeta no globo ocular.
id RCAP_8c938628688e428640815c5ba0963069
oai_identifier_str oai:ojs.revistas.rcaap.pt:article/25884
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling O Papel do Vítreo na Biomecânica OcularO Papel do Vítreo na Biomecânica OcularArtigos OriginaisINTRODUÇÃO: A biomecânica ocular faz parte da fisiopatologia vítreo-retiniana, nomeadamente da tração vítreo-retiniana, rasgaduras de retina e descolamentos de retina. Os poucos estudos publicados que tentaram caracterizar a biomecânica do vítreo utilizaram métodos ex vivo em seres humanos ou in vivo em animais. O objetivo deste estudo foi analisar, in vivo, o papel do vítreo na biomecânica ocular. MATERIAL E MÉTODOS: Estudo prospetivo longitudinal que incluiu 24 doentes com indicação clínica para vitrectomia pars plana (VPP) em um dos olhos por opacidades do vítreo associadas a amiloidose hereditária por transtirretina ou por membrana epirretiniana primária. A biomecânica ocular foi analisada com o Oculus Corvis ST® uma semana antes e um mês após a cirurgia. O movimento ocular global (MOG), como medida da compressão do segmento posterior, foi analisado separadamente dos índices biomecânicos corneanos. A presença prévia de descolamento posterior do vítreo (DPV) foi analisada com tomografia de coerência ótica de campo alargado (55o). Os olhos adelfos (não-operados) foram usados como grupo de controlo. Os testes estatísticos utilizados foram não-paramétricos e o nível de significância foi definido em 5%. RESULTADOS: Após a VPP, os índices biomecânicos da córnea alteraram no sentido de um comportamento menos rígido, nomeadamente a redução do SP-A1 (p=0,009). No entanto, a pressão intraocular (PIO) também diminuiu (p=0,034). Verificou-se uma redução da distância do MOG após VPP (p=0,020). Não houve diferenças nos olhos adelfos. Numa analise transversal da visita pré-operatória, os olhos com DPV macular também apresentaram menor distância do MOG (p=0,047). Não houve diferenças relativamente ao motivo para a VPP (opacidades vítreas em 16 olhos e membrana epiretiniana em 8 olhos). CONCLUSÃO: Este estudo preliminar mostrou diferenças no movimento dinâmico do olho ao aplicar uma força externa, o que sugere que o vítreo tem um papel significativo na biomecânica ocular. Como a PIO foi mais baixa após a cirurgia, não é possível chegar a conclusões relativamente às diferenças na biomecânica corneana. O nosso achado mais importante foi a redução do MOG após VPP, o que pode estar relacionado com o segmento posterior e nomeadamente com o vítreo. Uma diminuição no MOG traduz uma redução na deflexão ântero-posterior e consequentemente uma redução na compressão do segmento posterior. A PIO mais baixa, isoladamente, iria ter o efeito oposto. Os olhos com DPV também mostraram um MOG mais reduzido. Assim, os nossos resultados mostram, pela primeira vez in vivo, que o vítreo exerce uma força centrípeta no globo ocular.INTRODUCTION: Characterization of ocular biomechanics is necessary to fully understand the development of vitreoretinal traction, retinal tears, and detachment. Few studies have tried to characterize the viscoelastic properties of the vitreous and all previous studies have used either ex vivo human eyes or in vivo animal eyes. Our objective was to analyze, in vivo, the role of the vitreous in ocular biomechanics. MATERIAL AND METHODS: Prospective longitudinal study that included 24 patients submitted to unilateral pars plana vitrectomy (PPV) for vitreous opacities or epiretinal membrane. Ocular biomechanics were analyzed with Oculus Corvis ST® one week before and one month after surgery. The whole eye movement (WEM) was analyzed separately as a function of posterior segment compression. Posterior vitreous detachment (PVD) was access with 55o optical coherence tomography. The fellow non-operated eyes were used as control. Non-parametric tests were used, and the significance level was set at 5%. RESULTS: After PPV, we observed changes in biomechanics towards a softer corneal behavior, namely a reduction in SP-A1 (p=0.009). However, intraocular pressure (IOP) was also lower (p=0.034). WEM distance decreased after vitrectomy (p=0.020). There were no significant differences in fellow non-operated eyes. A cross-sectional comparison before PPV showed that eyes with PVD at the macula also have a shorter WEM distance (p=0.047). There were no significant differences according to the reason for PPV (vitreous opacities in 16 eyes or epiretinal membrane in 8 eyes). CONCLUSION: This study shows changes in response to an air pulse after PPV, which suggests a role of the vitreous in ocular biomechanics. Due to lower IOP after surgery, no definite conclusions may be drawn regarding corneal measurements and indexes. More importantly, we observed changes that relate to the posterior segment of the eye, namely the vitreous. A decrease in WEM distance conveys a reduction in anterior-posterior deflection and reduced compression of the posterior segment. Lower IOP alone would produce the opposite effect. Eyes with PVD may also have reduced WEM. Together these findings demonstrate, for the first time in vivo, that the attached vitreous exerts a centripetal force on the globe.Ajnet2022-12-30info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articlehttps://doi.org/10.48560/rspo.25884por1646-69501646-6950Marques, João HeitorBaptista, Pedro ManuelCoelho, JoãoMenéres, Maria JoãoMeireles, AngelinaMelo Beirão, Joãoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-01-12T20:30:15Zoai:ojs.revistas.rcaap.pt:article/25884Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T16:29:29.527013Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv O Papel do Vítreo na Biomecânica Ocular
O Papel do Vítreo na Biomecânica Ocular
title O Papel do Vítreo na Biomecânica Ocular
spellingShingle O Papel do Vítreo na Biomecânica Ocular
Marques, João Heitor
Artigos Originais
title_short O Papel do Vítreo na Biomecânica Ocular
title_full O Papel do Vítreo na Biomecânica Ocular
title_fullStr O Papel do Vítreo na Biomecânica Ocular
title_full_unstemmed O Papel do Vítreo na Biomecânica Ocular
title_sort O Papel do Vítreo na Biomecânica Ocular
author Marques, João Heitor
author_facet Marques, João Heitor
Baptista, Pedro Manuel
Coelho, João
Menéres, Maria João
Meireles, Angelina
Melo Beirão, João
author_role author
author2 Baptista, Pedro Manuel
Coelho, João
Menéres, Maria João
Meireles, Angelina
Melo Beirão, João
author2_role author
author
author
author
author
dc.contributor.author.fl_str_mv Marques, João Heitor
Baptista, Pedro Manuel
Coelho, João
Menéres, Maria João
Meireles, Angelina
Melo Beirão, João
dc.subject.por.fl_str_mv Artigos Originais
topic Artigos Originais
description INTRODUÇÃO: A biomecânica ocular faz parte da fisiopatologia vítreo-retiniana, nomeadamente da tração vítreo-retiniana, rasgaduras de retina e descolamentos de retina. Os poucos estudos publicados que tentaram caracterizar a biomecânica do vítreo utilizaram métodos ex vivo em seres humanos ou in vivo em animais. O objetivo deste estudo foi analisar, in vivo, o papel do vítreo na biomecânica ocular. MATERIAL E MÉTODOS: Estudo prospetivo longitudinal que incluiu 24 doentes com indicação clínica para vitrectomia pars plana (VPP) em um dos olhos por opacidades do vítreo associadas a amiloidose hereditária por transtirretina ou por membrana epirretiniana primária. A biomecânica ocular foi analisada com o Oculus Corvis ST® uma semana antes e um mês após a cirurgia. O movimento ocular global (MOG), como medida da compressão do segmento posterior, foi analisado separadamente dos índices biomecânicos corneanos. A presença prévia de descolamento posterior do vítreo (DPV) foi analisada com tomografia de coerência ótica de campo alargado (55o). Os olhos adelfos (não-operados) foram usados como grupo de controlo. Os testes estatísticos utilizados foram não-paramétricos e o nível de significância foi definido em 5%. RESULTADOS: Após a VPP, os índices biomecânicos da córnea alteraram no sentido de um comportamento menos rígido, nomeadamente a redução do SP-A1 (p=0,009). No entanto, a pressão intraocular (PIO) também diminuiu (p=0,034). Verificou-se uma redução da distância do MOG após VPP (p=0,020). Não houve diferenças nos olhos adelfos. Numa analise transversal da visita pré-operatória, os olhos com DPV macular também apresentaram menor distância do MOG (p=0,047). Não houve diferenças relativamente ao motivo para a VPP (opacidades vítreas em 16 olhos e membrana epiretiniana em 8 olhos). CONCLUSÃO: Este estudo preliminar mostrou diferenças no movimento dinâmico do olho ao aplicar uma força externa, o que sugere que o vítreo tem um papel significativo na biomecânica ocular. Como a PIO foi mais baixa após a cirurgia, não é possível chegar a conclusões relativamente às diferenças na biomecânica corneana. O nosso achado mais importante foi a redução do MOG após VPP, o que pode estar relacionado com o segmento posterior e nomeadamente com o vítreo. Uma diminuição no MOG traduz uma redução na deflexão ântero-posterior e consequentemente uma redução na compressão do segmento posterior. A PIO mais baixa, isoladamente, iria ter o efeito oposto. Os olhos com DPV também mostraram um MOG mais reduzido. Assim, os nossos resultados mostram, pela primeira vez in vivo, que o vítreo exerce uma força centrípeta no globo ocular.
publishDate 2022
dc.date.none.fl_str_mv 2022-12-30
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://doi.org/10.48560/rspo.25884
url https://doi.org/10.48560/rspo.25884
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv 1646-6950
1646-6950
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Ajnet
publisher.none.fl_str_mv Ajnet
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799130752347013120