“Terras desertas e selvagens”. A região ao sul de Benguela no imaginário português (1750-1840)
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Data de Publicação: | 2023 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10451/61489 |
Resumo: | A fundação de São Filipe de Benguela, em 1617, foi um marco do avanço colonial português em direção às terras situadas ao sul do rio Cuanza. Esse avanço foi impulsionado pelo interesse no comércio de pessoas escravizadas e no acesso às minas que se pensava existirem na região. Entretanto, pararam em Benguela os esforços para o prolongamento da presença portuguesa. A região ao sul de Benguela somente receberia maior atenção oficial a partir da segunda metade do século XVIII, com a realização de expedições de reconhecimento, fomentadas pela administração colonial e comandadas por comerciantes de origem portuguesa, objetivando recolher informações e inventariar as sociedades locais. Da realização da terceira expedição, em 1839, resultou a fundação do presídio de Moçâmedes, sendo esse o ponto mais meridional da presença colonial portuguesa no continente. A presente dissertação discute o incremento do interesse português sobre a região ao sul de Benguela, no período entre 1750 e a fundação de Moçâmedes, identificando e debatendo os interesses mobilizados que concorreram para essa mudança de perspectiva. Através da análise crítica das fontes disponíveis e da historiografia, é possível apontar que a intensificação do comércio (notadamente o de pessoas escravizadas), o projeto de travessia entre as costas do continente e a garantia da soberania sobre a região que se estendia até o cabo Negro, foram os fatores principais que levaram à alteração do entendimento português sobre a região. Argumenta-se que os relatos de viagem, a correspondência oficial e a cartografia produzidos, a partir das informações recolhidas durante as expedições, foram instrumentalizados politicamente em favor dos administradores coloniais. O conhecimento produzido e disseminado se estruturou sob uma perspectiva que buscou enaltecer a obra dos administradores, silenciando a ação das sociedades locais, em um esforço para legitimar um domínio português, virtualmente inexistente, sobre toda a região ao sul de Benguela. |
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“Terras desertas e selvagens”. A região ao sul de Benguela no imaginário português (1750-1840)Domínio/Área Científica::Humanidades::História e ArqueologiaA fundação de São Filipe de Benguela, em 1617, foi um marco do avanço colonial português em direção às terras situadas ao sul do rio Cuanza. Esse avanço foi impulsionado pelo interesse no comércio de pessoas escravizadas e no acesso às minas que se pensava existirem na região. Entretanto, pararam em Benguela os esforços para o prolongamento da presença portuguesa. A região ao sul de Benguela somente receberia maior atenção oficial a partir da segunda metade do século XVIII, com a realização de expedições de reconhecimento, fomentadas pela administração colonial e comandadas por comerciantes de origem portuguesa, objetivando recolher informações e inventariar as sociedades locais. Da realização da terceira expedição, em 1839, resultou a fundação do presídio de Moçâmedes, sendo esse o ponto mais meridional da presença colonial portuguesa no continente. A presente dissertação discute o incremento do interesse português sobre a região ao sul de Benguela, no período entre 1750 e a fundação de Moçâmedes, identificando e debatendo os interesses mobilizados que concorreram para essa mudança de perspectiva. Através da análise crítica das fontes disponíveis e da historiografia, é possível apontar que a intensificação do comércio (notadamente o de pessoas escravizadas), o projeto de travessia entre as costas do continente e a garantia da soberania sobre a região que se estendia até o cabo Negro, foram os fatores principais que levaram à alteração do entendimento português sobre a região. Argumenta-se que os relatos de viagem, a correspondência oficial e a cartografia produzidos, a partir das informações recolhidas durante as expedições, foram instrumentalizados politicamente em favor dos administradores coloniais. O conhecimento produzido e disseminado se estruturou sob uma perspectiva que buscou enaltecer a obra dos administradores, silenciando a ação das sociedades locais, em um esforço para legitimar um domínio português, virtualmente inexistente, sobre toda a região ao sul de Benguela.The foundation of São Filipe de Benguela in 1617 was a milestone in the Portuguese colonial advance towards the lands south of the River Cuanza. This advance was driven by interest in the slave trade and access to the mines that were thought to exist in the region. However, efforts to extend the Portuguese presence came to a halt in Benguela. The region to the south of Benguela would only receive more official attention from the second half of the 18th century onwards, with reconnaissance expeditions promoted by the colonial administration and led by traders of Portuguese origin, with the aim of gathering information and making an inventory of local societies. The third expedition, in 1839, resulted in the foundation of the Moçâmedes prison, which was the southernmost point of the Portuguese colonial presence on the continent. This dissertation discusses the increase in Portuguese interest in the region south of Benguela in the period between 1750 and the foundation of Moçâmedes, identifying and debating the interests mobilized that contributed to this change in perspective. Through a critical analysis of the available sources and historiography, it is possible to point out that the intensification of trade (notably in slaves), the project to cross between the coasts of the continent and the guarantee of sovereignty over the surroundings of Cape Negro, were the main factors that led to the change in the Portuguese understanding of the region. It is argued that the travel reports, official correspondence and cartography produced from the information gathered were politically instrumentalized in favour of the colonial administrators. The knowledge produced and disseminated was structured from a perspective that praised the work of the administrators, silencing the action of local societies, in an effort to legitimize a virtually non-existent Portuguese rule over the entire region south of Benguela.Almeida, Carlos José DuarteRepositório da Universidade de LisboaMatos, Paulo Pereira Oliveira2023-12-21T14:36:23Z2023-11-082023-09-112023-11-08T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/61489TID:203415957porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-12-25T01:18:55Zoai:repositorio.ul.pt:10451/61489Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T00:56:08.330533Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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