Viver com a vida, "morrer" com a vida:protecção e risco em trajectórias auto-destrutivas na adolescência

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Cruz, Diana Marisa, 1983-
Data de Publicação: 2013
Idioma: eng
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10451/8740
Resumo: Tese de doutoramento, Psicologia (Psicologia da Família), Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia, 2013
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spelling Viver com a vida, "morrer" com a vida:protecção e risco em trajectórias auto-destrutivas na adolescênciaTeses de doutoramento - 2013Tese de doutoramento, Psicologia (Psicologia da Família), Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia, 2013The central themes in this dissertation are the nonadaptive trajectories in adolescence, associated with self-destructiveness. Our main goal was to expand the knowledge of self-destructiveness in adolescence, by examining possible protective and risk factors, both individually and family-based (Soares, 2000). To achieve such goals, we assumed a meta- perspective of Systemic Complexity (Morin, 1995) and, as theoretical models, the Model of Developmental Psychopathology (Cicchetti & Cohen, 2006) and Ecological Model of Human Development (Bronfenbrenner, 1977). Study 1 (N = 33) qualitatively assessed the adolescents’ perspective trough the Focus Group method, suggesting the crucial relevance of both individual (e.g. self-esteem, socio-emotional and coping skills) and family factors (e.g. family relational climate, parental regulation and support) in such nonadaptive trajectories. To further attain the research goals, we needed to operationalize the criteria which distinguished nonadaptive trajectories of self-destructiveness from adaptive ones. Hence, in order to investigate such distinctions, Study 2 (NI =1266; NII = 302) examined the factorial structure of the Youth Self-Report (YSR; Achenbach, 1991) and suggested a short version. Three additional quantitative studies were carried. Study 3 (N = 1308) showed that lack of Satisfaction with Family Relationships, Cohesion and Lack of Quality of Emotional Bonds with both parents, along with high levels of Inhibition of Exploration and Individuality from the mother and Rejection from the father, were highly relevant for nonadaptive trajectories. Study 4 (N = 1266) suggested that parental Rejection and paternal Control were the most accurate predictors of self-destructive thoughts and behaviors. A mediation of Cohesion and a moderation of sex were also found. Finally, Study 5 addressed a clinical sample of adolescents diagnosed with self-destructive thoughts and behaviors (N = 42), and suggested that the dimensions identified in Study 4 are crucial, and help distinguish between different self-destructive trajectories. Implications for prevention and clinical intervention are discussed, as well as limitations and future directions for research.Os comportamentos auto-destrutivos na adolescência enquadram-se numa trajectória inadaptativa, um "desvio" à evolução positiva que, pela sua gravidade, justifica a relevância e a necessidade de estudos que permitam compreender como se desenvolve tal trajectória, como se integra na história dos indivíduos ao longo do tempo, que funções assume, e como interage com os contextos relacionais (Soares, 2000). A presente dissertação tem como temática central trajectórias de risco e trajectórias inadaptativas, na adolescência, associadas a pensamentos e comportamentos auto-destrutivos, pretendendo-se compreender a “inscrição” da auto-destruição em tais trajectórias, investigando, sobretudo, potenciais factores individuais e familiares protectores ou catalisadores de tais trajectórias. Para tal, assumimos como quadro meta-teórico referencial, ou seja, como carta conceptual, a perspectiva de complexidade sistémica (Morin, 1995), e como mapas teóricos, a perspectiva da psicopatologia do desenvolvimento (Cicchetti & Cohen, 2006; Cummimngs, Davies, & Campbell, 2000; Soares, 2000) e o modelo ecológico de desenvolvimento humano (Bornstein & Lamb, 2005; Bronfenbrenner, 1977). Numa primeira fase da investigação, foi realizado um estudo qualitativo assente na metodologia de Focus Group adolescentes (N = 33), com o objectivo de explorar a sua perspectiva acerca de quais os factores individuais e contextuais que caracterizam trajectórias adaptativas (i.é., de bem-estar), trajectórias em risco (i.é., de mal-estar/distress) e trajectórias inadaptativas com comportamentos auto-destrutivos. Este estudo salientou a maior relevância de factores individuais e familiares no desenvolvimento, contribuindo assim para a delimitação do campo do estudo a variáveis desta natureza (Estudo 1). Seguidamente, a prossecução dos nossos objectivos exigiu, em primeiro lugar, a definição de um critério que permitisse distinguir (1) trajectórias com relatos ou comportamentos auto-destrutivos, e (2) trajectórias sem relato de pensamentos e comportamentos auto-destrutivos. Optámos pela utilização do instrumento de avaliação de sintomas Youth Self-Report (YSR; Achenbach, 1991), uma vez que dois dos seus itens "Magoo-me de propósito ou já tentei matar-me" e "Penso em matar-me" permitiam-nos considerar o relato de pensamentos ou comportamentos auto-destrutivos como o critério de inclusão em trajectórias em risco. Neste sentido, recorremos a uma amostra comunitária (estudantes adolescentes não-clínicos), cujas respostas aos itens acima referidos permitiram a diferenciação de dois grupos com e sem relato de pensamentos e comportamentos auto-destrutivos. Dada a relevância deste instrumento no percurso de investigação, e apesar do estudo de validação já realizado com uma amostra portuguesa (Fonseca & Monteiro, 1999), optámos por efectuar um estudo factorial que nos conduziu à proposta de uma versão reduzida deste instrumento, o que, por sua vez, exigiu primeiros passos para o seu processo de validação. Os contributos deste estudo para a validação do da versão reduzida do YSR parece apontar boas qualidades psicométricas, com estes jovens entre os 11 e os 21 anos de idade (NI = 1266; NII = 302; Estudo 2). Numa terceira fase da investigação e, após delimitação do campo de estudo, foram realizados dois estudos quantitativos, com o objectivo de compreender a “inscrição” da auto-destruição em trajectórias da adolescência, em contexto português, investigando potenciais factores individuais e familiares nodais protectores ou catalisadores de tais trajectórias. No primeiro destes dois estudos (Estudo 3), através de uma abordagem exploratória dos dados, foram comparadas as sub-amostras normativas, com e sem relatos de comportamentos auto-destrutivos, e uma amostra clínica de jovens com diagnóstico (realizado pelos seus técnicos de saúde mental assistentes) de pensamentos e comportamentos auto-destrutivos, relativamente a variáveis individuais e familiares consideradas relevantes, quer pela literatura, quer pelos dados emergidos do Estudo 1. O Estudo 3 (N = 1308): revelou diferenças entre os três grupos em diversas variáveis familiares e individuais; sublinhou a importância das relações familiares no seu todo, nomeadamente da Coesão e da Satisfação com as Relações Familiares; evidenciou, também, como factores de protecção vs. risco de trajectórias auto-destrutivas, dimensões específicas dos estilos parentais Controlo e Rejeição e da vinculação Qualidade dos Laços Emocionais e Inibição da Exploração e Individualidade; e, no que concerne a factores individuais, salientou o contributo da auto-estima e dos sintomas psicológicos na diferenciação entre os três grupos. Dadas as diferenças encontradas entre as diferentes trajectórias, considerou-se um Estudo 4, com o objectivo de aprofundar o conhecimento sobre trajectórias auto-destrutivas através do estudo dos jovens normativos com e sem relatos de comportamentos auto-destrutivos (N = 1266; i.é., exceptuando a amostra clínica), tendo-se recorrido a procedimentos de análise mais robustos e de maior complexidade (Modelos de Equações Estruturais). Este estudo salientou o papel crucial da Rejeição por parte de ambas as figuras parentais para o risco de trajectórias auto-destrutivas, bem como o Controlo paterno, enfatizando, assim, o papel do pai, no fenómeno em estudo. Para além disso, e em consonância com os Estudos 1 e 3, verificou-se a relevância da Coesão como factor protector de trajectórias em risco com pensamentos e comportamentos auto-destrutivos. Por fim, o quarto e último estudo quantitativo (Estudo 5), decorreu de várias interrogações geradas pelo processo de investigação e pela própria literatura científica sobre o tema, no que respeita à diversidade que parece existir nestes quadros, o que contribui não apenas para tornar a intervenção mais difícil como para tornar a investigação sobre o tema menos clara. No sentido de aprofundar o conhecimento, procurámos, então, compreender as diferenças entre jovens da amostra clínica (N=42) com (apenas) ideação suicida, (apenas) auto-mutilações e com tentativas de suicídio, relativamente aos factores individuais e familiares em estudo. Os resultados parecem sugerir a existência de semelhanças entre as várias manifestações auto-destrutivas, coerentemente com a concepção teórica de que estas pertencem a um mesmo contínuo de comportamentos. Por outro lado, os resultados apontam também para especificidades de cada tipo de manifestação auto-destrutiva: 1) a ideação suicida tem como factor de risco específico a dimensão de Inibição da Exploração e Individualidade; 2) os comportamentos de auto-mutilação parecem estar, sobretudo, associados à configuração da estrutura familiar (não-nuclear) e a um elevado número de reprovações escolares; 3) as tentativas de suicídio parecem estar especificamente associadas a menor Satisfação com as Relações Familiares. Contudo, importa salientar que, pela dimensão muito reduzida da amostra clínica, a interpretação de dados deve ser muito cautelosa. Em conclusão e, conjuntamente, os resultados sugeridos pelos cinco estudos apresentados, parecem salientar a relevância de compreender as trajectórias inadaptativas de desenvolvimento, particularmente, as auto-destrutivas, numa perspectiva de complexidade sistémica inclusiva de diferentes contextos relacionais e alerta para as interdependências que se geram numa "rede de influências mútuas", em que o jovem é um agente activo. Neste sentido, as trajectórias auto-destrutivas parecem representar a exteriorização, através do corpo, de uma necessidade de mudança (individual ou dos vários contextos), em que a morte representa um "deixar de existir" da presente trajectória de desenvolvimento e um querer activo (ainda que inadaptativo) de "viver de outra maneira", e não um fim definito, a morte em si mesma. Deste modo, a prevenção e a intervenção clínica, considerando uma perspectiva de complexidade sistémica, devem incluir e agir sobre vários conte tos de diferentes níveis sist micos em particular, a família, para al m de considerar o incremento de compet ncias socio-emocionais dos jovens e de estratégias de coping de modo a potenciar a sua auto-regulação.Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT,SFRH/BD/47151/2008); Programa Operacional Ciência e Inovação 2010 (POCI 2010); Programa Operacional Sociedade do Conhecimento (POS_C) do III Quadro Comunitário de Apoio (2000-2006); Fundo Social Europeu (FSE)Narciso, Isabel, 1962-Sampaio, Daniel, 1946-Repositório da Universidade de LisboaCruz, Diana Marisa, 1983-2013-07-05T10:12:26Z20132013-01-01T00:00:00Zdoctoral thesisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10451/8740TID:101290462enginfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-11-20T17:11:56Zoai:repositorio.ul.pt:10451/8740Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openairemluisa.alvim@gmail.comopendoar:71602024-11-20T17:11:56Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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