Resiliência e bem-estar : um estudo exploratório com adultos em double e triple caregiving

• Autor(a) principal: Sampaio, Sara Margarida Guimarães
• Data de Publicação: 2022
• Tipo de documento: Dissertação
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/20.500.11960/2744
• topic: Resiliência; Bem-estar; Double e triple caregiving; Meia-idade; Gerontologia Social; Resilience; Well-being; Double and triple caregiving; Middle-age; Social Gerontology

Contexto e objetivos. O aumento exponencial do número de pessoas mais velhas na população acompanhado do aumento da longevidade humana coloca um conjunto de desafios à Sociedade, às famílias e, em particular, aos filhos adultos das pessoas mais velhas. Cada vez mais os adultos, particularmente os da meia-idade, são chamados a assegurar alguma forma de cuidado aos seus familiares idosos. Este fenómeno tem-se acentuado de tal forma que, alguma literatura no domínio, assume mesmo este tipo de cuidados como uma tarefa desenvolvimental da meia-idade (ex., Gans & Silverstein, 2006). Os adultos de meia-idade são fundamentais para o apoio e ajuda aos pais idosos (Morais, Faria, & Fernandes, 2019; Oliveira, 2011). Paralelamente, as transformações societais trouxeram implicações para a organização e funcionamento das famílias, verificando-se o prolongamento da coabitação filhos-pais, muitas vezes acentuada por situações de separação conjugal ou divórcio dos filhos adultos que regressam à casa dos pais (Silva, 2008; Putney & Bengtson, 2001). Estas transformações são acompanhadas de uma maior relevância da carreira/profissão na vida dos adultos, em particular dos de meia-idade. Neste sentido, os adultos de meia-idade encontram-se, simultaneamente, envolvidos em diferentes esferas da vida, nomeadamente o cuidado aos pais idosos, o cuidado aos filhos, e a consolidação da carreira (Infurna, Gerstorf & Lachman, 2020). Neste contexto, na literatura tem emergido o conceito de double e triple caregiving para dar conta do desafio maior colocado à meia-idade, isto é, a capacidade de assegurar cuidados a descendentes (filhos), ascendentes (pais) e elementos da comunidade no âmbito do exercício de profissões no domínio dos cuidados formais. A simultaneidade de papéis, assim como as exigências e desafios associados, tem grandes implicações para os níveis de bem-estar experienciados por estes adultos. Para além disso, requerem o desenvolvimento de recursos intra e interindividuais nucleares à capacidade adaptativa, nomeadamente ao nível da resiliência. Além disso, a literatura (Lachman, 2015) chama a atenção para as lacunas na investigação sobre esta fase da vida que assume um lugar crítico na resposta às necessidades de uma população idosa em rápido crescimento (DePasquale, 2019). Face ao exposto, analisar aspetos como resiliência e bem-estar na meia-idade é altamente relevante, particularmente no atual contexto de pandemia. Neste contexto, o presente estudo tem como objetivo explorar as relações entre resiliência e bem-estar em adultos em condição de double e triple caregiving que trabalham em respostas sociais de retaguarda à velhice. Método. Trata-se de um estudo exploratório, que contou com 44 participantes com idades compreendidas entre os 25 e os 59 anos (M=42,14; dp=8,37), predominantemente mulheres (95,5%). Os participantes foram avaliados com um protocolo constituído por Escalas de Bem-estar Psicológico (Ryff-18; Ryff, 1989b; Ryff & Keys, 1995; versão portuguesa de Novo, Silva & Peralta, 1997), Escala de Resiliência (Wagnild & Young, 1987; versão portuguesa de Deep & Pereira, 2012), e um Questionário Sociodemográfico. Os dados foram recolhidos com recurso a autoadministração, via on line através da plataforma GoogleForms. Resultados e conclusão. Os resultados permitiram verificar que, em relação ao bem-estar psicológico, foram registados valores mais altos na dimensão Crescimento pessoal e na Aceitação de si e valores mais baixos no Domínio do meio e na Autonomia. Relativamente à resiliência, os participantes apresentam valores mais elevados na Perseverança e Sentido de vida e mais baixos na Serenidade e Autossuficiência e Autoconfiança. Por fim, verificam-se associações positivas e estatisticamente significativas entre as dimensões da Escala da Resiliência e as dimensões Autonomia e Crescimento Pessoal da Escala de Bem-estar Psicológico. A dimensão Domínio do meio da Escala de Bem-estar Psicológico parece não evidenciar nenhuma associação com as dimensões da Escala de Resiliência. Relativamente à comparação entre adultos mais jovens e adultos mais velhos, verifica-se que os participantes mais velhos (46 e mais anos) apresentam melhores resultados nas duas variáveis em análise quando comparados com os participantes mais jovens (35-45 anos). O presente estudo, apesar de exploratório, constitui um contributo para o conhecimento sobre a vida adulta em particular sobre os adultos envolvidos em cuidados múltiplos, salientando a relevância do bem-estar e da resiliência nesta fase da vida e das suas implicações para a qualidade do processo de envelhecimento.