O hibridismo de "ser" e a oposição semântica entre "ser" e "estar" em português medieval

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Paulo, Maria Ribeiro
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/31565
Resumo: Este trabalho tem como principal objetivo relacionar o hibridismo de ser com a sobreposição parcial dos valores semânticos associados aos verbos ser e estar atestada em estádios anteriores da língua portuguesa. Constatando-se que, em português medieval, o verbo ser era também utilizado em contextos em que no português atual apenas se admite estar, explora-se a hipótese de que, no seio do paradigma ser, formas derivadas de sedere (‘estar sentado’) seriam perspetivadas como estando mais associadas a propriedades transitórias – partilhando, portanto, características com o verbo estar –, por oposição a formas derivadas de esse (‘ser’), que seriam perspetivadas como estando genericamente mais associadas a propriedades permanentes, devido a alguma persistência dos valores semânticos associados aos verbos latinos de que derivam. Esta hipótese enquadra-se, assim, na área de estudos da gramaticalização, uma vez que se baseia no princípio da persistência de Hopper (1991). O quadro de estudos da gramaticalização poderá fornecer, deste modo, um suporte teórico adequado para tratar alguns aspetos da evolução destes dois paradigmas, em primeiro lugar, ao dar conta da sobreposição atestada entre estes verbos em português medieval e, ainda, ao conceber a oposição existente no português europeu contemporâneo como resultado de um processo de competição de formas/construções para a marcação dos mesmos valores. Seria, assim, possível estabelecer uma relação entre os sentidos etimológicos destes verbos, a competição entre estes para a marcação dos mesmos valores e, posteriormente, a consolidação da oposição como hoje a conhecemos. Para este fim, avalia-se se existem dados do português medieval que permitam estabelecer a existência de uma oposição de valores dentro do próprio paradigma ser, optando-se por analisar, em específico, formas de sedere que competiam com formas de esse para a constituição do paradigma ser. A razão pela qual se opta pela análise destas formas é o facto de, tendo estas coexistido com formas derivadas de esse e competido com elas para a formação do paradigma ser, se for o caso que de facto existe uma diferença semântica entre estas em termos de marcação de um valor perspetivado como transitório por oposição a um perspetivado como permanente, tal deverá ser percetível nos casos em que se tem à disposição formas derivadas de ambos os paradigmas, esperando-se que cada um seja preferido para a marcação destes hipotéticos valores que lhes são atribuídos. Este trabalho encontra-se, assim, estruturado em quatro pontos: no primeiro, introdutório, apresenta-se brevemente a questão de investigação, objetivos, enquadramento teórico e metodologia; no segundo, visa-se a descrição da distinção ser/estar em português contemporâneo, aferindo descrições propostas por vários autores; no terceiro, procede-se a uma breve apresentação dos princípios e pressupostos do quadro de estudos da gramaticalização; no último, descreve-se em que medida o paradigma ser é um paradigma híbrido, procede-se a uma revisão da literatura existente relativa à semântica destes verbos em português medieval, apresenta-se o corpus constituído, procedendo-se a uma análise deste, e, por último, apontam-se alguns dos mecanismos ou processos associados ao quadro de estudos da gramaticalização que podem ser atestados no percurso evolutivo destes verbos, ou explicativos deste.
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Constatando-se que, em português medieval, o verbo ser era também utilizado em contextos em que no português atual apenas se admite estar, explora-se a hipótese de que, no seio do paradigma ser, formas derivadas de sedere (‘estar sentado’) seriam perspetivadas como estando mais associadas a propriedades transitórias – partilhando, portanto, características com o verbo estar –, por oposição a formas derivadas de esse (‘ser’), que seriam perspetivadas como estando genericamente mais associadas a propriedades permanentes, devido a alguma persistência dos valores semânticos associados aos verbos latinos de que derivam. Esta hipótese enquadra-se, assim, na área de estudos da gramaticalização, uma vez que se baseia no princípio da persistência de Hopper (1991). O quadro de estudos da gramaticalização poderá fornecer, deste modo, um suporte teórico adequado para tratar alguns aspetos da evolução destes dois paradigmas, em primeiro lugar, ao dar conta da sobreposição atestada entre estes verbos em português medieval e, ainda, ao conceber a oposição existente no português europeu contemporâneo como resultado de um processo de competição de formas/construções para a marcação dos mesmos valores. Seria, assim, possível estabelecer uma relação entre os sentidos etimológicos destes verbos, a competição entre estes para a marcação dos mesmos valores e, posteriormente, a consolidação da oposição como hoje a conhecemos. Para este fim, avalia-se se existem dados do português medieval que permitam estabelecer a existência de uma oposição de valores dentro do próprio paradigma ser, optando-se por analisar, em específico, formas de sedere que competiam com formas de esse para a constituição do paradigma ser. A razão pela qual se opta pela análise destas formas é o facto de, tendo estas coexistido com formas derivadas de esse e competido com elas para a formação do paradigma ser, se for o caso que de facto existe uma diferença semântica entre estas em termos de marcação de um valor perspetivado como transitório por oposição a um perspetivado como permanente, tal deverá ser percetível nos casos em que se tem à disposição formas derivadas de ambos os paradigmas, esperando-se que cada um seja preferido para a marcação destes hipotéticos valores que lhes são atribuídos. Este trabalho encontra-se, assim, estruturado em quatro pontos: no primeiro, introdutório, apresenta-se brevemente a questão de investigação, objetivos, enquadramento teórico e metodologia; no segundo, visa-se a descrição da distinção ser/estar em português contemporâneo, aferindo descrições propostas por vários autores; no terceiro, procede-se a uma breve apresentação dos princípios e pressupostos do quadro de estudos da gramaticalização; no último, descreve-se em que medida o paradigma ser é um paradigma híbrido, procede-se a uma revisão da literatura existente relativa à semântica destes verbos em português medieval, apresenta-se o corpus constituído, procedendo-se a uma análise deste, e, por último, apontam-se alguns dos mecanismos ou processos associados ao quadro de estudos da gramaticalização que podem ser atestados no percurso evolutivo destes verbos, ou explicativos deste.The main goal of this dissertation is to relate the hybridism of ser (“be”) with the partial overlap of the meanings of ser and estar (“be”, from Latin stare “stand”) in Portuguese past stages. In Medieval Portuguese, ser was also used in contexts where, in contemporary Portuguese, only estar occurs. The hypothesis to be explored is that, within the paradigm of ser, the forms derived from Latin sedere (“sit”) were associated with transitory properties – thus sharing properties with estar – as opposed to forms derived from esse (“be”), which should be more generally interpreted as permanent, due to the persistence of the original semantic values of the Latin verbs of which they are descendants. This hypothesis is framed by the grammaticalization studies, assuming Hopper’s (1991) persistence principle. This framework provides an adequate theoretical support to describe some aspects of the evolution of these two verbal paradigms: it can account for the partial overlap of these verbs in Medieval Portuguese; and it can explain the contrast between ser and estar observed in Contemporary Portuguese as the result of a process of competition between forms / constructions for the encoding of the same values. Following this line of research, it is possible to relate the etymological meanings of these verbs, their competition for the encoding of the same values and the fixation of their contemporary contrast. To this end, it is evaluated whether data from medieval Portuguese allows us to establish the existence of a semantic opposition within the paradigm of ser. Specifically, forms derived from sedere which competed directly with forms derived from esse are analysed. Being the case that these forms coexisted and competed directly to form this paradigm, it should be possible to observe the different semantic values encoded by each of these forms, being expected that forms derived from ser would be preferred to encode the semantic value of permanence while forms derived from sedere would be associated with transitory properties. This work is divided into four chapters: in the first – the introduction –, the investigation question, the objectives, the theoretical framework and the methodology are briefly presented; in the second, the ser/estar’s distinction in contemporary Portuguese is discussed; in the third, the principals and assumptions of the grammaticalization framework are presented. In the last chapter, we describe the hybridism of ser and the evolution of this paradigm; thereafter, we present the existing literature related with the semantic description of these verbs in medieval Portuguese, the selected corpus and its analysis. Finally, we point to some of the processes and mechanisms associated with the grammaticalization framework that can be observed in the evolution of these verbs, or explanative of it.Brocardo, Maria TeresaRUNPaulo, Maria Ribeiro2018-03-02T11:54:21Z2018-01-182017-11-132018-01-18T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/31565TID:201831783porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T04:17:31Zoai:run.unl.pt:10362/31565Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:29:42.179017Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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description Este trabalho tem como principal objetivo relacionar o hibridismo de ser com a sobreposição parcial dos valores semânticos associados aos verbos ser e estar atestada em estádios anteriores da língua portuguesa. Constatando-se que, em português medieval, o verbo ser era também utilizado em contextos em que no português atual apenas se admite estar, explora-se a hipótese de que, no seio do paradigma ser, formas derivadas de sedere (‘estar sentado’) seriam perspetivadas como estando mais associadas a propriedades transitórias – partilhando, portanto, características com o verbo estar –, por oposição a formas derivadas de esse (‘ser’), que seriam perspetivadas como estando genericamente mais associadas a propriedades permanentes, devido a alguma persistência dos valores semânticos associados aos verbos latinos de que derivam. Esta hipótese enquadra-se, assim, na área de estudos da gramaticalização, uma vez que se baseia no princípio da persistência de Hopper (1991). O quadro de estudos da gramaticalização poderá fornecer, deste modo, um suporte teórico adequado para tratar alguns aspetos da evolução destes dois paradigmas, em primeiro lugar, ao dar conta da sobreposição atestada entre estes verbos em português medieval e, ainda, ao conceber a oposição existente no português europeu contemporâneo como resultado de um processo de competição de formas/construções para a marcação dos mesmos valores. Seria, assim, possível estabelecer uma relação entre os sentidos etimológicos destes verbos, a competição entre estes para a marcação dos mesmos valores e, posteriormente, a consolidação da oposição como hoje a conhecemos. Para este fim, avalia-se se existem dados do português medieval que permitam estabelecer a existência de uma oposição de valores dentro do próprio paradigma ser, optando-se por analisar, em específico, formas de sedere que competiam com formas de esse para a constituição do paradigma ser. A razão pela qual se opta pela análise destas formas é o facto de, tendo estas coexistido com formas derivadas de esse e competido com elas para a formação do paradigma ser, se for o caso que de facto existe uma diferença semântica entre estas em termos de marcação de um valor perspetivado como transitório por oposição a um perspetivado como permanente, tal deverá ser percetível nos casos em que se tem à disposição formas derivadas de ambos os paradigmas, esperando-se que cada um seja preferido para a marcação destes hipotéticos valores que lhes são atribuídos. Este trabalho encontra-se, assim, estruturado em quatro pontos: no primeiro, introdutório, apresenta-se brevemente a questão de investigação, objetivos, enquadramento teórico e metodologia; no segundo, visa-se a descrição da distinção ser/estar em português contemporâneo, aferindo descrições propostas por vários autores; no terceiro, procede-se a uma breve apresentação dos princípios e pressupostos do quadro de estudos da gramaticalização; no último, descreve-se em que medida o paradigma ser é um paradigma híbrido, procede-se a uma revisão da literatura existente relativa à semântica destes verbos em português medieval, apresenta-se o corpus constituído, procedendo-se a uma análise deste, e, por último, apontam-se alguns dos mecanismos ou processos associados ao quadro de estudos da gramaticalização que podem ser atestados no percurso evolutivo destes verbos, ou explicativos deste.
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