Malária importada em Portugal: uma perspetiva molecular da casuística do CHLO e IHMT entre 2014 a 2021

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: SERRANO, Débora Nicole Pina
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10362/133006
Resumo: A malária continua a representar uma séria ameaça à saúde pública, sendo responsável por uma elevada mortalidade e morbilidade, principalmente em países tropicais e subtropicais. Em zonas não endémicas, a malária pode ocorrer em indivíduos que viajaram ou permaneceram previamente em países endémicos. O número de casos de malária importada em Portugal tem aumentado nos últimos anos, sobretudo devido à estreita relação do país com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Nas últimas décadas, o controlo da malária tem sido dificultado pela emergência de estirpes resistentes de Plasmodium falciparum aos antimaláricos sucessivamente introduzidos no mercado. Como tal, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou a utilização de terapias combinadas à base de artemisinina (ACT) como tratamento de malária não complicada. Contudo, a resistência à artemisinina e seus derivados foi confirmada na sub-região do Grande Rio Mekong, verificando-se uma elevada apreensão com o risco de dispersão deste fenómeno para África. O fenótipo de resistência do parasita aos derivados da artemisinina no Sudeste Asiático foi relacionado com a presença de mutações no gene pfk13. Determinadas mutações no gene pfmdr1 encontram-se associadas à resistência a múltiplos medicamentos, incluindo ao ACT arteméter-lumefantrina. Neste estudo pretendeu-se caracterizar epidemiologicamente os casos de malária importada, diagnosticados nos laboratórios do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO) e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), entre Março de 2014 a Maio de 2021, bem como determinar a prevalência de polimorfismos pontuais nos genes pfK13 e pfmdr1 de P. falciparum, associados à resposta aos ACTs. Para este efeito, foram colhidas amostras de sangue periférico a indivíduos infetados com malária, que recorreram ao IHMT ou CHLO, após estadia prévia em países endémicos de malária. Em amostras de P. falciparum, o DNA do parasita foi extraído e a pesquisa de polimorfismos no gene pfk13 e nos codões 86, 184 e 1246 do gene pfmdr1 foi efetuada através de amplificação de DNA pela técnica de Polymerase Chain Reaction e sequenciação de Sanger. Dos 233 casos de malária importada analisados, 98,7% dos indivíduos provieram do continente africano, destacando-se Angola com 68,3%, Moçambique com 8,2% e Guiné-Bissau com 4,7%. P. falciparum foi a espécie predominante em 81,6% dos casos, seguida por P. malariae com 7,3%, P. ovale com 6,4% e 1,7% das amostras foram diagnosticadas com P. vivax. Relativamente à caracterização molecular, nenhuma mutação foi identificada no gene pfk13. No gene pfmdr1, verificou-se uma prevalência superior dos alelos selvagens N86 (92,7%), Y184 (68,9%) e D1246 (99,1%). Adicionalmente, o haplótipo N86/Y184/D1246 preponderou (65%) e o haplótipo N86/184F/D1246 foi identificado em 26,2% dos casos. O caso típico de malária importada consiste no indivíduo masculino em idade ativa, com estadia prévia em Angola, infetado com P. falciparum e portador do genótipo selvagem nos genes pfmdr1 e pfk13. A vigilância molecular ativa, através de marcadores moleculares, é fundamental, de modo a detetar precocemente o surgimento de resistências aos antimaláricos e evitar a disseminação de parasitas de P. falciparum resistentes aos ACTs.
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Como tal, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou a utilização de terapias combinadas à base de artemisinina (ACT) como tratamento de malária não complicada. Contudo, a resistência à artemisinina e seus derivados foi confirmada na sub-região do Grande Rio Mekong, verificando-se uma elevada apreensão com o risco de dispersão deste fenómeno para África. O fenótipo de resistência do parasita aos derivados da artemisinina no Sudeste Asiático foi relacionado com a presença de mutações no gene pfk13. Determinadas mutações no gene pfmdr1 encontram-se associadas à resistência a múltiplos medicamentos, incluindo ao ACT arteméter-lumefantrina. Neste estudo pretendeu-se caracterizar epidemiologicamente os casos de malária importada, diagnosticados nos laboratórios do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO) e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), entre Março de 2014 a Maio de 2021, bem como determinar a prevalência de polimorfismos pontuais nos genes pfK13 e pfmdr1 de P. falciparum, associados à resposta aos ACTs. Para este efeito, foram colhidas amostras de sangue periférico a indivíduos infetados com malária, que recorreram ao IHMT ou CHLO, após estadia prévia em países endémicos de malária. Em amostras de P. falciparum, o DNA do parasita foi extraído e a pesquisa de polimorfismos no gene pfk13 e nos codões 86, 184 e 1246 do gene pfmdr1 foi efetuada através de amplificação de DNA pela técnica de Polymerase Chain Reaction e sequenciação de Sanger. Dos 233 casos de malária importada analisados, 98,7% dos indivíduos provieram do continente africano, destacando-se Angola com 68,3%, Moçambique com 8,2% e Guiné-Bissau com 4,7%. P. falciparum foi a espécie predominante em 81,6% dos casos, seguida por P. malariae com 7,3%, P. ovale com 6,4% e 1,7% das amostras foram diagnosticadas com P. vivax. Relativamente à caracterização molecular, nenhuma mutação foi identificada no gene pfk13. No gene pfmdr1, verificou-se uma prevalência superior dos alelos selvagens N86 (92,7%), Y184 (68,9%) e D1246 (99,1%). Adicionalmente, o haplótipo N86/Y184/D1246 preponderou (65%) e o haplótipo N86/184F/D1246 foi identificado em 26,2% dos casos. O caso típico de malária importada consiste no indivíduo masculino em idade ativa, com estadia prévia em Angola, infetado com P. falciparum e portador do genótipo selvagem nos genes pfmdr1 e pfk13. A vigilância molecular ativa, através de marcadores moleculares, é fundamental, de modo a detetar precocemente o surgimento de resistências aos antimaláricos e evitar a disseminação de parasitas de P. falciparum resistentes aos ACTs.Malaria remains one of the major challenges to Public Health, responsible for a high mortality burden worldwide, mainly in tropical and subtropical regions. Outside endemic regions, malaria may occur in travellers that have recently been to, or visited endemic regions. The number of imported malaria cases into Portugal has been increasing, due to the close relationship with Portuguese-speaking African Countries (PALOP). In the last decades, malaria control has been hampered by the emergence of strains of Plasmodium falciparum resistant to all antimalarials successively introduced. The World Health Organization (WHO) has recommended the use of artemisinin-based combination therapies (ACT) as a treatment for uncomplicated Malaria cause by P. falciparum. However, resistance to artemisinin and its derivatives was confirmed in the Greater Mekong sub-region, with high concern about the risk of spreading this phenomenon to sub-Saharan Africa. P. falciparum resistance phenotype to artemisinin derivatives in Southeast Asia was related to the presence of mutations in the pfk13 gene. Certain mutations in the pfmdr1 gene are associated with resistance to multiple drugs, including ACT artemether-lumefantrine. The aim of this study is to characterize epidemiologically the cases of imported Malaria, diagnosed in the laboratories of the Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO) and the Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), between March 2014 and May 2021, as well as to determine the prevalence of polymorphisms in the pfK13 and pfmdr1 genes of P. falciparum, associated with the response to ACTs. For this purpose, blood samples were collected from individuals infected with Malaria, who had resorted to IHMT or CHLO, after a previous stay in Malaria endemic countries. In P. falciparum samples, parasite DNA was extracted and the search for polymorphisms in the pfk13 gene and in the codons 86, 184 and 1246 of the pfmdr1 gene was carried out through DNA amplification by the technique of Polymerase Chain Reaction (PCR) and Sanger sequencing. Of the 233 cases of imported Malaria analyzed, 98.7% of the individuals came from the African continent, standing out Angola with 68.3%, Mozambique with 8.2% and Guinea-Bissau with 4.7%. P. falciparum was the predominant species in 81.6% of cases, followed by P. malariae with 7.3%, P. ovale with 6.4% and 1.7% of the samples were diagnosed with P. vivax. Regarding molecular characterization, no mutation was identified in the pfk13 gene. In the pfmdr1 gene, there was a higher prevalence of wild alleles N86 (92.7%), Y184 (68.9%) and D1246 (99.1%). Additionally, the haplotype N86/Y184/D1246 predominated (65%) and the haplotype N86/184F/D1246 was identified in 26.2% of cases. The typical imported malaria case was: middle aged male, traveling from Angola infected with P. falciparum carrying wild type pfmdr1 and pfk13. Molecular surveillance, through molecular markers, is essential, in order to detect early onset of resistance to antimalarials and avoid the spread of ACT-resistant P. falciparum parasites.NOGUEIRA, FátimaREIS, AnaRUNSERRANO, Débora Nicole Pina2022-02-16T15:11:29Z202120212021-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/133006TID:202909816porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T05:11:42Zoai:run.unl.pt:10362/133006Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:47:40.588666Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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