Ivory objects from the Chalcolithic fortification of Leceia (Oeiras)
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2007 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | eng |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.2/6029 |
Resumo: | O marfim constitui um material introduzido, uma novidade, observada na Estremadura Portuguesa no início do Calcolítico, cerca 3000/2900 a.C. Tratando-se de uma matéria-prima exótica, foi, desde os inícios da investigação arqueológica, objecto de particular interesse, considerando-se desde logo reflexo dos contactos comerciais estabelecidos por via marítima com regiões extra-peninsulares. S. P. M. Estácio da Veiga (1886, 1891), já falava a favor de uma importação de objectos acabados e da própria matéria-prima, em bruto, a partir do Norte de África. L. Siret (1913) estabeleceu, depois, diferenças entre artefactos feitos a partir de dentes de elefante e de hipopótamo. Ambos os grupos de peças foram por ele considerados como oriundos do Egipto. J. C. Serra Ráfols (1925), ao contrário, chamou a atenção para a ausência de critérios seguros que, segundo ele, poderiam ser invocados a favor de uma origem egípcia, devendo antes considerar-se o Noroeste Africano como origem de tais produções. Pela mesma altura, A. Gotze (1925) negou a utilização local de marfim fóssil, de época plistocénica, considerando-o demasiado frágil para poder ser trabalhado. Finalmente, A. Jodin (1957) e G. Camps (1960), relacionaram a ocorrência de exemplares manufacturados de marfim no território peninsular, com a ocorrência de cerâmicas campaniformes no Norte de África; desde então, a origem norte africana para as peças de marfim peninsulares tem sido comummente aceite. As análises efectuadas por um de nós (T. X. S.), em conjunto com o Dr. A. Banerjee, de objectos de marfim da necrópole de Los Millares, suportam a conclusão de que o conhecimento da tecnologia do trabalho de marfim, provirá do Próximo Oriente, tal como, em parte, a própria matéria-prima, provavelmente pela via da Síria ou da Palestina. De facto, as análises efectuadas indicaram a existência dominante de marfim de elefante asiático (Elephas maximus) entre as produções mais antigas do Calcolítico analisadas daquela estação; assim, está-se em condições de diferenciar os objectos de origem próximo-oriental dos que provieram, ulteriormente, do Norte de África. Um elemento do conjunto millarense revelou tratar-se de Elephas antiquus, realidade que é ainda difícil de explicar, embora não seja viável admitir o recurso a marfim fóssil, pelo menos em quantidades significativas. Também uma das duas peças de Leceia analisadas pelo Prof. Banerjee indicou tratar-se de marfim atribuível a Elephas antiquus. Talvez a explicação resida na existência de uma espécie norte africana próxima de Elephas antiquus, a qual, no território português se extinguiu cerca de 33 000 anos atrás. O único dente completo provém do terraço baixo do Tejo, perto do Carregado, cerca de 30 km NNE de Lisboa, a que se junta um outro fragmento, mais antigo, reportável ao Cromeriano, existente no Museu Monográfico de Conímbriga; tanto um como outro, pelo seu comportamento muito quebradiço, não poderiam ter sido aproveitados para a manufactura de peças de marfim. No entanto, descobertas como a da necrópole de Rouazi-Skhirat, indicam a utilização de marfim norte africano entre as produções da primeira metade do terceiro milénio a.C.. A relação de tais produções com o território peninsular parecem tornar-se mais evidentes e visíveis ulteriormente, no decurso da expansão do “fenómeno” campaniforme, especialmente a partir de meados do referido milénio. No que a Leceia diz respeito, a segunda das duas peças seleccionadas para análise no Laboratório da Universidade de Mainz pelo Dr. A. Banerjee, mostrou tratar-se de marfim de elefante africano de savana, tendo, deste modo, sido o primeiro exemplar deste tipo de marfim a ser comprovadamente identificado no território peninsular. A cronologia pré-campaniforme deste artefacto, reportável ao Calcolítico Inicial da Estremadura, datado em Leceia entre cerca de 2900/2800 e 2600/2500 cal BC, vem mostrar, pela primeira vez, que as relações comerciais da Península Ibérica com o Norte de África se terão iniciado, embora de forma discreta, ainda antes da plena afirmação do “fenómeno” campaniforme, época a partir da qual são bem conhecidas. |
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Serra Ráfols (1925), ao contrário, chamou a atenção para a ausência de critérios seguros que, segundo ele, poderiam ser invocados a favor de uma origem egípcia, devendo antes considerar-se o Noroeste Africano como origem de tais produções. Pela mesma altura, A. Gotze (1925) negou a utilização local de marfim fóssil, de época plistocénica, considerando-o demasiado frágil para poder ser trabalhado. Finalmente, A. Jodin (1957) e G. Camps (1960), relacionaram a ocorrência de exemplares manufacturados de marfim no território peninsular, com a ocorrência de cerâmicas campaniformes no Norte de África; desde então, a origem norte africana para as peças de marfim peninsulares tem sido comummente aceite. As análises efectuadas por um de nós (T. X. S.), em conjunto com o Dr. A. Banerjee, de objectos de marfim da necrópole de Los Millares, suportam a conclusão de que o conhecimento da tecnologia do trabalho de marfim, provirá do Próximo Oriente, tal como, em parte, a própria matéria-prima, provavelmente pela via da Síria ou da Palestina. De facto, as análises efectuadas indicaram a existência dominante de marfim de elefante asiático (Elephas maximus) entre as produções mais antigas do Calcolítico analisadas daquela estação; assim, está-se em condições de diferenciar os objectos de origem próximo-oriental dos que provieram, ulteriormente, do Norte de África. Um elemento do conjunto millarense revelou tratar-se de Elephas antiquus, realidade que é ainda difícil de explicar, embora não seja viável admitir o recurso a marfim fóssil, pelo menos em quantidades significativas. Também uma das duas peças de Leceia analisadas pelo Prof. Banerjee indicou tratar-se de marfim atribuível a Elephas antiquus. Talvez a explicação resida na existência de uma espécie norte africana próxima de Elephas antiquus, a qual, no território português se extinguiu cerca de 33 000 anos atrás. O único dente completo provém do terraço baixo do Tejo, perto do Carregado, cerca de 30 km NNE de Lisboa, a que se junta um outro fragmento, mais antigo, reportável ao Cromeriano, existente no Museu Monográfico de Conímbriga; tanto um como outro, pelo seu comportamento muito quebradiço, não poderiam ter sido aproveitados para a manufactura de peças de marfim. No entanto, descobertas como a da necrópole de Rouazi-Skhirat, indicam a utilização de marfim norte africano entre as produções da primeira metade do terceiro milénio a.C.. A relação de tais produções com o território peninsular parecem tornar-se mais evidentes e visíveis ulteriormente, no decurso da expansão do “fenómeno” campaniforme, especialmente a partir de meados do referido milénio. No que a Leceia diz respeito, a segunda das duas peças seleccionadas para análise no Laboratório da Universidade de Mainz pelo Dr. A. Banerjee, mostrou tratar-se de marfim de elefante africano de savana, tendo, deste modo, sido o primeiro exemplar deste tipo de marfim a ser comprovadamente identificado no território peninsular. A cronologia pré-campaniforme deste artefacto, reportável ao Calcolítico Inicial da Estremadura, datado em Leceia entre cerca de 2900/2800 e 2600/2500 cal BC, vem mostrar, pela primeira vez, que as relações comerciais da Península Ibérica com o Norte de África se terão iniciado, embora de forma discreta, ainda antes da plena afirmação do “fenómeno” campaniforme, época a partir da qual são bem conhecidas.Câmara Municipal de OeirasRepositório AbertoSchuhmacher, Thomas X.Cardoso, João Luís2017-01-30T16:20:21Z20072007-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.2/6029eng0872-6086info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-11-16T15:23:28Zoai:repositorioaberto.uab.pt:10400.2/6029Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T22:46:35.715061Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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O marfim constitui um material introduzido, uma novidade, observada na Estremadura Portuguesa no início do Calcolítico, cerca 3000/2900 a.C. Tratando-se de uma matéria-prima exótica, foi, desde os inícios da investigação arqueológica, objecto de particular interesse, considerando-se desde logo reflexo dos contactos comerciais estabelecidos por via marítima com regiões extra-peninsulares. S. P. M. Estácio da Veiga (1886, 1891), já falava a favor de uma importação de objectos acabados e da própria matéria-prima, em bruto, a partir do Norte de África. L. Siret (1913) estabeleceu, depois, diferenças entre artefactos feitos a partir de dentes de elefante e de hipopótamo. Ambos os grupos de peças foram por ele considerados como oriundos do Egipto. J. C. Serra Ráfols (1925), ao contrário, chamou a atenção para a ausência de critérios seguros que, segundo ele, poderiam ser invocados a favor de uma origem egípcia, devendo antes considerar-se o Noroeste Africano como origem de tais produções. Pela mesma altura, A. Gotze (1925) negou a utilização local de marfim fóssil, de época plistocénica, considerando-o demasiado frágil para poder ser trabalhado. Finalmente, A. Jodin (1957) e G. Camps (1960), relacionaram a ocorrência de exemplares manufacturados de marfim no território peninsular, com a ocorrência de cerâmicas campaniformes no Norte de África; desde então, a origem norte africana para as peças de marfim peninsulares tem sido comummente aceite. As análises efectuadas por um de nós (T. X. S.), em conjunto com o Dr. A. Banerjee, de objectos de marfim da necrópole de Los Millares, suportam a conclusão de que o conhecimento da tecnologia do trabalho de marfim, provirá do Próximo Oriente, tal como, em parte, a própria matéria-prima, provavelmente pela via da Síria ou da Palestina. De facto, as análises efectuadas indicaram a existência dominante de marfim de elefante asiático (Elephas maximus) entre as produções mais antigas do Calcolítico analisadas daquela estação; assim, está-se em condições de diferenciar os objectos de origem próximo-oriental dos que provieram, ulteriormente, do Norte de África. Um elemento do conjunto millarense revelou tratar-se de Elephas antiquus, realidade que é ainda difícil de explicar, embora não seja viável admitir o recurso a marfim fóssil, pelo menos em quantidades significativas. Também uma das duas peças de Leceia analisadas pelo Prof. Banerjee indicou tratar-se de marfim atribuível a Elephas antiquus. Talvez a explicação resida na existência de uma espécie norte africana próxima de Elephas antiquus, a qual, no território português se extinguiu cerca de 33 000 anos atrás. O único dente completo provém do terraço baixo do Tejo, perto do Carregado, cerca de 30 km NNE de Lisboa, a que se junta um outro fragmento, mais antigo, reportável ao Cromeriano, existente no Museu Monográfico de Conímbriga; tanto um como outro, pelo seu comportamento muito quebradiço, não poderiam ter sido aproveitados para a manufactura de peças de marfim. No entanto, descobertas como a da necrópole de Rouazi-Skhirat, indicam a utilização de marfim norte africano entre as produções da primeira metade do terceiro milénio a.C.. A relação de tais produções com o território peninsular parecem tornar-se mais evidentes e visíveis ulteriormente, no decurso da expansão do “fenómeno” campaniforme, especialmente a partir de meados do referido milénio. No que a Leceia diz respeito, a segunda das duas peças seleccionadas para análise no Laboratório da Universidade de Mainz pelo Dr. A. Banerjee, mostrou tratar-se de marfim de elefante africano de savana, tendo, deste modo, sido o primeiro exemplar deste tipo de marfim a ser comprovadamente identificado no território peninsular. A cronologia pré-campaniforme deste artefacto, reportável ao Calcolítico Inicial da Estremadura, datado em Leceia entre cerca de 2900/2800 e 2600/2500 cal BC, vem mostrar, pela primeira vez, que as relações comerciais da Península Ibérica com o Norte de África se terão iniciado, embora de forma discreta, ainda antes da plena afirmação do “fenómeno” campaniforme, época a partir da qual são bem conhecidas. |
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