Renovação da prescrição sem consulta médica de benzodiazepinas
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2011 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.6/948 |
Resumo: | Introdução: As benzodiazepinas (BZDs) constituem um grupo de fármacos com diferentes aplicações terapêuticas, largamente utilizadas na clínica a partir da década de 60. As BZDs são fármacos seguros, contudo a sua utilização prolongada não é recomendada pelo elevado risco de dependência e tolerância. Portugal destaca-se como um dos países Europeus com maior consumo de BZDs. Esta situação pode ter implicações preocupantes, como alterações cognitivas, quedas, acidentes de viação e risco de desenvolvimento de tolerância e dependência. O modelo de receita médica renovável aprovado em Portugal visa aumentar a acessibilidade à terapêutica que o doente necessita para tratamentos prolongados, através da repetição da prescrição de fármacos sem consulta médica presencial (RPSCM). A receita médica renovável tem uma validade de 6 meses, possibilitando a prescrição de BZDs por períodos superiores à duração de tratamento recomendada em normas de orientação clínica (NOCs). A dimensão desta realidade e as suas implicações permanecem, no entanto, por estudar. Objectivo: Identificar a população que RPSCM de BZDs e analisar possíveis indicadores de dependência e tolerância a estes fármacos. Métodos: Foi efectuado um estudo descritivo numa farmácia comunitária da cidade da Covilhã. Durante 2 meses, todos os utentes que apresentaram uma receita renovável com prescrição de BZDs foram convidados para o estudo e questionados sobre a duração do tratamento com BZDs, eventuais tentativas de suspensão ou substituição terapêutica e possíveis sintomas de tolerância e dependência. Resultados: Das 755 receitas renováveis, 164 (21,72%) continham BZDs. Do total de RPSCM 74,40% eram referentes a mulheres e 61,60% a idosos. As BZDs com maior RPSCM neste estudo foram o lorazepam (32,30%) e o alprazolam (29,30%) e 95,70% dos doentes apontou a insónia como a causa para o uso da BZD. As BZDs de acção longa e intermédia são as mais usadas para tratar a insónia. A população geriátrica RPSCM maioritariamente de BZDs ansiolíticas de acção intermédia (71,30%) e de acção longa (25,80%). A duração do tratamento com BZDs foi superior a 3 anos em 94,50% dos doentes e 73,20% relatou a existência de sintomas associados a tolerância e dependência. Quanto ao conhecimento sobre o tempo que o tratamento deveria durar 92,70% dos doentes referiu não possuir essa informação e 70,70% revelou não ter sido feita nenhuma tentativa de suspensão do tratamento. Conclusões: As BZDs são efectivas em tratamentos curtos, contudo a sua utilização prolongada não é recomendada devido a potenciais efeitos adversos. A RPSCM de BZDs é uma prática frequente, com maior prevalência nas mulheres e idosos, maioritariamente para BZDs ansiolíticas de acção intermédia/longa no tratamento da insónia. Os princípios activos mais RPSCM foram o alprazolam e lorazepam, na maioria dos casos para tratamento superior a 3 anos, sem qualquer tentativa de descontinuação. Assim a RPSCM de BZDs parece não reflectir um padrão de utilização de acordo com as NOCs. Os riscos desta prática devem ser ponderados em relação aos seus benefícios em termos de acessibilidade à terapêutica. A colaboração do farmacêutico pode revelar-se importante na sinalização de situações com necessidade de controlo clínico. |
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Renovação da prescrição sem consulta médica de benzodiazepinasBenzodiazepinasBenzodiazepinas - Efeitos terapêuticosBenzodiazepinas - Prescrição médicaBenzodiazepinas - RiscosBenzodiazepinas - Renovação da prescrição sem consultaIntrodução: As benzodiazepinas (BZDs) constituem um grupo de fármacos com diferentes aplicações terapêuticas, largamente utilizadas na clínica a partir da década de 60. As BZDs são fármacos seguros, contudo a sua utilização prolongada não é recomendada pelo elevado risco de dependência e tolerância. Portugal destaca-se como um dos países Europeus com maior consumo de BZDs. Esta situação pode ter implicações preocupantes, como alterações cognitivas, quedas, acidentes de viação e risco de desenvolvimento de tolerância e dependência. O modelo de receita médica renovável aprovado em Portugal visa aumentar a acessibilidade à terapêutica que o doente necessita para tratamentos prolongados, através da repetição da prescrição de fármacos sem consulta médica presencial (RPSCM). A receita médica renovável tem uma validade de 6 meses, possibilitando a prescrição de BZDs por períodos superiores à duração de tratamento recomendada em normas de orientação clínica (NOCs). A dimensão desta realidade e as suas implicações permanecem, no entanto, por estudar. Objectivo: Identificar a população que RPSCM de BZDs e analisar possíveis indicadores de dependência e tolerância a estes fármacos. Métodos: Foi efectuado um estudo descritivo numa farmácia comunitária da cidade da Covilhã. Durante 2 meses, todos os utentes que apresentaram uma receita renovável com prescrição de BZDs foram convidados para o estudo e questionados sobre a duração do tratamento com BZDs, eventuais tentativas de suspensão ou substituição terapêutica e possíveis sintomas de tolerância e dependência. Resultados: Das 755 receitas renováveis, 164 (21,72%) continham BZDs. Do total de RPSCM 74,40% eram referentes a mulheres e 61,60% a idosos. As BZDs com maior RPSCM neste estudo foram o lorazepam (32,30%) e o alprazolam (29,30%) e 95,70% dos doentes apontou a insónia como a causa para o uso da BZD. As BZDs de acção longa e intermédia são as mais usadas para tratar a insónia. A população geriátrica RPSCM maioritariamente de BZDs ansiolíticas de acção intermédia (71,30%) e de acção longa (25,80%). A duração do tratamento com BZDs foi superior a 3 anos em 94,50% dos doentes e 73,20% relatou a existência de sintomas associados a tolerância e dependência. Quanto ao conhecimento sobre o tempo que o tratamento deveria durar 92,70% dos doentes referiu não possuir essa informação e 70,70% revelou não ter sido feita nenhuma tentativa de suspensão do tratamento. Conclusões: As BZDs são efectivas em tratamentos curtos, contudo a sua utilização prolongada não é recomendada devido a potenciais efeitos adversos. A RPSCM de BZDs é uma prática frequente, com maior prevalência nas mulheres e idosos, maioritariamente para BZDs ansiolíticas de acção intermédia/longa no tratamento da insónia. Os princípios activos mais RPSCM foram o alprazolam e lorazepam, na maioria dos casos para tratamento superior a 3 anos, sem qualquer tentativa de descontinuação. Assim a RPSCM de BZDs parece não reflectir um padrão de utilização de acordo com as NOCs. Os riscos desta prática devem ser ponderados em relação aos seus benefícios em termos de acessibilidade à terapêutica. A colaboração do farmacêutico pode revelar-se importante na sinalização de situações com necessidade de controlo clínico.Introduction: Benzodiazepines (BZDs) are a group of drugs with different therapeutic applications, widely used in the clinic since the sixties. BZDs are safe drugs, but their prolonged use is not recommended owing to their high risk of dependence and tolerance. Portugal stands out as one of the European countries with higher consumption of BZDs. This can have disturbing implications, such as cognitive impairment, falls, traffic accidents and risk of development of tolerance and dependence. The model of renewable prescription approved in Portugal aims to increase the access to therapy that the patient need for prolonged treatment by repeat prescribing without the doctorpatient contact (RPSCM). The renewable prescription is valid for six months, allowing the prescription of BZDs for longer than the recommended duration of treatment in clinical practice guidelines (CPGs). However the dimension of this reality and its implications remain to be studied. Goal: Identify the population that RPSCM of BZDs and possible indicators of dependence and tolerance to these drugs. Methods: A descriptive study was conducted in a community pharmacy in Covilhã. During two months, all users who submitted a renewable prescription of benzodiazepines were asked for the study and asked about the duration of treatment with BZDs, attempts to suspend or replacement therapy and possible symptoms of tolerance and dependence. Results: Of the 755 renewable prescriptions, 164 (21.72%) contained BZDs. Of the total 74.40% were RPSCM concerning women and 61.60% for the elderly. In this study the most prescribed BZDs, trough RPSCM, were lorazepam (32.30%) and alprazolam (29.30%), and 95.70% of patients indicated insomnia as the cause for the use of BZD. The BZDs with long and intermediate duration of action are commonly used to treat insomnia. The majority of the geriatric population have RPSCM mostly to anxiolytic with intermediate (71.30%) and long (25.80%) acting BZDs. The duration of treatment with BZDs was more than 3 years in 94.5% and 73.20% of patients reported the existence of symptoms associated with tolerance and dependence. Regarding to the knowledge of how long the treatment should last, 92.70% of patients reported not having this information and 70.70% had not been made any attempt to suspend the treatment. Conclusions: BZDs are effective in short treatments, however long term use is not recommended due to the potential adverse effects. The RPSCM of benzodiazepines is a common practice, with higher prevalence in women and the elderly, mainly for anxiolytic intermediate/long acting benzodiazepine in the treatment of insomnia. The drugs more prescribed were alprazolam and lorazepam, in most cases used for more than 3 years without any attempt to discontinuation. So RPSCM of benzodiazepines does not seem to reflect a pattern of use according to the CPGs. The risks of this practice must be weighed against the benefits in terms of accessibility to the treatment. The collaboration of the pharmacist may be important in detecting situations requiring clinical management.Universidade da Beira InteriorMacedo, Ana Filipa Pereira Amaral deuBibliorumGonçalves, Joana Rita Patrício2013-01-21T18:21:45Z2011-062011-06-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.6/948porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-12-15T09:36:21Zoai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/948Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T00:42:54.794949Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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