Tratamento médico com trilostano e monitorização de hipercortisolismo espontâneo canino: estudo retrospetivo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Rodrigues, Joana Beatriz Santos
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10348/11689
Resumo: O hipercortisolismo espontâneo canino (HC) é uma doença endócrina frequente em cães, caracterizada por uma produção excessiva e crónica de cortisol. Os sinais clínicos surgem como consequência da atividade gluconeogénica, lipolítica, catabólica, anti-inflamatória e imunossupressora dos glucococorticoides. O tratamento do HC é, na maior parte das vezes, médico com o uso de trilostano, um inibidor da enzima 3-β- hidroxiesteroide desidrogenase, que diminui a síntese de glucocorticoides e, em menor grau, de mineralocorticoides. Ainda não existe um consenso no que diz respeito à dose e à frequência de administração do trilostano, e ao melhor método de monitorizar este tratamento. Deste modo, o objetivo principal deste trabalho foi estudar a resposta ao tratamento com o trilostano e a monitorização deste em cães com HC. Neste trabalho foi feito um estudo retrospetivo em que foi analisado o período de tratamento com o trilostano de 28 cães com HC, seguidos no Hospital Escolar Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária, entre o período de janeiro de 2016 a junho de 2021. A população foi composta por 28 cães a realizar tratamento com o trilostano de 12 em 12 horas. Deste grupo, 14 eram machos e 14 eram fêmeas, com uma idade média de 11 anos. Os sinais clínicos mais frequentes foram a poliúria/polidipsia, a polifagia, a distensão abdominal, a polipneia e os sinais dermatológicos. O aumento da atividade sérica de alanina aminotransferase (ALT) e fosfatase alcalina (FA) foi frequente na população, tal como a presença de uma densidade urinária inferior a 1,025. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na evolução temporal dos parâmetros laboratoriais (creatinina, sódio, potássio, rácio sódio/potássio, ALT e FA) ao longo do tratamento com trilostano. A dose média de trilostano associada a um controlo clínico foi de 1,69 mg/kg. A concentração sérica de cortisol pré-trilostano (CSCpt) de cães a realizar tratamento com trilostano foi significativamente superior em cães com controlo não satisfatório (7,01 ± 2,43μg/dL) dos sinais clínicos, comparativamente a cães com controlo satisfatório (3,26 ± 1,7μg/dL) (p<0,001). A prevalência de episódios de hipoadrenocorticismo iatrogénico foi aparentemente baixa e transitória. A hipercalemia foi frequente ao longo do tratamento, tendo sido observada uma correlação positiva moderada entre os níveis de potássio e a dose de trilostano (R = 0,299; p = 0,003; n = 95), e entre os níveis de potássio e a CSCpt (R = 0,437; p = 0,001; n = 51). Em 14/28 cães foi diagnosticada hipertensão sistémica e 10/28 apresentaram proteinúria, sendo que em 7 cães o diagnóstico foi feito após o início de tratamento com trilostano. Quando foi realizada a recolha de dados, 14 cães tinham morrido, com um tempo médio de sobrevivência de 17,7 meses sob tratamento e idade média de 13,4 anos. A utilização de uma dose mais baixa de trilostano que o sugerido inicialmente na literatura parece permitir o controlo dos sinais clínicos e reduzir o risco de desenvolvimento de hipoadrenocorticismo iatrogénico. A CSCpt aparentou ser um possível indicador do controlo dos sinais clínicos e mostrou-se relevante na decisão de aumentar a dose terapêutica de trilostano em casos com controlo não satisfatório dos sinais clínicos. Relativamente à decisão de alteração/manutenção de dose em casos clinicamente estáveis, a apresentação clínica aparentou prevalecer.
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Neste trabalho foi feito um estudo retrospetivo em que foi analisado o período de tratamento com o trilostano de 28 cães com HC, seguidos no Hospital Escolar Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária, entre o período de janeiro de 2016 a junho de 2021. A população foi composta por 28 cães a realizar tratamento com o trilostano de 12 em 12 horas. Deste grupo, 14 eram machos e 14 eram fêmeas, com uma idade média de 11 anos. Os sinais clínicos mais frequentes foram a poliúria/polidipsia, a polifagia, a distensão abdominal, a polipneia e os sinais dermatológicos. O aumento da atividade sérica de alanina aminotransferase (ALT) e fosfatase alcalina (FA) foi frequente na população, tal como a presença de uma densidade urinária inferior a 1,025. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na evolução temporal dos parâmetros laboratoriais (creatinina, sódio, potássio, rácio sódio/potássio, ALT e FA) ao longo do tratamento com trilostano. A dose média de trilostano associada a um controlo clínico foi de 1,69 mg/kg. A concentração sérica de cortisol pré-trilostano (CSCpt) de cães a realizar tratamento com trilostano foi significativamente superior em cães com controlo não satisfatório (7,01 ± 2,43μg/dL) dos sinais clínicos, comparativamente a cães com controlo satisfatório (3,26 ± 1,7μg/dL) (p<0,001). A prevalência de episódios de hipoadrenocorticismo iatrogénico foi aparentemente baixa e transitória. A hipercalemia foi frequente ao longo do tratamento, tendo sido observada uma correlação positiva moderada entre os níveis de potássio e a dose de trilostano (R = 0,299; p = 0,003; n = 95), e entre os níveis de potássio e a CSCpt (R = 0,437; p = 0,001; n = 51). Em 14/28 cães foi diagnosticada hipertensão sistémica e 10/28 apresentaram proteinúria, sendo que em 7 cães o diagnóstico foi feito após o início de tratamento com trilostano. Quando foi realizada a recolha de dados, 14 cães tinham morrido, com um tempo médio de sobrevivência de 17,7 meses sob tratamento e idade média de 13,4 anos. A utilização de uma dose mais baixa de trilostano que o sugerido inicialmente na literatura parece permitir o controlo dos sinais clínicos e reduzir o risco de desenvolvimento de hipoadrenocorticismo iatrogénico. A CSCpt aparentou ser um possível indicador do controlo dos sinais clínicos e mostrou-se relevante na decisão de aumentar a dose terapêutica de trilostano em casos com controlo não satisfatório dos sinais clínicos. Relativamente à decisão de alteração/manutenção de dose em casos clinicamente estáveis, a apresentação clínica aparentou prevalecer.Naturally occurring hypercortisolism (HC) is a common endocrine disease in dogs. This disease is characterized by a chronical overproduction of cortisol. The clinical signs appear as consequence of the gluconeogenic, lipolytic, catabolic, antiinflammatory, immunosuppressor activity of the glucocorticoids. The treatment of this disease is, most of the times, medical with trilostane. This drug is an inhibitor of the 3-β- hydroxysteroid enzyme, which reduces the production of glucocorticoids, and to a lesser degree mineralocorticoids. There is still no consensus regarding the dosage and frequency of administration, as well as the best method for monitoring the treatment. The goal of this work was to study the response to treatment with trilostane and the monitoring of this treatment in dogs diagnosed with HC. A retrospective study was conducted, in which the treatment period with trilostane in 28 dogs with HC, followed at the Hospital Escolar Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária, from 2016 to 2021, was analysed. The population was composed by 28 dogs receuvung treatment with trilostane every 12 hours. Of this group 14 were males and 14 were females with a mean age of 11 years. The most frequent clinical signs were polyuria/polydipsia, polyphagia, abdominal distension, polypnea, and dermatological signs. Increased serum alanine aminotransferase (ALT) and alkaline phosphatase (FA) was frequent in the population, as was the presence of a urinary density lower than 1.025. No statistically significant differences were found in the evolution of laboratory parameters (creatinine, sodium, potassium, sodium/potassium ratio, ALT and FA) over the course of trilostane treatment. The mean dosage of trilostane associated with clinical control was 1.69 mg/kg. The serum cortisol measurement pre-trilostane (CSCpt) of dogs undergoing trilostane treatment was significantly higher in dogs with unsatisfactory control of clinical signs (7.01 ± 2.43μg/dL), compared to dogs with satisfactory control (3.26 ± 1.7μg/dL) (p<0.001). The prevalence of episodes of iatrogenic hypoadrenocorticism was apparently low and transient. Hyperkalemia was a frequent finding throughout treatment, and a moderate positive correlation was observed between potassium levels and trilostane dosage (R = 0.299, p = 0.003, n = 95), and between potassium levels and serum pre-trilostane cortisol concentration (CSCpt) (R = 0.437, p = 0.001, n = 51). In 14/28 dogs systemic hypertension was diagnosed and 10/28 presented proteinuria, in 7 of these dogs the diagnosis was made after iniciating treatment with trilostane. When data collection was performed, 14 dogs had died, with a mean survival time of 17.7 months under treatment and a mean age of 13.4 years. The use of a lower dosage of trilostane than initially suggested in the literature seems to allow control of clinical signs and reduce the risk of developing iatrogenic hypoadrenocorticism. CSCpt appeared to be a possible indicator of control of clinical signs and was relevant in the decision to increase the therapeutic dosage of trilostane in cases with unsatisfactory control of the clinical signs. Regarding the decision to change/maintain dose in clinically stable cases, clinical presentation appeared to prevail.2023-07-19T14:58:54Z2023-05-18T00:00:00Z2023-05-18info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfapplication/pdfapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10348/11689porRodrigues, Joana Beatriz Santosinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-02-02T12:26:47Zoai:repositorio.utad.pt:10348/11689Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T01:59:59.427209Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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