Mar e Terra : dualidade na economia micaelense nos finais de setecentos
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2000 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.3/309 |
Resumo: | Por definição, uma ilha é um bocado de terra rodeado de mar por todos os lados. Mar e Terra, dois espaços que se interpenetram e que não se podem isolar um do outro na vida das gentes açorianas. É verdade que a maioria dos habitantes das ilhas preferiu a terra, convertendo a agricultura na actividade económica dominante. Mas, também não deixa de ser verdade a sua dependência do cheiro da maresia e do revolto das suas águas, que se, por um lado, isolam, por outro, também permitem estabelecer elos de ligação com o resto do mundo. Esta dupla Mar e Terra esteve sempre presente na economia micaelense, nunca separadamente, mas sempre em interligação uma com a outra. A costa da ilha elevada e escarpada, cortada quase na vertical até ao mar, assim como os ventos ciclónicos que, por vezes, sopram o arquipélago afastaram as nossas gentes da pesca, tornando esta actividade muito elementar e pouco desenvolvida. Isto, apesar de alguns esforços individuais para a incrementarem, nomeadamente na segunda metade do século XVIII, quando um dos grandes comerciantes micaelenses, Nicolau Maria Raposo de Amaral, ao conseguir um contrato com a Secretaria dos Negócios Estrangeiros e Ultramar, para “prover os armazéns das reais fábricas de peixe salgado”, tentou desenvolver a pesca, cativando os pescadores com algumas ajudas monetárias e com outras melhorias técnicas, mandando mesmo buscar novos barcos. Também através de intervenções suas junto do Governo central, como testemunha uma carta endereçada a Martinho de Mello e Castro, denunciando a prática do Governo local de taxar o pescado, procedimento por vezes usado pelos almotacés dos Municípios, mas condenado pelo Governo central, o qual muito prejudicava os pescadores. A pesca, contudo, nunca foi considerada um elemento dinamizador da nossa economia. Pelo contrário, a agricultura foi desde os primórdios da ocupação a característica principal da ilha de S. Miguel. A alta fertilidade das suas terras levou a economia micaelense a não se confinar à auto-subsistência, aliando-se a produção para o mercado externo, abrindo assim a porta para um mercado mais vasto, tendo por via o mar. Foi assim desde sempre. Primeiro, com o trigo e o pastel, depois, com o linho, juntando-se a estes, nos finais de Setecentos, o milho e a laranja. Esta dialéctica Mar-Terra vai tomar grande acuidade na passagem do Iluminismo para o Liberalismo, pois é nela que os novos ideais de desenvolvimento económico mais se vão sentir. [...] |
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Mar e Terra : dualidade na economia micaelense nos finais de setecentosHistória dos Açores (séc. XVIII)História Económica Açoriana (séc. XVIII)Por definição, uma ilha é um bocado de terra rodeado de mar por todos os lados. Mar e Terra, dois espaços que se interpenetram e que não se podem isolar um do outro na vida das gentes açorianas. É verdade que a maioria dos habitantes das ilhas preferiu a terra, convertendo a agricultura na actividade económica dominante. Mas, também não deixa de ser verdade a sua dependência do cheiro da maresia e do revolto das suas águas, que se, por um lado, isolam, por outro, também permitem estabelecer elos de ligação com o resto do mundo. Esta dupla Mar e Terra esteve sempre presente na economia micaelense, nunca separadamente, mas sempre em interligação uma com a outra. A costa da ilha elevada e escarpada, cortada quase na vertical até ao mar, assim como os ventos ciclónicos que, por vezes, sopram o arquipélago afastaram as nossas gentes da pesca, tornando esta actividade muito elementar e pouco desenvolvida. Isto, apesar de alguns esforços individuais para a incrementarem, nomeadamente na segunda metade do século XVIII, quando um dos grandes comerciantes micaelenses, Nicolau Maria Raposo de Amaral, ao conseguir um contrato com a Secretaria dos Negócios Estrangeiros e Ultramar, para “prover os armazéns das reais fábricas de peixe salgado”, tentou desenvolver a pesca, cativando os pescadores com algumas ajudas monetárias e com outras melhorias técnicas, mandando mesmo buscar novos barcos. Também através de intervenções suas junto do Governo central, como testemunha uma carta endereçada a Martinho de Mello e Castro, denunciando a prática do Governo local de taxar o pescado, procedimento por vezes usado pelos almotacés dos Municípios, mas condenado pelo Governo central, o qual muito prejudicava os pescadores. A pesca, contudo, nunca foi considerada um elemento dinamizador da nossa economia. Pelo contrário, a agricultura foi desde os primórdios da ocupação a característica principal da ilha de S. Miguel. A alta fertilidade das suas terras levou a economia micaelense a não se confinar à auto-subsistência, aliando-se a produção para o mercado externo, abrindo assim a porta para um mercado mais vasto, tendo por via o mar. Foi assim desde sempre. Primeiro, com o trigo e o pastel, depois, com o linho, juntando-se a estes, nos finais de Setecentos, o milho e a laranja. Esta dialéctica Mar-Terra vai tomar grande acuidade na passagem do Iluminismo para o Liberalismo, pois é nela que os novos ideais de desenvolvimento económico mais se vão sentir. [...]Universidade dos AçoresRepositório da Universidade dos AçoresRego, Margarida Vaz do2009-09-21T11:48:40Z20002000-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.3/309por"ARQUIPÉLAGO. História". ISSN 0871-7664. 2ª série, vol. 4, nº 2 (2000): 117-1250871-7664info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2022-12-20T14:27:28Zoai:repositorio.uac.pt:10400.3/309Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T16:23:16.986643Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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