Escolas-piloto do PAIGC
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2020 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10362/101129 |
Resumo: | O que define a identidade nacional? – Eis a pergunta que nos fez dar início a esta dissertação. Como é que dois países sob o jugo da colonização portuguesa (Guiné-Bissau e Cabo Verde) se unem com o propósito de começar o processo de reafricanização? Quem foram os responsáveis pelo início da luta de libertação no território guineense? De que modo é que se constrói “o homem novo” de que falava Amílcar Cabral? Como é que o projeto educativo do PAIGC contribui para a reafricanização e construção da identidade nacional destes dois países? Quais foram as alianças que se realizaram a nível internacional para que a reafricanização se tornasse numa realidade através, entre muitas outras medidas, da educação? Como era esse modelo educativo? Quem elaborou os manuais do PAIGC e que conteúdos trabalhavam? Como se combina a luta de libertação com a criação de escolas e a implementação de um novo modelo educativo nos territórios libertados? Após termos entrevistado a diretora da escola-piloto de Conakry, Lilica Boal, e uma das alunas da escola, filha de Amélia Araújo (militante do PAIGC, combatente, e a responsável pela rádio Libertação) e de José Araújo (antigo ministro da educação em Cabo Verde, combatente, membro fundador do PAIGC e um dos responsáveis pela fuga dos estudantes, em 1961), Teresinha Araújo, tivemos a oportunidade de ouvir o relato sobre o funcionamento das escolas e confirmar os programas educativos do PAIGC e o processo de construção dos manuais escolares. O projeto educativo do PAIGC pretendia lutar contra anos de educação colonialista, eurocentrada e elitista, que perpetuava uma estrutura social hierarquizada, assente no privilégio de ser branco e europeu, da qual se excluíam as camadas mais desfavorecidas da sociedade, neste caso, os africanos – negros, a quem era muito dificultado o acesso ao ensino, e quando lhes era permitido aceder recebiam uma educação que desprezava a sua cultura de origem e os formava como cidadãos brancos e europeus. Ou seja, havia uma negação de tudo o que estava relacionado com as línguas, a cultura, a história e a geografia africanas. Deste modo, a educação colonial construía a ideia de que não existia uma identidade caboverdiana, angolana, moçambicana ou guineense, porque eram todos portugueses a residir em diferentes latitudes – nas províncias ultramarinas. O modelo educativo do PAIGC tenta resgatar traços identitários da cultura guineense e caboverdiana, oferecendo aos seus alunos materiais que os validam como cidadãos, nos quais se podem ver espelhados e aprender sobre a geografia, história e tradições dos seus países. Assim começa o processo de reafricanização, motivado por tantos outros a nível mundial, inspirado em Aymé Cesaire ou em Leopold Senghor. A Casa dos Estudantes do Império foi um sítio-chave para definir o início da luta de libertação, sem este lugar de convívio entre jovens intelectuais de todos os territórios ultramarinos, teria sido muito mais difícil que Amílcar Cabral tivesse entrado em contacto com o movimento “Vamos descobrir Angola”, que tinha como objetivo também uma reafricanização cultural do país. Podemos afirmar que a CEI foi o berço das lutas de libertação dos territórios ultramarinos, por essa razão, decidimos começar por falar da passagem de Amílcar Cabral pelo CEI. |
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